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39. Não Sei, Só Sei Que Foi Assim

          O ano letivo estava em vias de terminar. O derradeiro segundo ano do ensino médio era agora uma mera estrela cadente, próxima de se desintegrar na atmosfera. Mas antes dele, tínhamos um último evento acadêmico: o festival escolar.

          Era justamente nesse dia que eu iria apresentar, junto aos meus colegas de clube, a peça de teatro que ensaiamos o ano todo. Além disso, a participação dos alunos nesse evento renderia até dois pontos a mais nas notas finais das disciplinas; o que, convenhamos, era o que eu estava precisando para passar na matéria de Filosofia.

          Antes da minha apresentação, ainda tive um tempo livre para dar uma olhada nos projetos dos demais alunos da escola junto com o Luan. As salas de aula, assim como o pátio externo da escola, foram convertidas em verdadeiros "palcos" de exposições de seus talentos. Assistimos a algumas garotas dançando Hip-Hop, até uma luta de robôs no ginásio — esses sim feitos pelos verdadeiros "nerds" da escola, diferentes de mim, como o Luan costumava me chamar.

          O mais emocionante, sem sombra de dúvidas, foi quando um grupo de garotos tentou criar um mini-vulcão na feira de ciências, mas deu tão errado que a toalha onde ele estava em cima começou a pegar fogo, quase causando um incêndio na escola. Mal sabia eu que, em um momento no futuro, algo de proporções muito mais drásticas poderia pôr a escola toda em meio às chamas.

          No meio da tarde, ao se aproximar o horário da minha apresentação da peça do Auto da Compadecida, dirigi-me ao anfiteatro da escola; não antes de Luan deixar claro que viria me assistir e que agiria diferente de quando foi no sarau de poesias.

          Não levei muito tempo para me vestir quando cheguei ao anfiteatro. Minhas roupas para a peça eram bastante simples: uma camisa branca surrada, calça bege com alguns remendos visíveis, um par de sandálias de couro e um chapéu de palha com um cordão de apoio. Uma vez trajado, me dirigi ao palco para ouvir as orientações finais da nossa professora de artes cênicas.

— Muito bem, pessoal. Foi um longo ano de ensaios, e tudo termina aqui. Lembrem-se, caso algum de vocês esqueça a fala, o colega que estiver junto vai dar a deixa para prosseguirem. No pior dos cenários, improvisem. Mas podem ficar tranquilos, sei que vocês estão preparados. Começaremos daqui a quinze minutos. — Com uma palma solitária, ela sinalizou para que todos se preparassem e ajeitassem os últimos detalhes.

          De fato, aquele era o momento decisivo. Não haveria uma segunda apresentação, nem uma segunda chance. Não tínhamos margens para erros.

          Olhei ao redor do palco entusiasmado; constatando que as cortinas carmesins ainda se encontravam fechadas. Figurantes da peça, as pessoas que desempenhariam papéis secundários e até mesmo os membros do figurino e os cenógrafos circulavam pelo extenso espaço. Mas, por mais que eu procurasse, não conseguia achar o protagonista da peça: o Arthur.

— Opa, Kevin — ouvi meu nome ser chamado vindo das minhas costas, fazendo-me virar para ver de quem se tratava.

          Maurício se aproximava pelo palco, usando roupas muito semelhantes às minhas. A única grande diferença era que seu chapéu era feito de couro e ele tinha um pedaço de palha pendendo no canto direito da sua boca.

— O que faz aqui? — indaguei.

— Como assim, o que eu faço aqui? Eu estou na peça.

— Espera. Achei que você tivesse quebrado a perna meses atrás. Por isso o Arthur iria te substituir.

— Ah, está falando disso. Minha perna ficou boa há algumas semanas, então voltei.

          Maurício levou ambas as mãos à nuca descontraidamente. Não tirei o olhar dele, ainda sem compreender totalmente a situação.

— Não me olhe assim. Eu não roubei o papel do Arthur. Acontece que ele desistiu em cima da hora, e como não havia um substituto para o meu substituto, a professora me chamou de volta para a peça, já que eu ainda sabia as falas. Então, no fim, me tornei substituto do meu substituto. Entendeu?

          Fiquei incrédulo, mas antes que eu pudesse indagá-lo mais a respeito dessa suposta desistência do Arthur, nossa professora passou apressadamente ao meu lado pelo palco.

— Professora, espera, por favor — a chamei. A mulher de cabelos grisalhos se voltou para mim sob o meu chamado. — Como assim o Arthur desistiu da peça? Falei com ele ontem, e ele estava bem empolgado para a apresentação.

— Ele desistiu, Kevin. — Ela ajeitou os óculos de armação quadrada pelas pernas dele antes de continuar. — Falou que não iria conseguir e simplesmente nos deixou na mão.

— Isso não está certo! O Arthur se esforçou bastante desde que começou a substituir o Maurício. Vou falar com ele. Onde ele está?

— Ele está no camarim. Se conseguir convencê-lo, Arthur poderá se apresentar. Mas acho improvável, ele estava bem irredutível quando nos falamos da última vez.

— Mas professora... — Maurício tentou argumentar, possivelmente querendo bastante seu papel de volta.

— Sem mas, Maurício. O que é justo é justo. O papel teoricamente pertence ao Arthur desde que você deixou a peça. Se ele voltar, é claro.

          Corri em direção à porta de trás do anfiteatro, rumo aos bastidores, em busca do Arthur.

— Não se atrase, Kevin! Temos só mais dez minutos antes da peça — o eco da professora gritando às minhas costas possivelmente foi ouvido por todos os presentes.

          Abri a porta de madeira do camarim discretamente, apesar do rangido dela ter denunciado minha chegada. Como esperado, Arthur estava sozinho, sentado diante de uma longa bancada de madeira encostada na parede oposta à porta. Seu reflexo cabisbaixo era visível nos espelhos grandes, iluminados por fileiras de lâmpadas.

— Arthur? — ao fechar a porta, me aproximei do pufe onde ele estava sentado.

          Meu amigo nem se deu ao trabalho de me olhar, embora com certeza tivesse me reconhecido pela voz.

— O que houve? — Sentei-me ao seu lado, colocando a mão em seu ombro.

— Meu pai não vai vir — com os olhos vermelhos, Arthur finalmente se voltou para mim, com um olhar carregado. — Não sei por que criei expectativas. Ele nunca vem. Sempre está ocupado demais com o trabalho, por mais que eu tenha dito o quão importante isso seria para mim.

          Então era esse o tal problema que Arthur tinha mencionado sobre seu pai. Pelo fato de sua mãe já ter falecido, eu compreendia bem que a figura paterna era a única família próxima que ele tinha.

— Eu realmente sinto muito — falei, sem saber ao certo como convencê-lo a voltar para a peça; e mais importante, como tirá-lo desse baixo astral. — Você quis participar da peça só por ele?

— Não, Kevin. Já te falei, vim para a peça justamente para ficar longe dele. Nós sempre discutimos quando estamos em casa. Ainda assim, eu sempre acabo esperando que em algum momento ele venha me dar um pouco de atenção e que se orgulhe de mim.

          Nesse quesito, Arthur e Luan estavam praticamente parelhos. Por um tempo, Luan também quis a todo custo orgulhar seus pais, até que enfim desistiu deles. Esses dois se odiavam, e mal sabiam o quanto tinham em comum.

— Se não era por ele, então não acho que você deva desistir de se apresentar — com a mão ainda sobre seu ombro, inclinei a cabeça me aproximando um pouco mais. — Meus amigos e minha família vão vir. Mas não só eles, muitas e muitas outras pessoas também estarão aqui. Eles não vão ver só o "Chicó" aqui. O "João Grilo" vai receber os olhares de todas essas pessoas. Podem não ter vindo por ti, mas quando verem o quão incrível você é, não vão tirar os olhos de você.

          Arthur ergueu a cabeça. Seus olhos voltavam aos poucos a cintilarem.

— Mesmo quando eu não estiver no palco contracenando com você, estarei lá atrás das cortinas te assistindo.

— Kevin...

— Nada de Kevin, mocinho. Não existe Chicó sem João Grilo. Se você não se apresentar, eu também não irei.

          Ambos sorrimos cúmplices um para o outro. Era engraçado como da última vez que nossos rostos estiveram tão próximos um do outro eu estava louco de desejo e tesão por ele. Mas agora não. Agora tudo o que queria era proteger o Arthur, cuidar do meu amigo e vê-lo bem. Eu estava contente com o quanto nossa relação evoluiu genuinamente para uma boa amizade.

          Por um breve momento, meus olhos se voltaram para um lenço amarelo em cima da mesa. Havia algum objeto escondido por debaixo dele, o que fazia com que ele se elevasse. Antes, porém, que pudesse questionar sobre o que era aquilo, Arthur ergueu os braços para o alto e tirou sua camisa.

— Irei me trocar — ele falou com um sorriso no rosto, uma vez que eu havia o convencido a voltar à peça.

          Involuntariamente meus olhos capturaram brevemente seu corpo. Diferente de Luan, Arthur era muito mais parecido em seu porte físico comigo. A única diferença é que ele possuía um pouco mais de massa muscular do que eu.

— Esperarei lá fora. Mas se apresse — falei, virando as costas e saindo do camarim antes dele tirar mais peças de roupa. Afinal, não achei certo vê-lo se trocar, dada nossas orientações sexuais, meu status de relacionamento e por tudo o que já passamos.

          Estava de volta ao palco, todos já a postos para a abertura da cortina que ocorreria em breve. Pude ver a professora Valéria suspirar aliviada ao me ver.

— Ainda bem que chegou. Achei que não voltaria a tempo.

— Professora, falei com o Arthur, ele vai voltar para a peça.

          Maurício, ao escutar minha fala, rangeu os dentes e atirou o seu chapéu no chão com ferocidade. Eu ri conforme meu colega saía irritado pelas cortinas, ao perder seu papel.

— Senhor diretor? — A professora falou repentinamente ao olhar para trás de mim.

          O velho mencionado por ela caminhava a passos lentos, com as mãos sobre as costas. Seu rosto era marcado por linhas de expressão, sugerindo tanto os rigores de sua profissão quanto seu mau humor habitual. Desde que Letícia vazou naquele Instagram que o diretor Aroldo usava peruca, nunca mais consegui ver aquele pouco amontoado de cabelo falso sob sua cabeça com os mesmos olhos.

— Professora Valéria, vim apenas me certificar de que tudo estava dentro dos conformes. Afinal, quando soube que o jovem Drummond aqui estava na peça, foi bom dar uma espreitada para ver se ele não iria aprontar como de costume.

          Os lábios dele se curvaram, como se tivesse desgosto em pronunciar meu nome. Em seguida, olhou para mim como uma hiena prestes a atacar sua presa.

— Está precisando de nota em Filosofia? Não me admira que seu desempenho acadêmico esteja aquém, a ter que recorrer a qualquer meio desesperado para não reprovar de ano.

          Minha professora pareceu se incomodar com a forma como o diretor manifestou sua fala, pronta para entrar em minha defesa:

— Senhor diretor, me desculpe. Mas o conselho estudantil permitiu o acréscimo de alguns pontos na média final dos alunos como incentivo das atividades complementares obrigatórias. Logo, Kevin está no direito dele.

— Não esquenta, professora Valéria. O senhor diretor deve estar muito à toa para gastar o tempo valioso dele cuidando da minha vida invés de ir trabalhar — retruquei com um sorriso desafiador.

          Já era esperado que Aroldo fosse ficar possesso da vida, ainda mais com as risadas dos alunos no palco que escutavam tudo.

— Escute aqui, senhor Drummond. Não ache que porque o ano está acabando que não posso lhe suspender!

— Uau, o que o conselho de pais e mestres vai achar de um diretor que rege a escola a punhos de ferro com os menos privilegiados, mas passa pano para o próprio filho? Afinal, Rafael quem veio para cima de mim naquela briga, além dele ter roubado as provas da sua sala, e no fim não sofreu nenhuma represália, justamente por ser seu filho. Engraçado, não?

          Se essa conversa tivesse ocorrido no começo do ano, eu jamais teria coragem de confrontá-lo assim. Mas, agora era diferente. Não ia aguentar calado esse maldito o tempo todo implicando comigo.

          Antes que ele pudesse dizer mais algo, o som de seu celular tocando o fez mudar o foco de sua atenção. O diretor me encarou uma última vez com ódio, antes de atender seu celular e nos dar as costas, saindo por fim do palco enquanto Arthur passava por ele.

— Perdi alguma coisa? — Arthur questionou ao notar os olhares de todos abismados com as minhas rusgas com o diretor.

— Não perdeu nada, João Grilo. — Falei com um sotaque puxado, pegando o chapéu do chão e entregando a Arthur com um sorriso no rosto.

          O som da sirene eclodiu nesse momento, indicando que era hora do show começar.

— Pessoal, vamos dar início. Todos em suas posições, e boa sorte — A professora Valéria disse enquanto as cortinas carmesins eram levantadas.

          Assim que as cortinas começaram a se abrir, meus olhos foram inundados com a forte luz do holofote em meu rosto. O som das palmas da plateia, de pessoas que preenchiam quase todos os assentos disponíveis, foram brevemente ofuscadas pelo som de uma mulher histérica gritando meu nome.

          Era impossível não distinguir a voz da minha mãe, que se encontrava sentada ao lado do meu pai na fileira do meio. Ao lado deles, estava meu namorado. Luan sorria todo bobo enquanto as cortinas terminavam de se abrir. Ao lado dele estavam, respectivamente: James, Letícia e Thalia, essa última sussurrando algo no ouvido de minha melhor amiga.

          Todo o meu esforço ao longo do ano no clube de teatro resultaria naquele momento. Confesso que um frio na barriga permeou meu ser, mas a confiança de Arthur caminhando em direção ao centro do palco me deu o gás que eu precisava.

— "Chicó, meu amigo, o que acha de irmos até o padeiro e pedirmos um emprego para ele?" — Arthur começou a falar ao centro do palco, com sua voz repercutindo pelo local, levando suas palavras a todos.

— "Mas João, será que o padeiro vai nos dar um emprego assim, de mãos beijadas?" — Falei confiante, encarnando o personagem de Chicó.

— "Foi por isso que tive uma ideia brilhante. Sabe a cachorra da mulher do padeiro?"

— "João, não acho certo chamá a dona Dora assim".

— "Não tô falano da Dora, mas sim do bicho dela. Escondi ela, e quando a mulher do padeiro vier pegá, vou dizer que achei. Assim, a gente arranja um serviço pra nóis dois como agradecimento".

— "Minha Menininha, onde tu tá?" — Júlia, interpretando a personagem Dorinha, entrou em cena procurando por sua cachorra.

          Arthur deu um solavanco em meu ombro, pois eu havia esquecido que era minha deixa.

— "Ô, João. A cachorra da dona Dora sumiu."

— "Deixa comigo, Chicó. Vô encontrá" — Arthur falou em voz alta, arrancando risadas da plateia com as peripécias do seu personagem.

          Ao longo da peça, ocasionalmente deixávamos o palco para que outros personagens secundários tivessem destaque. Enquanto gradualmente ia me sentindo mais confiante, Arthur, por sua vez, demonstrava estar no auge do seu papel desde o início. Ele interpretava tão bem que até mesmo eu fiquei surpreso com sua desenvoltura.

          De vez em quando, me dava a liberdade de olhar para a plateia e ver a reação de Luan. Quando o via gargalhando ou sorrindo, meu coração se enchia de uma alegria tão grande que não cabia no peito.

          O momento mais constrangedor para mim foi quando Arthur simulou tocar uma gaita que ressuscitava os mortos. Claro, não era ele quem estava tocando de fato, mas sim uma artimanha sonora do show business: havia uma caixa de som ao fundo tocando a música. A vergonha veio quando tive que "reviver" ao som da gaita, inicialmente mexendo os dedos na madeira do palco como se eles tivessem vida própria, e depois dançando feito um idiota junto com Arthur. Porém, minha timidez foi deixada de lado quando vi o quanto Arthur estava entregue ao papel. Era uma peça, todos estavam rindo, mas não de mim, e sim da cena. Por isso, me entreguei animado à dança.

          Depois que o personagem do Arthur morreu e foi para o Purgatório, fui para trás das cortinas assistir tudo de lá. Eu iria ficar um bom tempo sem retornar.

— "Valha-me Nossa Senhora, Mãe de Deus de Nazaré! A vaca mansa dá leite, a braba dá quando quer. A mansa dá sossegada, a braba levanta o pé. Já fui barco, fui navio, mas hoje sou escaler. Já fui menino, fui homem, só me falta ser mulher. Valha-me Nossa Senhora, Mãe de Deus de Nazaré!" — Arthur recitava no palco, todo confiante e entrosado, o que me fez sorrir lá de trás das cortinas. Nem parecia mais o garoto acuado de outrora que não queria se apresentar.

          No ato final da peça, eu estava de volta ao palco ao lado de Arthur.

— "Se esse seu amigo morreu, como ele voltou à vida pra lhe contá essa história"?

— "Não sei, só sei que foi assim." — Concluí, enquanto caminhávamos pelo cenário do sertão.

          Todos os envolvidos na peça retornaram ao palco, sendo aplaudidos de pé por toda a plateia. Luan alternava entre assobiar e aplaudir, olhando lá de onde estava para mim com um sorriso orgulhoso no rosto.

          Após uma longa salva de palmas, as cortinas enfim se fecharam uma última vez. Todos comemoramos o sucesso da peça, sendo devidamente elogiados pela nossa professora.

          Enquanto alguns alunos saíam dos bastidores e iam falar com seus familiares sem nem se trocarem, eu e Arthur decidimos ir para o camarim antes disso, afinal éramos os que estávamos há mais tempo com aquelas vestes surradas.

— Você foi incrível, Arthur! — Exclamei, ao entrarmos sozinhos no camarim.

— Que isso, Kevin? Você que foi. Eu não teria conseguido sem você — Arthur me elogiou sorridente, enquanto buscava suas roupas em um cesto ao fundo do ambiente.

          O suor respingava em meu rosto, devido a todo o frenesi da peça. Foi quando avistei mais uma vez aquele lenço em cima da bancada em frente aos espelhos. Quando o peguei para me secar, o objeto abaixo dele caiu no chão de madeira, fazendo um grande baque. Arthur se virou imediatamente, enquanto meus olhos se arregalavam diante daquele revólver.

— Arthur...! — Disse ainda atônito, pegando a arma do chão. Pelo seu peso, não era uma arma cenográfica, era real!

— Kevin, deixa eu explicar! — Arthur andou apressado em minha direção.

— Você havia me dito que não trazia ela para a escola. Por que trouxe para cá? — Ergui o olhar espantado do revólver em minhas mãos para ele.

— Eu sei. Não deveria ter trazido — desolado, Arthur se sentou no pufe, seus ombros abaixados. — Te falei antes que carrego essa arma como mecanismo de defesa. Mas, ao mesmo tempo, acho que adquiri uma dependência emocional a ela. Sei que parece bobagem, mas, me sinto fraco, não confio em mim mesmo se não estiver em posse dela. É como se eu precisasse estar com ela o tempo todo para não me perder. Mas, Kevin, não ache que pensei em fazer besteira com ela! Eu apenas a porto comigo.

          Voltei a encarar o objeto em minhas mãos. Puxei então o slide da arma para trás, liberando o seu cartucho de balas.

— Ei, Kevin! Não mexe nela assim, você pode acabar disparando sem querer — Arthur se ergueu, tentando reaver a arma, mas recuei a arma para trás, a afastando dele.

— Não é a primeira vez que manuseio uma arma. Eu tinha um tio que, quando mais novo, me levou em um campo de tiro. Eu sei, ele não era o melhor dos tios. — Dei um sorriso sem graça.

          Retirei o pente da arma com os projéteis, jogando todos eles na mesa em nossa frente. Então, recoloquei o cartucho vazio de volta, e só então estendi a arma de volta ao Arthur.

— Se precisa dela para se sentir confiante consigo mesmo, ande com ela por conta e risco — falei, enquanto ele estendia a mão para pegar a arma de volta. — Mas não ande com ela carregada, para o seu próprio bem, e das demais pessoas.

          Arthur sabia que eu não estava o repreendendo, era apenas um alerta. Por isso, ele pegou a arma de volta com um sorriso singelo no rosto, enquanto a escondia por dentro de sua calça. Eu, por minha vez, peguei os projéteis de cima da mesa e os escondi em meus bolsos.

          Não cabia a mim julgá-lo. Arthur estava passando por maus lençóis, e confrontá-lo só causaria o efeito contrário. Já perdi um amigo para sua desorientação interna, não podia deixar que ocorresse com o Arthur o mesmo que aconteceu com o Diego.

— Obrigado, Kevin — Arthur me agradeceu ao se aproximar.

— Não por isso, Arthur. Somos amigos, você pode contar comigo.

— Não apenas pela arma, mas pela força que me deu hoje para eu voltar para a peça — ele falou, dando mais um passo em minha direção. — Acho que aquela dúvida que eu tinha do que fazer após concluir a escola, talvez tenha sido sanada hoje. Acho que vou cursar artes cênicas.

— Que bacana, Arthur! Então você realmente gostou de atuar?

— Gostei — ele assentiu, agora a pouquíssimos centímetros de mim. Quando me dei conta, eu estava quase encostado na parede com Arthur em minha frente. — O ano está acabando, irei me formar logo. Ano que vem, não nos veremos com tanta frequência assim.

— Vamos dar um jeito! Nossa amizade não vai acabar aqui só porque está concluindo a escola — apesar de sentir meu espaço um tanto invadido pela sua proximidade, ainda assim quis deixar claro que aquilo não era um adeus.

          Quando eu estava prestes a me afastar dele, a cabeça de Arthur seguiu a minha e então seus lábios tocaram os meus. O beijo que Arthur me roubou foi rápido, mas demonstrava o quanto ele estava eufórico pela minha boca. Nem tive tempo de desencostar minha boca da sua, pois ele o fez primeiro.

— Eu ainda tenho sentimentos por você — foi tudo o que Arthur conseguiu sussurrar antes de recuar e abrir a porta do camarim para sair.

          Fiquei sem reação. Arthur, que havia me dito que seríamos apenas amigos, me beijou novamente! Diferente de quando nos beijamos naquela ponte, dessa vez o beijo dele não causou nenhum efeito em mim além de abalo.

          A surpresa maior se deu quando, assim que Arthur saiu, Luan surgiu no camarim pela porta.

— Sujeitinho irritante — Meu namorado murmurou, ao deixar claro que se esbarrou com Arthur nos corredores. — Você foi incrível na peça, meu xodó.

          Luan se aproximou, agora com um sorriso terno, envolvendo seus braços em minha cintura.

— Que cara é essa? Aconteceu algo?

— Nada! Não houve nada, Luan. Obrigado por ter vindo assistir — Forcei um sorriso, enquanto beijava meu namorado, dessa vez sim manifestando todo o meu amor ao toque de seus lábios.

          Não quis contar a Luan o que houve. Se eu fizesse, Luan perderia a cabeça e partiria para cima de Arthur por ter me roubado um beijo. Não gostava de omitir informações para ele, mas isso era pelo bem dos dois.

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