Capítulo 15
Sou surpreendido por Nicolas quando chego de manhã no colégio no dia seguinte. Ele agarra meu braço e me puxa para trás de uma coluna grossa no pátio antes que eu consiga processar o que está acontecendo. Parece ter madrugado e chegado antes de todo mundo só para me encurralar.
— Por que não respondeu a mensagem que te mandei ontem? — ele tenta ser intimidante, mas parece meio louco, com olheiras e o cabelo loiro despenteado.
— Bom dia pra você também, Nicolas — respondo de mau humor, afastando suas mãos do meu uniforme. — Eu cheguei tarde em casa, não deu tempo.
— Devo lhe lembrar que temos um compromisso. Eu espero um pouco mais de comprometimento de sua parte. Quando mando mensagem, quero uma resposta.
Deixo escapar um suspiro cansado. Ele deve estar bem desesperado para ficar com Bianca para me pressionar assim.
— Desculpa, eu só estava cansado e não sabia o que responder. Ainda não tive muitos progressos com Cristiano, ele permanece tão frio e fechado quanto antes. Parece uma máquina, só estuda e corre.
Minha resposta não o agrada. Seus lábios se curvam para baixo e ele se aproxima ainda mais. Não gosto de sua respiração em cima de mim, mas não o afasto dessa vez.
— Téo, já faz um bom tempo que você está indo para a casa de Cristiano. Uns dois meses? — ele conta com os dedos. — Um mês e meio, enfim... é muito tempo para não ter avançado em nada. Ninguém consegue se esconder por tanto tempo assim, em sua própria casa, apenas você e ele. Por mais rígido que ele seja, com certeza deve ter escorregado em algum momento, revelado alguma fraqueza... tem certeza de que está se esforçando o bastante?
— Sim, estou me esforçando, mas você sabe como ele é...
— Resposta errada, Téo.
Engulo em seco.
— Olha, eu não acho que ele seja gay.
— Ah, não? — diz ele em tom sarcástico. — E o que te faz pensar isso?
— Ele comentou outro dia que acha a Larissa do primeiro ano bonita — minto descaradamente. Cris nunca comenta nada sobre ninguém do colégio.
Mas é claro que Nicolas não cai na minha mentira. Ele é esperto demais para isso. Seus lábios se curvam ainda mais para baixo e me pergunto como consegue fazer isso. Ele apoia a mão direita na coluna ao lado do meu rosto, enquanto a esquerda agarra minha camiseta. Seu nariz quase toca o meu e minhas pernas começam a tremer.
— Escuta aqui, Téo! Se acha que pode me enrolar, está muito enganado. Não me venha com essa de que Cristiano não é gay, porque não foi para isso que te procurei. Devo lembrar-lhe que existe um contrato entre nós, assinado por você. Então eu acho melhor começar a apresentar algum resultado, porque posso fazer um estrago com ele. Posso expô-lo diante do colégio, todos se voltariam contra você. Posso até mesmo processá-lo judicialmente por quebra de contrato, sabia disso? Não brinque comigo, porque acabo com a sua vida em um piscar de olhos. Fui claro?
— Claríssimo — consigo dizer a muito custo, apesar da minha boca estar completamente seca.
— Ótimo! — Ele solta minha camiseta, dando um passo atrás. Mas mesmo assim sinto que ainda não posso respirar. — Quero que me apresente um relatório detalhado toda sexta-feira a partir de agora, e que responda a todas as minhas mensagens com presteza. Quero um resultado positivo antes do fim do semestre, estamos entendidos?
— Sim.
— Certo. — Seu sorriso presunçoso volta à face. Eu o odeio com todas as forças. — Pode ir agora.
De algum jeito consigo chegar inteiro na sala de aula. Meu coração parece querer sair pela boca. Respiro fundo algumas vezes, tentando me acalmar. Não sei o que estava pensando quando tentei mentir para Nicolas. Eu devia saber que proteger Cris só me traria mais problemas, o que foi bem idiota da minha parte. Eu devia só acabar com isso logo e dar no pé dessa cidade.
Mas mesmo assim... O que acontecerá quando Cris descobrir que tudo não passa de uma farsa? Ele vai me odiar, com certeza. Quer dizer, me odiar ainda mais. Ele já me odeia por ontem. Eu nem sei se ainda estou convidado a voltar para a sua casa. E por que pensar nisso me enche de tristeza?
Cris entra na sala e se senta em sua carteira habitual, sem dar qualquer sinal de ter notado a minha presença. Sinto que tenho que fazer algo para quebrar o gelo entre nós. Pego o celular e digito uma mensagem.
Téo: Oi, Cris. Não sei nem como começar isso, mas... me desculpe por ontem, sei que passei dos limites. Eu não queria te pressionar, você tem todo o direito de não me contar nada da sua vida se não quiser e não vou perguntar mais nada, a não ser que me dê abertura para isso. Ainda podemos estudar juntos, certo?
Fico batendo com a lapiseira na carteira, alternando o olhar entre Cris e a tela do meu celular. Emílio está sentado ao meu lado e me lança um olhar atravessado. Imagino que devo estar parecendo ainda mais louco que Nicolas.
Finalmente vejo Cris pegar o celular e digitar uma resposta.
Cris: Tudo bem, eu também exagerei um pouco... claro, estarei te esperando.
Respiro aliviado. Cris se vira para me olhar, mas não sorri. É um gesto mínimo, quase imperceptível, mas vindo dele já é uma grande coisa. Meu coração se acalma aos poucos, pensando que ainda terei algum tempo com Cris antes que ele me odeie para sempre.
***
Acabo sozinho com Emílio na mesa do intervalo. Lavínia e eu ainda não estamos nos falando e ainda não pensei em um jeito de consertar as coisas entre nós. Nem estou com cabeça para as paranoias de Lavínia agora. Já passamos por isso uma vez e no fim ficamos bem, agora não será diferente.
— Então Lavínia nos trocou mesmo por Jonas? — digo mesmo assim.
— Não era isso que você queria? — torna Emílio. Ele está sentado com o pé apoiado na cadeira vazia à sua frente, os cotovelos descansando sobre a mesa.
— Sim, mas não era para ser assim. Eles são nossos amigos, deviam estar conosco agora.
Emílio dá de ombros.
— Talvez eles precisem de um tempo sozinhos.
— Isso significa que eles estão ficando, pelo menos?
— Acho que sim, os dois não se desgrudam mais. — Ele para de repente, descendo o pé da cadeira vazia e apoiando a cabeça na palma da mão para me encarar de forma significativa.
— Que foi?
— Só estava pensando... já que estamos sozinhos aqui, há algo que queria conversar com você.
Seu tom sério é o suficiente para chamar minha atenção. Será que finalmente vai revelar a identidade da sua ficante misteriosa? Ou já é namorada?
— Sobre o que?
— Sobre você — ele diz, para a minha total decepção. — Por que resolveu se aproximar de Cristiano de repente?
— Porque ele é o melhor aluno da nossa sala e eu precisava melhorar minhas notas, eu já te disse isso.
— Disse mesmo, mas eu não acredito. Você o odiava. Deve haver algum outro motivo...
Por um instante temo que ele esteja se referindo ao plano de Nicolas. Mas Emílio não poderia saber sobre isso, poderia?
Ele continua a me olhar como se pudesse ler a minha alma. Eu me encolho involuntariamente, sentindo-me exposto e vulnerável de repente. Decido ficar na defensiva.
— Bom, ele não é tão horrível quanto eu pensei que fosse.
Olho para ele de soslaio. Emílio não diz nada, só fica me encarando com as sobrancelhas arqueadas até que eu continue.
— Ele sabe ser gentil quando quer, e tem medo que as pessoas descubram o quanto é vulnerável, acho. É muito ligado à família também. Cris faria qualquer coisa para protegê-los.
Emílio pega minha mão direita entre as suas e fixa os olhos aos meus. Sua postura é ainda mais séria que antes, o que me assusta um pouco.
— Téo, eu sou o seu melhor amigo. Você sabe que pode contar qualquer coisa para mim, não sabe?
Não faço ideia de onde ele pretende chegar com isso.
— Eu disse a verdade...
— Não toda ela, não é?
— Não sei do que está falando.
— Você está apaixonado por esse cara.
O choque me atinge em cheio.
— O que!?
— Você se apaixonou por Cristiano Batista, não foi? Pode dizer, não vou julgá-lo.
O choque inicial dá lugar à raiva, e eu puxo minha mão de volta em um movimento brusco. Como ele pode pensar isso? Como pode achar que sabe alguma coisa sobre como me sinto quando passou anos ignorando o que eu sentia por ele?
— Não estou apaixonado por Cristiano! Como pode pensar isso?
Emílio passa a mão pela nuca, meio constrangido. Depois me lança um olhar apaziguador, quase suplicante.
— Por favor, não fique com raiva, só estou tentando ajudar. Você é o meu melhor amigo, eu te conheço como a palma da minha mão. E vejo seus olhares para ele. Você o procura por toda a escola, ainda que não note. Até suspira quando ele passa.
Estou em pé antes que perceba, as narinas infladas, os punhos cerrados contra o corpo. Nesse ponto, minha irritação já atingiu o nível explosivo e preciso me afastar antes que faça alguma besteira.
— Você está errado!
— Téo... — ele continua sentado. Parece inabalável, o que me irrita ainda mais.
— Não estou apaixonado por Cristiano Batista!
Saio batendo os pés, sem esperar por uma resposta.
Olá meus amores, como vão?
O que acharam do capítulo de hoje?
Por quanto tempo Téo conseguirá negar o óbvio? E o que ele fará em relação à ameaça de Nicolas?
Não percam o próximo capítulo...
Se está gostando da história, deixe seu comentário e seu voto para eu saber se estou agradando.
Beijos e até a próxima ;)
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro