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14. Simpatia Pelo Diabo

          A tensão naquele quarto era notável. A perplexidade dos dois garotos à minha frente era semelhante, embora com uma sutil diferença. Luan estava apavorado após ser visto com outro garoto, enquanto seu irmão mais velho nos observava sob seus óculos de armação redonda com um olhar de repulsa.

— Por que entrou no meu quarto sem bater, Liam?! — Luan confrontou, tentando desviar o foco de nós dois.

          Repentinamente, Liam, o irmão mais velho, inclinou a cabeça para trás e soltou uma gargalhada exageradamente alta e maquiavélica. Seu sorriso se estendeu em seu rosto, como se tivesse coringado.

— Brigar na escola, tudo bem. Ter que conviver com gente inferior, okay. Mas agora deu de ficar com outros caras? O que é isso, irmãozinho? Está tão na seca que precisou apelar para isso? E, ainda mais, com um miserável desses?

          Era nítido como Liam me olhava com seu ar de superioridade. Minhas vestes, embora novas, para aquele círculo da alta sociedade, eram como se dissessem que eu era um mendigo.

          Pude perceber Luan fechando o próprio punho com força, ao ponto de deixar marcas de unhas em sua mão, tudo isso apenas para não sair no soco com seu irmão.

— Papai vai adorar saber disso.

— Sabe também o que papai vai adorar saber? Que o filhinho mais velho dele é um cheirador de pó — Luan soltou seu trunfo, confiante de que seria suficiente para fazer seu irmão mais velho se calar.

— D-Do que está falando?! — Liam havia ficado pálido, fingindo não saber do que seu irmão caçula se referia.

— Não se faça de desentendido. Acha que não sei que você anda usando drogas escondido? Já vi mais de uma vez. Mas sempre deixei baixo, se algum dia precisasse usar isso contra você. Entrou no meu quarto por quê? Anda escondendo as drogas que você usa aqui?

          Liam semicerrou os dentes em cólera. Agora era Luan quem sorria confiante.

— Se você abrir a boca, eu mato você! — Liam deu alguns passos em direção ao Luan, apontando o dedo indicador para ele.

          No entanto, antes que eu precisasse intervir, uma nova pessoa surgiu diante da porta. Com longos cabelos castanhos que iam até a altura do quadril, trajando uma calça de alfaiataria em tom neutro e uma blusa moderna, a adolescente na batente da porta olhava para o interior do quarto, tentando entender o que estava ocorrendo.

— Oh, Luan? Já faz muito tempo desde a última vez. — Era a irmã deles. Ela olhou ao redor do quarto minuciosamente, até que seus olhos esverdeados pousassem em minha pessoa.

          Assim como o irmão mais velho deles, ela demonstrava algum tipo de preconceito com a minha aparência. Não que eu ligasse para o que aquela patricinha pensasse ou deixasse de pensar ao meu respeito.

— Adivinha, Laura. — Sorridente, Liam se aproximou dela, como se estivesse prestes a soltar um furo de manchete que abalaria os jornais. — Eu entrei aqui, e vi nosso irmão mais novo dando a bunda para esse aí.

          Liam abanou a mão em minha direção, como se eu fosse um qualquer.

— Não foi bem assim! Nós só estávamos nos beijando. — Tentei nos defender, mas ao ver Luan batendo a mão na própria testa, percebi meu vacilo. Eu havia admitido para ela que estávamos nos pegando.

          Laura estava em choque. Sua boca fina e avermelhada pendeu para baixo diante das revelações. Nós três olhamos em sua direção, esperando qual seria o próximo passo dela ao saber que seu irmão mais novo estava ficando com um garoto.

— MAMÃE!! — Laura berrou, sua voz outrora calma e pacífica, agora parecia uma chaleira apitando de tão alta e irritante.

          Luan deu passos firmes em direção à sua irmã, puxando o braço dela com demasiada força e a trazendo para dentro do quarto. Mesmo em desespero, Luan sabia que precisaria ser ágil para remediar a situação.

— Você não vai falar uma vírgula para nossos pais.

— Não vou? Melhor pensar de novo, Luan. O que tenho a perder? Pelo contrário, assim que eu contar que você é gay, será um a menos para dividir a herança. Você claramente será deserdado.

— Pois quem tem que pensar melhor é você, Barbiezinha. Certo dia, quando você estava fora, entrei no seu quarto pela janela e fui xeretar lá. E adivinha o que encontrei na escrivaninha? Suas correspondências. Incluindo a carta de trancamento da faculdade. O que nossos pais vão dizer quando souberem que já faz oito meses que a filha adorada deles trancou o curso de medicina? E agora fica passeando e fazendo compras com o cartão de crédito deles, nos horários que eles pensam que você está estudando.

          Diante da revelação de Luan, Laura empalideceu, oscilando entre o choque e a raiva contida. Um silêncio tenso pairou no quarto enquanto ela processava a ameaça iminente.

— Não... não pode ser verdade. Você não tinha o direito de invadir minha privacidade! — Laura articulou, sua voz carregada de indignação.

— Se a verdade dói, minha cara, a culpa é sua por esconder sujeira debaixo do tapete.

— Você não tem como provar isso!

— Quer pagar para ver? Pois podem apostar que se eu cair, eu levo vocês dois comigo. — Luan alternou o olhar entre seus dois irmãos, deixando claro que o jogo de ameaças havia virado.

— O que está ocorrendo aqui? Quanto alvoroço sonoro.

          Nós quatro nos viramos, revelando a figura materna daqueles três. A mãe de Luan, uma mulher de elegância inegável, adentrou o quarto inicialmente com uma expressão serena.

          Seus cabelos castanhos caíam em ondas delicadas pelos ombros, emoldurando um rosto que carregava traços de uma beleza clássica. Vestia um conjunto impecável, um tailleur que destacava sua postura exorbitante. Seus olhos verdes, no entanto, rapidamente captaram a atmosfera carregada do quarto.

— Mãe, o Luan e esse garoto...! — Liam deu alguns passos em direção a matriarca da família. Luan e Laura olharam para ele possessos, afinal se abrisse o bico, o segredo dos demais também seria exposto. — Digo, Luan trouxe esse amigo dele para jantar conosco hoje à noite.

          O olhar da mulher desviou sutilmente na minha direção, evidenciando que, assim como seus filhos, também estava me julgando, como se eu não fosse digno de pisar em sua residência. Luan pareceu suspirar aliviado ao ver que seu irmão não o denunciou.

— Na verdade, não quero causar incômodos, dona Vivian — disse, recordando o nome dela, que Luan mencionara por acaso em outra ocasião. Tentei fugir do convite forçado, desejando apenas sair daquela mansão o mais rápido possível.

— O jantar será servido pontualmente às sete — Vivian ignorou minha recusa, falando de maneira quase robótica e neutra. — Luan, mais tarde teremos uma conversa sobre seus sumiços constantes. E, bem, trate de vesti-lo apropriadamente.

          Ela poderia ter poupado os comentários sobre minhas vestimentas antes de deixar o quarto! Assim que a mãe de Luan saiu, Liam e Laura seguiram seus passos com pisadas firmes, claramente frustrados por estarem nas mãos de Luan diante de sua intimidação.

          Luan se aproximou da porta, a encostando para garantir que ninguém mais nos escutaria.

— Foi mal, agora você vai ter que ficar — Luan se desculpou, encostado na porta. Balancei a cabeça, indicando que estava tudo bem.

          De todos os males, esse era o menor. Ao menos, Luan não teria nosso segredo exposto. Só Deus sabe o que seus pais conservadores fariam se descobrissem que estávamos nos pegando.

— Acha que vão ficar calados sobre o que viram?

— Eles prezam a todo momento pela aceitação de nossos pais. Não correriam o risco de decepcioná-los. Nisso, podemos ficar tranquilos.

          Dei um sorriso reconfortante para ele, meu olhar pousando na parede ao seu lado, onde um chamativo relógio cuco marcava quatro horas da tarde.

— Falta bastante tempo ainda — comentei.

— Bom, pelo menos podemos passar mais tempo juntos, até o horário desse inferno que será esse jantar.

          Aproximei-me dele, ciente de que era melhor evitarmos nos beijarmos ali para evitar sermos vistos novamente. Estendi meus braços em volta de seu pescoço, abraçando-o. Enquanto nossos corpos pareciam se fundir, sentia-me reconfortado com o calor do corpo daquele garoto. Certifiquei-me de oferecer a ele o mesmo reconforto, passando minha mão em sua cabeça, afagando seu cabelo macio.

          Ao nos separarmos, notei o sorriso bobo dele.

— O que faremos até lá? Você mencionou que não tem videogames, né? — Perguntei, observando a decoração ao redor enquanto caminhava pelo quarto.

— Não. Meus pais sempre exigiram notas altas e blablabla. Sempre julgaram videogames como uma distração.

          A cada olhar ao redor, mais objetos incríveis pareciam se revelar diante de mim. Um aquário demasiadamente grande numa prateleira, alguns livros em outras, e figures certamente caríssimos. Contudo, minha maior surpresa foi ver, anexada na parede acima de seu skate, uma guitarra vermelha.

— Minha Gibson Les Paul — Luan retirou a guitarra da parede com um orgulho evidente. — Dentre todas as coisas materiais que meus pais já me deram, essa é a única que faço questão de manter. É o meu xodó.

— Eu não sabia que você tocava guitarra — Comentei, admirando o instrumento em suas mãos. Na ocasião, eu não tinha ideia da magnitude que uma Gibson carregava.

          Luan se acomodou na beirada da cama, a Gibson Les Paul descansando sobre seus joelhos. Ele começou a ajustar os controles na guitarra, afinando-a cuidadosamente. Em seguida, levantou-se e foi até um amplo armário, de onde retirou um amplificador. Conectou a guitarra ao amplificador com um cabo, enquanto eu observava curioso, sem entender completamente o procedimento.

— Comecei a aprender a tocar quando descobri que tinha desenvolvido ansiedade. Assim como o cigarro, a música reduz o meu estresse. Ainda não sou um expert, mas vou tocar uma para você — Luan deu um sorriso travesso diante de seu trocadilho, antes de começar a dedilhar as cordas da Gibson.

— O barulho não vai incomodar as pessoas da casa?

— Isolamento acústico — Luan apontou para as paredes, indicando que nenhum som daquele quarto escaparia para o resto da casa. Ser rico era realmente outro nível.

          Antes que ele começasse a tocar, decidi fazer um pedido próprio.

— "Sympathy for the Devil" dos Rolling Stones.

          Luan ficou surpreso com minha sugestão. Embora ele achasse que eu ainda fosse leigo no quesito musical, o próprio me incentivara a explorar mais músicas desde o dia em que ouvimos ACDC naquele carro.

          Atendendo meu pedido, começou a tocar esse solo na guitarra. O quarto se encheu com acordes cativantes. Luan mergulhou na melodia, tocando com paixão e habilidade, enquanto eu me deixava levar pela música, sentando-me ao seu lado na cama para apreciar o momento.

          Era deslumbrante acompanhá-lo entregando-se de corpo e alma, concentrando-se em deixar a música fluir entre seus dedos e a palheta que usava. Por mais algumas horas, ele tocou algumas outras músicas, tentando me ensinar alguns truques para tocar guitarra, embora, devo confessar, de nada adiantaram. Mesmo assim, foi uma forma reconfortante de passar minha tarde.

🎸

          Faltando uma hora para o jantar, Luan guardou finalmente sua guitarra em seu devido lugar.

— Precisamos nos arrumar.

— Precisamos? — Arqueei a sobrancelha. A mãe dele estava realmente falando sério quando disse que eu deveria me vestir adequadamente?

— Você tem quase a mesma altura que eu — Luan constatou, ao encostar seu ombro no meu. Fiquei meio sem jeito, afinal, mesmo com nossos beijos frequentes, eu ainda não estava acostumado a tocar em seu corpo. — Deve servir. Vem.

          Sem saber ao que ele se referia, Luan pegou em meu pulso e me levou junto a ele ao fundo do quarto, puxando uma porta de correr escondida que havia no local e adentrando o cômodo que surgia.

          O cômodo revelado era um closet gigante, uma extensão luxuosa do quarto de Luan. A iluminação delicada destacava prateleiras abarrotadas de roupas de grife, organizadas meticulosamente por cores e estilos. Um aroma suave de couro e tecidos finos pairava no ar.

          À esquerda, camisas alinhadas como soldados em suas araras, uma gama diversificada de cores e padrões. Embora, o preto fosse a cor predominante em seu arsenal de roupas. Ao centro, ternos impecáveis em tons variados, cada um parecendo ter sido feito sob medida. À direita, uma coleção impressionante de jeans e camisetas de marcas renomadas, exibindo casualidade com elegância.

          No centro do closet, um grande espelho retangular ocupava a parede, proporcionando uma visão completa dos trajes escolhidos.

— Acho que esse ficará bem em você — Luan estendeu uma camisa social branca de manga longa, deslizando a mão sob meu pescoço. Na outra mão, segurava uma calça social preta.

          Estava relutante em me vestir todo engomadinho, quando Luan falou:

— Aproveita, está com meu cheiro.

— Idiota — Ri de sua fala, pegando finalmente suas roupas e indo para um canto do closet para me trocar com privacidade.

          Ao retornar, deparei-me com Luan vestindo um smoking preto sobre uma camisa branca. Ele terminava de ajeitar as mangas, enquanto eu me sentava em um banquinho para calçar os sapatos sociais elegantes que ele havia separado para mim.

— Precisa de tudo isso só para um jantar? — Questionei, terminando de calçar os sapatos.

— Ainda não conheceu meu pai. Com ele é assim todos os dias, sem exceção. Ele é o verdadeiro "Diabo", que de simpático não tem nada. Melhor só dançarmos conforme a música deles por hoje, fazer vista grossa.

          Luan não parecia animado com o jantar. Confesso, nem eu estava. Ainda assim, percebi que ele precisava de meu apoio. Ergui-me, chegando por trás dele, encostando meu rosto em seu pescoço e sentindo seu cheiro. Pude notar ele se arrepiando com o ato.

          Ao reparar em nosso reflexo no espelho retangular à nossa frente, Luan fez menção de pegar algo em seu bolso, de forma que me desvinculei dele. Com seu celular em mãos, direcionou-o ao espelho e colocou a língua para fora. Entendendo o que ele estava fazendo, imitei seu gesto, nossos ombros se tocando. A luz suave do espelho realçava nossos reflexos enquanto fazíamos caretas e mostrávamos os dedos do meio para a selfie tirada por Luan.

🍽️

          Descemos poucos minutos antes das sete da noite. Ao chegarmos à sala de jantar, para minha surpresa, todos os demais já estavam em seus respectivos assentos, todos trajados formalmente.

          O único que eu não conhecia até então, mas que reconheci pelo retrato na escadaria, era o pai de Luan, que se encontrava ao centro da mesa. Ele tinha um longo bigode preto, que mais se assemelhava com uma taturana. Era o único membro da família que possuía cabelos grisalhos, embora não aparentasse ter mais do que uns quarenta anos. Sua expressão fechada, as rugas em sua testa e seus dedos cruzados sob a mesa deixavam claro que ele não era nada amigável. Quase podia enxergar nele um rabo se formar e chifres em sua testa, como se fosse o próprio Diabo.

          Ao lado direito dele, encontrava-se sua esposa, Vivian. E ao lado dela, seus dois filhos, respectivamente: Liam e Laura.

          Sem dizer nada, Luan dirigiu-se à cadeira ao lado esquerdo de seu pai, e eu, por minha vez, sentei-me ao seu lado.

— É um prazer conhecê-lo, me chamo Kevin — Estendi a mão sob a mesa, tentando cumprimentar o homem de bigodes ao centro dela. No entanto, minha mão permaneceu estendida, sem reciprocidade no gesto.

— Richard! — Vivian o advertiu pela falta de etiqueta.

— Ao seu dispor. Receio não poder encostar em sua mão, afinal, já lavei minhas mãos antes do jantar. Seria pouco higiênico de minha parte — Richard, o pai de Luan, respondeu sem nem olhar diretamente para mim.

— Ah.

          Me sentei, endireitando-me na cadeira. Havia vários talheres dispostos, e mais de um prato reservado para mim. Não sabia qual deles usar, tampouco se deveria me levantar e ir à cozinha eu mesmo me servir.

          Porém, não tardou para os empregados servirem as entradas, onde me vi confuso diante da sofisticação daquela experiência gastronômica. Um prato adornado com carpaccio de vieiras com trufas negras foi colocado diante de mim. Eu, acostumado a refeições mais simples, tentava assimilar a ideia de consumir carne crua.

          Peguei o garfo e a faca ao meu lado, seguindo o exemplo dos outros à mesa, e delicadamente levei as vieiras à minha boca. Entretanto, os olhares reprovadores ao meu redor me fizeram perceber que escolhi os talheres errados. Troquei-os pelo conjunto correto na mesa, mesmo que eu não conseguisse perceber a diferença entre eles.

          Durante o jantar, Laura tentou puxar conversa:

— Mãe, eu e Daisy estávamos no shopping mais cedo, e ambas ficamos apaixonadas por uma bolsa Louis Vuitton. A vendedora disse que só tinham aquela em estoque, e Daisy insistiu que queria levá-la. Mas acabei convencendo-a a deixar eu levar, desde que a convidássemos para ir a Paris conosco no fim do ano.

— Que bom, minha filha — respondeu a senhora Vivian, tomando um gole de vinho. Ficou claro para mim que até a própria mãe dela estava entediada com o assunto; apenas Laura não percebia.

          O mordomo se aproximou, garrafa de vinho em mãos, pronto para servir. Antecipei-me antes que ele pudesse despejar o liquido em minha taça:

— Não bebo vinho. Que tal um suco de maracujá? — Olhei ao redor, percebendo que mais uma vez me tornei o centro das atenções. — Sem maracujá? Aceito acerola, laranja ou até morango.

          O homem, meio sem jeito, afastou-se, permitindo-me retomar a degustação do prato de entrada.

— Pai, veja só. Fui reeleito como presidente do conselho estudantil da faculdade pelo segundo ano consecutivo — Liam se vangloriava, buscando elogios do pai. O senhor Richard, porém, apenas fez um gesto com o nariz enquanto balançava sua taça de vinho no ar.

— Entendo — Ele respondeu sem entusiasmo, antes de dirigir-se a Luan. — E você, Luan? Já faz um bom tempo que não jantamos juntos. Como está indo na sua nova escola? E quanto as suas notas?

          Liam pareceu incomodado com o fato de ser deixado de lado. Já Luan permaneceu em silêncio, fitando seu prato, criando uma tensão à mesa. Decidi intervir para amenizar o constrangimento:

— Luan está sendo o melhor aluno de nossa turma em matemática. Foi o único a tirar dez em nossa última atividade.

— Apenas em matemática? — Richard fixou seu olhar em Luan, não demonstrando orgulho. — Você veio dos colégios do mais alto nível de nossa cidade. Ainda assim, se equipara ou até está abaixo, em demais disciplinas, com os menos privilegiados?

          A atmosfera tensa permaneceu, e Luan, ignorando o olhar crítico do pai, continuou focado em seu prato, recusando-se a responder.

          Logo, um empregado retirou nossos pratos de entrada e serviu o prato principal: salmão selvagem com molho de laranja e gengibre. Desta vez, acredito ter escolhido os talheres corretos, mas ao tentar cortar o salmão, ele escapou do meu prato, voando para o centro da mesa, fazendo jus ao título de "selvagem". Constrangido, o recuperei com a mão, encarando olhares de espanto de todos os presentes.

— Luan, querido, ouvi dizer que em sua escola existem clubes nos quais os alunos devem participar — A senhora Vivian, levando a mão à própria orelha, tentou habilmente mudar o foco, buscando evitar a situação constrangedora que eu havia causado.

— Conte mais, Luan. Só espero que não tenha relação com basquete. Espero que já tenha tirado da cabeça esse esporte de marginais. Veja só, você mora no Brasil, quem tem futuro jogando basquete aqui? — O pai de Luan mais uma vez revelou seu lado autoritário.

          Agora eu entendia o motivo de Luan esconder a bola de basquete em seu quarto. Até mesmo seu esporte favorito era proibido pela família.

— Ele está no clube de poesias da escola — Me adiantei, surpreendendo até mesmo Luan.

          Tinha percebido que já havia causado constrangimentos demais para Luan aquela noite. Quase igual ao dia em que ele fez o mesmo comigo no sarau. A diferença é que agora tudo estava ocorrendo de forma involuntária. Queria ao menos tentar melhorar a imagem dele para os pais, e poesias parecia ser o mais aceitável para aquela família de alto padrão.

— Que maravilha! Finalmente tomando juízo — O pai de Luan respondeu com um sorriso radiante, e minha pequena mentira parecia ter surtido efeito.

          Ele então se virou, pegou um controle do bolso e pressionou um de seus botões em direção às persianas. Todos observamos atentamente enquanto as persianas se abriam automaticamente atrás dele.

          Pela janela, no jardim da mansão, avistamos uma Lamborghini azul que estava estacionada perto da fonte, iluminada pelas luzes externas da casa.

— Pai, por que sua Lamborghini está no jardim e não na garagem? — Liam perguntou confuso.

— Não é mais minha — O patriarca da família tirou a chave do veículo do bolso e a ergueu no ar. — Será de Luan. Sei que ainda faltam alguns meses para ele completar dezoito anos, mas, desde que ande na linha, e tendo em vista que temos um acordo que em breve será concluído, Luan precisa começar a andar como um Pimentel.

          Luan olhava incrédulo para aquela revelação, enquanto seus irmãos não pareciam gostar nada da notícia.

— Eu não quero — Luan recusou de imediato.

— Não quer? Do que está falando?

— Pai! — Liam chamou a atenção de todos. — Eu fui o primeiro a entrar na faculdade e não ganhei um carro sequer! Laura entrou depois de mim e ganhou uma Ferrari. E eu? Tudo o que ganhei foi uma viagem para Roma. Esse aí pinta o sete e ainda é recompensado?!

— Liam, não se meta. São situações diferentes — Richard fitou seu filho primogênito com um olhar intimidador.

— Rapazes, por favor. Temos visita, tenham modos — Vivian tentou acalmar os ânimos.

— Não se importem comigo — Falei, enquanto tomava o suco de maracujá recém-servido.

— Seu irmão mais novo tem um acordo a ser zelado, e por isso, ele precisa andar apresentável. Já sua irmã, entrou para a faculdade de medicina em primeiro lugar — Richard exclamou, tentando encerrar a discussão, mas longe de conseguir.

— E de que adiantou passar em primeiro lugar? — Liam riu debochado, provocando um olhar inquisitivo de sua irmã ao seu lado. — Tudo para quê? Para, no fim das contas, ela trancar o curso.

— Você fez o quê, Laura Pimentel Montenegro?! — A mãe deles perdeu a compostura, batendo a mão com força na mesa, visivelmente irritada com a notícia.

— Seu maldito! — Laura encarou seu irmão mais velho e, em seguida, seus pais. Ambos a olhavam com fúria. — Liam anda usando drogas com os amigos maconheiros dele!

          Liam, que estava tomando seu vinho, engasgou ao ouvir sua irmã entregá-lo.

— O que foi? Achou que eu também não soubesse? — Laura provocava com um sorriso no rosto, enquanto os olhares de reprovação dos pais se voltavam agora para ele.

          Enquanto os irmãos se atacavam, Luan continuava a comer calmamente, sem demonstrar reação. Richard e Vivian estavam abismados com as revelações. Os empregados tentavam manter uma postura neutra, mas era perceptível que enquanto disfarçavam seus olhares, suas orelhas estavam bem atentas. Eu, por outro lado, observava o caos se desenrolar, indo de um ao outro com o olhar.

— A escultura de gesso da vovó que tínhamos no jardim foi a Laura quem quebrou quatro anos atrás! — Liam começou a desenterrar o passado para se vingar dela.

— Sabem nossa antiga empregada, Margarida, que foi demitida quando éramos crianças porque suspeitaram que ela havia roubado seu anel de ouro, mamãe? Foi Liam quem o derrubou sem querer no vaso sanitário e nunca teve coragem de admitir!

          Os pais estavam prestes a surtarem com eles quando, em uníssono, os dois irmãos direcionaram o olhar para Luan:

— Luan estava beijando esse garoto! — Disseram ao mesmo tempo, apontando o dedo na minha direção.

          Dessa vez, fui eu quem se engasgou enquanto bebia o suco. Luan congelou o garfo no ar e, em seguida, o trouxe de volta ao prato. O olhar furioso de seus pais, especialmente o do senhor Richard, deixava claro que a notícia que mais o enfureceu, entre todas as outras, era justamente essa.

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