42. Brisa de Outono
Sempre achei estranho quando na data do nosso aniversário alguém chegava falando "está ficando mais velho hoje." Independentemente de ser meu aniversário ou não, a cada rotação da Terra sob seu próprio eixo eu ficava mais velho. Todos os dias envelhecíamos, não apenas na data de mudança de nossa idade. De toda forma, esse era o dia em que eu estava "ficando mais velho" segundo o dito popular. Justamente no primeiro dia de outono, o dia em que finalmente me tornei maior de idade!
Mesmo tendo escondido de Luan a informação do dia que eu fazia aniversário ano passado, esse ano não dava para fazer o mesmo. Ora bolas, naquela época ainda estávamos nos conhecendo, não havia nada de especial que fizesse com que eu tivesse que revelar minha data de nascimento. Mas agora era diferente, nós éramos namorados. Por mais que eu não esperasse nada de especial nesse dia no sentido de ser surpreendido, ainda assim sentia uma empolgação crescente dentro de mim de comemorar junto a ele.
Geralmente eu não gostava de ser o centro das atenções. Mas era diferente quando eu aniversariava. Parecia que aquela data era somente minha, e todos com quem se importavam comigo tiravam um tempinho para me felicitar e me paparicar.
Diante da minha animação nesse dia ensolarado, caminhei radiante pela calçada a caminho da escola naquela manhã.
— Kevin.
Levei um susto ao cruzar aquela esquina e escutar meu nome. Susto maior se deu quando notei de quem se tratava aquela voz de forte timbre com um nuance provocativo. O cara com o pé apoiado no muro de uma casa me lançou um olhar intenso, enquanto as covinhas oriundas de uma sutil timidez elucidavam o quanto Arthur estava contente em me ver.
Eu, por outro lado, fiquei completamente sem jeito com seu surgimento. Sei que não sou o maior estereótipo de gay, mas se fosse para definir como eu estava naquele momento com certeza seria "rosa-choque."
— Oi, Arthur. — Acenei para ele timidamente. Aí caracoles, carambolas, caralho!
Vocês possivelmente estão se questionando o que estava havendo. Bom, é simples: no festival escolar do ano passado Arthur me beijou! O fato dele ter se formado naquela época facilitou para não nos esbarrarmos mais, até então, depois desse climão.
— Veja se não é o aniversariante — A covinha dele aumentava consideravelmente conforme dirigia a palavra a mim.
— Como sabe?
— Sou stalker — Arthur deu uma risada descontraída, enquanto eu, por minha vez, ri nervoso. — Redes sociais, bobo. Qualquer um consegue saber isso por lá.
— Ata.
Encontrar com Arthur definitivamente não estava nos meus planos. O fato dele mencionar sobre o meu aniversário deixava notório que nosso encontro não foi pura coincidência. Ele estava ali me esperando. E eu sabia que precisava ser ágil para vazar, afinal Arthur era um Diabo bem na encruzilhada esperando para dar o bote.
— E então, começou a faculdade?
— Faculdade? Que nada — Arthur mostrou desinteresse com seu gesto. — Se esqueceu que só decidi o que iria cursar no fim do ano passado? No final, nem tive tempo de prestar vestibular. Esse ano estou passando trabalhando como caixa em uma vendinha e estudando para o vestibular no fim do ano.
— Ah, que bacana.
— Você saberia disso se respondesse minhas mensagens. — E lá vinha. Meu maior temor se intensificava ao ver o rumo que aquela conversa estava tomando.
Confesso que senti um súbito nervosismo ao pensar que ele se reaproximaria de mim, assim como fez naquele dia da peça de teatro. Mas dessa vez não, ele permanecia no mesmo lugar com um sorriso arteiro.
— Não é para menos, Arthur.
— Como não? Teve uma época em que você achou ruim que me afastei de você, e agora você fez o mesmo comigo.
— Você me beijou, cara! — Exclamei. Sabia que tinha que tomar uma atitude, acabar com esse mal pela raiz. — Você havia me dito que seríamos apenas amigos. Sabe que eu namoro o Luan, e mesmo assim me roubou um beijo.
— E no fim você gostou — Ele botou a ponta da língua para fora da boca, enquanto seus olhos âmbar dançavam ao olhar encantado para mim. — Se não tivesse gostado, teria dito ao seu "namoradinho" o que houve.
— O Luan? — Minha voz saiu falha, mas busquei recompor a postura ao pigarrear. — O que te faz pensar que não falei para ele?
— Ué, esquentadinho do jeito que ele é, você acha mesmo que vou acreditar que ele ficaria na dele se descobrisse? Já te falei, Kevin, a reputação de encrenqueiro desse mauricinho vem de muito antes de eu sequer conhecer você. E não acho que ele faz o tipo de corno manso...
— Corno manso é o caralho! Você está passando dos limites, Arthur. Eu não fiz nada de errado. Foi você quem me beijou, e eu não correspondi nem senti nada. Eu amo o Luan, entenda isso de uma vez.
Quando dei por mim, um Arthur sorridente se aproximou lentamente pela calçada. Fiquei estático, sem reação, temendo o que pudesse vir a ocorrer dessa vez.
— Fica calmo, garotinho. Não farei nada que você não queira. — Sua voz gutural próxima do meu ouvido me deixava mais tenso do que tranquilo. — Você me conhece, sabe que não sou esse tipo de cara
Conhecia? Nessa altura do campeonato, nem sabia mais dizer se eu conhecia o Arthur de verdade. Ainda gostava dele como pessoa, mas os sentimentos dele para minha pessoa o faziam tomar atitudes irreconhecíveis para mim.
Ao ficar diante dele, consegui avistar a culatra de uma arma por dentro de sua camisa de linho.
— Ainda anda com isso? Espero que pelo menos esteja descarregada — o adverti, desviando o foco do assunto.
— Isso? — Arthur levou a mão à região externa, fechando sua camisa para esconder a arma. — Está sim, não se preocupe.
— Se a polícia te pegar com ela, você vai estar muito encrencado.
— Meu pai é policial, esqueceu?
— Piorou!
Arthur não pareceu levar a sério meu sermão, rindo de forma nasal da minha reação.
— Tenho que ir, já estou atrasado para a aula. Apenas pare de flertar comigo. Se fizer isso, ainda poderemos ser amigos.
— Kevin, Kevin — Ele sibilou, inclinando a cabeça para trás e mostrando mais uma vez suas covinhas. — Cedo ou tarde você vai perceber que o cara certo para você sou eu.
Não o respondi. A passos pesados, passei por ele e segui meu caminho em direção à escola.
— A propósito — Arthur falou. Um tanto relutante, ergui a cabeça sobre meus ombros para ver o que ele queria —, feliz aniversário, gostoso.
Forcei um sorriso, e então retomei minha jornada para a escola, determinado a não desviar do meu caminho dessa vez.
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Não queria chegar atrasado logo no meu aniversário. Tampouco, esbarrar com o maldito do diretor no corredor próximo da minha sala de aula.
— Estamos programados para entregar o escopo da reforma na próxima semana, mas, como combinado, precisamos ajustar os custos. Aqui está o orçamento atualizado com os valores. — Um homem de capacete mostrava para o diretor uma pasta com alguns documentos. A julgar pela sua vestimenta e pelo diálogo, eu chutaria que ele era um engenheiro.
Quando o diretor me avistou de canto de olho tentando passar de fininho para dentro da sala sem ser percebido, seu olhar me condenou ao me fulminar da cabeça aos pés. Claro, sempre com aquele toque de "doçura" dele de querer esfolar minha carne viva.
Para minha surpresa, no entanto, o que quer que estivessem fazendo pareceu ser mais importante. Aroldo voltou a atenção aos números no relatório, caminhando junto ao suposto engenheiro em direção a sua sala. Eu sequer fazia ideia de que haveria obras na escola, ainda assim fui salvo pelo gongo.
Mesmo atrasado, cheguei na classe antes do professor. Enquanto as folhas de outono caíam, o sorriso estampado nos rostos de meus amigos se tornava intacto. Aliás, talvez estivessem ainda mais animados hoje do que o habitual ao me verem.
Além do Luan, Douglas, Lucca e Vinícius; esse ano tínhamos outras duas pessoas na nossa turma: Letícia e Thalia! Todos os meus amigos finalmente reunidos comigo em uma mesma turma, justo no último ano da escola.
— Tá ligado que agora você pode ser preso, Kevin?! — Foi a primeira coisa que Lucca exclamou assim que me sentei junto a todos na fileira do meio. Até mesmo Luan e Thalia deixaram seus hábitos de se isolarem no fundo, para se enturmarem com todos.
— Bom dia para você também, Lucca.
— Quando precisarmos de alguém para nos levar de carro para a praia, vamos pedir pro Kevin! — O ruivo quem bradou dessa vez. — Ele é o mais velho de nós agora.
— Primeiramente, entre vocês três sempre fui o mais velho, não apenas "agora" — Apontei aos três patetas em minha frente. — Em segundo lugar, não é porque faço dezoito anos hoje que amanhã já terei carta de motorista. E, em terceiro, Luan é o mais velho entre todos nós.
Ao citar meu namorado, fui compelido a olhar em sua direção. Eu ainda nem havia falado com ele naquele dia. Mas, antes que pudesse focar nele, Lucca mais uma vez interveio:
— Você vai poder votar esse ano, tem noção que logo vai ter que tirar o seu título?!
— Grande bosta — Douglas falou balançando os ombros. — Além disso, já podemos votar desde os dezesseis.
— Sério?! — Lucca parecia genuinamente surpreso.
— Se você fosse só um pouco mais burro, nasceriam orelhas cumpridas e um rabo que nem o Burro do Shrek — Com sua notável habilidade de proferir seu humor ácido, Thalia se dirigiu á ele. Todos rimos de sua fala, inclusive a própria garota de batom escuro.
— "A gente já chegou?" — Imitando a voz do dublador do Burro, Lucca fez todos nós cairmos ainda mais nas risadas.
Durante o processo de recuperar o meu fôlego da gargalhada após ver aquele idiota quase ficando de quatro no chão no meio da sala para imitar o Burro, consegui vislumbrar quando a loira se ergueu de sua cadeira e veio em minha direção.
— Ora, olha só como vocês são. É o aniversário do Kevin, e ninguém deu parabéns para ele — Letícia me deu um abraço extremamente forte de lado; tanto que senti meus ossos doerem. Por mais que amasse o carinho dela por mim, eu estava ficando meio desconcertado daquela situação. — Parabéns, Kevinzinho meu amor, que você tenha muitos anos de vida.
— O-Obrigado, Lêh. Mas se não me soltar agora talvez eu não sobreviva para comemorar meu décimo nono aniversário — Ao se dar conta de que ela estava encarnando a própria Felícia do Tiny Toon, Letícia finalmente se desvencilhou de mim.
A animação daquela beldade em minha frente me deixava aliviado. Há alguns meses ela estava em desespero porque seu pai iria se casar com sua nova madrasta. Não conversamos muito a respeito desde então, mas pela leveza dela de agora, Lêh aparentemente estava se dando melhor com a tal Alejandra...
O celular dela começou a tocar abruptamente.
— É aquela vaca — Lêh murmurou, rangendo os dentes antes de atender a ligação. — "Hola, querida madrastra. ¿Cómo estás? Estaba con tantas ganas de verte, estaba hablando de ti hace un momento... ¿Bien o mal? Claro que bien."
A dissimulação dela era cristalina, conforme fingia empatia por sua madrasta mexicana ao se afastar de nós para falar com mais privacidade na ligação.
Com os demais conversando entre si, finalmente pude olhar para o garoto ao meu lado. Luan estava adorável com aquela jaqueta vermelha jeans, e seu sorriso bobo para mim conseguiu a proeza de me fazer corar, mesmo que já namorássemos há tanto tempo e eu já estivesse me acostumado a ele.
— Feliz aniversário, meu bem — Ele falou tão baixo que quase não pude escutar. Aliás, talvez nem tenha emitido som algum, possivelmente apenas compreendi ao ler seus lábios.
Discretamente levei meu dedo indicador em direção à sua mesa, a fim de entrelaçarmos nossos dedos.
Antes disso poder se concretizar, a aproximação de duas garotas repentinamente em nossa direção fez ele afastar sua mão da minha, como se estivesse prestes a ser flagrado cometendo um delito grave.
— Parabéns, Kevin — Minhas colegas de turma me cumprimentaram, e eu agradeci com um sorriso forçado no rosto.
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Ao toque final do sino da escola, era enfim chegada a hora de partir. Bom, teria sido isso se Luan não tivesse me chamado para o terraço da escola naquela tarde.
— Não era bem o que eu estava imaginando — comentei ao abrir a porta de ferro do terraço após subirmos as escadarias. O local permanecia como sempre: sua enorme caixa d'água no mesmo lugar, uma grade de arame farpado cobrindo as laterais, dois banquinhos de pedra, e o ambiente completamente isolado, exceto por nós dois.
— O que foi? Esperava uma festa surpresa? — Luan riu enquanto pegava um maço de cigarros e um isqueiro de seu bolso.
— Sabe que não gosto de surpresas assim. Então fico aliviado por não ser. Mas... — Joguei a minha mochila aos meus pés, sentando-me em um dos bancos.
— Mas queria ser surpreendido por mim.
— Nem fodendo! Tu não leva jeito para planejar festas surpresas de toda forma — Ambos rimos da minha constatação verídica.
Por mais que o terraço da escola não fosse tão alto, a vista lá de cima era deslumbrante. Dava para avistar bem de longe o parque onde eu e Luan costumávamos andar de skate, ver as minúsculas pessoas lá embaixo saindo da escola, tudo isso enquanto uma brisa fraca de outono soprava em nossos rostos, mesmo que estivesse uma tarde ensolarada.
Mesma brisa essa que dificultou no processo de Luan conseguir acender o seu cigarro.
— E aquela promessa de parar de fumar esse ano, hein?
— Não lembro de prometer nada — Luan deu uma de sonso, dando uma tragada em seu cigarro.
— Sabia que fumar um único cigarro consome 11 minutos de sua vida?
— Obrigado pela informação, ChatGPT — o idiota deu uma risada ao zombar de mim. Sua covinha aparecendo; a única covinha que eu era fascinado.
— Otário.
Eu realmente não esperava que Luan fosse preparar algo. Não era do perfil dele me surpreender assim, e de toda forma odiava ser surpreendido. Além disso, eu estava grato que sua agenda estava livre para aquela tarde, pois eu tinha meus próprios planos de como curtirmos meu aniversário.
— Eu achei que aniversários em escolas públicas fossem diferentes — Luan inclinou a cabeça em minha direção enquanto o seu cigarro estava apoiado entre o seu dedo indicador e o dedo médio.
— Como assim?
— Lá nas particulares não tinha disso, afinal eram todos engomadinhos e insuportáveis. Mas ouvi dizer que o povo de escola pública levava ovada no aniversário. Por isso que normalmente faltavam quando iam completar anos.
— Ah, já fizemos isso com o Lucca no primeiro ano — dei um sorriso nostálgico ao me recordar daquele dia. — Mas eu mesmo nunca levei ovada. Aqui eu tenho moral.
— Pois eu tenho dois ovos aqui para você — Depois de me fazer mais uma provocação sexual que já era de praxe entre nós, Luan voltou a fumar seu cigarro.
Olhei mais uma vez por entre as grades em minha frente, lembrando das vezes em que eu e Luan estivemos naquele terraço. Foi ali que tive a primeira conversa de verdade com Luan — época em que ele era um mala. Ele me prensou contra aquela caixa d'água, e eu comecei a ter sentimentos conflitantes. A princípio era inveja, depois passou a ser desejo, e por fim acabou virando amor.
Já na segunda vez que estivemos lá, foi quando terminei meu namoro com ele. Estava reconfortado com o fato de que, desta terceira vez, eu poderia finalmente revelar aquela mensagem para Luan ali, aproveitando da deixa que ele deu.
— Tenho algo para te mostrar — falei, enquanto abria o zíper da minha mochila e tirava um embrulho em papel de presente de dentro dela.
Luan, totalmente confuso, jogou sua bituca fora e pegou o "presente" todo desconfiado.
— O aniversário é seu, e eu que ganho presente?
— Não é bem para você. Diria que é para "nós" — disse, um tanto constrangido.
— Sei não, hein. O último presente que me deu era mó caô.
Luan se referia ao filme de terror que dei a ele no Natal. Dessa vez, entretanto, não havia nenhuma pegadinha naquilo que lhe entreguei.
Sem delicadeza nenhuma, Luan rasgou o embrulho de forma exageradamente ansiosa. Parecia uma criança que mal se aguentava de expectativa para descobrir o que havia ganhado: se era um carrinho de controle remoto ou um par de meias.
Quando ele enfim percebeu do que se tratava o frasco em sua mão, Luan devolveu o olhar a mim desorientado.
— Kevin, não me diga que isso é o que eu estou pensando que é, é?!
— Você não tem dislexia, Luan. É só ler o rótulo — falei, extremamente vermelho de timidez. — É um lubrificante.
— Mas, para quê?
— Para passar na sua cabeça oca, pra ver se começa a raciocinar — seu jeito sonso aliado à minha vergonha estavam me deixando encabulado. — Porra, Luan. Para que serve um lubrificante?
— Espera, você está falando sério? — Ainda atordoado, Luan saiu do canto que estava e se sentou no banco bem ao meu lado.
— Seríssimo. Tínhamos aquela promessa, não se recorda? Que quando eu completasse dezoito anos, teríamos nossa primeira vez juntos.
— Claro que lembro. Mas não imaginei que fosse algo tão imediato assim, tipo no mesmo dia. Você não tem que se forçar a ir para cama comigo só porque fizemos aquela promessa. Se não estiver pronto, podemos adiar o tempo que for.
Por mais que a preocupação de Luan por mim fosse tocante, sua lerdeza estava me deixando irritado. Era tão difícil daquele idiota entender o óbvio?
— Cara, eu nunca quis tanto algo na minha vida quanto isso — falei, convicto, olhando fundo em seus olhos. Sua boca estava entreaberta, e o lubrificante permanecia sendo segurado por ele.
— Então real que faremos amor mesmo? — Aos poucos, o sorriso de Luan ia desabrochando de seus lábios.
— Amor? Eu estava pensando em algo mais como fodermos loucamente a noite toda, ao ponto de quebrarmos a cama e fazermos os vizinhos chamarem a polícia por conta de tanto barulho que faremos hoje.
Evidenciar dessa forma o quanto eu estava com tesão e com vontade de me deitar com meu namorado talvez não tenha sido com a melhor escolha de palavras. Eu e Luan nos entreolhamos por alguns segundos, e logo em seguida demos altas gargalhadas.
— Acho que exagerei um pouco — falei, sentindo minha barriga doer de tanto rir.
— Um pouco? Tu foi até a lua e voltou.
— Mas, Luan. Voltando aqui. Estou falando isso tudo por mim. Porém, se você não estiver pronto, não tenho problema de te esperar. Naquela época você não estava também, né?
— Que mané não está pronto? Eu estou há tempos! Só estava esperando você. Tanto tempo sem fazer sexo que eu estava quase me convertendo ao celibato.
— Ui, disse o transudo. Piranho safado — falei, levemente enciumado ao me recordar que não era a primeira vez dele.
— Pois essa noite eu serei o seu "piranho safado" — Sussurrante como o vento que trazia folhas secas lá de baixo para o terraço, Luan deu uma leve mordiscada no lóbulo de minha orelha com sua chegada, para só então me dar um beijo apaixonado.
Ele voltou a se assentar ao meu lado após nosso beijo, sorrindo animado enquanto me devolvia o lubrificante.
— Certeza de que não vai ficar nervoso? — Luan seguia se mostrando preocupado.
— Claro que vou ficar! Aliás, já estou. Mas ao mesmo tempo, nunca estive com tanto desejo. Não tem como contornar isso na primeira vez, Luan. Tenho que me conformar que o frio na barriga vai me deixar receoso, mas saber que será com o cara que mais amo e mais confio na vida torna tudo mais fácil de diluir.
O sorriso bondoso e atraente dele irradiou seus lábios.
— E você?
— Eu estou com o coração saindo pela boca — Senti sinceridade no seu jeito de falar. — Mas, em contrapartida, meu pau está quase saindo pela cueca também ao imaginar. Então meio a meio.
— Meu Deus do céu, Luan! — Dei um empurrãozinho nele, rindo do seu comentário.
— Mas onde faríamos?
— Quanto a isso, eu já dei um jeito. — Mais uma vez, Luan me olhou perdido, cruzando os braços. — Conversei com o James. Como presente de aniversário, pedi para ele deixar a casa de vocês livre. Falei com o Douglas também, e os pais dele deixaram o James dormir por lá hoje. No fim, teremos sua casa hoje só para nós.
— Pilantra. Então meu melhor amigo sabia que eu iria transar hoje, antes mesmo de eu saber — Luan estreitou os olhos, enquanto pegava seu celular do bolso. — Se importa de irmos um pouco mais tarde? Tem algo que preciso fazer antes.
Foi minha vez de ficar sem entender, enquanto via Luan digitar algo em seu celular. Ainda assim, fiz um gesto com a cabeça como se dissesse que não havia problema.
Não foi mais do que três minutos após isso que a porta de ferro do terraço se escancarou ao levar um chute fortíssimo. Olhei para trás assustado, quase infartando com o ato daqueles que se aproximavam.
Lucca, fazendo uma pose de alguém que acabou de dar um golpe de artes marciais na porta, vinha acompanhado de Douglas, Vinícius, Thalia e Letícia. Essa última carregando um bolo de maracujá em suas mãos com uma vela no topo; justamente o meu sabor favorito.
— Parabéns para você! — Os cinco cantarolavam, conforme se aproximavam de nós.
Olhei para Luan, e o sorriso dele entregava tudo. Meu namorado combinou aquilo com meus amigos para me surpreender. Quem diria, o cara que evitava a todos, agora estava lá rodeado de pessoas com as quais podia chamar de seus amigos. Seus cúmplices, para minha festa surpresa.
— Para quem vai o primeiro pedaço? — Lêh questionou, assim que cortei uma fatia com a espátula que me forneceram.
— Ah, pelo amor. O casal açucaradinho aí é tão previsível quanto final de filme slasher. — Thalia pontuou, jurando que eu daria o primeiro pedaço para o Luan.
— Poxa, mas na verdade o primeiro pedaço era para você — falei convicto. A real era que eu daria de fato para o Luan, mas eles não precisavam saber que fui lido completamente.
— Para mim? Mas... Eu nunca ganhei o primeiro pedaço... — Os olhos "amarelos" de Thalia brilharam com a possibilidade, me deixando genuinamente comovido.
— Se ela não quer, eu quero! — Lucca tomou frente, roubando o pratinho de plástico de minhas mãos e começando a comer o bolo que havia nele com um garfo.
— Devolve isso aqui, sua praga do Egito! — Foi engraçado ver a gótica correndo brava atrás do boboca do Lucca, que saltitava de um lado ao outro pelo terraço escapulindo dela.
— Chega pra lá, Kevin — Vinícius me deu um empurrão, me lançando para fora do meu banco.
Olhei para meu namorado, que já estava comendo seu bolo em seu respectivo assento, após ser enxotado pelo folgado do meu amigo. Ao perceber que eu não tinha mais assento, ele deslizou o traseiro um pouco para o lado, dando espaço para dividirmos o mesmo banco.
Sentados juntos, Luan vez ou outra me dava uma garfada de bolo na boca, enquanto sorriamos um para o outro apaixonadamente. Diferente de como agia em público, diante de nossos amigos Luan não tinha problemas em demonstrar seu amor por mim.
E, ao fim daquela tarde, nossa relação se intensificaria de forma carnal. Finalmente faríamos amor, e, por mais que a ansiedade tentasse me dominar, o entusiasmo para esse momento prevalecia.
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