01
Quando O Sol Nasce No Ocidente | um.
Relaxar na casa do Zach depois dos treinos de basquete e da chatice que é o colégio é minha parte favorita do dia. Não falamos de lição de casa, provas, cobrança excessiva de nossos pais para tirarmos uma boa nota... Conversamos apenas sobre basquete, futebol, videogame e garotas.
— O Stevens é gay! — exclama Asher Cooper, assim que entra no quarto.
— O quê?! — questiona Tristan, entediado e desinteressado.
— Alec Stevens é gay! — repete. — Acabei de encontrar ele de mãos dadas com outro gay no parque perto do colégio.
Fico confuso.
Nem consigo lembrar do que estávamos falando um minuto antes.
— É estranho, mas pode ter uma explicação — diz Zach, depois de bocejar.
— Ele confessou tudo para mim, Zachary — diz Asher, com um brilho orgulhoso nos olhos. — E disse que só eu e seus amigos mais próximos sabem.
— E você está contando pra gente fácil assim? — pergunto, cruzando os braços.
Asher se joga na cama do Zach, empurrando Tristan para o lado. Zach arremessa um travesseiro na direção do Asher, que o pega e revida imediatamente.
— Eu já devia ter desconfiado — diz Asher, pensativo. — Ele sempre nos assiste nos treinos e fez amizade com a gente de uma forma muito esquisita.
— Esquisita como? — pergunta Tristan.
— Você pensa demais, Cooper — resmunga Zach.
Alec Stevens é um dos meus colegas da turma de inglês. Não lembro ao certo quando o conheci, mas ele me ajudou bastante quando fiz um trabalho sobre o livro Drácula, de Bram Stoker. Stevens trabalha em um cibercafé e já perdi as contas de quanto tempo de acesso e impressões ele me deu de graça. Como Asher pontuou, ele gosta de assistir aos treinos de basquete. Na verdade não sei se ele assiste ou estuda, pois parece sempre estar distraído com seus livros.
— E se ele gostar de um de nós? — pergunta Asher, depois de um longo tempo em silêncio.
— Você acabou de falar que ele estava de mãos dadas com um cara no parque. Ele deve gostar desse cara do parque, não é? — questiona Zach.
— O Stevens disse que o cara é só um amigo antes de confessar que é gay — diz Asher.
— Por que ainda estamos falando sobre isso? — pergunta Tristan, ainda entediado.
— Ele é nosso amigo, Asher — falei, recostando no puff para relaxar. — O que ele é ou deixa de ser não é problema nosso.
— Sobra mais garotas pra gente — diz Zach, sabiamente.
O assunto estava encerrado, porém Asher ficou inquieto a tarde toda. Ele parece se divertir com a novidade. É como se nunca tivesse conhecido um gay na vida. Eu, por outro lado, não sabia o que pensar. Alec Stevens e eu nos aproximamos nas últimas semanas. Quando me ajudou com o trabalho de inglês, o agradeci com biscoitos e cappuccino. Quando minha ex-namorada terminou comigo e fiquei bêbado em uma das festas do Zach, ele me ajudou a não cair das escadas e a não vomitar em minha roupa. Quando o chefe dele faleceu, dei todo o apoio que ele precisava e...
— Convidei o Stevens para ir ao cinema — sussurrei, lembrando de repente daquele fato.
Zachary, Asher e Tristan não me ouviram. Estavam distraídos demais assistindo a um compilado com as melhores jogadas da última temporada de basquete na televisão. Mas sim..., convidei Alec Stevens para ir ao cinema. O rapaz que acabo de descobrir que é homossexual. O convidei porque ele estava triste e chorando no refeitório. O convidei para distraí-lo, animá-lo e para aliviar um pouco do luto que ele estava sentindo por perder seu chefe. Também o convidei porque ele é meu amigo, e estou gostando da companhia dele nos últimos dias. Ter um amigo que não faz parte do time de basquete é algo inédito.
Como será que ele encarou o convite?
Será que ele acha que era um encontro? Para um rapaz gay, ser chamado para ir ao cinema por outro deve despertar algumas dúvidas. Talvez ele pense que o chamei para um encontro, apesar de que vou com meus amigos do time para o cinema com frequência e não há nada demais nisso.
Será que ele acha que gosto dele?
Gosto dele, mas apenas como amigo. Não sei o que passa na cabeça de um rapaz homossexual que foi convidado para ir ao cinema. Não acho que ele gosta de mim, mas se gostar, o que devo fazer?
Não sei porque estou tão preocupado, pois o desconvidei naquela manhã. Uma das garotas mais bonitas da equipe da torcida confessou ao Tristan que queria sair comigo, então vi nesses ingressos que pertenciam a minha ex-namorada a oportunidade perfeita para chamá-la para um encontro.
Desmarquei, mas será que ele pensa que o convite inicial foi para um encontro?
— Você está muito pensativo, Arthit — diz Asher, assim que saímos da casa do Zach.
— Apenas preguiça. O treino de hoje foi complicado.
— Ainda acho que você tem que fazer parte do time titular. O treinador comentou comigo a respeito e praticamente deixou a decisão em minhas mãos.
— O quê?! O que ele disse?!
Ser um dos titulares do time de basquete é o que mais quero no mundo. Estou cansado de participar dos treinos, mas ficar no banco nos jogos oficiais. Sem falar que sempre sou um dos últimos a ser chamado pelo treinador.
— Você tem se esforçado bastante, Arthit — continua. — O treinador percebeu sua melhora e está impressionado com seus passes. Você está mais ágil e joga muito bem comigo e com o Zachary.
— Fala com ele, Asher! — pedi, esperançoso. — Fala para o treinador me dar uma oportunidade?!
Asher sorri com malícia. Ele acena se despedindo do Zach, que nos observa da janela, e mostra o dedo do meio para Tristan, que se afasta seguindo para uma rua paralela a que estávamos.
— Sabe o que me ocorreu? — diz Asher, ainda sorrindo. — Eu até posso te ajudar com o treinador. Você sabe que como capitão do time de basquete tenho alguns privilégios e peso nas decisões.
— E vai me ajudar com isso?
— Só se você ganhar uma aposta.
Expirei todo ar de uma única vez.
Asher Cooper e sua mania obsessiva de apostar e provar que pode ser melhor em tudo.
— Se eu ganhar, você me ajuda com o treinador?
— Sim!
— E se eu perder, o que acontece?
— Você tem que me dar o par de tênis que ganhou do seu pai. Não só o tênis, mas as roupas também!
— O tênis e as roupas são muito caras! Se meu pai souber que eu dei para você, ele...
— É pegar ou largar, Arthit! — exclama Asher, chacoalhando meu ombro esquerdo. — Você tem muito a ganhar.
— E a perder também — resmungo, coçando a cabeça. —, mas estou disposto a arriscar. O que você quer apostar?
Asher se adianta, parando em minha frente.
— Alec Stevens — disse, me encarando.
— O que tem ele?
— Quem conseguir fazer ele perder a linha primeiro, vence!
Não entendi.
Engulo saliva, pisco algumas vezes e tento entender o que acabo de ouvir.
— Como assim "perder a linha"?
— Você e eu vamos dar em cima dele. Aquele que conseguir fazer ele cair primeiro, ganha!
— Cair?! Dar em cima?! Como assim?!
Não era o que imaginei.
Estava piorando.
— É meio óbvio que o Stevens tem uma quedinha por você, Arthit — diz Asher, parecendo se divertir enquanto debocha. — Eu vejo como ele olha e conversa com você... Sempre com aqueles olhinhos de peixe morto e um sorrisinho de que casaria com você na primeira oportunidade.
— Você tá viajando!
— Se você piscar, ele cai de boca no seu pau! Tenho certeza que se ele não gosta de você, deve gostar de um dos nossos amigos do time.
Fecho os olhos e respiro calmamente.
É difícil adivinhar de onde vêm as ideias do Asher.
— Não vou fazer isso — respondo, enfaticamente. — Não vou fazer o Alec perder a linha dando em cima dele. Eu não sou gay!
— Também não sou gay, seu idiota! — exclama, empurrando minha cabeça. — Isso será apenas uma brincadeira, tá ligado?!
— Uma brincadeira? — questiono, franzindo o cenho.
— Sim! Uma brincadeira! — confirma. — Uma brincadeira que se você ganhar, vai poder jogar no time titular.
Jogar no time titular do colégio e participar dos campeonatos seccionais, regionais e, quem sabe, nacionais. Estar entre os melhores do time e conseguir créditos extras para a faculdade. Fazer meus pais acreditarem que basquete não é perda de tempo e, quem sabe, conseguir o apoio deles para seguir carreira.
— Dar em cima dele? — questiono, pensando em como fazer isso com outro homem.
— Não é tão difícil dar em cima de um gay, Arthit — responde, voltando com o deboche. — Somos populares, bonitos e temos o colégio todo em nossas mãos. Sabe quantas garotas querem sair com a gente?
— Fale por você — resmungo.
— Você é bonitão, Arthit! — exclama, envolvendo o braço em meu pescoço com uma força desnecessária. — Você só não pegou as garotas do colégio porque estava namorando aquela maluca da Katherina.
— Foram três anos de namoro — pontuo.
— Três anos com uma lunática que se recusava a dar pra você — diz, sem pudor. — E quando deu, não demorou para te dispensar.
— Cala a boca, Cooper! — exclamo, e o empurro para me soltar.
— Conquiste o Alec! — insiste, em tom desafiador. — Um beijo não basta, pois beijo a gente dá em qualquer menina. Beijos são fáceis!
— E então...?
— Faça-o te desejar — diz, mordendo o lábio inferior. — Te tocar, te chupar ou até querer dar pra você.
— Não vou ter relações com outro homem, Asher — resmungo, enojado.
— Você não precisa ter — diz, franzindo a testa. — Apenas faça-o querer e, no último segundo antes de fazer a cesta da vitória no final da partida, me avise e entre para o time titular. A menos que eu consiga antes de você, é claro!
Concordo, mesmo não gostando da ideia de ter aquela proximidade com outro homem.
— Está apostado — confirmo, desacreditado.
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