Capítulo 5
Quando minha mãe faleceu e meu pai começou a adoecer, eu vim morar com a minha tia. Assim seria uma boca a menos para meu pai alimentar com a aposentadoria precária que recebia. Titia infelizmente faleceu alguns anos mais tarde e comecei a trabalhar feito doida para enviar dinheiro ao meu pai e minha irmã. Além de me sustentar, pois a aposentadoria que ele ganhava não dava nem para pagar os remédios, muito menos os gastos básicos em casa. Hanabi também procurou emprego na região e continua procurando. Porém, se onde eu moro a situação já está difícil, imagine no interior.
Trabalhando muitas vezes sem folga semanal, eu não pensava em mais nada. Tornei-me uma workaholic, sem toda a parte do glamour. Eu trabalhava muito para manter meu pai e minha irmã e tinha a esperança de que um dia às coisas melhorassem ao ponto de eu poder trazê-los para morar comigo.
Como podem perceber, isso não ocorreu e eu estava a beira de uma crise de desespero. Ao constatar que eu era a única chance do meu pai e da minha irmã naquele momento. Eu até podia voltar a morar com minha família no interior, no entanto, se eu e minha irmã não encontrássemos trabalho, como ajudaríamos nosso pai? Era melhor eu permanecer onde estava, porque mesmo com todas as dificuldades, ainda era possível arrumar uma ocupação.
E eu não iria desistir.
Respirei fundo, terminando de me arrumar e esperei. Naruto ficou de me chamar às 19:00h e faltava quase quinze minutos. Inclusive, eu não podia esconder minha felicidade por causa daquele encontro tão singelo. Diante de como ele estava me tratando, sentia-me ainda pior por imaginar que Shion fosse a mulher dele. O que eu tinha na cabeça? Certo, em minha defesa, eu podia alegar que não estava muito bem. Dizer que a preocupação e o estresse que eu sofria frequentemente, trabalhando como gerente e depois sendo despedida de uma hora para outra afetou minha percepção. Era motivo suficiente para eu não me ligar nas coisas ao meu redor. Contudo, eu acho que nem isso era capaz de justificar minha imaginação fértil.
Eu pisei mesmo na bola.
Não que ele tenha ficado irritado comigo ou algo assim, pelo contrário, foi muito gentil durante todos os dias que se passaram. Até domingo finalmente chegar. Nos vimos algumas vezes, nos cumprimentamos com educação e ficamos de papo no restante da semana. Tanto que o nosso vínculo se tornou mais espontâneo, já conversávamos com certa naturalidade. Sem tantos hiatus durante o diálogo, na real, os assuntos fluíram com tanta facilidade que cá estou eu, esperando para fazer um rolê noturno com meu vizinho de porta. Por falar nisso, óbvio que eu comi todo o bolo que Naruto fez. Só sobrou um pedaço que foi prontamente devorado pela Sakura ontem, enquanto assistiámos a um filme da Pixar.
E, quando eu contei que Naruto havia feito o tal bolo de chocolate para mim, — e que estava divino, todo molhadinho e cheio de calda — ela passou bem umas duas horas me azucrinando. Querendo saber quais eram as intenções dele comigo. Eu tentei dissuádi-la, aleguei que ele foi apenas gentil ao me dar o bolo, mas de nada adiantou. Então preferi ignorar, Sakura não ouvia uma vírgula quando estava naquele estado de euforia insuportável.
Ah, também contei que iria com ele tomar sorvete domingo — vulgo hoje — e estava muito feliz por isso. Sakura me olhou de esguelha assim que terminei meu relato e abriu um sorriso que mostrava todos os dentes.
— Sorvete, é? — brincou e eu dei um tapa em seu braço.
— Ele não faz esse tipo de homem safado. — a repreendi. — Ele é tímido, sério e me chamou realmente para ir tomar um sorvete. Sem maldade ou segundas intenções e você sabe que eu não tenho cabeça para pensar nesse tipo de coisa. — completei e Sakura assentiu.
— Verdade, Hina. — concordou envergonhada. — Pelo pouco que conheço do Naruto, ele realmente parece ser esse tipo de homem bonzinho. Fico feliz que esteja animada, nessas últimas semanas você estava tão triste.
— Eu sei. — respirei fundo e a olhei nos olhos. — Eu espero que as coisas melhorem pra mim em breve.
Sakura acariciou meus cabelos amorosamente e me puxou para um abraço apertado.
— Eu tenho orgulho de você, amiga. — confessou, me pegando de surpresa. — Nem sei o que seria de mim se estivesse em uma situação parecida. Você é muita forte.
— Não sou não, Saky — contestei com a voz embargada. — Estou a beira de desmoronar.
— Mas não vai. — protestou me apertando ainda mais. — Eu estou aqui e jamais te deixarei sozinha. Não esqueça que agora você tem o Naruto também, que parece se importar genuinamente com você.
Funguei, enxugando algumas lágrimas que sequer percebi terem escorrido e tratei de forçar um sorriso. Eu odiava me sentir vunerável, isso apenas acontecia perto da Sakura mesmo. De resto, eu fingia ser uma muralha, apesar de estar bem longe disso.
Ouvi um barulho na porta e dei um pulo, seria Naruto? Ele tinha sido tão legal comigo em todos aqueles dias. Eu fiquei realmente feliz ao vê-lo, mesmo com o nervosismo de toda a situação.
— Boa noite, Naruto. — Ele sorriu.
— Boa noite, Hinata. — Fez menção de me dar um beijo na bochecha, mas eu tinha a intenção de lhe dar um abraço rápido e a gente ficou nessa dança desengonçada.
Até que caímos na gargalhada.
— Será que um dia seremos menos atrapalhados? — Naruto brincou e por fim me deu um beijo estalado na bochecha.
— Veremos. — devolvi, sentindo minha bochecha direita formigar com o contato singelo.
— Vamos? — perguntou e eu fiz que sim com a cabeça, fechando a porta do apartamento.
Seguimos em silêncio até o estacionamento do prédio, foi quando Naruto resolveu falar:
— Você está muito bonita. — elogiou me olhando de canto.
— Obrigada. — agradeci meio sem graça.
Eu tentava, em contrapartida, não pensar no quanto Naruto estava atraente com uma calça jeans escura, camiseta azul e converse branco. Despojado e elegante. Os cachos, muito bem modelados, davam a ele uma aparência angelical e doce. Contrastando com a barba rala, que atribuía ao seu rosto um certo quê de masculinidade. A camiseta naquela cor realçava ainda mais o azul de seus olhos.
Suspirei.
— Você também não está nada mal. — me ouvi elogiar e consegui notar quando suas bochechas avermelharam como de costume.
Eu adorava quando isso acontecia, tinha vontade de apertá-las.
— Obrigado. — agradeceu e sua voz soou grave e aveludada. — Para andar ao lado de uma garota tão bonita, eu precisava caprichar um pouquinho. Se não queimaria seu filme.
Foi minha vez de sentir todo o rosto esquentar, aquele flerte era tão bobo e ao mesmo tempo fofo.
— Que isso. — desconversei, colocando uma mexa de cabelo atrás da orelha.
Naruto riu.
— Só fui sincero. — chegamos ao carro e ele abriu a porta para mim, num claro gesto de cavalheirismo.
Entramos e comecei a brincar com um fiozinho que se soltava da minha blusa. Enquanto Naruto manobrava o carro para sair do estacionamento. Em seguida, quando já estávamos na rua, resolvi quebrar o silêncio.
— Sakura adorou o bolo, acho que você arranjou uma fã.
Naruto gargalhou antes de responder:
— Não seja por isso, da próxima vez eu faço dois. Um pra você e outro pra ela.
— Ah não, não foi para isso que eu te contei. — fiz uma careta engraçada. — Só quis que você soubesse que estava verdadeiramente uma delícia.
Naruto assentiu.
— Eu gosto de cozinhar, desde que meus pais... — ele se interrompeu e balançou a cabeça, como se afastasse um pensamento ruim. — Enfim, fico feliz que tenham gostado, Hina.
Naruto ficou meio vermelho. Ele nunca me chamava por apelidos.
— Desculpe Hinata, escapou. — Naruto mordeu o lábio e eu achei graça de seu constrangimento.
— Tudo bem, pode me chamar de Hina. — afirmei sorrindo.
— Posso? — ele relanceou os olhos para mim.
— Claro, somos amigos não somos? — ponderei e ele fez que sim. — Minha irmã e a Sakura me chamam assim.
— Você têm quantas irmãs?
— Apenas uma, mas ela mora com meu pai no interior. — Naruto anuiu.
— Você não nasceu aqui? — questionou, parecendo interessado na minha história.
— Não, vim morar com a minha tia quando tinha uns doze anos e acabei ficando. — dei de ombros.
Como eu fui sucinta, acredito que Naruto tenha entendido que eu não queria falar sobre aquilo por hora. Pois logo tratou de mudar de assunto.
— Entendi, de todo modo, vou fazer como os outros e te chamar de Hina. Tudo bem? — sorriu de lado.
— Está autorizado. — respondi divertida. — E seu apelido é Naná? — perguntei, lembrando de como Shion chamava o irmão.
Ele corou.
— Na verdade a Shion me chama assim, mas eu não gosto muito. — fez uma careta hilária. — Naná é um apelido muito fofo e infantil.
— Mas você é hiper fofo! — despejei no automático.
— Sou? — Naruto olhou-me lado, com uma espécie de divertimento nos olhos.
— Ahn, é sim. — reafirmei, não adiantaria voltar atrás e foi só um elogio inocente.
Naruto riu.
— Se quiser pode me chamar de Naná então. — deu de ombros, demonstrando desinteresse.
Voltando os olhos para a direção com um sorriso travesso nos lábios.
— Tá bom, Naná. — enfatizei o apelido só para provocar.
— Será que vou me arrepender de ter liberado o apelido?
— Agora não dá mais para voltar atrás! — dei um cutucão fraco em sua costela.
Ele riu.
— Espero que não dê mesmo. — Ofereceu um sorriso completo, evidenciando os risquinhos nas duas bochechas.
Aliás, por um momento, tive a impressão de que já não falávamos do apelido em si.
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