Capítulo 2
Despertei, sentindo meu corpo ser balançado no colchão. No entanto, apenas respirei fundo, virando-me para o lado e aconchegando-me mais. Estava tão cansado e com sono, que nem dei atenção aos dois seres vivos que pulavam por cima de mim, de um lado para o outro, fazendo a cama se mover.
— Acorde, papai! — Escutei, mas não dei atenção.
— Me deixem dormir. — Murmurei e, então, eles pararam, mas logo ouvi suas risadas e eles começaram a pular ainda mais na cama.
Portanto, respirei fundo e virei-me de barriga para cima, olhando para eles. Então, puxei os dois e eles caíram em cima de mim. Depois, aproveitei e os abracei, um de cada lado, enquanto ouvia as reclamações de ambos.
— Ah, papai!
— Socorro, ah! — Então, sorri, enquanto os soltava, e Alícia ajeitou seus cabelos. — Isso não tem graça, papai. — Ela me repreendeu.
— Por que estavam fazendo aquela bagunça toda?
— Já está muito tarde. — Gabriel falou.
— Sim, e viemos acordar o senhor. — Completou Alícia.
Então, peguei meu celular e olhei o horário, vendo que eram exatamente 5 horas da manhã. Todos os dias, eles vinham me acordar nesse horário. Eles eram, sem dúvida, meu melhor despertador.
Depois, peguei ambos no colo, um em cada braço, e saí do quarto para ir até a cozinha. Quando os coloquei no chão, eles correram para seus respectivos lugares à mesa. Então, abri a geladeira e tirei de lá a sobra de pizza, que a esquentei. Certamente, Jéssica me repreenderia por isso e, com esse pensamento, eu sorri.
Às cinco e meia, estava dando banho em Gabriel, enquanto Alícia tomava o seu próprio no meu quarto. Ela não gostava que eu desse banho nela, então, com a ausência de Jéssica, ela aprendeu a tomar sozinha, assim como a usar o banheiro. Eu entendia ela, por isso não a forçava a me deixar entrar no banheiro, nem mesmo para vesti-la. Então, eu apenas fazia isso com o Gabriel.
Após, passei a toalha nos cabelos do meu filho e ele gargalhou, enquanto balançava a cabeça para os lados, animado. Assim que vesti seu uniforme da escola e escovei seus cabelos, Gabriel já estava pronto. Então, ele desceu da cama e pegou sua mochila, que era maior que o garoto. Após, Alícia entrou no quarto, também vestida, mas com os cabelos bagunçados. Portanto, seus olhos estavam amuados e eu sabia que era por ela ter tentado pentear seus cabelos, apesar de ela não ter falado que não havia conseguido.
— Venha, princesa. — Chamei e ela se aproximou, ainda tristonha.
Então, coloquei-a sentada na cama de Gabriel e peguei a escova de sua mão. Depois, delicadamente, a passei pelos fios longos. O seu cabelo portava a cor preta igual ao meu, já o de Gabriel, a cor castanha quase avermelhada, assim como a de sua mãe. Eles eram a nossa mistura, pois cada um levava um pedaço nosso, seja na aparência ou na personalidade.
Gabriel era mais tímido, pois não falava muito, porém era mais bagunceiro, características minhas. Já Alicia era mais falante e sorridente, além de centrada e, até mesmo, eu diria, responsável, definitivamente características da mãe. Olhar para Alícia era olhar para Jéssica e olhar para Gabriel era olhar para mim.
— Prontinho, meu amor. Está uma verdadeira princesa. — Falei, após colocar uma tiara de pedrinhas brilhantes em sua cabeça. Então, ela sorriu e me abraçou.
— Obrigada, papai. — Depois, correu com a mochila nas costas, junto com o Gabriel.
— Desçam as escadas devagar! — Avisei, mas eles já haviam descido.
Então, fui para o meu quarto e suspirei. Assim que entrei nele, a imagem dela se olhando no espelho veio à minha mente. Portanto, fechei os olhos e vi seu sorriso. Ah, como eu sentia falta desse sorriso.
Depois, passei direto para o banheiro e tomei um banho relaxante. Por volta das seis, saímos de casa, pois deveria estar em meu trabalho às sete, e as crianças, na escola.
[...]
Chegando ao hospital, fomos diretamente ao quarto, onde minha esposa estava, e adentramos o local. E lá estava ela, não diferente dos outros dias, com aparelhos ainda ligados na mulher que eu amava. As crianças correram até onde ela estava e cada uma ficou ao lado de sua cama, segurando a mão da mãe. Era sempre tão difícil para mim vê-la daquela forma.
— Oi, mamãe. — Falou Gabriel, não obtendo resposta, mas ele pareceu não se importar, pois apenas continuou a falar com ela. Além dele, Alícia também conversava, mesmo sem saber se ela a ouvia ou não. Todas as vezes, eles contavam tudo o que haviam feito e como estavam.
Podia arriscar dizer que meus filhos reagiram com maior maturidade quando havia lhes contado que Jéssica estava em coma. Tinha explicado para eles de uma forma simples o que estava acontecendo e, na hora, eles chegaram a ficar tristes, mas diferente de mim, logo aceitaram e, no final, em vez de eu lhes confortar, eram eles que faziam isso comigo.
[...]
Depois do hospital, deixei as crianças na escola e fui para o trabalho. Chegando lá, logo peguei meu uniforme e me vesti. Larissa, uma das colegas de trabalho, logo me entregou uma bandeja e sorriu, indicando a mesa a qual pertencia aquele pedido.
Eu trabalhava como garçom há pouco mais de 2 anos e eu realmente gostava desse emprego, embora me sobrecarregasse muito por ficar andando de um lado para o outro. Então, não sabia se era bom ou ruim o fato do restaurante estar sempre movimentado todos os dias.
Sorri gentilmente para o casal à minha frente e deixei seus pedidos. Por sua vez, eles agradeceram com um sorriso e eu voltei para o balcão.
— Como estão as crianças? — Larissa perguntou.
— Graças a Deus, estão bem. — Ela afirmou, lustrando o balcão amadeirado, embora não houvesse necessidade de tanto polimento já que estava brilhando.
— Faz um tempo que não as vejo.
— Realmente, elas ficariam muito felizes em vê-la. — Ela sorriu.
— Posso visitá-las a qualquer dia?
— Será bem-vinda.
[...]
Olhei para o meu relógio e vi que já estava dando minha hora de ir embora. Então, terminei de atender o último pedido e caminhei até o banheiro para me trocar, quando meu chefe me parou.
— Preciso conversar com você. — Respirei fundo mentalmente e olhei para o relógio na parede, vendo que faltava pouco para o fim da aula dos meus filhos. Portanto, suspirei frustradamente. Espero que não demore.
— Tudo bem.
— Como você deve estar sabendo, estamos passando por uma crise no restaurante. — Juntei as sobrancelhas, confuso.
— Mas o movimento aqui é bom. Como pode estar em crise?
— O orçamento que entra não é o suficiente para arcarmos com as despesas, Bernardo. Embora tenhamos muitos clientes, há também contas e gastos. — Então, meu coração falhou por um momento ao entender onde ele queria chegar.
— O senhor pode ser breve? Tenho que pegar meus filhos na escola. — Ele respirou fundo.
— Mais que chefe e funcionário, somos amigos. Você não sabe como está sendo difícil fazer isso...
— Está me demitindo. — Engoli em seco quando ele afirmou. — Tudo bem, eu o entendo.
— Eu sinto muito, mas posso indicá-lo a outros restaurantes. — Sorri, tentando engolir o bolo que tinha se formado em minha garganta.
— Muito obrigado por tudo. Agora, se me der licença… As crianças devem estar me esperando.
Assim que saí de sua sala, lancei um olhar para Larissa, que tinha os olhos tristes. No entanto, sorri para mostrar que estava tudo bem, mesmo quando não estava. O que eu ia fazer agora? Sem emprego, cheio de contas para pagar e dois filhos para criar. Ah, meu Deus, por favor, me ajude.
Quando o ônibus parou em frente a escola, desci rápido. Vendo a professora entrar, chamei-a e ela me olhou.
— Oh, Sr. Bernardo, seus filhos acabaram de sair.
— Sair? Com quem?
— Uma mulher. Ela disse ser avó deles. — Então, passei a mão pelo meu rosto, respirando fundo. Depois, saí em disparada pelas ruas, pois como sua casa não ficava longe dali, decidi ir a pé.
[...]
Assim que cheguei, bati à porta repetidas vezes, até ela ser aberta.
— Onde eles estão? — Perguntei, já adentrando sua casa.
— Eles estão brincando lá em cima, Bernardo.
— Por que os trouxe para cá sem me avisar?
— Eu sou a avó deles.
— Isso não te dá o direito de sequestrar meus filhos.
— Eu não os sequestrei! — Soltei um riso soprado, parando em frente à escada que dava para os quartos.
— Gabriel? Alícia? Vamos para casa!
— Bernardo, escute. — Então, direcionei o olhar para a mulher. — Não acha melhor que eles fiquem comigo?
— Como é? — Perguntei, incrédulo.
— Você está sempre ocupado e, mesmo com tanto tempo, não está acostumado com essa rotina...
— Não vou me afastar dos meus filhos.
— Ninguém vai se afastar de ninguém, você pode vir visitá-los sempre que...
— Você está louca. Crianças, venham! — Chamei-as novamente.
— Só estou pensando no bem dos meus netos.
— Eu sou o pai deles e sei o que é melhor para eles.
— Você mal tem tempo para eles. Sempre chega atrasado para pegá-los na escola, os coitados são os últimos a sair de lá. — Portanto, permaneci calado.
Sim, era verdade que muitas vezes tive que ficar por mais tempo no restaurante. Então, eles ficavam me esperando até tarde com a professora, que não devia gostar nada.
— Papai! — Eles gritaram, descendo as escadas, e correram para me abraçar.
— Vamos para casa?
— Sim! — Falaram em uníssono. Então, sorri, afagando os cabelos de ambos. Depois, caminhei com eles até a saída.
— Pense no que conversamos, Bernardo.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro