30. O Escolhido
O dedo no gatilho estava pressionado, com o revólver apontado em direção aos meliantes que nos rondavam. Arthur estava com uma distância considerável daqueles que o atingiram anteriormente, o suficiente para conseguir atirar neles, se assim se tornasse necessário.
Apesar de sua ameaça, um dos homens próximos a mim agarrou a gola de minha camisa, me segurando firme e usando-me de refém.
— Vai querer mesmo que eu atire?!
— Olha ao redor, otário. Vai ser moleza desarmá-lo. — Um deles tentou transparecer confiança.
— Pode até ser. Mas até lá, mando um ou dois de vocês para o inferno comigo. Será você? — Arthur apontou a arma agora para aquele que lhe dirigiu a palavra. — Ou quem sabe você? — Agora apontou para um mais próximo dele.
Um tanto quanto frustrados, os homofóbicos diante de nós perceberam que estavam em clara desvantagem. A contragosto aquele que segurava minha camisa me empurrou com força para frente, e então todos correram pela ponte, conforme a arma ainda estava direcionada às suas costas.
Uma vez que os agressores sumiram de nossas vistas, Arthur, percebendo que não tinha mais o que temer, guardou a arma de volta em sua cintura. Foi então que percebi que o objeto que senti em meu quadril durante nosso beijo foi justamente a arma.
— Você está bem? — Arthur se aproximou.
Eu estava em choque. Era a primeira vez que sofria um ataque homofóbico. Mais importante do que isso, o cara com quem estava saindo estava portando uma arma de fogo! Já nem sabia mais quem ele era.
— Isso só pode ser brincadeira. Por que sempre me envolvo com caras problemáticos? — Sibilando atordoado, virei as costas e me afastei pela ponte, seguindo caminho pelo lado oposto à qual os agressores haviam ido.
Usei a lanterna do celular para iluminar o caminho escuro, não querendo ser surpreendido por mais ninguém. Arthur me seguia igualmente apressado.
Ele tocou meu ombro e me puxou para trás, de forma um pouco brusca. Recuei levemente, mesmo me virando para encará-lo.
— Kevin, deixa eu explicar.
— O que há para ser explicado sobre estar com uma arma de fogo? — confrontei, com os braços cruzados.
— Essa arma é do meu pai. Ele é policial.
— Ah, entendi. Estou descobrindo agora que filhos de policiais andam armados com as armas de serviço dos pais. — Minha voz soava irônica e apreensiva ao mesmo tempo.
— Não é bem assim, Kevin. Meu pai tem armas particulares guardadas em um cofre em casa, não é essa que ele usa no trabalho. Então, ele nem percebe quando eu a pego. Ele não pode nem sonhar que eu ando com isso.
Aquela explicação não me convencia. Ele estava apenas dizendo de onde conseguiu a arma, não por que estava a portando.
— Por que anda com ela?
— Por quê? Eu ando por toda parte dessa cidade, já te falei. Costumo me meter em lugares perigosos mais do que você imagina. Além disso, ser gay assumido e sair para se beijar à noite é quase um convite para ser atacado. Neste mundo em que vivemos, ou encontramos uma forma de nos proteger e mostrar que não somos alvos fáceis, ou acabamos a noite em uma mesa no necrotério.
Não. Aquela não era a solução para os problemas do mundo. Um erro mais outro não resultava em subtração, mas sim em soma. Mesmo sabendo que Arthur passou por situações ainda piores, andar armado não era a maneira correta de lidar com isso.
— Isso não resolveria nada, Arthur. Você atiraria, eles iriam vir para cima de você, e aí a desgraça seria pior.
— Kevin, eles iam te matar! Se eu não fizesse nada, você acha mesmo que sobreviveria à queda? — Diante de suas palavras, meus olhos foram sutilmente atraídos para baixo da ponte. A altura era assustadora. — Este córrego não é fundo o suficiente para amortecer sua queda.
Odiava admitir, mas Arthur tinha razão. Embora tenha ficado nervoso ao saber que ele estava armado, de certa forma, ele realmente salvou minha vida naquela noite.
— Olha, Kevin, sinto muito mesmo por não ter te contado sobre a arma. Também peço desculpas pelo ataque. Eu não fazia ideia de que alguém apareceria aqui. — Com um tom mais calmo, Arthur se aproximou, sua mão tocando gentilmente meu rosto. Aceitei sua proximidade e seu toque, pois não via maldade nele.
— Você não leva isso para a escola, certo? Seria realmente problemático se o fizesse. — Questionei com um tom manhoso, mas me sentindo mais inclinado a perdoá-lo.
— Claro que não, Kevin. Que tipo de pessoa você acha que sou? — Ele continuava acariciando minhas bochechas. — Você me perdoa?
Não tinha como não o perdoar. Podia não concordar com seus métodos, mas de certa forma não tinha feito nada de errado comigo. Arthur estava apenas se defendendo. Ou melhor, "me" defendendo.
Assenti com a cabeça, recebendo um sorriso contagiante dele. Sua cabeça agora se encarregou de nossa proximidade. Mais uma vez, seus lábios encontraram os meus. E mais uma vez, fui transportado para outro mundo. De olhos fechados, só conseguia imaginar a boca de Luan na minha. Se eu me esforçasse, poderia me entregar completamente ao beijo de Arthur, fingindo que era meu ex ali. Mas era difícil apagar completamente a ideia de que não era ele quem estava lá.
Dessa vez, entretanto, Arthur pareceu perceber minha hesitação, separando seus lábios dos meus de repente.
— Sabia, você não me perdoou de verdade. Desculpa, Kevin, o lance da arma estragou todo o rolê...
— Não é isso, Arthur! De verdade, estou tranquilo quanto a isso.
— Eu nunca te machucaria. Não precisa ter medo de mim.
— Eu sei.
— Então o que houve?
Por um instante, congelei. Sabia que precisava ser sincero com Arthur. Ele não merecia ser enganado, mas expressar isso era difícil, pois sabia que magoaria ele.
— Me desculpa, Arthur. — Cabisbaixo, fixei nossos tênis acima da ponte, respirando fundo antes de voltar o olhar para ele. — É sobre aquele cara que mencionei mais cedo. Ainda sinto algo por ele. Foi tudo muito recente, pensei que estava pronto, mas no fundo não estava.
Da mesma forma que me doeu terminar com Luan, a forma como a expressão de Arthur desmoronou diante das minhas palavras me machucou profundamente.
— Não consegue mesmo esquecer esse babaca?
— Eu queria muito. Você é incrível, e ele é um tremendo idiota. Se eu pudesse controlar isso, apagaria Luan do meu coração.
Puta merda! No exato momento em que mencionei o nome de Luan, percebi o erro que cometi. Nunca havia mencionado o nome do meu ex para ele antes. Enquanto meu rosto exibia choque com minha própria gafe, Arthur lançou um sorriso forçado. Acho que no fundo, estava meio óbvio que Luan era meu ex.
— Não se preocupa, Kevin. Mesmo odiando aquele mauricinho por me roubar o cara que gosto, não vou sair espalhando por aí que ele é gay.
— Bissexual, na verdade.
— Que seja. Azar dele e do seu sigilo. E não se preocupe, não sou do tipo que sai atirando em quem dá em cima do cara que gosto. — Arthur riu descontraído, embora a dor ainda pesasse em seus ombros. Acabei rindo junto com ele a fim de amenizar o clima tenso.
Mal sabia eu que, em algum momento no futuro, sua promessa seria posta à prova...
— Desculpa de verdade, Arthur. Não vim aqui com a intenção de te usar para fazer ciúmes nele, nem mesmo para tentar esquecê-lo. Pelo menos, não conscientemente. Só não consegui me desprender totalmente dele.
— Eu só acho que ele não te merece. Um dia, mais cedo ou mais tarde, você vai perceber isso. Eu gosto de você de verdade, Kevin. E no dia que perceber que posso ser tudo o que você precisa, estarei por aqui.
Forcei um sorriso, tentando me tranquilizar pelo fato de Arthur demonstrar ser alguém resiliente. O impacto das minhas palavras parecia ter sido forte, mas ele já se mostrava firme e pronto para não desistir. Talvez ele tivesse razão, afinal.
— Não posso te garantir isso. Não sei quando, ou se um dia, irei esquecer o Luan. Então não fique esperando por mim, Arthur. Embora, seria ótimo se tivéssemos nos conhecido antes. Acho que teríamos sido ótimos juntos.
Um silêncio se estabeleceu por alguns instantes.
— Posso te dar um abraço?
Ele não respondeu com palavras, mas um leve sorriso em seu rosto indicava que aceitava meu pedido. Então, dei um abraço apertado no garoto em minha frente.
— É uma droga estar tão perto de você e não poder te beijar mais. — Ele falou durante o abraço, enquanto eu passava minhas mãos por suas costas.
Assim que nos separamos, ele soltou um suspiro longo.
— Posso te levar até o ponto de ônibus?
— Claro. — Falei com um sorriso em meu rosto. — Ainda seremos bons amigos.
Arthur não disse nada. Seguimos o caminho de volta, agora mais atentos a qualquer estranho que pudesse surgir. Trocamos poucas palavras no trajeto, e não consegui discernir se ele estava apenas cansado ou chateado. Quando adentrei, com sorte, no último ônibus da noite, eu e Arthur nos despedimos.
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Cheguei em casa tarde da noite. Tive sorte de meus pais estarem viajando e não estarem presentes para me dar uma bronca pelo horário. Estava tão cansado que ignorei o dinheiro na mesa, que minha mãe havia deixado para eu pedir uma pizza. Talvez eu deixasse para pedir no domingo.
Mas naquele dia, só queria cair na cama. Estava exausto, tanto que nem tomei banho quando cheguei. Me estirei na cama com a mesma roupa com que saí, sem nem tirar os tênis.
Me senti patético ao lembrar das vezes em que Luan esteve ali, dormindo na minha cama. Pior ainda foi quando decidi cheirar o travesseiro, buscando algum resquício do seu cheiro. Que bobagem. Aquele travesseiro já havia sido lavado, não havia nada de Luan ali.
Mesmo com o sono quase me dominando, não conseguia dormir. A agitação do dia martelava na minha cabeça. Arthur era tão doce, divertido e autêntico. Gostaria de ter conseguido me entregar a ele de paixão. Mas ainda sentia que estava traindo, não o Luan em si, mas a mim mesmo, fingindo ter sentimentos pelo meu colega de teatro, quando na verdade estava totalmente entregue ao rebelde da escola.
Outra coisa que perturbava meus pensamentos era o bullying que sofremos naquela ponte. Sabia que o mundo era cruel com pessoas como nós, que fugiam do padrão tradicional, mas vivenciar aquilo era cem vezes pior do que havia imaginado. Nossa existência parecia uma ofensa para eles, o suficiente para nos agredirem. Odiava isso, odiava minha incapacidade de fazer algo a respeito. Talvez Arthur não estivesse tão errado em ter uma arma para se defender dessa gente...
Estava entrando na primeira fase do sono, aquele estado entre estar acordado e adormecido. Eu estava prestes a apagar completamente, quando um som repentino me despertou abruptamente. Alguém estava cantando, e o som de um violão também chegou aos meus ouvidos.
Um tanto confuso e irritado, me levantei da cama e fui em direção à janela do meu quarto, pois o som vinha de fora. Se meus vizinhos estavam dando uma festa naquele horário, pode apostar que eu ia "soltar os cachorros" para cima deles.
Meus olhos castanhos se abriram imensamente ao ver quem estava cantando em frente ao meu portão. Da minha janela, eu conseguia ver claramente a rua em frente à minha casa por cima da árvore do meu quintal. E lá na calçada, tocando um violão e cantando uma música piegas em espanhol sobre arrependimento e ser moleque, estava a razão de todo o meu ódio. Luan estava fazendo uma serenata para mim!
Ele me viu abrir a janela, e também notou quando saí de frente dela. Acho que percebeu que não iria ignorá-lo, pois não fechei a janela após abri-la. Por isso, Luan continuava a cantar, sem se importar com o barulho que causava ou com a hora tardia. Ele podia até ser habilidoso com os instrumentos, mas definitivamente não tinha uma voz muito boa para cantar. Luan estava completamente desafinado.
Decidi sair de casa determinado a encontrá-lo, mas não antes de pegar algo no meu quintal e desenrolá-lo antes de abrir o portão.
https://youtu.be/IpdGyN7BcMM
— Y la verdad es que no soy tan furte como lo pensaba. Mi voz se quiebra, estoy temblando de miedo. Pues sin ti no soy nada.
O sorriso radiante do garoto de olhos verdes, vestindo um moletom e usando um chapéu de sombreiro, se abriu instantaneamente quando surgi em sua frente. No entanto, seu sorriso foi literalmente "apagado" quando jatos de água da mangueira em minhas mãos foram direcionados para ele. Continuei molhando-o, sem me importar com a força da pressão da água que derrubou seu chapéu. Azar o dele; podia considerar isso uma "vingança" depois de ter feito algo semelhante ao usar um extintor de incêndio contra mim.
— Espera, Kevin! — Luan suplicou, mas seu pedido foi ouvido e ignorado com sucesso. — Molha só eu, senão vai estragar o violão.
Luan lançou o violão em direção ao muro da minha casa e então estendeu os braços para os lados, pronto para ser ainda mais encharcado. Eu não fazia ideia de que água poderia danificar um violão. Na verdade, sequer sabia que Luan tinha um desses instrumentos; eu só sabia sobre a guitarra que ele possuía.
Vendo que ele já estava completamente molhado, respirei fundo antes de abaixar a mangueira. Me inclinei em direção ao meu quintal, fechei o registro e então joguei a mangueira para dentro. Voltei então minha atenção para o garoto à minha frente, com meu olhar inquisitivo.
— Você enlouqueceu de vez, Luan?! Meus pais poderiam estar em casa e ter ouvido toda essa patacoada.
— Eles não estão?
— Não. Viajaram. Mas esse não é o ponto.
— Bem, não importa. Eu não teria problema se eles me ouvissem me declarando para o filho deles.
Confesso que fiquei surpreso ao perceber que ele não sabia da viagem dos meus pais. Jurava que Leh já havia mencionado isso, e por isso Luan havia aparecido.
— Meus vizinhos também poderiam ter te ouvido e acordado. — Mantive minha expressão firme e inflexível.
— Parece que eles têm um sono pesado, porque nenhum deles apareceu. — Luan olhava ao redor da minha rua. De fato, todas as casas próximas estavam com as luzes apagadas, ninguém tinha saído de dentro de casa.
— O que você quer? — Cruzei os braços para mostrar que sua presença ali não era bem-vinda.
Apesar de agir assim, devo admitir que meu coração estava acelerado. Até então não conseguia parar de pensar nele. Ver Luan correndo atrás de mim reacendeu ainda mais a chama de um amor que nunca se apagou totalmente.
— Kevin, eu achei que conseguiria. Pensei que te ignorar e respeitar sua decisão de terminar fosse algo que o tempo lidaria. Mas manter distância da melhor pessoa da minha vida só me machucou ainda mais. Ontem, quando te vi saindo da escola com aquele garoto, uma onda enorme de ciúmes me dominou. Sei que é bobagem, claro que ele era só seu amigo e não rolou nada entre vocês. Mas ainda assim, me senti enciumado. Agora entendo os ciúmes exagerados que você sempre sentiu por mim. — Ele deu uma risada sem graça.
— Bem, eu e o Arthur saímos para um encontro hoje. E nós nos beijamos. Então, não, seus pensamentos de ciúmes não foram infundados.
Luan ficou atônito com minha revelação. Levou alguns segundos até que ele soltasse uma risada forçada.
— Que isso, Kevin? Não precisa inventar essas coisas para me provocar ciúmes não, eu já estou malzão mesmo sem essa provocação.
— Não estou mentindo, Luan. — Mantive minha postura firme. Confesso que talvez estivesse sendo muito duro com ele. — Eu realmente saí com ele e o beijei. A gente se deu bem. Não tem nada a ver contigo, mas também pode considerar isso como uma espécie de troco pelo que aconteceu com a Ashley.
— Não faz nem um mês que terminamos... — A indignação e o desespero transpareceram em sua voz. No entanto, no instante seguinte, Luan recuou, abaixando a cabeça. — Desculpa, Kevin. Eu sei que a culpa é minha. Se ele te faz feliz, é justo que fiquem juntos...
Cada palavra que ele dizia parecia ser uma punhalada em seu próprio coração.
— É uma pena que não consegui ir adiante com ele. — Eu disse, um tanto penoso. Os olhos esmeraldas de Luan imediatamente se encontraram com os meus. — Ainda estou apaixonado por um certo idiota, então tive que dar um fora no Arthur.
— Kevin! — Luan abriu um sorriso largo e verdadeiro.
— Não se iluda, Luan. Não ache que estamos resolvidos. Vi você com a Ashley alguns dias atrás, conversando em frente à escola.
— Eu errei de novo nisso, Kevin. Pensei que poderia me forçar a me apaixonar por ela. Seria a solução para os meus problemas, dar aos meus pais o que eles queriam, e de quebra tirar você da minha mente. Mas não consigo, e não quero mais isso! Vou consertar essa bagunça, só peço que me dê uma nova chance.
— Hum...
Relutei. Não sabia se deveria ceder. Ainda amava Luan com todo meu fervor, desejava tê-lo de volta mais do que tudo. Mas isso não significava que tinha certeza de que tê-lo de volta seria a melhor decisão.
Luan retirou a mão no bolso de sua calça jeans, revelando duas alianças na palma de sua mão.
— Não consegui jogá-las fora. Você conheceu um Luan que ninguém mais conheceu. Você foi o único capaz de me fazer deixar de ser aquele moleque retraído e distante. Eu me abri completamente para você, porque Kevin Drummond é a única pessoa que amo no mundo. Sei que ainda tenho meus receios, e não estou pronto para lidar completamente com as consequências de gostar de garotos, mas quero dar o primeiro passo. — Luan colocou uma das alianças em seu próprio dedo anelar da mão direita. — Se aceitar me ter de volta, quero usar a aliança no lugar certo.
— Luan, usar a aliança assim vai levantar perguntas sobre sua sexualidade quando as pessoas notarem que estamos usando um par igual — mencionei, surpreso com sua atitude.
— Não importa. — Ele balançou a cabeça enquanto segurava a outra aliança com as pontas dos dedos, dirigindo-a a mim. — Não me importo mais com o que dizem. Eu te amo, Kevin. A única opinião que me importa é a da pessoa com quem quero passar minha vida.
Apesar de esperar minha resposta, não consegui dizer nada. A aliança ainda estava estendida em minha direção.
— Só percebi o quanto te amava quando te perdi. O vazio que ficou sem você. — A voz de Luan estava embargada, lágrimas escorrendo de seus olhos involuntariamente. — Não vejo você apenas como um namorado, Kevin. Você é a pessoa mais incrível que já conheci. Percebi que era amor de verdade quando me peguei imaginando casar contigo no futuro. E, mais ainda, quando percebi que havia estragado tudo.
Suas lágrimas caíam incontrolavelmente. Meu coração batia forte.
— Se não me quiser de volta como namorado, tudo bem, ao menos me aceite como amigo. Não suportaria uma vida sem ao menos a amizade do cara mais...
Interrompi suas palavras e seu choro com um beijo repentino. Meus lábios nos seus, minha língua explorando sua boca, acalmando sua ansiedade. Ao mesmo tempo, aquele era o melhor beijo da minha noite. Estava beijando o meu amor, aquele que nunca quis deixar partir.
Ao separar nossos lábios, nossas testas se encontraram. A testa molhada e os cabelos de Luan respingavam em mim, mas eu não me importava.
— Você me perdoa?
— Te perdoo, Luan. Você tem muita sorte de eu ser louco por você.
Ambos sorrimos um para o outro. Dessa vez, fui eu quem recebeu um beijo dele. A maciez de seus lábios e a sensação de estar molhado me fizeram lembrar da primeira vez que nos beijamos sob a chuva. O beijo de Luan tinha algo que o beijo de Arthur não tinha: amor envolvido entre nós dois. Isso tornava o beijo muito mais especial para mim do que apenas algo dado no calor do momento.
Luan colocou a aliança no meu dedo anelar, entrelaçando nossas mãos no ar.
— Eu te juro, nunca mais vou te magoar.
— Pois não vai mesmo, porque se o fizer, não me importa que você é grandão nem que treina boxe. Eu vou te dar uns belos sopapos.
— Se eu te magoar de novo, eu mesmo me encarregarei de socar minha própria cara. — Ele sorriu enquanto me abraçava, me molhando no processo.
Abraçado a ele, percebi um carro preto estacionado a poucos metros de distância de minha casa. A princípio, pensei que estivesse vazio e ignorei, mas ao notar um homem suspeito no banco do motorista nos observando, soltei Luan.
— Vamos entrar. Você precisa tomar um banho quente. — Falei, buscando uma desculpa para sairmos dali. Afinal, depois do que passei mais cedo com aqueles valentões na ponte, estava um pouco traumatizado.
— Eu adoraria, Kevin. Mas, como te falei, quero resolver isso de uma vez por todas. Vou ver a Ashley e deixar claro que não haverá casamento. Também darei um basta definitivo em meus pais e suas intimidações.
— Entendo. — Respondi, mantendo meu olhar fixo no carro.
Luan percebeu minha suspeita e se virou também, mas não pareceu preocupado.
— Ah, aquilo? Não se preocupe. Eu vim aqui com esse carro de aplicativo e pedi para ele me esperar.
Sua resposta me surpreendeu. Se ele estava lá, com certeza estaria cobrando também pelo tempo parado. Além disso, Luan fez uma serenata para um garoto na frente de um estranho. Ele definitivamente estava determinado a me reconquistar.
— Eu só queria saber se você está disposto a ir comigo? — Ele perguntou, um pouco acanhado. — Eu faria isso de qualquer maneira, mesmo se você tivesse me rejeitado. Mas, estar com você me dá coragem. Eu queria ter meu namorado ao meu lado.
— Claro que vou, Luan.
Ambos sorrimos. Luan pegou seu violão do chão e o sombreiro enquanto eu trancava meu portão. Nós dois começamos a atravessar a rua.
— Se você tivesse dito não sobre voltarmos, eu não teria insistido mais. — Luan comentou. — Só precisava ter certeza de que você não me amava mais, para desistir de vez. Não insistiria nem seria tóxico como aquele babaca do Christian. Pensei que tivesse te perdido.
— E você me perdeu. — Respondi, abrindo a porta de trás do veículo. — Mas teve sorte de correr atrás enquanto ainda havia tempo. — Sorri para Luan ao entrar no carro.
— Ei, você está molhando meu banco! — O motorista advertiu Luan, irritado. — Irei cobrar a mais por isso.
— Adicione na conta. Aqui está o endereço. — Luan entregou um papel ao motorista ranzinza, que balançou os ombros enquanto começava a dirigir pelas ruas noturnas.
— De onde vai tirar tanto dinheiro para pagar essa corrida? Vai sair caro para burro. — Perguntei ao garoto ao meu lado.
— O restante do dinheiro que sobrou daquela aliança que vendi da minha avó. — Luan respondeu, sem dar muita importância. No fim, ele havia gastado tudo o que ganhou de herança comigo.
Percebendo minhas olheiras pesadas e meus olhos quase se fechando de tanto sono, Luan sugeriu:
— Vai demorar até chegarmos. Descanse um pouco até lá.
Sem pedir permissão, Luan retirou o violão do seu colo e o colocou no banco ao lado do motorista e, em seguida, empurrou minha cabeça para o seu colo.
O gesto repentino dele me surpreendeu, mas logo me acalmei conforme ele deslizava seus dedos em meus cabelos. Minha cabeça descansava em seu colo, e Luan não parecia se importar com o que o motorista pensaria daquilo.
De olhos fechados, senti gotas caírem em meu rosto. Abri discretamente os olhos, apenas para perceber que Luan voltou a chorar. Não pareciam lágrimas de tristeza. Ele estava feliz por me ter de volta. Fechei os olhos novamente antes que ele percebesse, não me importando de ter meu rosto molhado com suas lágrimas.
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Achei fofa essa versão da capa do capítulo, então coloquei aqui embaixo também porque sim.
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