Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

33. A Caixa de Pandora

          Estava frente a frente com Arthur. Imitar seus gestos e sua expressão facial não era uma tarefa árdua quando ele se limitava a exercer poucos movimentos, e demonstrava descontentamento em sua face durante o nosso exercício de "espelho" do nosso clube de teatro.

          Não me surpreendia em nada que Arthur estivesse distante, evitando-me desde o dia do nosso encontro. Mas, ao mesmo tempo, compartilhávamos o mesmo ambiente, e o fato de nossos personagens serem os protagonistas da peça fez com que nossa professora nos escolhesse para formar uma dupla durante o ensaio.

          Quando ela finalmente informou que o ensaio havia terminado naquele dia, eu e Arthur imediatamente abaixamos as mãos que estavam erguidas no ar. O cara de cabelo undercut virou as costas para mim no mesmo instante, indo para trás das cortinas do palco buscar sua mochila.

— Ei, Arthur — o segui, naquele espaço onde estávamos a sós —, posso falar com você?

          Enquanto guardava sua blusa de frio dentro da mochila, ele nem se deu ao trabalho de me responder ou ao menos olhar na minha direção.

— Você não responde mais minhas mensagens, e quando estamos aqui no teatro você me trata de forma fria. Eu só queria entender...

— Entender o quê, Kevin? — Ele me interrompeu, finalmente pendendo a cabeça para mim. — Entender que ficamos em um dia, e dois dias depois você chegou na escola usando uma aliança no dedo?

          Senti um nó se formar em minha garganta, enquanto tentava em vão esconder minha mão para trás.

— Você não está sendo justo. Naquele dia mesmo eu havia lhe dito que ainda estava apaixonado pelo Luan — diante de minhas palavras, foi cristalina a expressão de Arthur se fechar mais ainda em desprezo ao ouvir o nome do meu namorado. Tentei apaziguar a situação, amenizando o timbre da minha voz. — Nós voltamos, Arthur. Eu queria ter falado com você antes, mas você não me deu brechas. Isso não muda o fato de que gosto da sua presença, eu ainda quero ser seu amigo.

          Arthur se ergueu do chão, sua mochila jogada em seu ombro despretensiosamente. Seus olhos âmbar me encaravam com claro sinal de decepção. O garoto gentil e engraçado que conheci há algumas semanas parecia ter desaparecido, dando lugar a um jovem amargurado.

— Não se trata de justiça, simplesmente não quero. Não posso ser amigo de alguém por quem ainda tenho sentimentos. Por favor, pare de insistir e forçar uma aproximação comigo. Não somos amigos, nem nunca seremos. Quanto a peça, pensei seriamente em desistir. Mas, depois de chegarmos tão longe, não seria legal da minha parte deixar meus sentimentos prejudicarem os outros. Vamos limitar nossa relação apenas a isso. — Arthur virou-se mais uma vez, dirigindo-se à saída do anfiteatro. Antes de sair, porém, ele voltou-se para mim. — E boa sorte com seu namorado. Do jeito que ele é problemático, você vai precisar.

          Eu simplesmente não conseguia me mexer. Estava imóvel, sozinho no palco, assim que ele partiu. Era difícil processar a situação; ainda mais difícil aceitar que magoei alguém. Parecia que eu sempre fazia merda. Se não era o Luan que saia machucado, quando terminei naquela ocasião, era o Arthur. Odiava partir o coração de alguém, pois sabia o quão dilacerador seria se a pessoa que amo fizesse o mesmo comigo.

          Poderia achar que Arthur estava exagerando em seus sentimentos por mim; nos conhecíamos há poucas semanas e saímos apenas uma vez. Mas eu era o exemplo vivo de que para se apaixonar por alguém não precisava de muito. Me vi perdidamente apaixonado por Luan com apenas poucas interações, e fiquei de "quatro" por ele com apenas um beijo. O amor veio depois, é claro. Mas eu entendia Arthur. Escolhi Luan, e restava a mim respeitar a decisão dele, manter distância era a única coisa que podia fazer para ajudá-lo a ficar bem.

💻

          Não havia muito para fazer no recreio do dia seguinte, uma vez que não contava mais com a amizade de Arthur, e Luan estava praticamente tão distante de mim quanto. Sobre o meu namorado, o motivo era que ele estava preocupado com seu melhor amigo. Desde o seu aniversário, a única mensagem que James enviou a ele, dias depois, foi que seu pai havia voltado para casa, e por isso Luan não deveria se aproximar de lá por um tempo.

          Dessa vez, porém, a situação era diferente do usual. James não respondia mais a nenhuma mensagem de Luan. Meu namorado chegou até mesmo a se aproximar de sua casa discretamente, preocupado com a falta de contato, usando um walkie-talkie, para tentar contato, que ambos costumavam usar desde a infância. Porém, mesmo próximo da casa dele, a faixa de rádio do seu dispositivo não se conectava com a de James.

          Sabíamos que o pai de James tinha o hábito de beber e descontar em seu filho de forma agressiva, mas sem sabermos o que realmente estava acontecendo para James não dar mais sinal de vida, não tínhamos como chegar lá do nada e piorar ainda mais a situação. Estávamos de mãos atadas.

          Eu detestava não poder fazer nada para aliviar a preocupação do meu namorado. Ele havia acabado de se libertar do controle de pais controladores e tóxicos, mas era como se ainda estivesse vivenciando isso com receio do que James pudesse estar passando.

          Indiferente aos meus demais amigos naquele momento e sem fome, me restou vagar pelo pátio externo da escola durante o intervalo a fim de espairecer. Foi quando avistei uma garota loira de costas, sentada sozinha em uma mesa enquanto digitava em um notebook.

— Bu! — Cheguei sorrateiramente por trás de Letícia, tentando em vão assustá-la. Minha melhor amiga, no entanto, estava com fones de ouvido e nem me ouviu.

— Ah, oi Kevin — Ela me cumprimentou quando finalmente me viu, retirando os fones.

          Emburrado por não ter conseguido assustá-la, sentei-me ao seu lado.

— O que está fazendo?

— Estou editando as fotos que tirei para o clube de fotografia. Olha — direcionou o notebook na minha direção, sorridente.

          Eram fotos realmente bonitas. Desde flores até o pôr do sol com uma vista magnífica. No entanto, ver Letícia tão feliz assim me deixava encucado com o que estava acontecendo com James, e a falta de preocupação aparente dela, então não consegui retribuir sua animação.

— Credo, se não gostou era só falar. Não precisava fazer essa cara de quem está com uma nuvem negra sobre sua cabeça — Leh comentou, direcionando o notebook de volta para si.

— Não é isso. É que algo vem me deixando intrigado.

— Comeu muito trigo? — Ela brincou, enquanto eu revirava os olhos.

— Hahaha, estou morrendo de rir — respondi sarcasticamente, dando uma risada forçada. — Essa veio direto do Chaves, não é?

— Anda logo, Kevin, por que está com essa cara de quem chupou limão?

          Quantas comparações ela ainda tinha para fazer sobre minha expressão?

— Meu Deus, Leh. É sobre o James! O seu namorado. Como não está preocupada com ele?

          De imediato, o estremecimento no rosto de Letícia se tornou notável.

— Bom, primeiramente, eu e ele ainda não estamos oficialmente namorando, estamos apenas saindo por hora. Mas, afinal, do que está falando Kevin?

— Não vai me dizer agora que ele não sumiu do nada — Olhei para ela igualmente confuso.

— Ele sumiu há alguns dias, sim. Mas antes disso o James havia me mandado uma mensagem falando que teria que ficar um tempo sem nos falarmos. Falou que não era nada sério, que não deveria me preocupar, que quando desse ele entraria em contato. Como não sou tóxica como o Christian era comigo, respeitei o espaço dele e não perguntei a respeito. Porém, agora estou preocupada, Kevin. O que está acontecendo? Não me diga que ele está ficando com outra. Eu o mato!

          Fé nas malucas. Se eu deixasse os delírios de Letícia iriam longe. E olha que ela mesma havia acabado de dizer que não tinham nada a sério.

— Claro que não é isso. É sobre o pai dele, Leh. Ele voltou!

— Tá, mas o que tem o pai dele? Não estou entendendo nada.

— Oh merda, então você não sabe — Exclamei, conforme os olhos da loira em minha frente aumentavam consideravelmente de tamanho em desconcerto.

          Fui pressionado a lhe contar a verdade. Ou, ao menos, parte dela. Letícia era quase namorada dele, ela tinha o direito de saber das agressões que ele sofria de seu pai. Mas, me limitei a não revelar certos pormenores, como o fato dessa vez ser diferente e ele não estar respondendo mais ao Luan. Acreditei que tudo que contei a ela já era muita coisa para assimilar, não precisava preocupá-la com mais essa inquietação.

          Perplexidade era a palavra que descrevia a expressão de minha melhor amiga. Não poderia julgá-la, afinal.

— Puta merda — Seu olhar trêmulo assim que terminei de falar era um sinal de que Leticia estava à beira de surtar.

— É, eu sei, Leh. Tive a mesma reação quando Luan me contou sobre o que o James estava passando.

— Temos que fazer algo, Kevin! — Em um súbito ato de descarga emocional, Leticia parecia me encurralar contra a parede, quase como se estivesse nas minhas mãos fazer algo a respeito. — Temos que salvar o James. Não posso acreditar que Luan sabia disso esse tempo todo e não fez nada.

— Não é tão simples — Cocei minha nuca, um tanto ressabiado sobre como prosseguir. Explicar para ela que não deveríamos intervir a fim de evitar problemas maiores era desafiador, afinal, eu mesmo não era o maior apoiador dessa abordagem apaziguadora. — Vamos tirar o James da casa do pai dele, e então o levaremos para onde? Ele é menor de idade, Leh. Mesmo trabalhando na oficina do pai dele, ele nem sequer tem dinheiro guardado de reserva...

— Emancipação — A voz sombria que me interrompeu veio de minhas costas, fazendo com que eu e Leticia nos assustássemos.

          Susto maior se deu quando me virei, e me deparei com uma menina pálida bem próxima a nós, com um olhar de peixe morto. Thalia, com seu habitual estilo gótico e sua expressão de poucos amigos, mantinha a tradição de aparecer sempre em momentos inesperados.

— Quem é essa? — Leticia perguntou para mim, com um olhar de confusão e, diria que até mesmo, de desconfiança.

— Essa é a Thalia. Não se engane pela aparência, ela é gente boa. Ajudou eu e o Luan uma vez quando nos metemos em encrenca naquele acampamento.

          Sabia que Leh estava se fazendo de sonsa. Quase todos da escola já ouviram falar da Dama das Sombras. A garota com o estilo mais fora dos padrões e a mais antissocial de nosso colégio.

— Há quanto tempo está nos escutando? — Apesar do meu questionamento, a jovem de vestida negro não pareceu fazer questão de me responder.

— Repito, emancipação — Ela voltou a falar, dessa vez de braços cruzados. Nunca sabia dizer se seu olhar era de tédio para nós, ou simplesmente se era o maior nível de empatia que ela conseguia demonstrar. — Minha tia trabalha para o Conselho Tutelar, então aprendi algumas coisas a respeito. Diante de denúncias de violência contra adolescentes, o pedido de emancipação pode ser considerado como uma circunstância relevante para uma solicitação.

— Espera, o que diabos é essa emancipação?

— É o ato legal no qual um menor de idade adquire autonomia jurídica, em outras palavras, James seria responsável por si mesmo, não precisando ir para um abrigo na ausência de seu pai — Leticia quem me respondeu, demonstrando que ela tinha pleno conhecimento sobre o que Thalia nos relatava.

— Exato — Ela confirmou com um balançar de cabeça. — O fato desse garoto aí trabalhar e ser responsável pelo sustento de sua casa, seria algo a ser avaliado em prol dele. Posso falar com minha tia, e vê se ela agiliza o processo. Mas, tem algo que agilizaria ainda mais esses trâmites.

— O quê? — Perguntei, afinal, tudo estava parecendo bom demais para ser verdade.

— Se a agressão do amigo de vocês for em flagrante, ou se tiverem uma prova gravada dele sendo agredido pelo pai, seria algo inquestionável para agirem. O Conselho Tutelar tende a agir rápido sob denúncias de violência contra menores, entretanto, a justiça do nosso país é falha e lenta. Se seu pai recorrer, é capaz que demore para que uma decisão seja tomada, no pior cenário ele permanecerá morando com ele, e aí tudo irá piorar. No melhor cenário, sem provas substanciais de violência, o amigo de vocês levará meses para receber a emancipação. Presumo que falte cerca de um ano para ele completar dezoito anos, certo? Acho que ele não quer de maneira alguma passar um ano inteiro em um abrigo.

          Eu e Leh nos entreolhamos, devastados. Para mim, James ficar um ano em uma instituição de acolhimento era mil vezes melhor do que continuar apanhando e sustentando seu pai. Mas, ele não via da mesma maneira.

          De igual forma, conseguir uma prova de James apanhando de seu pai era algo impensável. Como caralhos faríamos isso?

— Infelizmente é essa a única alternativa. De toda forma, avisem se quiserem que eu fale com minha tia.

          Manejei a cabeça em direção a Thalia em agradecimento. Ela era estranha. Não digo necessariamente em sua aparência, me refiro mais as suas ações. Surgia do nada, nos ajudava e depois voltava a sumir pelas sombras. Se eu não a conhecesse — e talvez nem a conheça de fato, diria que ela simpatizava conosco e era a forma dela querer tentar firmar uma amizade.

          Mas, mesmo se eu quisesse me esforçar para que essa amizade florescesse, Thalia sempre se esvaía por entre meus dedos. Não foi diferente nesse momento, quando, ao notar a proximidade de um Luan cabisbaixo, ela deu meia volta e zarpou para longe, sem nem lhe dirigir a palavra.

— O que ela fazia aqui? — Ele questionou quando se sentou em nossa mesa, embora sua voz demonstrasse que não estava verdadeiramente interessado.

          Dei de ombros. Não queria contar a Luan sobre o que Thalia nos recomendou. Ao menos, não por hora. Ele já estava todo tristonho, e me partiria ainda mais o coração dar falsas esperanças sobre o James sem termos algo concreto para nos firmarmos de que daria certo.

— Que cara é essa? — Luan percebeu que Leh estava igualmente preocupada. Ela então ergueu a cabeça, olhando diretamente em seus olhos.

— Por que você não fez nada a respeito do James?

— Você contou a ela? — Diante de sua pergunta, fui obrigado a balançar os ombros novamente, dessa vez de forma afirmativa. — Olha, Leticia, sei o quanto você se importa com o James. Eu o amo também. Digo, não da mesma forma que você, mas amo. Mas tudo o que eu podia fazer para tirá-lo dessa situação eu tentei.

— Deveria ter tentado mais — Sua voz era gélida para com ele; uma frieza quase tão congelante quanto os doze graus Celsius que fazia aquela manhã.

          Leticia se ergueu, demonstrando uma irritação pesarosa. Sei que no fundo ela tinha conhecimento que Luan não tinha culpa alguma, mas, ao mesmo tempo, ela parecia querer externar sua frustração em alguém. E quem melhor para isso do que o seu "saco de pancadas" favorito?

          Após fechar o notebook, Leh nos deixou sozinhos na mesa. Parecia que ela estava em sincronia com o relógio da escola, pois assim que se levantou, o sinal tocou, indicando que as aulas retornariam.

— Me desculpa, amor — Falei para Luan, quase encostando em sua mão, mas ao me recordar que estávamos em público, me limitei a tocar seu ombro.

          Ele deu o melhor sorriso que conseguiu. Sabia que aquilo tinha deixado Luan ainda pior. Meu namorado estava muito mal, e por hora não tinha o que ser feito.

🏏

          Se passaram alguns dias desde então. Nesse período, Leh e eu nos dedicamos a pesquisar mais a respeito do processo de emancipação. A depender do caso, a solicitação poderia ser aceita bem rápida. Mas, nosso cenário não era tão favorável.

          Como poderia chegar no James e dizer: "Oi James, será que é possível você gravar seu pai te batendo quando ele chegar bêbado em casa?" Ainda mais quando ele permanecia sem responder ao Luan. Meu namorado, por sua vez, continuava baixo astral e distante. Nem se alimentando direito ele estava de tanta preocupação com seu melhor amigo.

          Entretanto, esse cenário mudaria totalmente naquela tarde. Enquanto eu varria o meu quintal, um tempo após chegar da escola, ouvi o portão de casa sendo aberto ao meu lado. Sabendo que não eram meus pais, afinal eles só chegariam de noite naquele dia, estendi o cabo da vassoura para frente do meu corpo em direção ao portão, com medo, a fim de usá-lo como arma de defesa para quem quer que fosse.

          Não se tornou necessário, todavia. Afinal, quem estava adentrando meu terreno era justamente o Luan. Suspirei aliviado ao constatar de quem se tratava, ao mesmo tempo que me arrependia amargamente de não ter reavido a chave de casa dele após ele ter parado de morar conosco.

— Meu Deus, Luan. Quer me matar do coração?

          Ao olhar para o jovem de camiseta preta em minha frente, percebi que ele estava trêmulo, muito mais do que eu.

— O que houve? — Perguntei preocupado, soltando a vassoura no chão.

— O James. Ele me respondeu — A voz carregada de lapsos por parte do Luan deixava claro que a resposta de James não trazia uma boa notícia. — A única coisa que estava escrito no SMS que ele me mandou era "Socorro".

          Senti meu coração gelar nesse momento. Para James chegar a esse ponto, depois de tudo o que já aguentou sozinho, algo muito sério havia ocorrido.

— O que eu faço, Kevin? Eu não faço ideia de como agir — Em choque, Luan estava cabisbaixo tendo uma clara crise de ansiedade diante de mim.

          Me postei em sua frente, segurando firme suas mãos.

— O que quer fazer, Luan?

— Não sei. Tenho medo de chamar a polícia, e piorar tudo. James sempre disse para eu não fazer isso. Mas a Leticia disse...

— Para, Luan. Não foca no que a Leh disse aquele dia — me mantive determinado. Ao menos um de nós dois precisava ter o controle da situação naquele momento. — Você quer ir lá, não é? Você quer esfolar a cara do maldito do pai dele, né?

— Eu quero. Mas isso seria jogar todo meu esforço sobre o controle dos meus picos de raiva no lixo. Você mesmo me disse para não resolver tudo na violência...

— Dessa vez não. Às vezes, temos lutas que precisamos travar para salvar quem amamos — me lembrei da vez em que Arthur usou uma arma para salvar minha vida naquela ponte. Foi justamente isso o que me deu gás para apoiá-lo.

          De igual forma, percebi que essa poderia ser a oportunidade de conseguir uma prova das violências domésticas sofridas por James.

— Ok, eu vou — Luan tentava reaver a sanidade enquanto processava a informação que precisava ser ágil. — Nenhum carro de aplicativo está respondendo meu pedido, parece que houve um acidente no centro e está tudo parado. Vou ter que ir para lá correndo mesmo.

— Espera aqui.

— Não tenho tempo, Kevin. Já faz quinze minutos que ele me pediu ajuda. Nem sei o que está rolando lá!

— Confia em mim, caramba. Só espera. Eu já volto.

          Sem que soubesse o que quis dizer com aquilo, Luan acabou cedendo. Por isso, corri o mais rápido que pude para dentro de casa. Subi as escadarias tão depressa, que quase caí no processo.

          Uma vez em meu quarto, corri para o canto dele onde meu skate repousava. De igual forma, peguei um grande embrulho em uma prateleira e joguei ambos os objetos na cama. Retirei a câmera que eu tinha em minha gaveta, e a coloquei dentro da minha bermuda. Ainda faltava algo. Dirigi-me então para o lado oposto, abaixando-me em direção ao baú trancado que tinha abaixo de minha cama. Empurrei-o em minha direção, destrancando seu cadeado ao colocar a senha.

          Ajoelhado, engoli em seco ao ver aquele taco de beisebol pela primeira vez em quase um ano. Sua superfície de madeira desgastada demonstrava o quanto ele já havia sido utilizado outrora, assim como as ranhuras profundas que aquele objeto pesado possuía. Mas o que mais se destacava nele, e aquilo que mais fazia pesar meu coração, era o nome entalhado em sua base: "Diego".

          Com os três objetos em mãos, retornei para o quintal onde Luan me esperava.

— O que é tudo isso? — Ele perguntou totalmente confuso, enquanto eu estendia o embrulho em sua direção.

— Isso era uma surpresa que eu estava planejando lhe dar. Comprei um skate com minha mesada para você, era um tipo de presente de aniversário extra atrasado.

          Luan abriu o embrulho, revelando um skate simples, com um deck de madeira laminado e alguns adesivos chamativos.

— Vamos usar nossos skates para chegar lá mais rápido.

— Vamos?

— É claro que irei contigo.

— E esse taco de beisebol? — Luan perguntou, enquanto colocava seu respectivo skate no chão a fim de montar nele.

          Sabia muito bem que a principal dúvida de Luan não era sobre o objeto em si, mas sim o nome intrigante de outro garoto em sua base. Mas aquele definitivamente não era o momento para desenterrar meu passado. Era algo tão profundo quanto as marcas de uso do bastão entre meus dedos, e nossa prioridade no momento nada tinha a ver com o Diego.

— Você tem seus punhos para se defender, Luan. Já eu sou fraco. Por isso, essa é minha arma de defesa — falei determinado, mas não consegui escapar de uma risada abafada de meu namorado. Ao menos, consegui fazê-lo sorrir, mesmo que momentaneamente.

          Devidamente preparados, saímos de minha residência e começamos a correr pelas ruas com nossos respectivos skates. Com o taco de beisebol em mãos e o vento batendo em meu rosto, mantive-me concentrado para chegar à casa de James o mais rápido possível e resgatá-lo com vida. Algo que não consegui fazer com o Diego...

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro