10. A VIAGEM
Encarei em silêncio a estrada passando em uma velocidade que aos humanos pareceria que tudo era um borrão, porém eu via cada árvore e animal que passava pela janela do carro. Alice dirigia com um sorriso curvando levemente sua boca, feliz por causa da velocidade. Era algo que eu entendia agora, apesar de ainda preferir correr.
Pegamos a estrada pouco tempo depois de Edward partir. Embora eu tenha tentado convencer a família de que poderia me virar sozinha por um tempo para que ele não tivesse que partir, eles insistiram que o filho mais antigo voltaria em algum momento e que meu lugar era com a família.
Eu estava chateada e triste, e o clima com Emmett ficou estranho. Ele se afastou de todos, foi o primeiro a colocar as malas no jipe para partir tão logo ajudou a colocar os móveis no caminhão de mudança. Surpreendentemente, o caminhão não era de uma empresa, como eu presumi. Era parte dos bens dos Cullen que estava em um depósito, e quem o dirigia era Esme, apesar de ter apenas 1,70m de altura e um corpo só um pouco mais curvilíneo que o da Rosalie. É claro que ser vampira ajudava a conduzir uma monstruosidade como aquela, com dezoito rodas e duas caixas de transporte. Ele nem chegou perto da casa, tivemos que levar os móveis desmontados até o caminhão na beira da estrada.
Partimos de Forks durante o crepúsculo, quando o dia acaba e a noite chega. Jasper foi na frente em sua moto incrível, e o Porsche Turbo onde eu estava com Alice, que ia logo atrás dele. Emmett vinha atrás de nós no seu Jeep, depois Carlisle no Mercedes-Benz e Esme fechou a caravana com o caminhão, um pouco mais lentamente que os outros. Emmett havia saído primeiro, porém, tanto a moto quanto o Porsche eram mais rápidos, por isso logo foi ultrapassado.
Para um humano, a viagem de carro para Denali levaria dois dias e meio, considerando que humanos precisam comer, usar o banheiro e só podem chegar até determinada velocidade para não sofrer acidentes, entretanto, nós somos vampiros, não precisamos de pausas e os tanques de todos estavam cheios. Se precisasse reabastecer, faríamos uma parada rápida.
Calculando na minha cabeça, levaríamos menos de um dia em velocidade constante bem acima do permitido. Alice dirigia a trezentos quilômetros por hora, assim como Jasper, enquanto Emmett e Carlisle só podiam chegar a duzentos e trinta, e Carlisle iria acompanhar a velocidade do caminhão de Esme, que chegava a cento e oitenta km/h.
Obviamente, ao passar por cidades, teríamos que seguir em velocidade humana, por isso estávamos aproveitando a noite para avançar o máximo possível na estrada. Mesmo assim, Alice, Jasper e eu chegaríamos a Denali algumas horas mais cedo que Esme e Carlisle.
— Bella, se eu te fizer uma pergunta, você me responde com sinceridade?
— É claro, Ali. Pode perguntar.
— O que você sente pelo Edward?
Desviei o olhar da paisagem para encarar seu perfil de fada. Ela sabia o que eu sentia, sempre deixei claros meus sentimentos pelo meu agora ex-namorado, então qual o objetivo dessa pergunta? Ela me encarou nos olhos com seriedade e eu pude notar a dúvida.
— Você sabe que eu era louca por ele. A verdade é que antes eu me sentia dependente dele, como se precisasse da sua presença constante para viver. Não conseguia entender por que um cara tão lindo e perfeito queria estar comigo, é como se eu tivesse ganhado na loteria da vida, não me sentia suficiente para conseguir alguém assim.
— Agora isso mudou, eu vejo nos teus olhos. Mas exatamente o que mudou?
Eu suspirei, tentando encontrar as palavras certas para não soar como uma vadia interesseira.
— Agora eu me sinto forte, é como se uma parte de mim que esteve oculta quando humana tivesse despertado muito mais consciente de quem eu sou. Antes eu me sentia fraca, Ali, incapaz de lidar com minha própria vida. O Edward era meu sol, meu porto seguro, meu protetor, eu nem mesmo pensava sobre meus sentimentos por ele. Durante a minha transformação, por baixo de todo o sofrimento de sentir o veneno queimar cada parte do meu corpo, eu pude raciocinar sobre tudo, inclusive meu relacionamento com ele. Percebi que não me sentia digna dele quando humana, mas agora, sendo uma vampira como ele, sinto que encontrei meu lugar no mundo e que não preciso dele ou de qualquer outra pessoa para ser feliz. Isso estava aqui dentro o tempo todo, meu eu humano só era incapaz de enxergar meu potencial.
— Você acha que se apaixonou por ele por se sentir imperfeita?
— Não, eu me apaixonei porque senti que ele viu além da minha imperfeição e isso me fez bem. Ele viu uma menina solitária cuja mente é um enigma e isso foi o que causou o interesse dele por mim. A solidão porque ele costuma ser solitário, mesmo estando perto de vocês o tempo todo, e a mente silenciosa porque é a única que ele nunca pôde desvendar totalmente. Agora não vejo isso como uma boa base para um relacionamento que deveria durar toda a nossa eternidade.
— Então você entende o relacionamento de vocês como estando apoiado nas coisas erradas.
— Sim. Me diz uma coisa, Ali. Quando você viu o Jasper, como soube que ele era o companheiro certo pra você?
Ela nem pensou antes de responder:
— Eu simplesmente senti uma profunda conexão com ele. Foi como se tivesse encontrado... não uma metade que me completasse, mas uma pessoa inteira que me complementou. Com ele existe uma sensação de constante satisfação, apoio, respeito, confiança plena e cumplicidade. Os braços dele são meu lugar no mundo e, sem ele, uma parte de mim estaria morta para sempre.
— Basicamente não existe desconfianças entre vocês e ele não tenta te moldar para que seja perfeita. Ele respeita a tua individualidade e te ama como você é. E não há nada que vocês desejem mais do que um ao outro.
Ela sorriu.
— Sim, acho que você resumiu muito bem.
— Essa é a questão, Alice. O Edward sente ciúmes excessivos e tenta mudar meu jeito de ser constantemente, como se eu fosse um objeto que ele pode moldar de acordo com a vontade dele. Eu o desejo, mas não como se fosse o único para mim, e depois do que aconteceu hoje, ficou claro que ele não me deseja o suficiente. Deveríamos ser únicos um para o outro, respeitar e amar nossas diferenças. O fato de que meus olhos se atraem para outros homens e ele me trata como se fosse uma coisa que pertence a ele... Isso não é amor. Edward sempre vai ter um lugar no meu coração como alguém que foi muito importante para a minha evolução e eu sempre serei grata por isso, mas não acho que nos amamos como companheiros.
Ela ponderou sobre o que eu falei, depois mudou de assunto e nós passamos o resto da viagem conversando sobre coisas aleatórias, pois Alice não curtia o silêncio, apesar de respeitar o meu na maioria das vezes. Ela me explicou que não precisaram se passar por estudantes nas vezes em que ficaram em Denali, pois o clã tinha um ancoradouro e eles moravam isolados. Nas proximidades estava o Parque Denali, que era muito procurado por turistas e amantes de esportes, especialmente alpinistas que gostavam de escalar a montanha de gelo mais alta.
Geralmente, quando queriam, os Cullen mais novos trabalhavam com Eleazar no ancoradouro ou como guias recém-formados em ônibus do parque, aproveitando-se do fato de lidarem com muitos visitantes que jamais estranhariam o fato deles não envelhecerem. Como eu era recém-criada, Carlisle achava mais seguro que ficasse apenas com a família e não lidasse com humanos, por enquanto.
Alice se dispôs a ficar comigo para facilitar um relacionamento entre mim e os vampiros do clã Denali, especialmente Tânia, que tinha sentimentos por Edward e poderia ficar enciumada com a minha presença. As histórias sobre a chefe do clã me deixaram abismada. Ela basicamente era acostumada a entrar nos cruzeiros e seduzir turistas sozinhos, depois voltava nadando para casa. Alice a chamou de “uma autêntica succubus russa”.
De setembro a abril, o acesso ao parque era fechado por se tornar muito perigoso. Havia muita neve e a temperatura era congelante durante o inverno. Na verdade, o Alaska era frio o ano todo, apenas amenizava no verão, entre junho e agosto. Nos oito meses em que o parque fechava, os Denali relaxavam, viajavam ou ficavam reclusos e isso não era algo anormal por ali.
Como previsto, a viagem que deveria durar cinquenta e duas horas, durou apenas vinte e duas. Emmett chegou algumas horas depois, quando já estávamos instalados em uma linda mansão branca no pico de um monte. No monte vizinho moravam os Denali, porém decidimos esperar Carlisle e Esme para arrumar a casa e depois ir visitar nossos “parentes”.
Alice e Jasper escolheram um quarto no terceiro andar e eu decidi me estabelecer no quarto em frente. Rosalie nos recebeu e eu pude vê-la realmente pela primeira vez. Dizer que ela era linda seria eufemismo. Aquela vampira irritante devia ser a mais bonita do mundo. Ela não foi simpática comigo, o que eu já esperava, mas pelo menos não me provocou ou tentou humilhar como costumava fazer quando eu era humana. Talvez porque agora eu poderia arrancar aquela sua cabecinha fútil sem fazer esforço.
Quando Emmett chegou, observei sua expressão muito séria enquanto Rosalie se chocava contra ele, beijando-o na boca. Aquela demonstração de afeto me incomodou, por isso estava subindo as escadas para voltar ao quarto quando ouvi o comentário ácido.
— Por que a sem-graça veio com a Ali e não com o Edward? Problemas no paraíso? Aposto que ele se cansou dela agora que não tem mais sangue e um coração batendo. Aquele idiota é masoquista, só pode.
— Como é que é? — indaguei irritada. — Cuida da tua vida, loira insuportável!
— Ou o quê? Acha que só porque é vampira pode me enfrentar?
— Vamos ver se vai continuar me provocando quando eu arrancar a tua cabeça — rosnei.
— Você pode ser recém-criada, mas eu aprendo a lutar contra outros da nossa espécie faz décadas.
— Ursinha, já chega. Por que você não consegue deixar a Bella em paz? Ela é da família agora.
— Essa garota nunca vai ser da minha família, ursão. Você também não deveria vê-la assim. Não me importa que seja namorada do paspalho dramático.
Eu corri até ela, porém Emmett ficou na minha frente.
— Por favor, não vamos destruir a casa antes dos nossos pais chegarem.
— Então é por isso que você me provocou, loira? Porque o Emmett tá aqui pra te defender?
— Bella, por favor, colabora...
— Emmett, controla a tua cadela de estimação ou eu vou ter que prender na coleira e...
Rosalie foi incrivelmente rápida ao passar por Emmett e me empurrar para fora. Meu corpo se chocou contra a porta de vidro, que ficou despedaçada, e rolei pela neve até me segurar na beira do penhasco. Dei um impulso pra cima e caí perto dela, que tentou me dar um soco, porém eu desviei e soquei abaixo de seu queixo, jogando-a para trás.
Emmett a segurou e Alice ficou na minha frente. Eu estava com tanta raiva que considerei quebrar o pescoço dos dois para pegar aquela megera, entretanto, senti um tipo de letargia, como se meu corpo estivesse parando de funcionar. Olhei para Jasper, que estava com o olhar focado em mim.
— Para com isso, Jazz... Meu corpo...
— Se você fosse humana, estaria dormindo profundamente agora — ele falou. — Precisa se acalmar, você pode destruir a casa e todos os montes da cordilheira se continuar assim.
— Eu vou me acalmar assim que arrancar a língua dessa mal-amada.
— É você que está sem o namorado aqui, eu estou ótima nos braços do meu marido, obrigada — ela disse com deboche.
Eu rosnei alto e tentei ir até ela, mas Jasper mantinha sobre mim uma letargia angustiante.
— Para com essa merda, Jasper!
— Se acalma, Bella! Por favor, você está deixando o lado irracional de recém-criada tomar o controle.
— Só me deixa matar essa insuportável e eu volto ao normal.
— Não sei como o Edward te aguenta. Me chama de insuportável, mas é chata e bruta. Que homem no mundo pode realmente gostar de uma ogra sem delicadeza e fineza, pra mim é um mistério.
— Se o Jasper parar de usar esse poder em mim, eu vou te mostrar como você pode morrer com toda delicadeza do mundo.
— Já chega! — Emmett olhou entre nós, obviamente chateado. — Ursinha, vai arrumar uma mala, nós vamos passar algum tempo longe da família.
— O quê? — falamos juntas, e senti o poder do Jasper sendo interrompido.
— Como assim, ursão? Acabamos de nos mudar para cá. Se for por causa do humor dessa aí, o Ed pode...
— O Edward não vem pra cá! O namoro dele com Bella terminou e ele resolveu ficar um tempo afastado da família. Considerando que vocês não conseguem ficar no mesmo cômodo sem querer se matar e eu nem sei o porquê disso, acho melhor nós passarmos um tempo em outro lugar, pelo menos até a Bella passar pela fase mais crítica que é o primeiro ano.
— Quer dizer que ela se transformou, depois deu o fora nele? — Rosalie perguntou. — E agora nós vamos embora por causa dela? Será que vocês não percebem que essa imbecil está destruindo nossa família?
— Rose, não fale do que não sabe! — Alice contrapôs, parecendo irritada.
— O que há para saber? Ela estava com o Edward porque queria se tornar vampira, e agora que conseguiu, dispensou ele!
— Cala a boca! Você não sabe de nada! — Eu corri até ela e a joguei longe.
Tentei chegar perto para arrancar pelo menos um braço, mas Emmett ficou na minha frente e me agarrou. Eu sabia que tinha força para me livrar do aperto dele, porém seus olhos duros e decididos me desarmaram.
— Por favor, Bella. Vamos facilitar as coisas. Eu vou embora com a Rosie e você vai ficar em paz para aprender a viver como uma imortal. É melhor assim.
A sentença que saiu de seus lábios e o olhar vazio causou uma sensação desagradável. Eu senti uma dor no peito quando me dei conta do que ele estava dizendo.
Primeiro Edward se afastou da família por causa do nosso término, agora Emmett também partiria porque eu não me dava bem com a sua esposa. Senti o peso daquele fardo em meus ombros no momento em que ele se afastou sem olhar para trás.
Alice veio até mim e senti o abraço de Jasper me amparando.
Por que doía tanto vê-lo ir embora? Por que parecia que eu não conseguiria respirar sem a presença dele?
Isso não estava certo. Não doeu assim quando vi Edward indo embora. Eu não deveria sentir essa dor que me consumia. Não deveria.
Pouco tempo depois, Emmett e Rosalie entraram no conversível dela e partiram sem lugar definido nem um plano concreto, apenas deixaram tudo para trás.
Quando Carlisle e Esme chegassem, encontrariam sua família pela metade. Eles não mereciam isso.
Rosalie estava certa. Eu estava destruindo a família Cullen.
Olá! Tudo bem com vocês?
Esse capítulo foi de transição, por isso não está muito empolgante, mas era importante essa quebra da família por um tempo para que os próximos acontecimentos venham.
No próximo capítulo aparecerão os vampiros do clã Denali, com uma surpresinha para todos. Nele também vai acontecer outra coisa para movimentar a trama. Aguardem.
Estão gostando da história? Então pintem as estrelinhas a cada capítulo, comentem, me digam o que acham da trama e compartilhem a fic com outros que podem gostar. Assim vocês apoiam a escritora.
Beijos no coração e... Tchau ❣️
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