Quem diz que agosto é o mês mais longo do ano é porque nunca passou pelo terceiro ano do ensino médio. Com a correria de provas e o ENEM já à espreita, os dias passam voando. Quanto mais próximo do fim do ano, mais os alunos ficam desesperados para melhorar o desempenho nos simulados. O grande fantasma do vestibular assombra a todos, o que é uma ótima desculpa para me mostrar desesperado também.

Não que eu não me preocupe com o vestibular, afinal, por mais que eu tenha melhorado, tenho plena consciência das minhas deficiências, e não é como se eu pudesse contar com a bolsa prometida por Nicolas. Na verdade, minha situação é bem precária. Além de ficar sem a bolsa, agora vivo a cada dia à espera de um contra-ataque. Porque é claro que Nicolas não vai deixar minha desobediência por isso mesmo. Eu só não sei ainda de que lado ele virá.

Com todas essas preocupações rondando pela cabeça, percebo muito tarde que há algo de errado com o nosso grupo. Desde quando voltamos a ser um trio? Olho ao redor e vejo Jonas em uma conversa animada com um grupo do time da escola.

Franzo a testa para Lavínia, que está devorando um sanduíche natural à minha frente.

- Por que Jonas não se senta mais com a gente?

Ela dá de ombros, dando uma mordida no pão. Continuo encarando-a até ela finalmente limpar a boca com um guardanapo, dando-se conta de que não vou desistir até obter uma resposta.

- Ah... ele deve estar meio sem graça de ficar com a gente depois que eu terminei com ele...

- Você o quê? - eu a corto, chocado. - Lavínia, por que fez isso?

Emílio fica tenso ao meu lado, mas morde os lábios para não dizer nada.

- Porque eu cansei de ficar com um garoto que só estava comigo porque não podia ficar com quem ele queria de verdade. Além disso, nós percebemos que somos melhores como amigos, foi um término sem traumas.

- Mas você nunca vai encontrar um cara como Jonas, ele era perfeito para você!

- Bom, eu não acho.

- Vamos falar a verdade aqui - disparo, perdendo a paciência. - Você terminou com Jonas porque ainda gosta do babaca do Vicente, não é isso?

- Téo... - Emílio tenta me chamar à razão, mas eu não dou ouvidos.

- E se for? - retruca Lavínia, falando em um tom irritado que eu nunca a vi usar. - O que você tem com isso? Por que tem que se meter na minha vida amorosa?

- Porque você é minha amiga e eu me preocupo com o seu bem-estar!

- Quer saber? - ela joga o guardanapo sobre a mesa e se levanta, me encarando com uma expressão letal. Algumas pessoas se viram para olhar. - Estou farta das suas intromissões. Eu por acaso me meto na sua vida amorosa? Não! Porque você sequer me conta algo sobre ela, então por que eu tenho que te dar alguma satisfação sobre a minha?

- Lavínia, não é assim...

Eu digo em voz baixa, tentando acalmá-la e ao mesmo tempo desviar a atenção que atraímos. Mas sou uma piada patética, porque sequer consigo retrucá-la direito. Não posso dizer que não é verdade. Não posso dizer que não tenho vida amorosa, nem tampouco que estou com Cris. Ninguém pode saber.

- Você nem nega, Téo - ela prende a respiração, piscando freneticamente na tentativa de não chorar. - Não quero mais ter você controlando a minha vida. Acho que o melhor que posso fazer é me afastar.

- Não!

Ignorando meu apelo, Lavínia se vira, afastando-se de nós.

- Lavínia, espere!

Tento ir atrás, mas Emílio segura meu braço, me impedindo de segui-la.

- É melhor dar um tempo para ela.

- Mas isso não faz sentido, Emílio - eu me revolto, mas volto a me sentar. - Foi ela mesma quem disse que não suportaria estragar nossa amizade, por que isso agora?

Emílio me olha, pesaroso.

- Talvez ela tenha chegado a um limite. Ela sabe que você jamais aceitaria Vicente.

- Então entre a nossa amizade e o Vicente ela escolheu ele, é isso? Lavínia prefere ficar com um cara que insultou os amigos dela a ficar do lado dos amigos - balanço a cabeça, indignado com sua atitude. - Inacreditável!

- Você não pode só esquecer essa história?

Eu o encaro, em choque.

- Você por acaso se esqueceu? Não me lembro do Vicente me pedindo desculpas, ele te pediu desculpas por ser racista?

Ele nega lentamente com a cabeça, como se o movimento lhe custasse muito. Suspiro, dando uma olhada ao redor. O pátio já começou a esvaziar, o que aumenta minha sensação de vazio interno.

- Então vai só deixar por isso mesmo? - volto a falar. - Onde está o seu orgulho?

- Só estou tentando evitar que meus amigos briguem. Vocês são duas cabeças duras.

Rio sem humor algum.

- Diz isso para a Lavínia.

Apesar do meu esforço tentando manter uma postura indiferente sobre tudo isso, a verdade é que meu coração está apertado por mais um desentendimento com Lavínia. Sinto que se ela ficar com Vicente, será um caminho sem volta. Posso perder minha amiga para sempre.

Emílio percebe meu estado depressivo e aperta meu braço superior para me confortar.

- Vou tentar conversar com ela, está bem? Pode ser que ela me escute.

Assinto com a cabeça e assisto apático enquanto ele sai a procura de Lavínia. Ainda restam cinco minutos de intervalo, mas eu perdi a vontade de fazer qualquer coisa. Deito minha cabeça sobre a mesa vazia e fecho os olhos, esperando o tempo passar para voltar para sala de aula. Espero que Lavínia tome juízo e que Emílio consiga trazê-la de volta.

Quase que imediatamente, escuto um burburinho de fofoca às minhas costas. Duas garotas estão cochichando, mas não baixo o suficiente para que eu não escute algumas palavras:

- ...Isso mesmo, foi o que ouvi de fonte segura - diz a primeira voz.

- Mas ela parecia tão apaixonada, ela desafiou o próprio pai por ele - continua a outra.

- Vai saber... Só sei que eles tiveram uma briga feia e agora ela não quer mais saber. Eu não duvidaria se tivesse o dedo do irmão dela nessa história. Aquele Cristiano tem um temperamento horrível, uma pessoa assim seria capaz de qualquer coisa.

O nome de Cristiano me desperta do meu torpor, e eu imediatamente endireito a coluna, erguendo a cabeça para encará-las.

- Espera um pouco, do que vocês estão falando?

As garotas me olham espantadas e indignadas pela minha intromissão em sua conversa particular. Eu não ligo, elas que pensem o que quiserem. Só preciso de respostas.

Ficamos nos encarando por um momento em um impasse, e como não dou mostras de que vou desistir, a detentora da informação finalmente cede, fazendo um gesto para eu me aproximar, assumindo uma expressão conspiratória. Ou talvez ela apenas não resista a uma boa fofoca.

- Estão dizendo por aí que Bianca, do primeiro, terminou com Nicolas, do terceiro.

Isso não era o que eu esperava ouvir hoje.

- O que, como assim? Por quê?

A garota dá de ombros.

- Se eu soubesse, já teria falado. Só sei que foi uma briga das boas...

- Mas tem que ter algum motivo. Você não ouviu mais nada?

Ela troca um olhar entediado com sua companheira, e as duas parecem entrar em um entendimento mútuo.

- Eu já disse tudo o que sabia - ela diz, acenando mecanicamente quando passa por mim. - Adeusinho.

Chego na sala parecendo um zumbi. Tudo isso é ruim. Muito ruim. Lavínia terminando com Jonas, Bianca terminando com Nicolas. Tudo parece estar saindo do controle.

Observo a silhueta de Nicolas quando ele volta do intervalo. Está de cara fechada, visivelmente com raiva, o que é bem preocupante porque agora, mais do que nunca, ele pode querer descontar em mim.

Por outro lado, Cris está com o semblante mais leve. Eu queria pensar que é por minha causa, mas provavelmente ele já sabe o que houve com Bianca. Eu ficaria feliz por ele, não fosse minha situação delicada com Nicolas e o risco de Lavínia ficar com Vicente. Com Bianca livre, não há mais nada que impeça Jonas de tentar uma aproximação.

Meus pensamentos são dispersados pela aproximação de Lavínia, sentando-se rígida ao meu lado. Tento chamar sua atenção, mas ela me ignora de propósito. Emílio chega logo em seguida e eu me viro na carteira para indagá-lo com os olhos.

Ele passa a mão pelos cabelos, suspirando cansado.

- Ela está decidida, não quis me ouvir.

E assim escorre pelo ralo minha chance de, mais uma vez, fazer as pazes com Lavínia.

Mas tudo bem. Tudo parece um caos agora, mas de boa. A situação não pode piorar ainda mais, certo? Como era mesmo aquele ditado...?

Olá meu amores, como vão?

O que acharam do capítulo de hoje?

Me desculpem pelo atraso na postagem, minha vida está uma loucura. Talvez eu tenha que dar uma pausa na história mais pro fim do ano, mas qualquer coisa eu aviso vocês. Por favor, não desistam de mim ;-;

Antes de sair deixe aquele voto e aquele comentário maroto.

Beijos e até a próxima ;)