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░AVESTRUZ░

Quarta-feira, 10 de janeiro de 1990.

I

Era um calor lacerante. O suor escorria em seu rosto pálido. Cabelos castanhos presos no alto da cabeça; sardas sob os olhos ligeiramente repuxados e insinuantes; nariz arrebitado, lábios pequenos e sensuais. Caminhava desatenta pela plataforma, car­regando uma bolsa marrom.

Uma irritante voz anunciou:

— Na plataforma a faixa amarela é a sua segurança. Só a ultrapasse quando o trem abrir as portas.

Sentou-se. Aquelas com certeza seriam férias maravilhosas: sol, praia, um suco gelado na beira do mar (haveria, é claro, os problemas com as queimaduras de sol — os impiedosos raios ultravioleta que, ironia do destino, eram utilizados no tratamento de doenças da pele). E além das queimaduras, banhistas de todas as partes, com seus guarda-sóis, esteiras e bronzeadores, a importunar e a sujar as praias. A vida era dura, bem o sabia, e nem mesmo os raros momentos de lazer eram de todo gratificantes, pois todos o procuravam na mesma hora. Entretanto, valia o sacrifício, afinal, já haviam dito: a felicidade não é deste mundo.

A voz prosseguiu:

— Ao toque da campainha não entre nem saia do trem. O intervalo médio entre trens é de apenas três minutos.

Há dez que esperava. Retocou a maquilagem. Uma forte rajada de vento anunciou a chegada do metrô. Ela entrou e se acomodou.

Era incrível o barulho que os trens faziam naqueles túneis e quem não estivesse acostumado os acharia ensurdecedores. E era assim que Larissa Mendes de Oliveira os es­tava considerando. Há anos que sua vida se resumia em ir de casa ao hospital e do hospital à clínica, em percursos que invariavelmente ela fazia de carro. Mas queria esquecer isso por enquanto. Teria vinte dias para descansar e colo­car os nervos no lugar.

Em pouco menos de trinta minutos chegou à Estação Tietê do Metrô, acesso ao principal Terminal Rodoviário de São Paulo. Observou o céu límpido, sequer uma nuvem. O ônibus só partiria em meia hora. Aproveitou para comprar um copo d'água e uma revista.

— Não tem dinheiro trocado, moça?

— Não, não tenho. Pode ficar com o troco.

— Obrigado.

"Quanto dinheiro essa gente não ganha dizendo que não tem troco?", pensou Larissa. Mas ela não o censurava. Num país onde o salário mínimo mal dava para sobreviver, a população se virava como podia.

Olhou ao redor e notou a enorme quantidade de pessoas que transitavam no local. Logo a rodoviária não mais comportaria o número de pessoas que a utilizavam.

Faltavam agora cinco minutos. Desceu à plataforma dezesseis e esperou a porta de correr em vidro ser aberta. Em breve estaria a caminho de São Sebastião, cidade do Litoral Norte de São Paulo, região de belas praias e de um porto petroleiro.

II

Folheando a revista, o nome de um jornalista chamou-lhe a atenção. Já estavam a essa altura próximos a Paraibuna, no alto da serra do Mar. "Felipe de Albuquerque", um vernaculista de primeira, mas ela nem o conhecia. Na verdade, nunca nem ouvira falar. O que lhe despertara a atenção fora o primeiro nome: Felipe...

Fechou a revista e recostou-se melhor na dura poltrona, reclinando-a. Desviando o olhar para a janela, vendo passar entre os morros uma linda represa, pensou em Felipe. Felipe Torres...

Há quanto tempo não o via? O tempo passara como o vento, teria dito Érico Veríssimo, muito depressa, sem ao menos dar a chance de se notar sua presença. E nesse tempo, Larissa conquistara tudo o que a maioria das mulheres sonha ter: uma carreira de sucesso, um bom casamento e um adorável casal de filhos. No entanto, tudo teria sido muito mais feliz se pudesse ter compartilhado com Felipe toda essa plenitude; se pudesse ter ligado nos mo­mentos de alegria; se tivesse a chance de nas horas difíceis ouvir seus conselhos. Contudo, qual a realidade? Há duas décadas o vira partir e desde então, nunca mais. Nem uma carta, um postal sequer, nada...

— Droga! Por que toda essa nostalgia agora?

A senhora ao lado dirigiu-lhe um olhar, curiosa por surpreendê-la falando sozinha.

— Disse alguma coisa, querida?

Ela sentiu-se enxabida e quem dera já estivesse na praia, para enterrar sua cabeça na areia, feito uma avestruz.

— Nada, não. Pensava alto.

Rindo, a senhora ofertou-lhe um sorriso e voltou a tricotar.

III

Diante do clima nostálgico, Larissa voltou àquele dia, vinte anos atrás, o dia da despedida no aeroporto de Congonhas...

          — Henrique, posso conversar em particular com a Lissa, você se importa?

          Lissa era o apelido carinhoso com o qual Felipe a chamava. E Henrique? Era noivo de Larissa, um jovem simples do interior, que naturalmente não gostou do pedido e claro, ele não gostava de Felipe.

          Henrique esforçava-se por ser cor­dial, mas às vezes confidenciava a Helena, irmã de Larissa: "Vocês o estimam como alguém da família e daí tenho que aturar, mas não pensem que suportarei isso para sempre".

          Na oportunidade, visivelmente contrariado, declarou:

          — Está bem. Vou ali e já volto.

          Quando Henrique desapareceu por entre as prateleiras de uma revistaria, Felipe tomou os braços de Larissa, fitando-a em tom apelativo:

          — Lissa, sei que não vou ter outra oportunidade... Peço desculpas pelo Henrique...

          Ela estava perplexa. Que liberdade era aquela?

          — Você vai perder o avião... — rebateu, desvencilhando-se dele.

          — Psiu... Escute... Eu te amo! Larga do Henrique! Fica comigo!

          — Felipe!, que é isso agora? Sempre fomos como irmãos.

          — Ora, Larissa, não me venha com essa de irmãos. Eu sempre te quis como mulher.

          E ela não sabia? Evidentemente! E todos na família sabiam, mas Larissa no fundo sempre gostara daquele jogo, um jogo bem imaturo, é verdade, coisa de adolescente. Dava a ele esperanças, mas nunca cedia de fato. No entanto, ele também nunca se sentia encorajado em ir adiante.

          — E não acha que é um pouco tarde para isso? — desabafou. — Existem agora muitos interesses em jogo. O que quer que eu diga ao Henrique, que vou largar ele e ficar com você?

          — No fundo, não é o que você quer? Admita.

          — O que eu quero? Ora, você pensa que sabe dos meus sentimentos, mas nem os seus compreende direito.

          Felipe pressionou-lhe novamente os braços:

          — Eu sei muito bem o que quero!

          — Esqueça, Felipe! Se soubesse o que quer, já teria feito esse pedido há muito tempo. Agora é tarde! Vá embora, por favor.

          — Tem certeza disso?

          — Tenho!

          — Certeza mesmo?

          — Claro!

          Felipe soltou-a:

          — Lamento que seja assim. Lamento por nós dois. Um dia nos reencontraremos, quem sabe?

          E saiu, caminhando. Um pouco à frente, virou-se e disse:

          — Adeus, Larissa!

          A não insistência dele provava o que ela já sabia: em suas investidas, ele nunca passava da página um. E Larissa ficara confusa. Com uma lágrima descendo pela face, invariavelmente lívida, viu-o afastar-se, ao que sussurrou:

          — Vá com Deus, meu Lipe. Seja feliz.

IV

O ônibus descia agora o trecho em serra da rodovia dos Tamoios, perigoso e com curvas separadas do abismo por frágeis muretas de concreto. Em vão ela tentava visualizar o município praiano de Caraguatatuba, que às vezes surgia visível em raros clarões na mata Atlântica. Era uma vista espetacular, com o verde-mar a perder-se no horizonte.

Descida a serra, uma hora depois chegava enfim à casa que Henrique havia comprado fazia pouco tempo. Ficava na cidade de São Sebastião e era simples e prática, ideal para temporadas na praia.

Dando uma arejada em tudo, pegou uma sa­cola e trancou a porta, saindo na direção do supermercado, onde pretendia fazer compras o suficiente para alguns dias, até sábado, quando o marido e os filhos chegariam.

Ganhando a rua, um carro azul conversível dobrou a esquina. O homem ao volante admirou-a e logo Larissa percebeu, de soslaio, seu olhar de interesse. Ela trajava uma bermuda bege, que deixava à mostra os joelhos e as pernas bem torneadas, com a blusa, embora discreta, a evidenciar o contorno dos belos seios.

O carro entrou à direita, na contramão, deu a volta no quarteirão e logo se encontrava de novo a seu lado, acompanhando-a em baixa velocidade.

— Quer uma carona, doçura? A sacola deve estar pesada.

Rosto firme à frente, passos largos, trocou a sacola de mãos, levando a esquerda ao rosto, deixando evidente a aliança dourada no anelar.

— Você ainda tem as mãos mais lindas do mundo, Lissa.

Larissa estacou, assustada, encarando o até então desconhecido:

— Felipe?

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