36. Quando o Gato Sai os Ratos Fazem a Festa
Burburinhos começaram a permear a escola após o perfil do fofoqueiro anônimo viralizar. Vez ou outra ele soltava alguma fofoca, como o fato do diretor usar peruca, ou sobre um garoto do terceiro ano fumar maconha atrás do colégio, e até mesmo expôs mais detalhes de como era tóxico o relacionamento de Christian e Letícia por parte dele.
Apesar disso tudo, a ameaça que o usuário "anônimo_CeleirasTipsa123" fez sobre expor o tal segredo de Luan ainda não havia sido consumado. Contudo, vez ou outra ele postava emojis de cigarro, bola de basquete e até mesmo publicou misteriosamente uma foto de uma jaqueta preta em seu perfil — vestimenta essa que meu namorado frequentemente costumava utilizar. Era como se estivesse preparando terreno para, no momento propício, revelar o que ele tinha para expor sobre o Luan.
Estávamos apreensivos. Não fazíamos a menor ideia sobre quem era o delator.
— Fica calmo, Luan. Vamos dar um jeito de descobrir com quem estamos lidando e o que ele sabe sobre você — busquei confortá-lo, sentado ao seu lado no fundo da sala, pouco antes da aula começar naquele dia.
Luan apenas assentiu cabisbaixo. Ele se encontrava constantemente pensativo, buscando uma forma de resolver a situação.
Inesperadamente, avistei Letícia entrando em nossa sala de aula. Ela caminhou apressadamente em nossa direção, sentando-se bem ao lado de Luan.
— Seus pais estão viajando, não é? — Sem rodeios, minha melhor amiga me questionou de forma séria.
— Sim, estão.
— Quando voltam?
— Só semana que vem — respondi, sem saber onde ela queria chegar com aquilo.
— Acho que você nunca me disse com o que os seus pais trabalham — Luan entrou no meio da conversa. — O que eles fazem que estão sempre viajando?
— Eles são organizadores de eventos. Volta e meia viajam para se reunir com clientes e acompanhar projetos em algumas regiões...
— Foco aqui — Letícia cortou minha explicação no meio. — Eu tive uma ideia para descobrir quem é o abutre que está espalhando coisas ao nosso respeito na internet.
Eu e Luan olhamos para ela atentamente.
— Diga.
— Vamos dar uma festa na sua casa no fim de semana! Iremos chamar o maior número de pessoas da escola que conseguirmos. Uma vez lá, podemos ir despretensiosamente sondando cada um a fim de buscarmos um furo do leva e traz.
Uma risada consideravelmente exagerada escapou de mim diante da proposta dela.
— Letícia Spears, minha cara, você endoidou de vez? Meus pais me matariam se descobrissem.
— Espera, Kevin. Acho que não é má ideia — Luan tomou frente, me deixando em choque com sua atitude. — Uma festa na sua casa não seria de todo ruim.
— Você está bem? Bateu com a cabeça? Está com febre? — Coloquei as costas da minha mão na testa de Luan para medir sua temperatura. — Logo você, o cara que mais odeia esse lance de festas e coisas do tipo, ficando a favor dessa ideia maluca?
— Só acho que seja uma boa oportunidade de filtrarmos quem está aprontando. Com certeza esse cara vai estar na festa — Luan deu de ombros, enquanto Letícia, ao seu lado, sorria com seu apoio.
— Ah, melhor esquecer, Luanzinho. O Kevin é muito medroso para isso — Leh falou provocativa, me fazendo revirar os olhos.
— Verdade. No fim, acho que eu estava certo sobre ele ser um nerd — de igual maneira, Luan me provocou, inclinando-se para perto da loira com um sorriso arteiro.
— Eu já disse que não sou nerd!
— É isso o que todo nerd diria — Letícia, entrando no jogo de Luan, tirou onda com minha cara. Os dois riam agora da minha expressão, enquanto meu rosto ficava levemente vermelho de raiva.
Malditos! Logo esses dois se unindo contra minha pessoa.
Eu era voto vencido ali. Com os dois me encarando com carinhas de cachorro abandonado, acabei suspirando derrotado.
— Divulguem essa festa de forma discreta. Não podemos deixar que meus pais nem os professores descubram — disse severo, enquanto os dois batiam na mão um do outro em comemoração. — E nada de bebidas alcoólicas!
— Quanto a isso — Luan se ajeitou em sua cadeira, como se fosse sua hora de brilhar —, posso dar um jeito. Esqueceram-se que sou bartender? Posso facilmente simular bebidas alcoólicas, usando sucos misturados, e ingredientes como água com gás, ervas e xaropes.
— Isso! — Letícia exclamou animada. — Nenhum dos convidados precisa saber que não é bebida de verdade. Assim, quando beberem, vão achar que estão bêbados, e pessoas embriagadas são mais suscetíveis a abrir o bico.
Balancei a cabeça desolado. Que ideia de jerico! Não tinha como isso dar certo.
— Para isso precisaríamos de muita ajuda para enganar todos. E somos só nós três — falei, tentando em vão fazê-los desistir da festa.
Contudo, em sintonia, Letícia e Luan olharam ao mesmo tempo para as carteiras à frente. Onde, alheios à nossa conversa, Vinícius, Lucca e Douglas se encontravam conversando entre eles.
🎵🍻
O fim da tarde de sábado foi dominado por Luan botando em prática seu plano sugerido. Com Douglas, Vinícius e Lucca ao seu lado, ele enchia as garrafas vazias que trouxera consigo com a "bebida alcoólica", que na realidade não continha álcool algum.
— Onde fui amarrar meu burro? — comentei enquanto os observava empenhados trabalhando.
— Se não vai ajudar, não atrapalha — Vinícius me empurrou para o lado da cozinha, carregando uma cesta cheia de garrafas de vidro.
— Vá ver se a Letícia precisa de ajuda — Douglas disse, balançando a mão no ar, me expulsando da minha própria cozinha!
Olhei para Luan buscando apoio, mas ele apenas sorriu e deu de ombros impotente.
Antes que pudesse discutir com eles, ouvi o som de algo sendo arrastado vindo da sala, e corri para ver do que se tratava.
— O que está fazendo?
— Esta mesinha está ocupando muito espaço. Me ajude a empurrá-la — Letícia pediu enquanto empurrava a mesa de vidro do centro da sala para um canto.
— Tenha cuidado — a adverti, ajudando-a conforme solicitado.
Assim que a colocamos mais próxima ao sofá, o som da campainha ecoou pela casa. Era hora de começar. Durante a semana, divulgamos discretamente pela escola a informação sobre a festa em minha casa, na esperança de que o aluno que espalhava fofocas sobre nós aparecesse. Era irônico pensar que, com sua fama de "dedo-duro", o medo dele nos denunciar ao diretor, ou pior, aos meus pais, crescia em meu peito.
No entanto, Luan estava lá para me incentivar e assegurar que a festa seria um sucesso. Tendo isso em vista, juntos, abrimos o portão de casa naquela noite e, para minha surpresa, dezenas de adolescentes já estavam ali, animados para curtir a festa.
Assim que todos entraram, fechei o portão para evitar que meus vizinhos vissem a festa que estávamos dando. No entanto, a discrição não parecia ser a prioridade para Lucca, que logo aumentou o som, embalando a festa com a música "TiK ToK" da Kesha.
Com Luan em meu encalço, passei por várias pessoas desconhecidas que conversavam no quintal e retornei à sala, agora ocupada por um grupo de adolescentes dançantes.
— Ei, Luan — murmurei descrente próximo ao seu ouvido devido ao som alto —, essa ideia de fingir que a bebida possui álcool para soltar a língua das pessoas parece ser uma bela furada.
Douglas era o responsável por servir as bebidas para os convidados, muitos dos quais já estavam com as garrafas em mãos.
— Luan! — Uma garota morena se aproximou, quase perdendo o equilíbrio enquanto segurava uma garrafa. — Você é um gato, sabia?
A garota riu de si mesma, olhando para Luan sem timidez.
— Vem cá, Juliana — uma segunda garota se aproximou, entrelaçando o seu braço no da amiga. — Aí, Luan. Aproveitando que estou bêbada vou te falar, se eu pudesse tirava sua camisa agora e passava meus lábios no seu corpo todinho.
Entre risadas, as duas se afastaram enquanto esbarravam na multidão após suas confissões. Garotas que sempre admiraram Luan à distância, agora revelando seus sentimentos sob a influência da bebida "falsa". Luan me lançou um olhar zombeteiro quando elas se foram.
Diante disso, decidimos nos misturar com a galera, segurando garrafas de bebida para fingirmos estar igualmente embriagados.
— Manos, tô bebaço — Luan disse com a língua enrolada em uma roda de pessoas que estávamos inseridos, fingindo intimidade.
— Nem me fala. Enchi tanto a cara que acho que tô tão bêbado quanto na vez que peguei o carro do meu pai e bati num poste — revelou um rapaz desconhecido, com um sorriso ardiloso. — O velho até hoje acha que foi minha mãe quem bateu com o carro.
Com o som da música ao fundo, eu e meu namorado começamos a pular de roda em roda, descobrindo segredos sórdidos dos nossos convidados, que achavam estar sob efeito do álcool.
— Eu nunca comentei isso, mas sempre fui a fim de um garoto da escola — uma garota do primeiro ano nos confessou quando estávamos só nós três.
— Ahn, sério? Quem seria? — perguntei quase revirando os olhos, imaginando ouvir que ela também gostava do Luan.
Para minha surpresa, seus olhos foram direcionados para o outro lado da sala, fitando Vinícius com um olhar apaixonado.
— Sempre amei ruivos. E acho o amigo de vocês lindo.
— O Vini? Sério? — fiquei embasbacado. Vinícius não era do tipo que costumava ter pretendentes. Pelo contrário, ele quem frequentemente era "gado" das garotas e sempre levava um pé na bunda.
— Por que não vai lá e fala com ele? — Luan sugeriu malicioso. — Vocês estão bêbados, essa é sua chance. Amanhã ele nem vai lembrar disso mesmo.
Não pude acreditar na ousadia do meu namorado. Ele sabia bem que nenhum deles estava bêbado de verdade! A tal Erica, encorajada com a mentira, deixou sua garrafa vazia com Luan e se aproximou de Vinícius com passos decididos.
Assim que ele se virou ao notar sua proximidade, Erica agarrou seu pescoço e deu-lhe um beijão na boca na frente de todos. Todos na cena exclamaram de choque; Douglas, inclusive, pegou discretamente seu celular para filmar a cena e eventualmente tirar sarro do Vinícius.
Meu amigo ruivo ficou sem reação diante do beijo, mas, mesmo sem conhecer a garota, não demorou para retribuir o gesto calorosamente.
Em meio à festa, observei uma figura que se destacava adentrando pela minha porta de forma acanhada. Mesmo trajando vestes que não faziam sentido em uma festa de adolescentes, surpreendi-me ao ver Thalia presente. Acenei para ela de longe, e ela retribuiu o gesto com um sorriso contido.
Antes que pudesse me aproximar para falar com minha amiga, Lucca veio correndo em minha direção, parecendo apreensivo.
— Kevin, temos problemas!
Eu e Luan seguimos Lucca apressadamente para o quintal sem saber o que nos aguardava. Uma vez no portão, meu amigo o abriu, revelando aquelas duas figuras paradas diante de minha casa. Lucca sabia bem os problemas que já tive com aqueles dois no passado, por isso veio me avisar.
Rafael e Felipe estavam diante de nós, com seus bonés costumeiros em suas cabeças. Até hoje aquele ponto acima da sobrancelha de Rafael era visível da vez em que Luan o nocauteou.
— O que querem? — os confrontei irritado, de braços cruzados.
— Kevin, viemos nos desculpar — Rafael falou pacificamente, totalmente o oposto das vezes em que me ameaçaram. A dissimulação daqueles dois era ultrajante. — Nós nos arrependemos de termos mexido com você.
— Sim — concordou Felipe. Sua falta de personalidade e semelhança com Rafael eram gritantes.
— Nós refletimos muito sobre o que ocorreu. Não tínhamos o direito de descontar em você só por causa do nosso erro de colar nas provas — continuou Rafael, ainda de forma mansa. — Ocorre que tenho um certo problema com meu pai...
— Não! — gritei, interrompendo-o e balançando as mãos no ar. — Já não aguento mais ouvir sobre gente que tem problemas paternos. Olha, por que vocês dois não seguem em frente, viram à direita, depois à esquerda, até darem de cara com a pu...
— Espera, Kevin — Luan me interrompeu, escancarando o portão ainda mais como se desse passagem a eles. — Entrem.
— Fumou maconha vencida, Luan? — olhei para ele indignado, enquanto os dois idiotas em minha frente sorriam em resposta ao seu convite.
— Não estou dizendo que os perdoo. Pelo contrário. Se fizerem qualquer coisa novamente contra o Kevin, dessa vez não haverá diretor que salve vocês dois — ameaçou Luan, desmanchando imediatamente o sorriso dos dois que engoliram em seco.
— Então, por que deixá-los entrar na festa?
— Se eles ficarem de fora, serão testemunhas e irão nos dedurar. Uma vez que entrem, são cúmplices e não vão poder falar nada.
Fazia sentido. Estava surpreso com a maturidade de Luan em conseguir colocar os prós e contras na mesa e engolir seu orgulho para isso. Uma vez que Rafael e Felipe adentraram, eu e Luan tratamos de retornar para a festa dentro da casa.
A festa seguia-se transcorrendo normalmente, com o povo dançando e a música em alto e bom som; alguns inclusive gravando vídeos de dancinha para o TikTok. Mas o que chamou minha atenção ao retornar foi ver o garoto ao lado de Letícia.
Caio, o primo calvo dela, alguns anos mais velho do que nós, conversava animadamente com ela. Por um tempo, pensei que todos os gays fossem como Caio: extravagantes, sem medo de mostrar sua sexualidade. Claro que com o tempo, percebi que existiam todos os tipos de homossexuais, assim como os héteros.
Caio era do tipo irritante. Não me refiro ao seu jeito de ser, mas por sua personalidade. Ele não era um gay irritante; era uma "pessoa" irritante.
— Kevin, meu amor! Que saudades! — Ele me cumprimentou com seu habitual exagero, enquanto eu respondia com um sorriso torto. — Já decidiu sair do armário e contar para todos que gosta de rola?
Falei? Chato pra caralho! Ele só presumia que eu era gay por causa de seu "gaydar". Não estava totalmente errado, de qualquer forma.
— E o gostosão aí do seu lado? Está disponível? — Caio dirigiu-se a Luan, que parecia tímido diante do elogio. Por sorte, a música de Kesha ainda tocava, e Caio adorava aquele refrão. — "Ticktock on the clock, but the party don't stop, no."
O doido varrido saiu cantarolando pelo meio da multidão, se afastando de nós.
— Ei, Leh. Por que ele está aqui? Pensei que a festa fosse para descobrir sobre o impostor da escola — questionei, já que seu primo já estava na universidade.
— Deixa de bobagem e curte a festa, Kevin — Letícia respondeu entre risadas, dando um tapinha no meu quadril antes de ir para outro canto quando viu James, seu namorado, chegando.
— Amor, preciso ir mijar. Já volto — Luan anunciou, indo em direção às escadarias.
— Que deselegante — comentei, mas ele já tinha ido.
Sozinho, olhei ao redor. Letícia e Vinícius estavam ocupados demais beijando seus respectivos, e sabia bem que Lucca e Douglas não eram responsáveis o suficiente para gerenciarem a festa sozinhos. Tendo isso em vista, me preparei para servir mais bebidas ao pessoal e interrogá-los para descobrir quem era o dono do perfil enigmático do Instagram.
— Kevin?
Olhei para trás ao ouvir meu nome, ficando surpreso ao ver Arthur diante de mim. O mais velho usava uma roupa casual e segurava uma taça enquanto seus olhos âmbar me fitavam igualmente pasmo.
— Arthur? Você era a última pessoa que imaginei que veria aqui — balbuciei, um pouco sem jeito.
— Digo o mesmo. Quero dizer, não imaginei que você era do tipo que curtia festas assim.
— Não sou muito fã, na verdade. Mas não tinha como eu não vir, afinal, essa é minha casa.
Arthur se mostrou boquiaberto com minha revelação.
— Eu não fazia ideia disso — ele disse, ainda processando a informação de que estava sob o teto da casa do garoto que há poucos dias ele disse que não queria ver nem pintado de ouro. Buscando algo para aliviar a situação, o garoto em minha frente olhou para o líquido em sua taça e depois voltou a olhar para mim com um sorriso. — Então você é o responsável por servir suco de uva ao invés de vinho?
— Você percebeu? — acompanhei-o na risada. — Desculpa, não tinha como servir bebida alcoólica aqui.
— Relaxa, Kevin. Mas, que bom que te encontrei. Eu queria mesmo te dizer algo.
Fiquei curioso com o que ele tinha para dizer. Afinal, já era fora do habitual conversarmos tanto sem ele surtar e me dar as costas.
— Eu refleti bastante nos últimos dias. Peguei pesado contigo, Kevin. Eu não posso simplesmente falar que sou apaixonado por você em um dia, e no dia seguinte te tratar pior do que um aluno da "sonserina" — Eu ri da referência dele. — Você é especial para mim, acho que podemos fazer essa amizade dar certo.
— Fico feliz em ouvir isso — abri um largo sorriso. — Mas...
— Mas acha que sou o dono do perfil que está espalhando as fofocas na internet, não é? — com um sorriso ladino, Arthur me leu completamente.
— Bom, no momento o ideal seria desconfiar até da própria sombra.
— Não sou eu, bobão — ele deu um leve empurrão em meu ombro de forma descontraída. — Eu falei que não diria nada sobre ele, e sigo com minha palavra.
— Ele quem? — a voz de forte entonação do Luan cortou o ar entre nós com a sua proximidade.
Meu namorado jogou seu braço sobre meus ombros como um sinal de pertence, enquanto encarava Arthur desconfiado. Afinal, Luan sabia bem da breve relação que tive com o mais velho.
— Vamos, continuem. Não quero interromper a conversa — com sarcasmo, Luan permanecia fulminando Arthur com o olhar. Era a primeira vez que interagiam, e eu temia que isso terminasse em uma briga acalorada.
Por sorte — ou azar, dependendo do ponto de vista —, nossa atenção foi desviada quando a música parou abruptamente e percebemos uma agitação vindo de trás de nós. Ao olhar, percebi um Christian exaltado que estava diante de Letícia.
Eu e Luan corremos para intervir; ainda assim tive tempo de avistar de soslaio Arthur se dirigindo para a saída da casa.
— Quer me explicar como souberam sobre as fotos? — com um nuance ameaçador, Christian confrontava Letícia em relação ao vazamento da informação naquele Instagram que ele havia chantageado ela outrora. — Contou para todos os seus amiguinhos, foi?
— Não faço ideia de quem está por trás disso. Mas, ao mesmo tempo, acho muito bem-feito que a escola toda saiba o tipo de babaca que você é — decidida, Leh não se curvou diante do otário.
— Escuta aqui, garota...!
— Vai fazer o quê? — James saiu das sombras, entrando na frente de sua namorada e ficando entre ela e Christian.
— Uh, o namoradinho novo dela veio intervir?
Christian não parecia se importar com a roda de pessoas ao redor, e não parecia disposto a recuar. Contudo, antes que eu e Luan chegássemos até ele, algo impremeditado ocorreu: Christian do nada começou a se tremer todinho, saltar e chutar o vento. Ele parecia estar tendo um piripaque, pois correu para o quintal aos gritos. Ninguém entendeu nada, mas todos riram da situação.
Enquanto Douglas ligava o som novamente, eu e Luan corremos para o quintal avistando Christian sair constrangido e amedrontado pelo portão, não antes de um roedor branco sair por debaixo de suas vestes.
De olhos arregalados, vimos Thalia pegar o rato branco de forma discreta com as mãos, e fazer carinho em sua cabeça.
— Bom trabalho, Marshmallow — a garota gótica falava com seu mascote entre sussurros. Eu sorri para ela de longe. Thalia o treinou para atacar e se livrar de Christian por nós.
Após a partida de Christian e Arthur, a atmosfera da festa se seguiu tranquila. Geral estava se divertindo dançando ao som da música, ao ponto que enquanto eu dançava próximo a Luan, esqueci-me completamente do propósito inicial da festa.
Depois de muito dançar, pedi um momento a Luan para ir até a cozinha pegar algo para beber.
— Oi Letícia — cumprimentei ao vê-la por lá, servindo-me de um copo d'água. Estávamos sozinhos na cozinha. — O que faz aqui?
— Apenas descansando — a loira sentada em cima da ilha da cozinha balançava os pés enquanto mexia no celular.
— Você está bem, Leh, sobre o fofoqueiro? Ele espalhou coisas sobre você e o Christian.
— Estou bem, Kevin. Como eu disse, quem se deu mal foi ele. Eu deveria até mesmo agradecer ao X9, seja lá quem ele for.
Algo não parecia certo nessa história. Apesar de ter sido favorável para ela, era estranho vê-la ser tão compreensiva. E o fato do impostor favorecê-la, ignorando o acontecimento de também termos pegado pesado com Christian, quebrando seu celular, me deixou desconfiado.
Peguei meu celular do bolso e abri o perfil do "anônimo_CeleirasTipsa123". Havia um novo story, falando sobre o recente caso de Christian sair correndo da festa após um rato entrar em suas calças. Esse story tinha sido postado há menos de cinco minutos.
"Celeiras Tipsa... Celeiras Tipsa... Tem algo familiar nesse user..." Enquanto eu me colocava a pensar, olhei para minha amiga que estava relaxando na ilha. "É isso!".
— Letícia Spears! — exclamei. Letícia olhou para mim, confusa com minha reação súbita. — Celeiras Tipsa é um anagrama do seu nome. Você é a pessoa que está vazando as informações nas redes sociais.
Por um momento, Letícia me olhou bestificada, com a boca ligeiramente entreaberta. Mas logo soltou uma risada sincera.
— Fui descoberta — ela ergueu a mãos, como se estivesse se rendendo.
— Por que ameaçou expor o Luan, Leh?
— Eu não iria fazer isso, palhaço. Eu criei o perfil com um único propósito... — Letícia se levantou, indo discretamente em direção à porta da cozinha e indicando com a cabeça a sala.
Olhei na direção que ela apontava; Luan conversava animadamente com Douglas e Lucca. Ele, que por muito tempo se manteve neutro em relação a fazer novas amizades, agora ria com meus dois amigos sem nada que os forçasse a interagirem.
— Foi preciso criar uma desculpa para você topar essa festa. E, com isso, fazer com que o Luan se tornasse mais suscetível a fazer novas amizades.
Letícia havia aprontado tudo isso para que Luan se aproximasse dos meus amigos! Era inacreditável, mas, ao mesmo tempo, era uma atitude fofa dela. Ela se importava comigo, e agora eu sabia que também se importava com ele.
Apesar de seus métodos questionáveis, no fim a noite havia transcorrido, dentro do possível, bem. Sem nenhum desastre...
Nesse momento, o barulho de vidro se quebrando vindo da sala fez meu coração gelar. A música parou quando cheguei à sala e vi uma rachadura na mesa de vidro, obra de algum idiota desconhecido.
— Acabou a festa!! Todos para fora daqui! — esbravejei furioso, e imediatamente todos correram em direção à rua. Meus pais iriam me matar!
Avistei Vinícius e Erica descendo apressados da escadaria em meio a agitação.
— O que estavam fazendo lá em cima? — indaguei, mas meu amigo ruivo apenas me deu um sorriso sem graça antes de se juntar aos outros para fora da casa.
Suspirei fundo enquanto todos iam embora.
— Vou te ajudar a limpar isso tudo, amor — Luan disse, me dando um beijo na testa quando todos partiram, ficando apenas nós, James e Letícia.
— Bom, a festa foi ótima, mas pulo a parte da limpeza. — Minha melhor amiga falou enquanto pegava seu casaco. Se dirigindo então ao James: — Me leva para casa, amor?
— Desculpa, Kevin. A patroa manda — James falou entre risadas, saindo de casa junto com a Leh quando o sol já estava nascendo.
— Até mais, Kevin meu amor — a loira debochada acenou para nós do portão.
Não respondi à sua despedida. Contudo, sibilei com os lábios sem emitir som algum: "obrigado". Não sei se ela teve tempo de compreender, ainda assim eu era grato pelo que ela fez aquela noite.
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