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24 - Isso não pode ser errado

Sorrio encarando a câmera.

— Tá bom né?! Já tiramos umas cinquenta fotos — reclamo.

— Nada disso, só tiramos selfies, agora quero que alguém tire uma foto de nós dois juntos, de corpo inteiro, preferencialmente abraçadinhos e com o mar no fundo.

— É sério, Gustavo, por que tanta foto?

— Pra exibir para os meus amigos que peguei uma coroa gostosa.

Dou um tapa no braço dele.

— Tô brincando — fala rindo e dá de ombros. — Eu só quero guardar as lembranças desse dia, não sei até quando tu vai me dar bola — encara o mar meio pensativo. — E o que a gente tá vivendo é bom demais, preciso guardar lembranças disso pra não achar que foi alucinação.

Eu o entendo, é surreal isso tudo. A diferença entre nós é que, quando isso acabar, quero fingir que nunca aconteceu. Ser papa anjo não é algo de que me orgulhe, muito menos mentir para minha filha.

Segura meu queixo e vira em sua direção.

— Não pensa demais, Bia, só curte nosso momento — deixa um selinho em meus lábios.

— BIA?!

Encosto a testa no ombro de Gustavo.

— Ah não! De novo não! — resmungo chorosa.

Sinto o corpo dele tremer quando ri.

— Meu Deus! Bia e Guga?

Engulo a vergonha e olho para frente.

— Oi, Eli.

Minha amiga olha para nós com animação no olhar e um sorriso gigante esticando os lábios.

— Sua boca tá quase rasgando — comento, abracando-a.

— Eu tô é animada. Tu não tinha me contado essa novidade.

— Eu ainda tô assimilando essa novidade, Eli.

— Daqui me pareceu que tinha assimilado bem, tem até beijo em público.

— Não enche. E me conta, você tá fazendo o que aqui?

Aponta para um homem bonito parado um pouco atrás dela.

— Lembra que eu te falei que estava saindo com alguém? — Confirmo. — Ele me chamou pra passear no fim de semana e ontem de noite me pediu em namoro enquanto a gente passeava na praia. Foi lindo.

Abraço ela animada.

— Que bom, Eli. Felicidades!

— Parabéns, você merece — Gustavo também a abraça.

— Foi ótimo ver vocês, agora vou deixar os aproveitarem a companhia um do outro. E você — aponta para mim —vai ter que me explicar isso direitinho amanhã. E eu vou marcar um dia pra tu conhecer meu namorado direito, ele é meio tímido.

— Tá certo.

Nos abraçamos mais uma vez e ela começa a se afastar, mas Gustavo a chama e pergunta se pode tirar uma foto nossa. Eliane, claro, aceita animada.

O loiro me arrasta até a beira da água e se coloca atrás de mim, passa as braços ao meu redor e me pede para sorrir. Tenho certeza que o sorriso está estranho pela careta repuxando o rosto da minha ex-cunhada.

— É pra sorrir e não fazer careta, Bia. Olha pra Guga e aprende como se faz.

Bufo.

Tento sorrir novamente, mas estou tensa demais.

— Guga, tu não sabe fazer essa mulher relaxar não?

— Até sei, mas meu método é impróprio para o local.

Constrangida, me viro um pouco e disparo um tapa em seu braço.

— Deixa de graça.

Ri e se inclina, depositando um selinho em meus lábios.

— Relaxa, minha Barbie, é só uma foto.

Olho novamente para frente e tento novamente sorrir. Eliane faz um legal para mim e reviro os olhos.

Gustavo, atrevido, beija meu pescoço de um jeito carinhoso. O arrepio que percorre meu corpo e o comichão em minha barriga me fazem sorrir com espontaneidade.

— Essa última ficou perfeita — Eli mostra e concordo.

Me entrega o celular, nos despedimos novamente e ela se vai, de mãos dadas com seu namorado.

Volto para mesa e Gustavo entra na água. Sorrio olhando as fotos, minhas preferidas são as que ela tirou quando ele me deu o selinho e a que ele está beijando meu pescoço. Ela também tirou algumas enquanto ele me pedia para relaxar. Envio todas para mim pelo whatsapp, faço o backup no Google fotos e excluo da minha galeria. Ninguém além de mim costuma mexer no meu celular, mas não quero deixar rastros.

Uns quinze minutos depois, Gustavo volta e enche meu saco até me convencer a entrar na água.

Fazemos o check-out por volta das cinco da tarde. Chegamos no meu apartamento quase sete e meia e, só então, me lembro de perguntar a Gustavo como ele entrou no meu apartamento ontem.

— Nunca te devolvi a chave reserva.

— Eu não tinha notado.

— Nem eu, até pegar a camisinha na carteira antes de ontem.

— Melhor se não tivesse pegado, aquela porcaria... — arregalo os olhos — Merda, Gustavo, precisamos ir na farmácia — corro de volta para a porta.

— Por quê?

— Eu não tomei a merda da pílula, Hellen chegou aqui ontem cedinho e acabei esquecendo. Ah, merda! Se eu engravidar de um adolescente eu sumo no mundo e ninguém nunca mais vê minha car...

Seus lábios colam aos meus com certa violência, sua mão aperta minha bunda e até perco um pouco os sentido, esqueço que estamos em um elevador. Ele se afasta e fico meio atordoada.

— O quê...?

— Não sou um adolescente, Beatriz.

— Não mesmo.

A voz baixa e safada me deixa mortificada. Nem preciso olhar para saber que é Claudete, uma senhora de uns sessenta anos que mora um andar abaixo do meu e é conhecida no prédio por namorar apenas garotões.

— Vocês querem uma brincadeirinha a três?

— Não, obrigado — me apresso em negar.

— Tem certeza? — acaricia os bíceps de Gustavo.

— Sim — ele confirma, tirando o braço do alcance dela.

O elevador se abre na garagem e saímos praticamente correndo.

Na farmácia compro a pílula e uma garrafa de água. Gustavo brinca que não seria tão horrível assim e depois me enche o saco, repetindo que não é um adolescente, e bem... Minutos depois ele prova isso com muito entusiasmo e paixão.

Horas depois, enquanto ele dorme ao meu lado, observo seu rosto bonito. E quando durmo, sonho com uma bebezinha loira minha e dele, com olhinhos verdes e cabelos cacheados acordo apavorada as duas da manhã, entro no aplicativo do plano de saúde e, por um milagre, consigo uma consulta para o dia seguinte. É a primeira do dia, praticamente de madrugada, mas é ótimo.

Um pouco mais tranquila, volto a dormir.

— Mãe? Mainha?

Gustavo e eu nos encaramos apavorados.

— Fica aqui.

Cuspo o creme dental, lavo a boca e saio do banheiro. Minha filha entra no quarto nesse momento e para um pouco hesitante, olhando para meu biquíni largado no chão. Um pouco mais a frente está a sunga de Gustavo, próxima a cômoda, discretamente, empurro para debaixo do móvel e recolho meu biquíni e minha camisola do chão, sorrindo sem graça.

— Desculpa, mainha, esqueci que a senhora agora tem um namorado.

— Por que tá sussurrando?

— Ele não tá aqui?

— Tá, mas não precisa sussurrar, ele já te ouviu gritando por mim. Vamos pra sala.

— Posso conhecer ele?

— Não.

— Mãe!

— Não, Hellen.

Senta no sofá, cruzando os braços.

— O está fazendo?

— Esperando. Uma hora ele vai ter que sair.

— Ele não sai de lá enquanto você não for embora.

— Mainha, eu quero conhecer seu namorado, tenho esse direito.

Suspiro e sento no sofá.

— Você não gosta de se sentir de fora da vida das pessoas que ama, não é?

— Não. Me deixa mal.

— Eu entendo. Mas a vida é assim, filha, nem sempre vamos saber tudo o que as pessoas das nossas vidas fazem.

— Eu sei.

Abaixa os olhos.

— Só um nome — faz biquinho e reviro os olhos.

— Alex.

Abre um sorrio gigante.

— Alex. Não é nome de velho.

Rio.

Não sei de onde ela tirou que ele é velho. Tá, é surreal que eu esteja envolvida com alguém jovem. Mas por que ela deduziu que ele é velho?

Abro a boca ofendida.

— Você me acha velha?

— Não, mas nunca conheci nenhum quarentão chamado Alex.

Ela tem um ponto porque eu, curiosamente, também nunca conheci.

— Satisfeita?

Balança a cabeça em negação.

— Como ele é?

— Gentil e simpático. É isso que quer saber?

— Não mãe, fisicamente.

— Não vou falar.

— Argh! Tudo bem. Mas eu tenho direito de saber como é meu padrasto. Ele pelo menos é bonito?

— Lindo. E gostoso.

Praticamente saltita no sofá, super animada.

— E o quê mais?

— Chega, Hellen, preciso ir trabalhar. Temos um chá de bebê ás duas da tarde e Juliano pediu folga hoje, tenho que chegar cedo e ajudar Paty.

— Tá, tudo bem, eu já vou.

— Não, espera. Vou pegar a bolsa e descemos juntas.

Volto para o quarto, jogo algumas coisas dentro da minha bolsa, beijo rapidamente os lábios de Gustavo e saio correndo.

No meio do caminho começo a sentir novamente aquele pequeno incômodo pela situação. Me pergunto um milhão de vezes que merda estou fazendo da minha vida. Fico me lembrando que ele é jovem demais e eu...

Sorrio ao ler a mensagem dele me desejando bom dia.

Encosto a testa no volante e simulo um choro, mas percebo que pareço uma adolescente e paro.

Quase posso ouvir a voz de Gustavo me repreendendo por essa obsessão com nossa diferença de idade. Mas não consigo evitar, é mais forte do que eu. Todas as vezes que olho parece ter uma placa com letras neons em sua testa com a frase: Ele é 14 anos mais novo do que você.

Suspiro.

Acabo lembrando que, por causa da gracinha dele no elevador semana passada, agora a dona Claudete me assedia toda vez que encontra no elevador. Sempre fazendo propostas de ménage ou troca de casal.

Sorrio lembrando de como Gustavo ficou constrangido e vermelho ontem, a mulher praticamente se esfregou nele, isso com um garoto de uns dezoito anos do lado dela.

Gustavo...

A presença dele tem sido cada vez mais recorrente e me faz tão bem.

Ontem não transamos, na verdade não fazemos isso há dias porque estamos trabalhando igual condenados e chegamos sempre exaustos, para completar, antes de ontem minha menstruação chegou, então continuamos no zero a zero. Mas nossas noites têm incríveis, assistimos filmes e doramas, cozinhamos e dormimos abraçadinhos.

É tão bom quando estamos juntos. Parece tão certo.

Passo o dia inteiro pensando sobre isso. Quando chego em casa à noite e o encontro no chão da minha sala, com um livro na mão e o cheiro de comida no ar, sinto uma sensação boa a se espalhar por meu peito.

Fecho a porta, tiro os saltos e me aproximo com pressa. Sento a sua frente, me aconchego em seus braços e apenas um pensamento paira em minha mente:

Isso não pode ser errado.

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