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43. Aconselhamento Estudantil

          Ficar na sala de aula, aguardando a chegada de nosso professor, nunca foi tão agoniante como estava sendo nas últimas semanas. Na realidade, estar na escola por si só já estava sendo torturante. Não pelos motivos que vocês pensam, lhes garanto. Mas sim por conta do som das britadeiras perfurando o solo do pátio externo. Aquelas malditas obras, que nenhum de nós sabia a finalidade, estavam se perdurando por mais tempo que imaginávamos, e pelo que parecia, não havia previsão alguma para término.

          Não que a chegada do professor de química tenha diminuído o ruído externo irritante, mas ao menos chamou a atenção de todos quando nosso professor calvo surgiu acompanhado de um outro rapaz dessa vez. Esse segundo homem era um sujeito meticuloso em relação ao seu look, usando um terno azul-turquesa e uma gravata vermelha que ia até a altura do umbigo. Não era tão jovem quanto nós — claro que não. Mas com certeza era mais novo que nosso professor. Talvez tivesse uns trinta anos, quem sabe.

— Silêncio, todos — nosso chatíssimo professor bradou, proferindo as palavras às pessoas erradas. Afinal, devia falar isso era para os homens responsáveis pelas obras. — Esse aqui é o senhor Henry.

          Henry, devidamente apresentado, ergueu a mão em uma saudação tímida. Todos estávamos curiosos para saber de quem se tratava esse sujeito. Sempre que alguém de fora vinha para nossa sala era para trazer boas notícias, como um dia de folga em casa por conta de reuniões de professores, ou até mesmo anúncio de alguma excursão. Dessa vez, todavia, não se tratava de nada disso.

— O senhor Henry é o orientador estudantil do terceiro ano. Como sabem, após o final do ano letivo, vocês deixarão a escola; ao menos para aqueles que passarem de ano. Então, ele está aqui como conselheiro para ajudar a decidirem qual faculdade irão cursar.

          Murmúrios preencheram o ambiente, quase abafando o barulho das obras. Meus colegas pareciam todos empolgados sobre a possibilidade de falarem sobre seus planos futuros para a faculdade.

          Eu, todavia, me sentia como um peixe fora d'água. Claro que tinha noção de que deveria já estar me planejando para qual curso seguir, começar a estudar para os vestibulares e tudo mais. Mas, eu simplesmente não sabia o que queria cursar!

— Bom dia a todos — Henry finalmente falou, assim que nosso professor deu a deixa, em um tom amigável. Todos respondemos respeitosamente em uníssono. — Hoje irei conversar com cada um de vocês a sós em minha sala. Quero saber o que têm em mente para o futuro, e ajudar a decidir qual faculdade ideal para cursarem para os que ainda estão indecisos. Aos poucos, seus respectivos professores chamarão um a um até mim.

          Henry ajeitou uma pasta sobre seus braços e então deixou a sala um tanto quanto desajeitado.

          Lucca, sentado bem à minha frente, virou-se em nossa direção ao perceber a deixa do professor ao acompanhar Henry até a saída.

— E então? O que vão cursar?

— Vou cursar administração de empresas e dar seguimento com os negócios de minha família — Douglas estufou o peito, orgulhoso.

— Sorte a sua ser filhinho de papai — Lucca botou a língua pra fora em clara implicação com nosso amigo.

          A família de Douglas não era exatamente rica. Ainda assim seu pai tinha seu próprio negócio, e Douglas sempre foi bem transparente sobre a expectativa depositada em si de herdar os negócios familiares. Ele não parecia se importar tanto com isso, afinal estava quase que ganhando uma empresa de mãos beijadas de herança quando fosse mais velho.

— E você, Vini?

— Eu? Já não falei mais de mil vezes que vou prestar para engenharia civil? — O ruivo sorriu animadamente, deixando claro o quanto seu sonho de cursar engenharia estava impregnado em seu coração.

— E o bocó aí? Vai cursar o quê? — Thalia abaixou o livro que estava lendo para questionar a Lucca.

— Vocês pensam muito baixo — Lucca ficou de pé sobre sua carteira, em seguida estendeu uma perna para trás, mantendo-se equilibrado com um só pé e com os braços estendidos para os lados. — O céu é o limite. E é para lá que vou. Serei piloto de avião.

          De forma desengonçada, Lucca perdeu o equilíbrio, caindo com um grande baque no chão. Enquanto uns iam socorrê-lo, outros se limitavam a rir — vulgo, a Dama das Sombras.

          Letícia apenas observava nossa interação, luminosa. Nem precisávamos questionar qual curso a loira ao meu lado iria cursar. Ela nunca escondeu de ninguém seu amor por animais e a vontade de ser veterinária, contrariando as expectativas de seus pais, que achavam que ela seria enfermeira como eles.

          Pensando bem, seria incrível fazer faculdade junto de minha melhor amiga. Eu também amava os animais. Tive um cachorro quando mais novo do qual amava muito. Porém, a dor de perdê-lo me fez ter a certeza de que essa não seria a profissão certa para mim. Por mais que amasse os animais, não teria coragem de vê-los sofrer.

— E você, bruxa das montanhas? — Com dificuldade, Lucca se ergueu do chão, olhando para a jovem de cabelos morenos. — Deixa eu adivinhar, com sua personalidade, aposto que vai ser uma daquelas pessoas que fazem autópsias em cadáveres.

— Médica legista? Seria uma boa. Mas não — Thalia negou ao balançar os ombros. — Não pretendo cursar uma faculdade. Tenho uma banda de heavy metal onde sou baixista, e após acabar a escola nós planejamos sair à deriva pelo país, buscando um lugar ao sol.

          Todos ficamos surpresos com o relato dela. Ok, tocar em uma banda de heavy metal não parecia tão distante do estilo de Thalia. Ainda assim, além de não sabermos até então sobre esse talento dela, era surpreendente imaginar que alguns de nós não pretendiam ir para a faculdade. Digo, era o que todos esperavam de nós, não é? Ir para a faculdade e então arrumarmos um emprego na área que escolhemos, construir uma família e blábláblá.

— Luan? — Olhei para ele, fazendo-o desfocar de seu devaneio. — Já sabe o que vai cursar?

— Também não vou fazer faculdade ano que vem. — Ele me respondeu com pouco interesse, como se fosse uma informação tão significante quanto o fato de ter ido na padaria e não ter pão.

— Como não? Vai sair por aí tocando com uma banda também, é?! — Pra mim era inconcebível Luan não estar planejando ir para a faculdade.

— Por que está tão eufórico, gatinho? Apenas não tenho pretensão de ir para a faculdade tão cedo. Sequer sei o que iria cursar.

— Mas, Luan, eu também não sei o que vou cursar e nem por isso pretendo tirar um ano sabático. Ou você pretende continuar sendo barman pro resto da vida?

          Olhei ao redor e percebi que a conversa que acreditei que meus amigos estivessem inseridos, era na realidade apenas uma DR entre eu e o Luan. Nenhum dos demais estavam focando em nós.

          Sei que posso ter soado como alguém insistente, e até hipócrita, em cobrar de Luan sobre o seu futuro quando eu sequer sabia do meu próprio. Entretanto, também era difícil assimilar que alguém que estava comigo e pretendia construir uma vida ao meu lado não tinha tantas ambições de crescer na vida. Na época, na minha concepção errônea, a única maneira de ser alguém na vida era com um diploma do superior.

— Não vou ficar parado. Eu e James já conversamos. Ano que vem pretendemos dar uma reforma naquela oficina e reinaugurarmos do zero. Seremos sócios. Ele manja demais disso, e vamos bancar um curso de mecânica para que ele se especialize ainda mais. Sei que com o apoio certo temos como conseguir uma boa grana com a oficina. Ao menos até nos estabilizarmos e focarmos em outros planos para o futuro.

          Minha expressão de descontentamento não deu para ser disfarçada naquele momento. Eu era o tipo de pessoa que só sabia viver "jogando" no seguro. Coisas tão incertas como trabalhar em seu próprio negócio na minha cabeça tinham mais chances de dar errado do que certo.

— Não me olhe assim, Kevin. Se faculdade fosse sinônimo de dinheiro, não teriam tantos tiktokers e influenciadores sem ensino superior ganhando mais do que médicos com doutorado. Não existe só uma forma certa de viver.

          Luan tinha razão. Eu estava sendo injusto com ele. Meu namorado já passou por poucas e boas em sua curta vida, e desde muito cedo ele sempre foi trabalhador. Eu sequer tinha o direito de julgá-lo.

— E não é porque não vou fazer faculdade, ao menos não por hora, que não vou te apoiar para cursar o que você escolher.

— Esse é outro problema, Luan. Não faço ideia do que quero cursar, como já mencionei.

— Você vai descobrir no momento certo, nego. Não tenha pressa.

          O carinho em suas palavras e o seu sorriso gentil mostravam o quanto Luan se preocupava comigo, e também elucidavam o quão idiota eu estava sendo com ele. Desde que fizemos amor, nossa relação estava tão bem que não seria uma decisão dele de não cursar a faculdade que mudaria isso.

— Pronto, chega de algazarra, já voltei — anunciou o nosso professor, retornando à sala com seu habitual ar de irritação. Imediatamente, o silêncio se instalou.

          Luan já não gostava dele por ser o professor da matéria que ele mais odiava, química, e seu jeito irritado só piorava a situação.

— Vou iniciar a aula. Antes, vou pedir para o primeiro aluno ir falar com o Henry. Pode se levantar, Kevin Drummond.

— Eu? — Olhei espantado ao ouvir meu nome ser chamado de primeira.

— Me perdoe, não sabia que havia outro Kevin Drummond na sala — respondeu ele com sarcasmo. Debochado do caralho. Filhote de diretor Aroldo. — Vai logo!

          Antes de me levantar, busquei apoio em Luan com um olhar. Ele apenas fez um leve aceno com a cabeça, um gesto simples, mas que me transmitiu confiança. Ele acreditava em mim, então eu precisava acreditar em mim mesmo também.

          Fosse como fosse, dali a alguns minutos, ao menos talvez eu pudesse ter mais certeza sobre meu futuro do que a cabeça vazia que estava agora.

          Seguindo as orientações do professor sobre a localização da sala do orientador, caminhei pelo corredor. Passei próximo a sala do zelador, marcada por uma porta velha e desgastada com uma placa quase ilegível. Logo à frente, avistei a porta da sala do orientador Henry.

          Respirei fundo e bati na porta três vezes. Com sua permissão, girei a maçaneta. Esperava que a sala do senhor Henry tivesse a mesma aparência de todas as outras. Com carteiras escolares enfileiradas, um armário de vidro à frente, próximo da lousa. Contudo, quando adentrei o lugar, parecia mais um escritório de casa do que uma sala de aula.

          Havia plantas verdes espalhadas pelos cantos, dando um toque de vida a sala. Uma estante cheia de livros sobre carreiras, universidades e desenvolvimento pessoal ocupava uma das paredes. Tinha também uma mesa central e duas cadeiras de um lado, uma terceira cadeira do outro lado, no qual Henry se sentava com uma expressão bem amistosa. Por fim, uma larga janela atrás dele que deixava a luz do sol inundar o espaço.

— Chegue mais, Kevin. É Kevin, correto? — Ele me perguntou, apenas para me deixar mais à vontade.

— Sim, senhor.

— Não precisa de tanta formalidade, pode me chamar apenas de Henry — ele estendeu a mão para que eu a apertasse, o que o fiz sem hesitar. — Vamos, sente-se. — gesticulou para a cadeira acolchoada a sua frente. — Quero conhecer um pouco mais de você. O que tem em mente para a faculdade?

          Aquela era a pergunta de um milhão de dólares, que eu não fazia ideia de como responder.

          Henry me olhou com compreensão e pegou uma caneta, pronto para tomar notas. Suspirei, sentindo o peso da pergunta.

— Para ser sincero, não faço ideia. Tem tanta coisa para escolher, e parece que nada me chama a atenção de verdade. Todos os meus amigos já decidiram o que querem para o futuro. E até o Luan... Bom, até ele já tem seus próprios planos para o ano que vem.

          Percebi que, involuntariamente, mencionei meu namorado de forma distinta dos meus amigos, causando uma pequena confusão no homem sentado à minha frente.

— Entendo, é normal se sentir assim. Você se sente perdido ao se comparar com seus amigos, certo?

— Sim! Digo, não. Não sei, na verdade. Fico feliz que eles saibam o que querem para o futuro deles, mas eu, em compensação, sinto que estou perdido. Senhor Henry — ele me olhou com um leve tom de repreensão —, quero dizer Henry, eu preciso mesmo decidir logo de cara qual faculdade vou cursar? Tenho mesmo que sair da escola já com a certeza de que passei no vestibular de um curso qualquer e passarei no mínimo mais quatro anos dentro de uma sala de aula sem nem saber se gostarei do que escolhi?

          Henry se mostrou pensativo diante dos meus questionamentos, balançando sua caneta no ar.

— Não necessariamente, Kevin. Ninguém está dizendo para escolher um curso e, "Catapimbas! Não há mais nada que possa fazer que mudará sua escolha." Não é assim que funciona. Essa é uma decisão importante, e você deve levar o tempo que precisar para chegar a uma resposta, tanto do curso escolhido como de quando cursá-lo. Porém, minha função hoje é justamente lhe auxiliar a descobrir sua vocação, evitando ao máximo uma escolha equivocada. Pode não ser algo assertivo de primeira, mas espero que terminemos essa sessão com você tendo ao menos um norte do que seguir.

          Um norte... Henry realmente parecia uma bússola buscando me orientar ao caminho correto.

          Ele passou a ler alguns relatórios em um fichário que havia sobre sua mesa.

— Vejo aqui que você se apresentou em uma peça de teatro no ano passado. O que achou?

— Gostei bastante, mais do que imaginei! — falei empolgado ao me recordar da minha encarnação de Chicó na peça. — Meu amigo, Arthur, decidiu cursar artes cênicas por causa de nossa peça. Mas não acho que seja uma carreira que quero seguir.

— Entendo. — Com um sorriso bondoso, ele abaixou o olhar novamente para o fichário. — Você também foi muito bem no concurso de poesias durante o seu primeiro ano, pelo que vejo aqui.

— Escrevo poesias sim. Mas estão mais para um hobby — falei timidamente, torcendo para que ele não solicitasse uma amostra grátis do meu talento.

— Imagino. Não é como se existisse uma faculdade focada exclusivamente em poemas e poesias, de toda forma. Porém a faculdade de letras poderia se aproximar disso. — Henry deu um sorriso meia-lua, voltando a ler o fichário ao perceber que não me empolguei com sua sugestão. — A matéria na qual você tem as melhores notas é química. Já pensou em...?

— Nana, nina, não! Me dou bem em química, mas isso não significa que eu goste da disciplina — interrompi antes que ele fosse capaz de verbalizar sua sugestão. — Nada relacionado a química, por favor.

          Para minha surpresa, Henry não se mostrou impaciente com minha indecisão. Pelo contrário, mesmo fechando o fichário e o depositando de volta sobre a mesa, seu olhar conselheiro e pacífico se mantinha inabalável.

— Então me diga mais sobre você. O que gosta de fazer no seu tempo livre?

— Bom — me ajeitei na cadeira, sentindo-me um tanto intimidado, afinal odiava falar sobre mim —, além de escrever poesias, gosto de andar de skate e jogar videogame.

— Videogames? O que acha da área de programação? Existem faculdades de desenvolvimento de jogos.

          A proposta do orientador fez meus olhos reluzirem. Eu não era o maior expert em tecnologia e computadores, mas amava jogos e sempre quis criar os meus próprios.

— Tem uma faculdade só disso?!

— Claro que tem, Kevin — Henry deu uma risada amigável, enquanto fazia nota de algo em uma folha.

— Mas, orientador Henry, isso dá futuro? Digo, tenho medo de me matar de estudar por algo que no fim não conseguirei emprego. Nem tudo é sobre o que eu gosto, afinal.

— Bom, Kevin. Não tenho como te assegurar como será o futuro. O futuro é incerto para todos. Todas as profissões e faculdades têm seu risco, por isso passar na faculdade é só o primeiro passo. O que sei é que você não tem que entrar em um curso querendo ser só mais um no meio de tantos outros, entre querendo ser o melhor. Para essas pessoas, sempre haverá uma vaga de emprego os esperando, independente da área que escolha.

"E, bem, a área da tecnologia e de videogames é uma que vem crescendo bastante nos últimos anos e sendo bem remunerada."

          Meus olhos brilharam novamente com a possibilidade. Desenvolver jogos soava como algo com o qual eu não me importaria de passar minha vida trabalhando. Sempre amei videogames desde pequeno, quando jogava com meu pai. Depois, mais velho, passei várias tardes jogando com o Diego em casa quando ele ainda estava entre nós... E depois foi Luan quem eu trouxe comigo para o mundo dos jogos.

          Henry pareceu perceber que a ideia de cursar uma faculdade focada em jogos me agradava, pois o sorriso dele entregou seu entusiasmo com minha decisão.

— Só tem um pequeno porém, Kevin.

— Qual?

— Você bem sabe que nossa cidade é pequena e temos apenas uma única Universidade por aqui. Ocorre que os cursos de Jogos Digitais, Análise e Desenvolvimento de Sistemas e até mesmo Design de Games não estão disponíveis em nossa Universidade. A Universidade mais próxima com esses cursos seria a Universidade Federal, que fica na capital, há cerca de 400 km de distância daqui.

"De toda forma, passando no vestibular, o governo cobriria seus custos com auxílio moradia, então pode ficar despreocupado em relação a isso."

          Imediatamente, meu sorriso desvaneceu. Imaginei que o balde de água fria fosse sobre a concorrência, afinal esses cursos de tecnologia têm alta demanda no vestibular. Mas saber que a Universidade ficava tão distante tornava tudo muito mais inviável para mim.

— Então deixa pra lá. Vamos pensar em outro curso — falei cabisbaixo.

          Henry me observou em silêncio por um tempo. Seus olhos caramelos fixaram-se então na minha mão direita.

— Você tem namorada, Kevin?

— Não, Henry. Não tenho uma namorada — respondi, sem entender a princípio a sua indagação.

          Mas logo percebi meu deslize. Neguei ter uma namorada, mas os olhos do orientador estavam focados na aliança no meu dedo anelar que entregavam um relacionamento.

          Por um momento, voltou a ficar em silêncio. Apenas girou sua cadeira de rodinhas para trás e pegou um porta-retratos que estava escondido atrás de um vaso. Então, voltou sua atenção para mim, mostrando a fotografia nele.

— Esse é o Pedro — com um sorriso no rosto, Henry apontou para um homem alto ao seu lado na fotografia. — Ele é o meu marido.

          Tentei não transparecer surpresa com sua revelação, mas a vermelhidão no meu rosto deve ter denunciado o choque de descobrir que Henry era não apenas gay como também casado.

— Nos conhecíamos na época da escola. Mas foi apenas na faculdade que conversamos pela primeira vez. No ensino médio, eu o admirava de longe, sempre achando que ele era inalcançável para mim. Mas, quando o destino nos uniu na graduação, acabamos nos envolvendo e evoluímos para um namoro.

          Ambos pareciam felizes naquela foto na praia. Eram um casal de dois homens... Não pude deixar de sorrir, mas ainda assim não entendia onde ele queria chegar com aquilo.

— Pedro era do tipo festeiro. Mesmo estando na mesma Universidade, nossos cursos eram diferentes. Ele tinha mais facilidade no curso dele, enquanto eu virava noites estudando para provas e realizando trabalhos. Ele podia ter desistido de mim. Era tão mais fácil encontrar alguém com uma rotina parecida com a dele, alguém que não o faria abrir mão de festas por ter que priorizar os estudos do parceiro. Mas, apesar dos pesares, ele não se importava de ficar comigo no meu alojamento, apenas me vendo estudar, deixando de lado as festas e curtições da faculdade.

— Desculpe, Henry, mas não estou entendendo onde quer chegar. Vocês só deram certo porque foram juntos para a mesma faculdade, não é?

          Ele negou com a cabeça no mesmo instante.

— Fomos para a Universidade juntos, mas nossas prioridades eram diferentes. Foi nosso amor que fez dar certo, respeitando o espaço um do outro, entendendo que nem sempre poderíamos estar juntos da forma que queríamos, mas sempre nos apoiando. Você tem alguém, certo? — Dessa vez, não neguei, embora não tivesse confirmado. — Suponho que tem medo que essa pessoa perca o interesse em você se tiver que mudar de cidade para cursar sua faculdade escolhida.

"Ouça, Kevin. Eu e o Pedro quase não demos certo. Terminamos duas vezes, uma delas depois de formados. Imagine se eu tivesse aberto mão do meu sonho profissional para ficar com ele, e tempos depois terminássemos?

"Hoje estamos ótimos juntos, e tenho certeza que, se a pessoa que você gosta te ama de verdade, te dará todo o apoio que precisa para cursar o que deseja, independente do quão longe seja."

          Por mais que Henry não soubesse quem era Luan, parecia que todo aquele relato era um espelho sobre mim e ele. Henry tinha razão, Luan entenderia. Faríamos dar certo, mesmo morando a quilômetros de distância.

— Obrigado, Henry — dei um sorriso sem jeito, ajeitando timidamente minhas madeixas com meus dedos.

— Eu quem agradeço pela sessão, Kevin — respondeu, levantando-se da cadeira e estendendo a mão para mim novamente. — O que acha de conversarmos mais sobre a sua escolha de curso na semana que vem? Terá bastante tempo para refletir com mais calma, agora que já tem uma noção do que quer.

— Acho ótimo — respondi, apertando sua mão com entusiasmo.

          Saí da sala do orientador com o coração aquecido. Foi tão bom ouvir sobre um casal homossexual que deu certo e, mais do que isso, finalmente ter decidido o que queria cursar na faculdade.

— E aí, como foi? — Luan me assustou ao surgir de repente, escondido por detrás de uma pilastra do corredor.

— Foi ótimo! — Falei animado, pegando minha mochila que estava com ele. — Ele me ajudou a decidir o que quero cursar.

— E o que seria?

— Bom, na verdade tem alguns cursos nessa área, então preciso pesquisar mais a respeito. Mas será algo relacionado a desenvolvimento de jogos.

— Hum... Nerd? Sim ou claro? — Ele provocou, bagunçando meus cabelos enquanto eu fazia um bico. — Estou brincando, amor. Estou feliz por você.

— É... Mas... Tem um porém — Luan saltou as sobrancelhas, se preparando para o que viria a seguir. — A única Universidade que oferece cursos nessa área fica na capital. Ou seja, uns quatrocentos quilômetros daqui.

          Ele ficou em silêncio por um momento, esperando que eu dissesse que era uma pegadinha.

— Você não pode estar falando sério.

— Estou, Luan. Sei que parece loucura...

— Loucura? — Ele me interrompeu, estarrecido. — Kevin, eu te disse mais cedo que tenho planos com o James na nossa oficina. Não posso mudar de cidade assim do nada.

— Não estou pedindo para vir comigo, Luan. Mesmo que moremos longe, faremos dar certo entre nós.

          Luan me olhou como se não me reconhecesse. Sabia que um namoro à distância seria difícil, mas esperava pelo menos um pouco de apoio dele. Em vez disso, só encontrei decepção em seu olhar.

— Luan Pimentel, certo? — Escutei uma voz masculina atrás de mim. Ao me virar, vi que se tratava do orientador Henry, chamando pelo meu namorado da porta de sua sala. — Podemos conversar?

          Luan assentiu. Henry acenou para mim gentilmente antes de voltar para sua sala.

— Com licença, preciso inventar um curso qualquer para usar de desculpa quando me perguntarem o que cursarei e pararem de encher meu saco. Talvez eu invente que cursarei uma Universidade que fica em Júpiter, que tal?

          Irritado, Luan esbarrou no meu ombro, com sua respectiva mochila pendendo para o outro lado, enquanto se direcionava a sala do conselheiro.

          Todo aquele sentimento de culpa por não ter dado apoio a ele mais cedo pareceu desintegrar-se como areia fina escapando pelos meus dedos. Luan se mostrava egoísta, pensando apenas em "nós" juntos, mas esquecendo que dentro desse plural havia também um singular, havia um "eu" nessa equação.

          Alunos passavam por mim no corredor durante a troca de classes enquanto eu me encontrava em profunda reflexão. Assim que Luan se distanciou, senti meu celular vibrar no bolso. Ao verificar percebi que era uma mensagem de Arthur:

11:05

Arthur: E aí, Kevin. Como vai?

          Olhei para a mensagem por um tempo, questionando-me se deveria respondê-la. Nos últimos tempos, Arthur vinha agindo de forma bem respeitosa comigo, sem querer avançar sinais ou forçar intimidade.

11:06

Kevin: Oi, Arthur. Estou bem, e você?

          Enviei.

          Fiquei reflexivo por um tempo, pensando se deveria falar algo mais, afinal queria desabafar com alguém.

11:07

Kevin: Hoje finalmente decidi o que quero cursar na faculdade.

11:08

Kevin: Será algo relacionado a desenvolvimento de jogos.

11:08

Arthur: Que demais, Kevin! Isso é bem sua cara 🤗 

11:09

Kevin: Pois é. Só que a faculdade fica muito longe. Tipo, beeeem longe mesmo. Seria na capital...

11:09

Arthur: Hum, então você vai morar longe, é?

11:10

Arthur: Não vejo problema nisso. Se é seu sonho, tem que correr atrás mesmo 😳 

          Fiquei surpreso com sua reação. Por um momento, acreditei que Arthur fosse surtar da mesma forma que Luan. Mas não. Ele me entendeu. Era o tipo de apoio que eu estava precisando. Arthur tirou um peso das minhas costas ao me incentivar a seguir em frente. Toda a compreensão que busquei em meu namorado, encontrei com poucas trocas de mensagens com meu amigo.

          Em meio àquela agitação, Arthur foi o único que conseguiu me arrancar uma risada ao mandar a figurinha de um gato ao lado da janela de um avião, com o nome "Kevin" escrito embaixo dele.

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