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05 - Um novo coração.

Rio de janeiro – RJ, novembro de 2010.

Como sempre cheguei atrasado à igreja, há tempos que igreja deixou de ser a prioridade da minha vida, a única razão para eu ainda ir a uma, é a minha irmã, na verdade ela é minha meia-irmã, o nosso pai chifrou a mãe dela com a minha, e quando ele a deixou ela sucumbiu à depressão e meus avós que não me queriam então me levaram para ele, pelo menos não me jogaram em um cesto de lixo qualquer.

O grupo de louvor começou a tocar, e me deu um aperto no coração, saudade de casa de repente eu senti saudades de um tempo que já passou e não volta mais, com o coração ardendo concentrei-me nas pessoas no altar, e então aconteceu algo que há muito tempo não acontecia, reconhecimento, a música falou comigo, e cada palavra ali cantada, era uma recordação do que eu perdi.

No ano do meu divórcio, eu estava muito afastado de Deus, já não me comprometia com as coisas da igreja, e tudo eu deixava nas mãos da minha esposa, e ela me deu um CD do grupo 'quatro por um - de volta a inocência'. Há anos que eu não ouvia esse louvor, há anos que eu não sentia esse ardor em meu coração, e sem que eu percebesse as lágrimas molharam meu rosto, e as lembranças invadiram meu ser destroçando-me a alma.

São Paulo, SP - Maio de 2005.

Pra variar acordei mal-humorado, nada mais me dava prazer, estendi meu braço já sabendo que não iria encontra-la, era tarde, ela já havia saído para o trabalho. Nessa manhã eu estaria de folga, e por isso saí um pouco com os amigos depois do expediente, levantei-me frustrado, mesmo que eu não tenha ingerido uma gota de álcool, eu estava de ressaca, perder sono para mim era como se embriagar. Tomei um banho rápido, eu precisava de um café forte.

Encontrei-a na varanda, enrolada em uma manta, com o olhar vazio para o nada, meu coração despedaçou, minha esposa é a pessoa mais maravilhosa que Deus pôs em minha vida, ela pareceu-me distante, não se virou, sorrindo para mim como de costume.

- Mel! - Chamei aproximando-me, sofri um choque quando ela se virou e olhou-me nos olhos, as olheiras, os olhos vermelhos e inchados, o olhar vazio de todo o amor que ela sempre me demonstrou.

- Bom dia Augusto. Estava mesmo te esperando acordar. - Surpreendi-me, ela nunca me chamava de Augusto.

- Você andou chorando? O que aconteceu amor? - Perguntei exasperado.

- Eu quero o divórcio. - Eu fiquei mudo, paralisado, olhando-a tentando entender do que ela estava falando.

- Isso é só porque eu cheguei um pouquinho mais tarde ontem?

- Um pouquinho mais tarde? – Ela perguntou sarcástica. - Você chegou às três da manhã e acha mesmo que foi apenas 'um pouquinho mais tarde'? E não foi a primeira vez! – Resmungou ainda sarcástica, franzi o cenho surpreso, sarcasmo não era natural dela.

- Eu sinto muito! - Eu disse passando as mãos na cabeça, o desespero tomando conta do meu ser. - "Isso não está acontecendo"! - Pensei em pânico. - Eu não vou mais fazer isso, eu não pensei que teria algum problema sair com meus colegas de trabalho.

- E não tem problema nenhum você sair com seus colegas, mas poderia me avisar para eu não ficar preocupada, lembrar-se que tem uma esposa em casa. – Respondeu frustrada.

- Como você fala, até parece que eu passei a noite toda fora de casa. - Ela suspirou e voltou o olhar para longe, eu não sabia o que falar e pareceu-me que eu estava falando as coisas erradas, ela levantou em um pulo, e olhou-me com desprezo, jamais imaginei que um dia ela me olharia daquela maneira.

- Vamos ser práticos, não está dando certo. Sua mãe tinha razão, eu me arrependi de ter casado com você. - Ela disse entredentes, olhando-me com tristeza e saiu sem olhar para trás.

Eu conheço a Mel desde que me entendo por gente. A vida toda ela teve três grandes amigas e apenas um grande amigo, eu, ela é um ano mais nova, mas devido a um problema de aprendizado eu sempre estudei com ela, e ela sempre foi meu incentivo para não perder nenhum ano, ela sempre foi aquela que me incentivava a avançar; começamos a namorar na adolescência, fomos juntos para a faculdade, ela fez medicina, eu jornalismo. Todos diziam que eu escolhi jornalismo por ser pouco inteligente, exceto ela, que era minha defensora e eu o defensor dela, e minha irmã mais velha que nos defendia.

Quando éramos adolescentes nossa melhor amiga Claudia desapareceu, uma bela noite fomos todos acordados no meio da noite para vivermos o maior pesadelo que já vivemos ninguém sabia dela, Claudia era incrível, enquanto eu era pouco inteligente ela era inteligentíssima, foi ela que me ensinou a ler, ela que descobriu qual era a minha dificuldade de aprendizado, e me ajudou a supera-lo, e quando ela sumiu foi difícil para todos nós, sofremos muito principalmente a Mel. E na ocasião eu estava lá segurando em sua mão cuidando dela e ela cuidando de mim, não a deixei sozinha por nenhum momento, e eu estava lá também quando dois meses depois ela conheceu aquela que viria a ser a melhor amiga de todos os tempos, a tímida e triste Ariane, mas também doce e solidária. Estive com ela nos melhores e piores momentos, somos melhores amigos, ou pelo menos éramos.

Sequei as lágrimas violentamente e saí porta a fora. O que eu fiz de errado? Quando minha vida começou a desandar, a dar tudo errado? O olhar dela não saia da minha cabeça, a mulher que me amara desde criança agora me desprezava e estava infeliz ao meu lado e queria se divorciar de mim, o que eu iria fazer sem ela? Andei sem rumo, com o coração acelerado, as lembranças atormentando-me. Aos seis anos, minha avó me deixou com o meu pai e a sua família; angustiado com todas aquelas pessoas estranhas me olhando como se eu fosse um alienígena, fugi correndo como se eu tivesse algum lugar para onde ir, escondi-me embaixo do escorregador do playground, e ali a vi pela primeira vez, ela me encarou com seus longos cabelos negros e grandes olhos cinza, franziu o cenho piscou inúmeras vezes e bufou olhando para o outro lado e só então eu vi a outra menina, que me fuzilava com seus olhos verdes, jamais vi olhos como aqueles, eram lindos e assustadores, virei-me para os olhos cinza e tranquilos, apesar da indignação clara, acho que eu estava fazendo algo muito errado!

- Você está ocupando o nosso espaço. - Retrucou a loira, assustando-me, encarei os olhos cinza arregalando os olhos.

- Tu tá chorando? - Perguntou a morena, abaixando-se para ficarmos olhos nos olhos, ela franziu a testa, fez caras e bocas me analisando, admito que mesmo aos seis anos de idade, fiquei encantado por ela, ela cerrou os olhos quase os fechando. – Sim você está chorando! – Constatou séria olhando para a amiga.

- Tô nada! – Resmunguei fazendo gesto para me levantar; as duas me empurraram, sentando uma de cada lado, elas tinham uma sacola de doces e pipocas, e ficamos lá comendo, elas falando sem parar, a única coisa que eu disse foi o meu nome, e mais nada, até aquele momento eu não imaginava que duas criaturas pudessem falar tanto, finalmente minha irmã apareceu, aquela que eu não quis olhar na cara quando meu pai me apresentou a ela, sorriu e perguntou se tinha espaço para ela, Mel encolheu as pernas e ela sentou na frente dela, e foi assim que conheci Melissa, Claudia e Isabel minha irmã amada. Por anos fomos os quatro inseparáveis, até aquela noite horrorosa, quando perdemos a Claudia, ela não está morta nem nada a família simplesmente foi embora sem dizer a ninguém o que acontecera com ela, por muitos anos Mel quis saber o que acontecera à melhor amiga, mas acabou desistindo.

No aniversário dela de quinze anos, ajoelhei-me diante dela e a pedi em namoro.

- Quem namora quer casar rapazinho! - A mãe dela disse sorrindo, antes dela dizer sim.

- Eu vou casar com a sua filha dona Úrsula! - Eu disse sério, todos os presentes sorriram e ela sorrindo apenas com os olhos me disse sim, gargalhando quando a peguei nos braços e a rodopiei pela sala.

Quando nos casamos muita gente foi contra, não que qualquer uma dessas pessoas tivesse algo contra nos casarmos, com exceção da minha mãe, digo, da esposa do meu pai, mas todos eram unânimes sobre um fato, éramos muito novos, ela com dezessete e eu com dezoito. Ela foi a noiva mais linda que eu já vi, e eu o noivo mais feliz, e fomos imensamente felizes até eu estragar tudo. Em uma noite cheguei a nossa casa, e ela havia preparado um jantar maravilhoso, estava tudo perfeito, minha esposa se virava bem na cozinha, mas minha sogra era excepcional.

- A sobremesa é especial, minha mãe que fez.

- Só a sobremesa? – Brinquei beijando suas mãos.

- Sorte a sua que hoje eu estou tão bem-humorada! - Beijou-me e saiu. - Não saia daí.

Ela voltou com um prato coberto, sorri, minha sogra sabe o quanto eu amo bolo confeitado, e pensei logo que era um, eu já fui logo pegando o pratinho de sobremesa, saboreando imaginando qual cobertura ela havia feito.

- Eu te amo meu amor! - Mel disse enquanto levantava devagar a tampa do prato de bolo.

De imediato eu fiquei apenas olhando para o pequeno bolo à minha frente, era um bolo lindo branco com um par de sapatinhos um rosa e outro azul, e escrito "menina ou menino", as lágrimas molhavam meu rosto, no dia em que ela me disse sim naquele altar, eu pensei que jamais sentiria uma emoção tão forte, mas eu estava enganado, eu levantei o olhar e ela também chorava, levantei-me rápido e a peguei em meus braços, e a rodopiei pela sala exatamente como fiz quando eu a pedi em namoro beijei-a com todo o amor que havia em meu coração, e naquela noite só bem mais tarde que comemos daquele bolo.

Os meses seguintes foram os melhores da minha vida. Tudo o que eu queria era ficar com minha esposa e meu bebê, havíamos decidido que não queríamos saber o sexo antes do nascimento. Outra coisa que havíamos combinado era que ela não fizesse nada que pusesse em risco a vida dela ou do nosso bebê, não sei onde eu estava com a cabeça para deixa-la tanto tempo sozinha, diminuí minha carga de trabalho, para ficar mais tempo em casa com ela, mas ainda assim foi o suficiente.

Um belo dia, eu saí para o trabalho e a deixei em casa, ela estava grávida de cinco meses e estava tão linda! Naquela manhã ela resolveu ir a uma clinica de reabilitação, lugar este que nós ajudávamos a manter. Não souberam explicar como, mas havia um garoto novato com uma faca na mão ameaçando outro interno, ela inventou de falar com o garoto, e segundo nos informaram depois, o garoto estava se rendendo, ele estava entregando-lhe a faca quando o segurança do local atirou, Mel estava muito perto, o garoto caí para frente perfurando a barriga dela, eu a culpei, culpei ao garoto, e odiei a ambos, meu ódio por ela aumentou quando ela disse que o perdoara, ela disse que ele se arrependeu, pediu perdão, e ela acreditou que ele foi sincero, eu não acredito e também não me importa, eu teria uma menina, que morreu esfaqueada ainda na barriga da mãe, porque ela foi imprudente e tola.

Não a odeio mais, pelo contrário, amo minha esposa com todo o meu corpo e coração, mas nosso casamento nunca mais foi o mesmo; a cada dia nos afastamos mais e mais, mas divórcio? Também não é para tanto! Ou é? Cansado de andar de um lado para o outro, voltei para casa que estava fria e vazia, exatamente como o meu interior. Naquela noite, Mel levou suas coisas para o quarto que seria da nossa filha, e por algum motivo que eu não conseguia compreender, não nos falávamos mais, e quando tentávamos qualquer diálogo, brigávamos, suportei por dois longos meses e saí de casa, quatro meses depois estávamos assinando o divórcio e eu aceitando uma proposta de trabalho em outro estado, raramente nos vemos e quando isso acontece viramos a cara.

Agora estou aqui, cinco anos depois, chorando igual a uma criança tola por causa de uma música. Cada palavra era uma alfinetada no meu coração, eu me afastei do Senhor, eu o ignorei, e sinceramente? Eu estava com saudades. O pastor pediu para abrir a bíblia em Tiago capítulo um, versículos vinte e um a vinte e sete.

- "Definitivamente eu deveria ter ficado em casa". - Pensei frustrado. Não bastava o Louvor, a Palavra também tinha que ser uma pancada em mim? Eu fiz tudo errado! Li e não cumpri, enganei-me com os falsos conselhos dos 'sábios' que me rodeavam, fui religioso e não imitador de Cristo, e mais uma vez fechei meus olhos desolado, deixando as lembranças me alcançarem.

- Eu vou casar contigo quando eu crescer. - Eu dissera enquanto a balançava no balanço do playground e ela ria alto.

- Não vai não! - Ela respondera ficando seria. Parou o balanço. - Você não pode casar comigo, você não ama a Deus, e se você não O ama nunca me amará. Você não tem mais seis anos, mas continua agindo como se tivesse. - Retrucara triste.

- E você continua agindo como se fosse gente grande! - Repliquei mal-humorado.

Ela só me olhou de cara feia e saiu batendo o pé, com nove anos, ela já era bem mais esperta que eu. Assustei com a pessoa do meu lado me estendendo um lenço de papel, constrangido aceitei me concentrando no culto que para minha surpresa estava encerrando, nos últimos anos eu ficava entediado nos cultos e para mim as horas não passavam, naquela noite foi uma agradável surpresa que eu não ficara entediado e nem estava ansioso para que o culto acabasse logo, quando o pastor deu as bênçãos finais eu saí quase correndo de lá, não por que eu estivesse enfadado ou por que eu quisesse fugir de Deus, mas porque eu precisava me encontrar com Ele novamente, finalmente minha ficha havia caído e percebido o que eu tinha feito da minha vida nos últimos anos, não apenas após o divorcio, mas antes disso, quando eu me afastei de Deus e da minha esposa por rancor e egoísmo. No caminho para casa fui cantando a música "de volta à inocência", fiquei surpreso por ainda conhecer a letra.

Sabe Senhor
Tenho andado meio sem rumo
Perdi a visão, perdi o temor
Não fui sábio

Sabe Senhor
Eu pensei que Te conhecia
Mas enganei a mim mesmo
Manchei a pureza
E fui pra bem longe de Ti
Mas estou de volta pra Ti

Ao tempo da inocência eu quero voltar
Ao tempo da pureza eu quero voltar
Da simplicidade com Pai
Humildade com Deus
Ser curado do que o mundo me fez

Ouvir a Tua voz como sempre ouvi
Amar Tua palavra com todo meu ser
Oh Deus, tô com saudades de Ti
Saudades de Ti, saudades de Ti.

Passei boa parte da noite pensando na minha vida, Deus foi magnânimo comigo, desde antes de eu nascer, minha mãe tentou me abortar por inúmeras vezes, minha avó me disse uma vez que não sabe como que eu e minha mãe sobrevivemos a todas aquelas tentativas de aborto, contra todas as probabilidades eu nasci, ela me rejeitou desde o nascimento e minha avó mesmo contra a vontade, me criou enquanto pôde, e depois me deixou com o meu pai, que do jeito dele me amou, e me deu irmãos maravilhosos, principalmente a Bel, e minha mãe mesmo não me amando como aos filhos dela, ela também me amou, e se esforçou para me dar o melhor possível, ela apenas não sabia como cuidar do fruto da traição do homem que ela escolhera para viver toda a vida ao lado dela, e quem a culparia por isso? Pela manhã grogue de sono, liguei para o meu cunhado.

- O que foi caiu da cama? - Foi o cumprimento dele.

- Bom dia para você também! A saudade é tanta que não consigo esperar para mais tarde.

- Sei! Quem não te conhece que te compra. O que você quer de mim a essa hora da manhã? – Perguntou sorrindo.

- Você pode me passar o número da Melissa? - Ele engasgou com café, viciado em café era a primeira coisa que fazia pela manhã.

- Cara quer me matar do coração? - Perguntou tossindo. - Algum motivo especial para isso? - Perguntou desconfiado.

- Estou precisando falar com ela, vai ou não me ajudar? - Perguntei frustrado.

- Claro que vou, mas porque não pediu para a sua irmã?

- Você conhece a Bel, não quero criar expectativas em mim e nem em ninguém.

- E temos motivos para expectativas? – Senti a esperança na voz do meu cunhado.

- Não sei Fernando, só quero falar com ela, se eu falo isso para minha irmã ela vai querer saber o que eu quero porque eu quero você sabe como funciona a cabeça da sua esposa. – Respondo exasperado.

- Tudo bem! Eu vou te passar. Guto toma cuidado. - Fechei os olhos, saudoso, esse apelido sempre fazia meu coração acelerar, ainda bem que só a família me chamava assim.

- Eu tomarei. Não se preocupe. - Respondi tenso, ainda pensando no apelido.

Estava eu, Mel e Claudia sentados na cozinha de dona Úrsula comendo bolo.

- Seu nome é nome de vovô. - Dissera Mel com a boca cheia de bolo.

- E você não deveria falar com a boca cheia. - Retrucara Claudia de boca cheia também, rimos os três de boca cheia. - Mas ela tem razão! - Exclamara engolindo a comida.

- Não tem não. Não conheço nenhum vovô com o meu nome. - Eu retrucara sério.

- Podemos chama-lo de Guto! - Dissera Mel, pensativa.

- Boa ideia, ele tem mesmo cara de Guto. - Completara Claudia.

- E como seria a cara de um 'Guto'? - Eu perguntara assustado, aquelas duas faziam todo tipo de bullying inimaginável comigo quando éramos crianças.

- As suas bochechas. - Respondera Claudia apertando-as. - Que coisa mais fofa! Gugu, gagá, Guto! - As duas riram sem parar, eu levantara zangado e fora para casa, mas o apelido pegou.

Não tive coragem de ligar, mas ligarei depois. Cheguei ao trabalho e já tinha um recado da minha chefe revirando os olhos fui vê-la, nada contra mulher no comando, mas algumas mulheres não sabiam aproveitar a chance que lhes eram dada, infelizmente para mim a minha chefe era uma dessas pessoas.

- Seu nome foi cotado para ser nosso correspondente em Londres. - Ela disse orgulhosa, tolice dela, se fosse a qualquer outro momento eu nem pensaria, mas justo agora? Sem chance querida.

- Eu preciso pensar. – Respondi calmamente.

- Pensar em que cara pálida? Essa é uma chance de ouro até você sabe disso! - Debochou.

- Como eu disse eu preciso pensar.

- Bem, você que sabe! Estou precisando de você lá, mais do que aqui!

- Você está me ameaçando de novo? Não se cansa desse joguinho que não nos levará a lugar nenhum? - Ela levantou-se e aproximou de mim quase tocando nossos rostos, afastei-me um pouco e ela olhou-me friamente.

- Entenda como quiser baby! Apenas não reclame depois, dizendo que eu não o avisei. - Ela disse e sorriu cínica. - Agora vá cuidar dos seus afazeres, depois você me dá uma resposta satisfatória para nós dois.

- "Pode sonhar querida, o que é satisfatório para você jamais será para mim". - Pensei, voltando para minha mesa.

- E então o que a 'dama de ferro' queria contigo? - Perguntou Fábio.

- Mandar-me para Londres.

- Oi? E você claro que aceitou!

- Não. Pelo menos por hora não tenho a menor intenção de sair do país.

- Você só pode estar brincando!

- Não estou não. - Meu celular vibrou. - Preciso ir.

- Você vai de novo à casa da tal Ruth? Só espero que não seja ela o motivo de você não aceitar essa proposta maravilhosa, cara ela é chave de cadeia! – Disse pela milionésima vez.

- Você nem a conhece! E não, ela não é o motivo de eu querer ficar no país. E cara o pai dela está desaparecido, que tipo de homem eu seria se não a ajudasse? – Eu perguntei pela milionésima vez, é, eu e meu amigo estávamos sem assunto.

- O tipo que permanece vivo e com emprego? Você ouviu a dama de ferro!

"É eu ouvi, eu só não sei se estou preocupado se ela me demita ou não". – Penso saindo da sala, me volto para ele. - Ela acabou de me fazer outra ameaça. Ela vai ter que decidir por qual violação vai me dar às contas.

- Cara, você tinha que rejeitar justamente a mulher que poderia vir a ser a sua chefe? – Eu apenas sorri, só Fábio sabia desse episódio degradante.

- Eu já vou, se ela procurar por mim diga que eu estou trabalhando. - Respondi ignorando-o.

- Nem pensar eu vou com você. Não sei por que você não deixa isso com a polícia! – Resmungou sacudindo a cabeça.

- A polícia não está interessada com o que acontece com moradores de comunidades; além disso, eu entro em lugares que a polícia não entra! - Retruquei.

- Oh, Céus! Ele ainda vai morrer e me mata junto.

- Não seja dramático. Deus é mais! – Fábio olhou-me surpreso, eu apenas sorri.

- Ontem eu tive uma longa conversa com Deus e finalmente eu compreendi que Ele jamais me deixou sozinho, e que tem cuidado de mim por todos os anos.

- Estou feliz por você! – Diz empolgado me abraçado, eu bagunço o cabelo dele sorrindo, Fábio é um bom amigo.

Aquele dia foi mais proveitoso que imaginávamos, encontramos uma pista do seu Joaquim pai de Ruth, pena que as chances de encontra-lo com vida eram mínimas, mas o ardor que eu sentira a noite na igreja ainda queimava meu coração e pela primeira vez, desde que ela me procurou pedindo ajuda para encontrar o pai, eu não fui racional e deixei o Amor de Deus guiar-me; e enquanto eu procurava pistas do seu Joaquim, e pensava no meu grande e inesquecível amor e percebi que a culpei pela morte da nossa filha, porque eu estava vendo tudo com os olhos humanos, eu havia parado de ver as coisas com os olhos da fé, exatamente como eu estava fazendo agora, se Deus assim o desejasse nós o encontraríamos com vida.

Por todos esses anos eu a culpei pelo fim do nosso casamento; foi ela quem pediu o divórcio, então na minha cabeça a culpa era dela, foi ela quem ariscou a própria vida, matando assim a nossa filha, então ela era culpada por não termos uma filha, enfim a culpa de tudo que aconteceu era dela, e agora envergonhado eu percebia o quanto fui imaturo e injusto com aquela que a única coisa que fez desde que nos conhecemos foi me amar e me apoiar, e no momento em que ela mais precisou de mim eu virei as costas para ela, e o quanto eu afastei-me de Deus, fazendo coisas que O desagradava.

Naquela noite, sozinho em casa eu peguei minha bíblia, coisa que há anos eu não fazia, eu só a pego para ir à igreja, no início do meu casamento nós líamos a bíblia juntos pela manhã e a noite todos os dias, e quando ela engravidou eu comecei a não ter mais tempo, e às vezes ela lia sem mim. Senti saudades, não apenas dela, mas de Deus também, de sentir a Sua Presença, de ter certeza de que Ele falava e eu ouvia, senti as lágrimas mais uma vez molhar meu rosto, folheei a bíblia.

- "O que eu faço agora Senhor? Como eu posso consertar as coisas com o Senhor e com a Mel? O que eu faço para o Senhor me perdoar e eu voltar ao tempo da inocência? Eu estraguei tudo e afastei-me de Ti, mas estou com saudades de Ti Senhor, estou aqui Senhor, limpe a sujeira com a qual eu manchei a pureza do meu coração, faça meu coração puro outra vez, renova-me Senhor, não quero permanecer longe de Ti, aceite-me de volta, cure-me, perdoe-me, em nome de Jesus". - Orei como há tempos eu não orava.

Abri meus olhos e minha bíblia estava aberta em salmos, li o vinte e quatro, mas consegui ler até o verso cinco, e prostrei-me diante do Senhor, eu permiti que a vaidade invadisse meu coração e fiquei cego, para tudo o que Deus já fizera por mim, e tornei a abrir meu coração para Cristo, antes de procurar pela Mel, eu precisa voltar para o Senhor.

Nos dias seguintes inúmeras vezes tentei ligar para ela, mas não conseguia, e Deus confirmou-me, primeiro eu precisava voltar para Deus. Contra todas as expectativas encontramos o seu Joaquim vivo muito debilitado e sofrendo por tantos maus-tratos, ele estava prisioneiro de um traficante porque havia presenciado uma execução, graças a Deus deu tudo certo e ele e a família estavam bem, e eu muito encrencado com a minha chefe.

- Eu disse para você ficar longe daquela favela! - Ela gritava histérica. - Você poderia ter morrido e ainda levado o idiota do Fábio junto.

- How! O idiota do Fábio está aqui, e você ainda vai ser processada se continuar falando desse jeito. – Disse levantando. - E fui! Cansei desse assunto você deveria agradecê-lo, estamos mais uma vez na frente de todos os jornais, graças a ele! – Retrucou me apontando.

- Volte aqui que eu não terminei. – Gritou furiosa.

- Você sabe que ele não vai voltar. - Fechei a porta. - E sabe também que ele está certo, você está perdendo o controle, os seus subordinados estão perdendo o respeito por você.

- A culpa é sua! - Ela estava furiosa. - Você não me respeita.

- Minha não! Não tenho nada haver com isso, você que pega no meu pé desde que se tornou chefe.

- Eu só quero você longe daqui.

- Talvez isso esteja perto de acontecer. - Falei distraído pensando na possibilidade de voltar para casa.

- Vai aceitar a proposta de Londres?

- Provavelmente não. E desculpe-me por ir contra você, mas a Ruth precisava de ajuda e ela não tinha a quem recorrer.

- Você vive atrás dela, ela estala os dedos e você corre até ela. – Disse ressentida.

- Isso não tem nada haver! De onde você tira essas coisas, ela é uma boa amiga que precisava de ajuda, eu ajudo pessoas que tem problemas e você sabe disso.

- Eu tenho um problema e você não faz nada para me ajudar. – Disse manhosa se aproximando de mim, eu fui mais rápido e passei para o outro lado.

- Eu já disse que não posso ajuda-la, já vou indo que está tarde, e tenho um compromisso.

- Você está pensando em ir para onde? – Ela mudou de assunto me fuzilando com o olhar, eu já estava acostumado, já nem me incomodava mais.

- Voltar para casa. Com licença! - Saí antes que ela me enchesse de perguntas.

Procurei o pastor e contei a ele, toda a minha história, disse que estava arrependido e queria verdadeiramente servir ao Senhor, ele orou comigo, e disse que dependia de mim, viver conforme a Vontade de Deus, e que a igreja estava à minha disposição, e eu comecei a minha nova caminhada com Deus.

Passou mais uma semana e no final dessa semana, eu liguei para a minha irmã, Fernando me perguntou se eu já havia ligado para a Mel, ainda não tinha tido coragem, mas que logo eu ligaria; naquele fim de semana, o pastor pregou sobre a inocência das crianças, seus corações puros e sem maldades, e por isso Jesus disse "vinde a Mim todas as crianças, pois delas serão o reino dos céus", ele falou de Davi que se prostrou diante do Senhor e disse: "Esconde a Tua face dos meus pecados, e apaga todas as minhas iniquidades. Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova em mim um espírito reto", e era por isso que Davi era o homem segundo o coração de Deus, pois ele buscava renovar-se e não se esconder, ele queria um coração puro, e não um coração cheio de razão humana.

Orei, jejuei, e busquei ao Senhor, na terça-feira saí mais cedo do trabalho, passei na igreja falei com o pastor e ele apenas sorriu e me disse.

- Não temas meu filho, se você crê que Deus está no controle da sua vida, e você permite que Ele te guie, o melhor você receberá. - E com essa promessa fui para casa, e liguei para ela, já estava quase desistindo quando ela atendeu.

- Alô! - Ouvir a voz dela fez meu coração acelerar e minhas mãos suarem.

- Oi, Mel! - Respondi sem me identificar, ela não respondeu. - Ainda está aí?

- Estou. - Ela respondeu tensa. - Aconteceu alguma coisa?

- Pode se dizer que sim. Como você está?

- Eu estou bem. E você?

- Reconectando-me. - Falei triste, a frieza na voz dela feria-me a alma.

- Não entendi.

- Eu posso ir aí, te ver e falar contigo pessoalmente?

- Não imagino o que poderíamos ter para conversar, depois de todo esse tempo.

- Eu tenho muito para te falar, se você puder me ouvir, por favor!

- Eu não sei Guto, não quero passar por tudo aquilo novamente. - Eu sorri, ela me chamou de Guto. - Desculpe-me, Augusto, mas eu preciso sair. - Murchei feito um balão furado.

- Tudo bem, eu posso te ligar depois? - Ela ficou em silêncio, meu coração parou.

- Tudo bem, pode ligar. – Respirei, aliviado, soltando o ar devagar.

- Obrigado Mel! A gente se fala depois.

- Tchau Guto, digo, Augusto! - Ela desligou, mas fiquei feliz ela já não me odiava tanto! Sorrindo fui arrumar para ir ao culto, e dessa vez eu não queria chegar atrasado.

Nos dias seguintes nos falamos quase todos os dias, éramos impessoais e frios, mas educados. Finalmente enchi-me de coragem e fui passar um fim de semana em São Paulo, queria ver minha família, e principalmente a Mel. Mandei-lhe uma mensagem dizendo que estava indo para casa, talvez não devesse ter mandado, eu fiquei com a sensação de que ela estava fugindo de mim, claro que isso é loucura e ela não tem porque me esperar mais ainda assim é doloroso aceitar isso.

Ela havia ido para o Tocantins, noivado da melhor amiga, Ariane. Eu já falei de Ariane? Deus a colocou em nossas vidas para nos ajudar depois da partida da Claudia. Ela foi uma boa amiga na ocasião do meu divorcio, aconselhou-me, disse que eu estava sendo precipitado em sair de casa, mas eu não dei ouvido, preferi acreditar em minha mãe que dizia que eu não seria feliz, pois eu havia nascido para magoar e atrapalhar a vida das pessoas de bem. Rever a família da minha irmã naquele momento me deu outra perspectiva.

- "Deleita-te no Senhor, e Ele realizará o desejo do seu coração". - Minha irmã sussurrou em meu ouvido ao despedir-se de mim.

Nos dias seguintes eu não liguei ouvir a voz dela, era doloroso então eu apenas mandei mensagens, sempre fomos amigos, somos irmãos em Cristo, não tem por que sermos desagradável um com o outro.

- "Senhor meu Deus eu te amo, e preciso de Ti, estou prostrado na Tua Presença, para que a Tua Vontade prevaleça na minha vida, não quero estar ansioso, pelo que não tenho ou perdi, tudo em mim pertence a Ti. Seja o Senhor a realizar em mim o que tens guardado para mim, acalme a minha alma que está em pânico e desesperada, pois eu sou falho Senhor, e nada sei, toma Senhor, a direção da minha vida, e perdoe-me por achar que eu poderia fazer algo sem Ti, perdoe-me por ser egoísta e mal, fortaleça-me para que eu não venha a manchar o novo coração que pusestes em mim, se o mal quiser me devorar, desperte-me Senhor, que a Tua Graça, resplandeça em mim, e eu Te Honre aonde quer que eu vá, acalma-me Senhor, para que meus olhos vejam a Tua imensa misericórdia e eu Te dê graças, o meu hoje é para Te Servir e Te Adorar, e o meu amanhã também será se assim o Senhor permitir. Tira de mim tudo o que me afasta de Ti, e tome em Tuas Mãos o meu viver, e dê-me sabedoria diante de cada situação em que me colocar que eu seja um bom exemplo a ser seguido, não por mim mesmo Senhor, mas porque o Seu Espírito habita em mim, em nome de Jesus, tire toda a ansiedade e angústia do meu ser, e que eu só espere em Ti". - Orei no final de mais um culto, era bom está de volta à casa do Pai, e se pondo à disposição dEle.

"Você ainda quer falar comigo pessoalmente"? - Dizia a mensagem que eu recebi, meu coração acelerou.

- "Senhor não deixe a ansiedade tomar conta do meu ser. Prepare-me para seguir em frente de mãos dadas com o Senhor, acalme o meu coração, eu Te Adorarei em qual caminho o Senhor colocar-me". - Pedi antes de responder.

"Sim. Eu gostaria muito".

"Estarei no Rio no sábado podemos nos ver"?

"É só marcar a hora e o local".

"Ok! Eu te aviso".

Dois dias. Respirei fundo. - "Confia no Senhor, não se estribe em seu próprio entendimento, deixa Deus agir, e o melhor você terá, independente do que queira ou pense. Deus tem o melhor para você". - Pensei e comecei a rir, quando você começa a pensar em si mesmo, na terceira pessoa a coisa está crítica, e ainda rindo comecei a louvar, e Fábio da mesa dele olhou-me preocupado eu dei de ombro e continuei a louvar.

No sábado em questão eu estava em um quiosque no calçadão de frente ao prédio onde eu moro, esperando por ela, e para a Honra de Deus, eu estava calmo e tranquilo, e mesmo quando a vi vindo em minha direção, mantive a postura tranquila, e um sorriso bobo iluminou meu rosto.

- "Obrigado Senhor, por tê-la trazido até aqui, que seja feita a Tua Vontade em nossas vidas, clareia meus pensamentos para que eu consiga falar claramente o que eu desejo, sem ofendê-la ou magoa-la". - Pedi.

Ela também sorriu quando me alcançou, e seu rosto também se iluminou, ela estava ainda mais linda do que eu me lembrava.

- Bom dia Guto.

- Bom dia Mel. - Ela sentou ao meu lado, olhando curiosa, aos arredores.

- Para um lugar tão quente o vento aqui é frio. - Comentou esfregando os braços.

- Verdade. – Respondi sorrindo. - Quer dar uma volta na praia? Andar ajuda a acostumar com o vento frio. - Ela olhou-me e deu um meio sorriso.

- Não. Obrigada! - Ela pediu uma água de coco. - O que você queria tanto falar comigo? - Ela foi direta como sempre.

- Perdoe-me! - Ela ficou surpresa. - Eu sinto muito por não ter ficado ao seu lado quando perdemos nossa filha, lamento tanto por ter sido tão estúpido e pensar que a dor era só minha, perdoe-me por ter culpado você por toda aquela tragédia, e por ser egoísta demais para perceber que eu fui mais culpado por tudo aquilo do que você.

- O que te faz pensar que você é culpado pelo que houve à nossa filha? Você era cuidadoso, por você eu nem sairia de casa.

- Exatamente! Eu fui excessivamente cuidadoso, e esqueci-me de Quem realmente poderia cuidar dela. Todas as vezes que você chamava a minha atenção que eu estava negligenciando a Deus, eu dizia que estava apenas cuidando da família que Ele me dera, e eu esqueci que "se Ele não edificar a casa em vão trabalham seus edificadores", eu sinto muito. Eu fui tolo e estraguei tudo.

- Eu também fui tola, eu tomei decisões sem o consentimento de Deus, ser sábia não significa não sentir dor ou se indignar, ser sábia significa buscar a ajuda daquEle que pode curar as suas feridas, e nos ajudar a seguir em frente, perdoe-me por ter sido tola e egoísta, eu também pensei que a dor era só minha. - Uma lágrima solitária desceu por seu rosto, e meu coração doeu, quis me aproximar e conforta-la.

- Eu lamento minha pequena, eu lamento tanto! - Eu sei que eu disse que seria prudente, mas a puxei para os meus braços. - Perdoe-me minha querida.

E ambos choramos nos braços um do outro. E naquele dia falamos tudo o que deveríamos ter dito um ao outro, cinco anos atrás. Vi seus olhos brilharem quando eu disse das minhas conquistas, e meu coração se alegrou com o seu carinho mesmo depois de tudo o que fiz, e eu vibrei ao saber das conquistas dela, e me entristeci ao me dar conta do quanto a fiz sofrer e do quanto ela ainda sofre por causa da minha infantilidade e egoísmo; rimos do noivado surpresa de Ariane. E pela primeira vez em anos, ali olhando aqueles olhos cinza que brilhavam tanto quanto brilhavam quando os vi pela primeira vez, eu me senti em casa.

- "Obrigado Senhor! Por está nova chance que o Senhor está me dando, dê-me sabedoria e discernimento para que eu compreenda o que é da Tua Vontade e o que é da minha, nos abençoe para que possamos nos perdoar e aceitar o que o Senhor tenha para nós daqui para frente, obrigado, por me aceitar mais uma vez, obrigado por ter cuidado dela, tê-la protegido, e não ter permitido que o mal que eu causei a ela a dominasse, ela continua linda e iluminada, obrigado por ser misericordioso comigo e me trazer de volta para casa e para os Teus Braços". – Pedi sorrindo, embevecido pelo sorriso dela.

Até o próximo conto.

Publicado: 25/05/2021.

Modificado: 07/10/2021.

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