Capítulo 23
Mas eu consigo nos ver perdidos nas memórias
Agosto se transformou em um instante no tempo
Porque isso nunca foi meu
E eu consigo nos ver enrolados em lençóis
Agosto foi embora como um gole de uma garrafa de vinho
Porque você nunca foi meu
August - Taylor Swift
Agosto finalmente chega, trazendo consigo o início do segundo semestre e o último período do ensino médio, o que significa que tudo o que faremos a partir de agora será pela última vez. As últimas férias de julho, as últimas provas, as últimas festas, a última final da Intercolegial. O clima de nostalgia já toma conta dos alunos do último ano.
Quanto a mim, eu não poderia estar em uma vibe mais diferente. É difícil disfarçar minha felicidade, principalmente porque a todo momento meus olhos procuram por Cris e meus lábios formam sorrisos involuntários sempre que o vejo. Ainda não consigo acreditar que isso é real, parece um milagre que ele sinta o mesmo por mim. Fico contando os minutos para a aula acabar, para sair correndo para a casa dele e ficarmos a sós.
Não contei sobre nós para ninguém, nem para os meus amigos. Lavínia não sabe sequer sobre o acordo com Nicolas. Eu não quis envolvê-la nos meus problemas complicados, já basta que Emílio e Jonas saibam. Sei que ela pode ficar com raiva se descobrir que mantive isso em segredo, mas tenho medo de estragar tudo de novo.
A verdade é que tudo isso é uma grande confusão, mas não quero pensar em problemas agora. Não enquanto posso me concentrar apenas em Cris, no sonho que é tê-lo ao meu lado.
No entanto, como que para contrariar meus pensamentos e me arrastar de volta à realidade, recebo a seguinte mensagem no primeiro período de aula:
Nicolas: reunião na segunda sala de estudo, primeiro intervalo, sem falta. É melhor não se atrasar.
Solto um grunhido mais alto do que o esperado, chamando a atenção de Cris. Improviso um sorriso para mostrar que está tudo bem, então percebo o olhar frio de Nicolas, me recriminando por ainda não ter respondido sua mensagem.
Isso é antes do que eu esperava. Pensei que teria mais algum tempo, ou que Nicolas desistisse do plano absurdo. Mas agora tudo mudou. Eu preciso dar um jeito de me livrar da minha obrigação o quanto antes. Cris é a prioridade.
***
Temos três salas de estudos no colégio Pádua, que ficam praticamente vazias porque ninguém estuda sozinho no colégio. Não faço ideia de como Nicolas conseguiu a chave para uma delas, nem quero saber.
Engulo em seco ao entrar. O ar está gelado e as paredes brancas e nuas com o metal das cadeiras fazem com que tudo pareça ainda mais frio e impessoal. Nicolas está sentado em uma delas e faz um gesto para que eu me sente à sua frente. Eu obedeço.
— Fiquei muito triste sem notícias suas nessas férias, Téo. É assim que se trata os amigos?
Tenho vontade de dizer que uma serpente seria mais minha amiga do que ele, mas controlo minha língua.
— Minha tia me colocou de castigo quase as férias inteiras, só recuperei meu celular hoje de manhã.
Seu riso de escárnio preenche o ar.
— Olha bem para mim, Téo.
— Estou olhando.
— Eu tenho cara de otário por acaso?
— O que eu disse é verdade. Pode perguntar para a minha tia se quiser.
— A menos que seja algum delírio meu, me lembro claramente de lhe dar um prazo para executar o nosso plano. E você não só não o executou, como também me deixou no escuro por um mês inteiro.
— Eu não tinha nada para contar, não vi Cristiano desde aquela confusão na festa junina. Você o deixou muito irritado.
— Está dizendo que a culpa é minha?
— Não. Mas eu pensei que talvez... olha, você conseguiu o que queria, está com Bianca agora, não podemos só deixar isso para lá?
A expressão de Nicolas fica mais sombria. Eu me encolho involuntariamente, esperando pela represália que certamente virá.
— Você não se apaixonou por Cristiano, se apaixonou?
Uma gota de suor frio escorre pela minha testa. Espero que minha expressão não me traia agora.
— Não, é claro que não.
Ele me analisa com olhos clínicos. Até respirar se torna uma atitude suspeita.
— Porque isso seria muita burrice da sua parte. Além do mais, eu esperava que você fosse um homem que honrasse seus compromissos, ou estava enganado?
— Eu honro com os meus compromissos. Você sabe o quanto eu odeio Cristiano, estou tentando fazê-lo dizer algo comprometedor, mas não é fácil.
— Não pense que pode me enrolar, Téo. Eu tenho olhos por toda a parte, então vou saber se estiver mentindo.
— Não estou mentindo! Apenas diga o que tenho que fazer!
Me arrependo assim que digo isso.
— Você vai conseguir uma confissão gravada para mim — Nicolas abre um sorriso predador que me causa um arrepio na espinha. — Pode ser um vídeo ou um áudio, tanto faz. Vou desmoralizá-lo diante do colégio, só assim Cristiano e o pai dele sairão do meu caminho.
— Mas... se eu não conseguir...
— Ah, você vai conseguir, fique tranquilo. Porque, se não conseguir, eu serei obrigado a tomar uma medida drástica com você. Há muitas formas de incentivar alguém a cumprir com o combinado, como um acidente aparentemente despropositado ou uma surra em um beco à noite... Enfim, não queremos que se machuque, não é mesmo? Então é melhor, para o seu próprio bem, que se esforce mais dessa vez.
Engulo em seco de novo. Não sei mais o que dizer além de concordar.
***
Quando chego ao pátio, estou lívido. Felizmente não vejo nenhum rosto conhecido, o que me dá alguns minutos para tentar me recompor. Não era essa a recepção de volta às aulas que eu tinha em mente, mas em se tratando de Nicolas suponho que eu deveria ter imaginado.
Avisto Jonas comendo uma barra de cereal em um canto e resolvo me aproximar. Lavínia não está por perto, o que é uma ótima oportunidade para esclarecermos os acontecimentos da festa junina. Além do mais, eu preciso de uma distração após as ameaças de Nicolas.
— E aí, cara? — ele cumprimenta assim que me vê.
Trocamos um soquinho amistoso. Ele me oferece o último pedaço da barra de cereal, eu recuso.
— E então, como estão as coisas com Lavínia?
— Está tudo bem — ele diz, sem entusiasmo algum, o que me deixa em alerta.
— Você contou para ela o que aconteceu na festa junina?
Ele me encara meio irritado.
— Já disse que não existem segredos entre nós. Por que se preocupa tanto com isso?
— Você ainda pergunta? Jonas, você nem disfarça o seu interesse por Bianca, como acha que Lavínia se sente sobre isso?
— Não é como se ela estivesse super interessada em mim também.
— Como assim? Vocês estão namorando, é claro que ela se interessa por você.
Ele balança a cabeça, cético.
— Téo, você sabe bem que isso não é verdade. Lavínia só está comigo porque você disse a ela que ficar comigo era uma boa ideia.
— O que? Não! Quer dizer, eu posso ter dito algo assim, mas se Lavínia decidiu ficar com você foi porque ela quis.
— Você está subestimando sua influência sobre ela. Lavínia é uma garota bacana e tal, mas você sabe tão bem quanto eu que ela tem uma autoestima muito baixa. Nós conversamos muito sobre isso, mas ainda tenho a impressão de que ela faria qualquer coisa para te agradar, até mesmo abrir mão da pessoa que gosta por alguém que você aprove.
Não sei o que dizer sobre isso. Acho que eu deveria estar irritado agora, mas uma vozinha lá no fundo me pergunta o quanto do que Jonas diz pode ser verdade. No entanto, ainda que seja verdade, eu não poderia deixar Lavínia ficar com o escroto do Vicente, poderia? Estou errado por querer o melhor para a minha amiga? Acho que não.
— Escuta aqui, Jonas — digo, mais incisivo. — Isso não é desculpa para você magoar Lavínia. Você aceitou esse namoro, então o mínimo que pode fazer é tratá-la com respeito. Eu não ligo a mínima para o que sente por Bianca, mas se machucar Lavínia vai se ver comigo!
Jonas solta um longo suspiro cansado.
— Bianca não representa perigo algum, ela está com Nicolas agora — afirma ele, deixando transparecer a amargura na voz. — Se é isso que te preocupa, fique tranquilo. Não vou terminar com Lavínia. Mas não posso garantir que ela não vá terminar comigo.
Com esse cenário deprimente, o intervalo chega ao fim. Pelo visto, agosto não me trará nenhum refresco.
E agora, minha gente?
Alegria de pobre dura pouco mesmo... O que acontecerá a seguir?
Será que Nicolas cumprirá suas ameaças? Será que Téo terá coragem de trair Cris? E qual será o futuro de Lavínia e Jonas?
Não percam o próximo capítulo!
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Beijos e até a próxima ;)
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