49 [𝐏𝐚𝐫𝐭𝐞 𝟐]. A Formatura
Foi só colocarmos os pés de volta ao palco que a professora Heloísa bradou nossos nomes, desesperada que tínhamos sumido. Era enfim chegada a hora da formatura.
Apressadamente, vestimos nossas becas novamente. Enquanto a professora se dirigia à frente do palco para falar as palavras iniciais e anunciar o orador da turma, aproveitei para observar meus colegas, todos enfileirados e comportados, quase parecendo gente.
Vinícius estava conversando animadamente com Erica, a garota que ele havia ficado na festa em minha casa. Parecia que o relacionamento estava ficando sério, já que ela nem era formanda e mesmo assim estava ali de penetra, misturada entre nós.
Thalia e Lucca, por outro lado, estavam rindo descontraídos enquanto jogavam conversa fora. Para qualquer um que visse de fora, aquela combinação pareceria improvável: o garoto mais extrovertido e palhaço da escola ao lado da menina mais introvertida. Mas confesso que, se um dia se tornassem um casal, seria uma união poeticamente cômica e adorável ao mesmo tempo.
Com o clímax chegando, aproximei-me de Luan com um sorriso ladino.
— Vai dar tudo certo, amor. Você vai arrasar — sussurrei em seu ouvido, dando-lhe um beijo na bochecha. Se antes Luan evitava qualquer demonstração de afeto em público, agora ele não ligava a mínima para o fato de todos os alunos atrás de nós verem esse gesto de carinho. — Não esquece do celular.
Toquei sutilmente no bolso de sua calça por baixo da beca, lembrando-o que, se quisesse expor as tramoias que Christian fez, aquela seria a hora.
Então, o nome de Luan foi chamado. Com determinação, ele se dirigiu ao centro do palanque, segurando a pasta com o discurso. Enquanto era aplaudido por todos, a cortina subiu, revelando nós, os demais formandos, ao fundo do palco.
— Boa noite a todos. — Quando Luan pegou o microfone, estava nervoso, mas confiante. Começou então a ler o discurso preparado por outra pessoa. — "Prezados pais, familiares, professores e, claro, colegas formandos, hoje é um dia de celebração, um dia que marca o fim de uma jornada e o início de outra..."
Ele parou repentinamente, interrompendo o discurso ainda no começo. Percebi a mudança em seu semblante. Desviou seus olhos verdes da pasta no púlpito de vidro e voltou-se para a plateia, respirando fundo.
— Querem saber? Ler um discurso pronto não é muito a minha praia. Se for pra ser o orador, quero falar com minhas próprias palavras.
Atrás do palco, a professora Heloísa balançava a cabeça em desalento, como se já soubesse que algo assim poderia acontecer ao escolher Luan como orador.
— Não tem muito como eu falar do fim deste ciclo no ensino médio sem falar das minhas próprias vivências — continuou Luan. — Pra mim, ao contrário da maioria dos meus colegas, foram só dois anos aqui nessa escola, já que vim transferido. Mas aprendi coisas nesses dois anos que vou levar para a vida toda.
Eu estava mais ao fundo, tentando ver tudo por cima dos ombros de quem estava à frente, me erguendo nas pontas dos pés.
— Vim de outras escolas onde todos achavam que o dinheiro comandava tudo. Pessoas que se sentiam melhores do que os outros, e por isso eu me sentia fora de sintonia. Não me encaixava nesse mundo esnobe deles. Mas aqui, senti que estava no meu verdadeiro lar. Fui acolhido por um certo "alguém", que me fez ver a vida de outra maneira. Foi aqui também que aprendi lições valiosas que iam além da matemática ou do português. Aprendi a controlar meu jeito impulsivo, a dar atenção aos problemas do próximo, e foi aqui também que conheci o amor.
Ele fez uma pausa e olhou diretamente para mim. Senti meu rosto esquentar, mas não desviei o olhar.
— Foi durante o ensino médio que me descobri bissexual. Levou tempo, ao ponto que achei que nunca chegaria o dia, mas aprendi a respeitar minha própria orientação sexual, me aceitando como sou. Hoje, não tenho vergonha de gostar de garotos, pelo contrário, tenho orgulho. Ainda mais porque namoro um, o cara mais gostoso de toda a escola, diga-se de passagem.
Alguns garotos me empurraram mais para frente ao perceberem que ele se referia a mim, e de repente, eu estava na linha de frente, bem perto de Luan.
A plateia ficou em silêncio por um momento, digerindo as palavras de Luan. Logo, começaram os aplausos, tímidos no início, mas crescendo até se tornarem ensurdecedores.
A professora Heloísa suspirou aliviada, talvez por ver que, mesmo fora do roteiro, Luan havia tocado todos com sua sinceridade.
— Agradeço, mas ainda não terminei — ele ergueu a mão no ar pedindo silêncio, com o microfone na outra mão. — Chega a ser estranho pensar que nesses poucos anos, como um aluno do ensino médio, muitas coisas ocorreram em minha vida. Cortei laços com minha família sanguínea. Mas, ao mesmo tempo, ressignifiquei alguns laços com aqueles que ainda valiam a pena. — Luan olhou em direção à sua irmã na plateia. Laura sorriu timidamente para ele. — Também percebi que família não tem a ver com sangue. Nós escolhemos nossa própria família. E sou muito grato pela família que me acolheu — Luan agora fitou Celeste e seus filhos. A mulher, com uma guitarra no colo, ficou visivelmente encabulada com as palavras dele. Em seguida, ele olhou para seu irmão de consideração na plateia, James, e sorriram cúmplices um para o outro.
"Aprendi a perdoar. Tanto aqueles que me pediram desculpas" — ele olhou para trás, em direção às cortinas. Não havia ninguém no local, mas sabia que sua espreitada se referia a Arthur — ", quanto aqueles que nunca terão coragem de se desculpar e se arrepender de seus atos."
Dessa vez, Luan não olhou para canto algum. Contudo, ele pegou o celular de seu bolso no meio do discurso, o mesmo que tinha provas de que Christian chantageou Letícia, e então desligou-o ao pressionar o botão Power. Luan não iria expor Christian. E, por mais que o idiota que zombava dele atrás de mim jamais soubesse do que ele estava se referindo, meu peito só se enchia ainda mais de admiração pela sua escolha.
— O mundo nem sempre é justo — Luan prosseguiu, guardando o telefone de volta no bolso. — Às vezes, o "mal" se sai bem. Se o carma virá ou não para pessoas assim, não faço ideia. Só não serei eu que me deixarei ser alguém frustrado, que busca vingança e guarda rancor por quem me fez mal. Aprendi que não preciso de algo assim para ser feliz. Não dependo da infelicidade de alguém para estar bem comigo mesmo. Focar nos meus corres e no meu progresso é o que me trará contentamento. E posso assegurar a todos, hoje sou totalmente feliz.
"Sei que é injusto falar apenas de mim. Esta formatura não é só minha. É sobre todos nós, sobre todos os meus colegas aqui." — Luan apontou para nós com veemência. — "Todos aqui passamos por poucas e boas durante o ensino médio. Virando noites sem dormir estudando para provas, xingando mentalmente os professores das matérias que mais odiávamos. Não é, professor Olavo?"
Todos riram quando Luan mencionou o professor de Química, que deu um sorriso contido no outro canto do palco.
— Ainda assim, sou grato ao senhor e a todos os demais professores. Vocês nos edificaram não apenas academicamente, mas também com todo o apoio que nos forneceram em nosso crescimento como pessoas. Queria deixar aqui enfatizado o quanto acho essa profissão de vocês professores incríveis, e é tão injusto o quanto vocês são desvalorizados. Vocês são os maiores responsáveis por estarmos aqui hoje.
Aposto que nesse momento a professora Heloísa não sabia onde enfiar a cara. Temia que Luan estragasse a formatura e, no fim, ele prestou uma homenagem a ela e a todos os outros professores.
— Estamos chegando ao fim da fase que, acredito, seja a mais importante de nossas vidas. Pode soar um pouco melancólico, mas tenho a sensação de que vivemos a melhor fase de nossas vidas aqui. A partir de agora, seremos adultos, e a vida será bem menos divertida do que quando éramos estudantes do ensino médio. Os anos que se seguirem vão provar se o que estou falando é verdade.
"Ainda assim, mesmo se for somente uma vez por ano, ou mesmo a cada dez anos, se esses amigos que fizemos durante essa época de nossas vidas se reencontrarem, em um churrasco talvez, será aquele momento em nossas vidas que relembraremos a fase do ensino médio. Lembraremos cada situação que passamos aqui, cada dia de angústia e de alegria. As crianças e os jovens em nós nunca morrerão se mantivermos nossos amigos próximos, mesmo que distantes fisicamente. Então, poderemos manter essa 'melhor fase da vida' e nossas memórias vivas por quantos anos forem possíveis."
Luan agora sorriu ao se virar e olhar para mim e nossos amigos íntimos.
— Por muito tempo, fui fechado e não me dei a liberdade de conhecer as pessoas profundamente. Ainda bem que mudei a tempo, e percebi o quão incríveis as pessoas podem ser e quantas histórias têm para nos contar e vivenciar conosco. O que levo de mais valioso do ensino médio são os amigos que fiz e o amor da minha vida que conheci.
"Não sei se todos que estão se formando comigo hoje terão esse privilégio, mas se tiverem, agarrem com força. Pois não há nada melhor do que compartilhar momentos com pessoas importantes para nós. E se vocês não tem alguém assim, mesmo que seja o fim da escola, estou a disposição de ser esse seu amigo. Agradeço a todos pela atenção, e uma ótima formatura a todos os meus colegas."
E foi assim que Luan, com sua coragem e autenticidade, fez um discurso que ninguém esperava, mas que todos precisavam ouvir.
Uma salva de palmas eclodiu pelo ambiente, vindo inicialmente de nós, formandos, seguidos pela plateia que o aplaudiu de pé.
Sem pestanejar, corri em sua direção e dei-lhe um forte abraço de urso. Luan retribuiu o abraço, me apertando tão forte quanto.
Não tardou muito para que o diretor Aroldo subisse ao palco para chamar os formandos, um a um, a fim de receberem seus respectivos diplomas.
Sim, nosso diretor escapou de ser indiciado pelo crime de extrair minerais do subsolo da escola. O maldito se fez de sonso, fingindo desconhecimento de suas existências, contudo todos os valores obtidos da mineração do local foram mandados para os cofres públicos. Ele não viu um tostão sequer.
— Letícia Spears Lourenço.
Ao ter seu nome chamado, a loira sorridente se dirigiu aonde o diretor a aguardava. Sua família aplaudia energeticamente conforme ela recebia seu diploma. Não foi diferente de James, que aplaudia de pé sua namorada enquanto assobiava com ambos os dedos na boca. Era engraçado pensar que na semana anterior estávamos na formatura dele do EJA, e agora ele estava na nossa.
— Vinícius Alencar Pereira.
O ruivo ergueu seu diploma no ar, eufórico por estar finalmente formado, segurando seu capelo com a mão para que não caísse com seu ato.
— Douglas Favaretto Lima.
Doug era sempre o mais certinho entre todos, o que menos chamava a atenção nessas situações. Diferente do Lucca...
— Lucca Cardoso Teixeira.
O idiota entrou no palco fazendo graça com um moonwalk, recebendo uma revirada de olhos do diretor em resposta.
— Thalia Gomes Nogueira.
A Dama das Sombras caminhou para o palco, recebendo algumas vaias e assobios debochados de alguns imbecis na plateia. Nem todos tinham a maturidade de parar de tratá-la de forma implicante só porque ela era diferente.
Surpreendendo a todos, inclusive ela própria, Lucca retornou ao palco assim que ela pegou seu diploma. Em clara resposta às implicações de todos, Lucca inclinou Thalia para trás, segurando-a em seus braços finos, e deu um belo beijão de cinema em sua boca na frente de todo mundo.
O queixo de todos, incluindo o meu, caiu ao ver o improvável casal. Se dariam certo? Muito provavelmente não. Mas era adorável vê-los juntos naquele momento, saindo do palco de mãos dadas. E a parte engraçado foi Lucca não ter percebido que sua boca estava toda borrada de batom preto por conta do beijo.
— Kevin Wallace Drummond.
Senti meu coração palpitar descompassadamente e meus pelos se arrepiarem ao ouvir meu nome sendo chamado. Todos os olhares estavam voltados para mim, especialmente os de meus pais, que gritavam euforicamente da plateia pela minha conquista.
— Parabéns, senhor Drummond — em mais um momento inesperado, o diretor sussurrou em um tom amigável, enquanto minha mão tocava o diploma. Com minha mão livre, apertei a dele, finalmente deixando para trás as rixas do passado.
É, Diego. Esta era a segunda formatura que eu vivenciava sem sua presença. Sentia, de certa forma, que você estava por perto, celebrando comigo. Gostaria muito que estivesse fisicamente ao meu lado. Aos poucos, estava aprendendo a lidar melhor com sua ausência; Luan estava me ajudando bastante com isso. Hoje, o aperto no peito referente a sua falta havia diminuído, dando lugar ao calor no coração ao recordar os momentos felizes que compartilhamos quando ainda era vivo.
Enquanto me dirigia para o outro lado do palco, avistei, ao longe na plateia, o orientador Henry com um homem que, se não me enganava, se tratava do seu marido, Igor. Sorri para ambos antes de me juntar aos meus colegas com diplomas já em mãos.
— Por fim, Luan Pimentel Montenegro.
Sorri imensamente ao ver meu namorado recebendo seu diploma. Porém, o momento foi interrompido pelo barulho do alarme de incêndio e o jato dos sprinklers que se ativaram, molhando todos no palco e na plateia.
Em meio as gritarias olhei para o fundo do anfiteatro, atrás dos assentos dos convidados, vendo os responsáveis pelo caos. Rafael havia apertado o botão do alarme, enquanto Felipe acendia um lança-chamas para o alto a fim de ativar os sprinklers.
Os dois sorriram para Luan, que balançou a cabeça, já resignado com a bagunça que esses idiotas costumavam causar, antes de saírem correndo em meio a desordem que causaram como despedida, ajeitando seus bonés em suas cabeças.
— Se acalmem, todos! — O diretor, encharcado, tentou acalmar a plateia que estava em pânico, achando que o incêndio era real. — Foi apenas um alarme falso!
O caos estava instaurado, e Luan cascava o bico da situação criada pelos seus antigos parceiros de "crime". Aposto que o diretor estava puto da vida com seu filho.
— Ah, que seja! Vocês estão formados! — exclamou o diretor Aroldo, voltando-se para nós.
Nesse momento, todos os formandos no palco levantaram seus bastões para o alto e giraram sua base. Confetes voaram em meio aos estalos de comemoração, marcando o fim da nossa formatura.
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Eu e Luan chegamos em minha casa no início da madrugada aos tropeços, depois de saímos do baile de formatura um pouco antes do final. Assim que entramos no meu quarto escuro, Luan me agarrou pela cintura com firmeza, e começamos a trocar beijos intensos e acalorados.
— Ai! — Luan grunhiu repentinamente de dor interrompendo nosso beijo, curvando-se na minha frente.
— O que houve, Luan?! — perguntei aflito ao garoto de terno.
Luan se ergueu novamente, com um sorriso pecaminoso e as orbes cintilando.
— Acabei de ser picado por um mosquito. Quer ver a "picadura"?
Revirei os olhos para seu trocadilho infame, enquanto Luan ria da minha preocupação desnecessária.
— Nem pense nisso. Meus pais devem estar chegando daqui há pouco.
— Chato — ele resmungou, sentando-se na minha cama. — O que você queria me mostrar?
Fui até o meu armário e abri a porta rangente. Entre cadernos antigos e livros empoeirados, estava o álbum de fotos que eu havia escondido. Peguei-o com cuidado e caminhei de volta até a cama, onde Luan estava sentado, para mostrar a surpresa que preparei.
— Montei um álbum com as fotos que tiramos ao longo dos últimos dois anos — eu disse, sentando-me ao lado dele.
Luan olhou para mim com um brilho nos olhos, aquele tipo de brilho que só aparece quando se está prestes a revisitar boas memórias.
— Letícia me ajudou a transformar as fotos digitais em algo mais tradicional, como os álbuns que meus pais costumavam usar.
A luz do luar vindo da janela era a única luminosidade que precisávamos para enxergar em meio aquela escuridão. Ao abrir a capa de couro, fomos transportados para momentos nostálgicos.
A primeira foto era aquela em que tiramos juntos na mansão dos Pimentel, com a língua de fora e mostrando os dedos do meio em direção ao espelho de seu antigo closet gigantesco.
Na página seguinte, estavam as fotos da excursão escolar, onde Thalia nos fotografou. Em uma, eu estava deitado sobre o peito de Luan na areia da praia noturna. Na foto ao lado, estávamos descalços, sentindo a areia fina entre os dedos enquanto olhávamos para o vasto oceano ao amanhecer.
As fotos seguiam como uma linha do tempo saudosa: nossa fotografia tirada por Letícia em frente a catarata em uma ponte de ferro, o circo onde ele disse "eu te amo" pela primeira vez, Luan sendo tatuado, o parque de diversões iluminado visto do topo da roda-gigante, a festa de Halloween na casa de Douglas e até a festa de Natal do ano passado em minha casa.
— Por que não me contou que passou na faculdade?
Meus olhos castanhos foram do álbum no meu colo para ele, sem reação à sua fala inesperada.
— Como soube?
— Pelo amor, Kevin. Acha mesmo que eu não fiquei de olho no site da faculdade, atualizando-o o tempo todo para ver se você havia passado?
Eu estava me sentindo acanhado. Não queria que Luan descobrisse dessa forma; queria contar a ele pessoalmente, mas temia sua reação...
— Parabéns, meu amor. Estou tão feliz por você — não havia nenhum sinal de fingimento em seu tom. O sorriso de orelha a orelha era prova clara de que meu namorado estava realmente contente com minha conquista.
Todo envergonhado, senti meu rosto enrubescer enquanto voltava o olhar para o álbum, tentando disfarçar, focando na foto em que fomos ao aquário da cidade no mês passado.
Se passaram alguns minutos, e somente ouvia-se o som de alguma coruja nas redondezas piando.
Quando finalmente decidi verificar por que Luan estava tão silencioso, percebi que ele não estava mais ao meu lado na cama. Olhei então para baixo e vi que ele estava ajoelhado, com apenas um dos joelhos tocando o chão de madeira do meu quarto. Ele estava segurando uma caixa vermelha semiaberta, com um anel dourado brilhando dentro do receptáculo.
— Kevin Wallace Drummond, aceita se casar comigo?
Senti o tempo parar, meu coração acelerar e minhas bochechas se avermelharem ainda mais. Fazia tanto tempo que não me sentia assim que achei que estava tendo um novo mal súbito. Bem que poderia ser mais uma de suas piadas, como quando fingiu tatuar meu nome em seu abdômen. No entanto, o anel diante de mim era, sem sombra de dúvidas, real.
Não era um delírio. Eu estava ali, ciente da proposta de casamento de Luan Pimentel. A queimação em meu rosto era prova viva de que não era um sonho. Respirei fundo, recobrando a consciência para só então responder:
— Não.
Embora o brilho do anel permanecesse o mesmo, o sorriso de Luan se desfez gradualmente, partindo meu coração.
— Luan, eu te amo mais do que tudo neste mundo. E, claro, um dia quero me casar com você. Mas não pelos motivos errados.
— O que seriam "motivos errados"?
— Você só está me pedindo em casamento porque vou me mudar e morar longe, e você tem medo de me perder — a expressão dele, ao fechar a caixa pesarosamente diante da minha recusa, confirmou minhas suspeitas. — Se um dia tivermos que terminar, não será um anel em meu dedo que me prenderá a você. Porém, ao mesmo tempo, não será a ausência dele que me fará desistir do nosso relacionamento.
Luan voltou a se sentar ao meu lado na cama, visivelmente triste enquanto abria e fechava a caixa com o anel de noivado.
— Espero que tenha como devolver — comentei descontraído, dando-lhe um leve toque no braço. — Deve ter custado um rim. Quantos quilates tem isso, afinal?
— Vai ser um saco ficar tão longe do meu garoto — Luan olhou para mim, ignorando minha pergunta, seus olhos intensamente fixos de paixão.
— É, vai ser um saco. — Assenti, inicialmente emburrado ao lembrar da distância que nos preencheria. — Mas faremos chamadas de vídeo todos os dias! — Tentei animá-lo, ao mesmo passo que tentava reconfortar a mim mesmo também, segurando sua mão livre.
— Chamadas de vídeo pelados todos os dias? — Luan sugeriu esperançoso, arrancando uma gargalhada sincera de mim.
— "Pelados" é uma palavra muito forte — eu comecei a negar entre risos. Mas então me deitei na cama, empurrando-o para se deitar ao meu lado —, porém eu adoraria.
Ambos viramos a cabeça um para o outro enquanto estávamos deitados na minha cama. Nossos sorrisos aqueciam nossas almas mutualmente. O toque de nossas mãos nos rostos do outro era reconfortante. Mesmo que não fôssemos nos casar tão cedo; pelo menos não antes de nos desenvolvermos profissionalmente, ainda assim éramos perdidamente apaixonados um pelo outro. Disso nenhum de nós tinha dúvidas.
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