Não havia mais tempo para desgaste emocional e intrigas por parte de Rose, ou de Matthew. Um único motivo os fizeram caminhar lado a lado pela primeira vez em meses, na casa dos Blake, uma chama de vida se acendia, e era possível escutar as conversas e vibração de alegria de longe.

- A casa está cheia, espero que vocês entendam. - diz Minnie envergonhada, assim que atendeu a porta.

- Não vejo problema, Min. - acalma Rose, atravessando a porta.

 Realmente muitas pessoas infestavam a pequena sala e cozinha da casa. A Sra. e o Sr. Blake brincavam com seus netinhos já crescidos, os adultos conversavam entre si, e olhar de Rose e Matthew procuravam pelo casal Cora e Walter.

- Resolvemos não deixar Cora e o bebê aqui, no meio dessa gente toda, mas a todo instante tem alguém no quarto e não falta ajuda para ela em momento algum. - explica Minnie, e ao ver o olhar de curiosidade de Matthew ela acrescenta - Os negros e os ruivos são meus irmãos, as demais são cunhadas.

 Os três foram para o pequeno quarto do casal, lá dentro, uma garotinha negra de olhos grandes e castanhos estava sentada na cama ao lado de Cora, admirando a nova criança, Rose sorriu ao se aproximar das três.

- Summer Blake, eu te apresento a tia Rose e o tio Matt. - diz Cora, fazendo carinho na bochecha da sua filha.

 A criança tinha todos os traços físicos herdados da família paterna, inclusive, lindos cachinhos ruivos sobre sua cabeça.

- Ela é igualzinha a Minnie. - diz Matthew, passando a mão cuidadosamente sobre os cabelos da pequena bebê.

- Sim, ela é igualzinha a mim. - diz Minnie, sorrindo orgulhosa - Olivia, você pode dar licença?

- Tia Olivia. - corrige a garotinha dos olhos grandes - Na frente da Summer, só me chame de tia.

 Os três riram e Rose aconchegou-se próximo a Cora, olhando a bebê de frente.

- A primeira mimada a nascer em nosso grupo. - diz Rose, recostando a cabeça sobre o ombro da amiga - Depois eu quero escutar com detalhes como foi o parto.

- Foi dolorosamente lindo, Rose. - diz Cora, sorrindo, sem tirar os olhos da sua bebê - Nunca pensei que eu pudesse amar tanto alguém na minha vida.

- Ela é muito linda, parabéns Cora. - diz Matthew, segurando a pequena mãozinha de Summer.

***

 Matthew não havia descido para o jantar naquela noite e, por algum motivo, a refeição havia sido cruelmente silenciosa.

- Não sei o que aconteceu entre vocês, querida. - disse a Sra. Mayse, quando Rose se levantou - Mas por favor, conserte, eu não aguento mais ver vocês dois desse jeito.

 Rose sentiu-se grata por Natalie e Susan não terem subido para o quarto tão cedo, pois ela não conseguiria pensar no que fazer se tivesse a presença das duas ali. Ela vestiu seu melhor vestido para em seguida vestir novamente sua roupa normal, deu mil voltas no quarto, sentou-se na janela, se encarou no espelho, mas seu cérebro continuava martelando enquanto seu coração estava tão apertado quanto um espartilho em um número menor do que o seu corpo, o que é um péssimo exemplo, porém realmente deve ser extremamente sufocante.

- Eu realmente preciso consertar isso. - ela sussurrou desesperadamente para si mesma.

 Rose levantou-se e foi até o quarto de Matthew. Bateu na porta, porém não adquiriu resposta, mesmo depois de ter repetido o ato três vezes.

- Sei que tem mil motivos para estar chateado comigo, mas ainda não é motivo para não me responder. - ela diz em um sussurro audível o suficiente para ele escutar de dentro do quarto, porém ele não estava dentro do quarto, ela descobriu quando abriu a porta apenas para checar se ele havia dormido ou se estava realmente ignorando-a.

- Sra. Mayse, sinto muito, mas seu filho não está no quarto para que eu possa consertar a situação. - diz Rose, exausta, a Sra. Mayse levantou o seu olhar do tricô para Rose, confusa.

- Como assim ele não está no quarto? - ela pergunta, em um murmúrio - Onde mais ele estaria?

- Na casa do Sr. Caden Jameson, ele sempre está lá. - diz Natalie, suspirando - Eu te aconselharia a ir atrás dele, Rose, o velho Jameson pode ajudar vocês dois.

- Eu não duvido, ele é realmente bom com conselhos. - diz Rose, pegando um casaco do gancho e vestindo - Se brigarmos ainda mais feio, você continuará me amando, Sra. Mayse?

- Eu sou sua madrinha, querida, e a melhor amiga da sua mãe. - ri a Sra. Mayse, em seguida sussurra - Eu te amo mais do que meus próprios filhos.

- Mãe! - Natalie e Susan exclamam em uníssono e a Sra. Mayse ri.

- Estou apenas brincando! Vá querida, mas não brigue ainda mais com ele. - pede a Sra. Mayse e Rose assente, saindo de casa.

Rose caminhou rapidamente pela estrada estranhamente escura que interligava a terra dos Mayse até a casa do Sr. Jameson, e só então ela percebeu que a noite já caíra fazia muito tempo e o farol ainda não estava aceso. Ela andou ainda mais rápido, e subiu as escadas a passos largos, diferentemente do comum, Rose não encontrou o Sr. Jameson sentado na varanda fitando o mar, mas sim caído no chão, com Matthew sentado ao seu lado, segurando fortemente a sua mão.

- Matthew... - sussurra Rose, sentando-se ao lado do mesmo e esticando a mão para sentir o Sr. Jameson.

- Eu vim apenas para fazer uma piada... - diz Matthew, trêmulo, o rosto banhado de lágrimas - Eu vim apenas para brincar de como ele estava velho ao ponto de esquecer do farol...

- Calma, Matt... - diz Rose, abraçando-o de lado.

- Não poderia ter sido tão cedo. - diz Matthew, levando a mão do amigo ao peito - Eu havia planejado mil coisas com ele, eu o daria a chance de contar muitas histórias aos meus filhos, ele te levaria ao altar no nosso casamento, ele seria o pai que nós perdemos...

- Ele não morreu Matt, ele não morreu! - grita Rose desesperada, afastando-o do transe - Você precisa me ajudar, a pulsação dele está fraca, mas ele ainda pode reagir, chame o Dr. Jonz, agora!