UM PÁSSARO PRESO
BOB
Assim que entrei em casa com a garota desmaiada no colo, fiquei muito preocupado e não sabia o que fazer com ela. Faltavam apenas duas horas para amanhecer e precisava pensar em alguma coisa para ajudá-la. Coloquei-a na cama, mas ela estava praticamente nua por baixo do paletó sujo, talvez um banho ajudaria, mas seu corpo estava todo machucado. Eu tinha até medo de tocar e piorar a situação, peguei uma toalha macia, molhei na água quente no banheiro e tirei a sujeira e o sangue seco que consegui, enquanto ela gemia e se contorcia de dor, mas estava tão esgotada que não abriu os olhos, nem protestou. Assim que terminei coloquei uma camiseta minha nela e a cobri com um cobertor.
— Preciso de ajuda, mas para quem vou pedir? — resmunguei sozinho andando de lado para o outro.
Só consegui pensar num nome quando sentei no sofá, puxei meu celular do bolso e digitei uma mensagem.
Preciso de ajuda, é urgente! Pode vir até o meu apartamento.
Agora!!
Sim, tem uma pessoa doente e preciso da sua ajuda.
Tudo bem, já estou a caminho.
— O que você aprontou dessa vez? — questionou a Helena, assim que abri a porta para ela entrar.
— Eu não fiz nada, mas preciso que você ajude alguém — falei saindo da porta e caminhando em direção a minha cama.
— O que aconteceu com a garota? — perguntou a Helena atrás de mim.
— Eu não sei, encontrei ela atrás de um beco num bar, ontem à noite.
— E você a trouxe para o seu apartamento?
— Sim, o que mais eu poderia fazer?
— Não sei, talvez chamar a polícia ou levar ela para o hospital mais próximo — sugeriu como se eu fosse estúpido.
— Sei disso, mas ela parecia querer fugir de alguém e antes de saber o que aconteceu com ela não quis arriscar.
— Tudo bem, onde eu entro nessa história? — questionou impaciente.
— Ela está muito machucada e precisa de um médico.
— Esqueceu que sou pediatra?
— Sei, mas ela não quebrou nada já verifiquei.
— Como sabe disso, você não é médico?
— Não sou, mas sei reconhecer quando alguém está com alguma fratura, já quebrei várias partes do corpo e sei bem como é.
— Entendo — bufou irritada.
— Eu preciso da sua ajuda mais como mulher do que médica, pelas marcas no corpo dela. Acho que foi estuprada — comentei nervoso, passando as mãos no cabelo.
— Se realmente aconteceu ela precisa ir à polícia e tomar um coquetel de remédios.
— Ela pode estar ilegal no país não quero arrumar problemas pra ela.
— Você tem razão, ela não parece alguém que veio passar as férias aqui.
— Com certeza não, tudo bem eu vou te ajudar. Mas só até descobrir o que aconteceu com ela.
— Eu aceito.
Sai dali e fui para a cozinha preparar o nosso café da manhã, fiquei entretido na cozinha enquanto a Helena cuidava da garota.
— Você tinha razão sobre o estupro, vou sair para comprar alguns remédios e já volto — comentou a Helena me surpreendendo.
— Puta que pariu! Esperava que estivesse errado, como vai conseguir os remédios? — perguntei preocupado.
— Tenho uma amiga que trabalha no hospital aqui, vou até lá explicar a situação e pedir uma receita.
— Por favor seja cautelosa, se a imprensa descobrir isso, estou ferrado.
— Claro, a médica é minha amiga pode ficar tranquilo.
Não acompanhei o que aconteceu depois que a Helena voltou com os remédios, era difícil olhar uma garota tão nova e toda machucada daquele jeito. Permaneci longe o máximo que consegui, mas quando a Helena precisou ir embora e ficamos sozinhos, precisei acalmá-la se não a garota sairia correndo do apartamento.
— Não se preocupe comigo, não vou machucar você — falei devagar e bem longe dela para não a assustar.
A garota não respondeu só se afastou de mim e voltou para a cama, não sei quem a machucou desse jeito, mas tenho certeza que se pegar o desgraçado vou arrebentar a cara dele.
Deitei no sofá para descansar um pouco, mas acabei dormindo cansado, depois de uma noite em claro. Ainda bem que estava acostumado a ficar noites sem dormir, mas de qualquer forma, o sono me pegou de jeito e dormi algumas horas seguidas. Acordei ao ouvir um barulho na cozinha e levantei assustado.
— Desculpe te acordar, mas estava com fome e vim procurar algo para comer, por favor me desculpe, por favor! — implorou a garota se encolhendo de medo.
— Não precisa pedir desculpas, pode comer o que quiser — disse deixando a cozinha e fui ao banheiro tomar banho. Talvez se eu demonstrar que não me importo, ela acabaria entendendo que eu não sou uma ameaça e não vai ter medo de mim. Ao julgar pelo tanto que seu corpo treme quando estou perto, isso vai ser bem difícil.
Ao terminar o banho, voltei ao banheiro para colocar minhas roupas, estava acostumado me vestir no meu quarto, mas acho que agora vou precisar de um pouco mais de privacidade.
Quando retornei à cozinha, a garota estava sentada no banco em frente ao balcão com o olhar perdido. Assim que percebeu a minha presença se mexeu no assento desconfortável.
— Não vou machucar você, mas entendo que esteja desconfortável com a minha presença. Se pudesse deixaria você com a Helena, mas o apartamento dela é lotado de gente o tempo todo. Um entra e saia que deixaria você com o pescoço doendo para acompanhar, ainda precisamos conversar sobre o que aconteceu com você e tentar te ajudar.
— Não quero falar sobre o que aconteceu — resmungou de cabeça baixa.
— Entendo e vou esperar até que esteja pronta, antes disso posso fazer algumas perguntas para saber como posso te ajudar?
— Você veio para os Estados Unidos por que quis?
— Não.
— Sua família está procurando por você?
— Não.
— Você tem passaporte e visto?
— Não.
— Como chegou até aqui?
— Avião, barco e uma van.
— Você não tem nenhum documento com você?
— Tinha, mas deixei tudo quando fugi — explicou voltando a chorar, ainda não sei o que fizeram como essa garota? Mas vou fazer de tudo para descobrir.
— Qual é o seu nome completo? E onde e quando você nasceu?
— Pandora Linhares e nasci do dia 14 de julho de 1999 em São Paulo.
— Tudo bem, vou ver o que consigo fazer — resmunguei me afastando dela.
Liguei para meu advogado passei os dados que tinha e pedi que providenciasse documentos provisórios para ela e uma licença para permanecer nos Estados Unidos como turista, ele disse que eu precisaria ter paciência que o processo todo iria demorar e ela corria o risco de ser deportada a qualquer momento. Isso se ele conseguisse achar ela no sistema da embaixada brasileira.
A noite pedimos pizza e comemos separados, ela na minha cama e eu no sofá. Não importa o que eu fazia, ela nunca se aproximava de mim. A Helena trouxe uma mala de roupas no dia seguinte e as duas ficaram horas conversando, aproveitei que ela tinha companhia para sair um pouco. Fui até a delegacia e conversei com um dos delegados que eu conhecia desde criança, na verdade ele era amigo do meu pai e se lembrou de mim assim que apareci na frente dele.
Contei o que sabia e ele me explicou que os Estados Unidos era o destino principal dos mercenários que sequestravam mulheres e vendiam no mercado negro. No fim ele prometeu investigar e ainda confirmou que a garota seria deportada imediatamente se fosse entregue a polícia. Eu pedi sigilo e disse que iria cuidar dela até saber o que ela queria fazer. Ao que parece ela não tinha uma família esperando por ela no Brasil e isso impediu que eu deixasse que fosse deportada.
Conforme os dias iam passando ela parou de tremer toda vez que se aproximava de mim, aos poucos as marcas no seu rosto foram ficando roxas e algumas desapareceram. Passei a sair do apartamento somente quando a Helena aparecia, visitei a minha avó na quarta como fazia sempre, mas pela primeira vez não cochilei no sofá, fui embora logo depois da sobremesa e não contei nada pra ela sobre a garota que morava comigo.
Visitei o Jack somente duas vezes e não sai com o Rick em nenhuma delas, meus amigos estavam desconfiados, mas eu não podia contar ainda. Faltava pouco para conseguir os documentos e enfim manda-la de volta pra casa. Devia ter algum lugar no Brasil em que ela poderia ficar e quando isso acontecer vou ficar mais confiante para contar o que aconteceu aos meus companheiros de banda.
Aprendemos a morar juntos, aos poucos ela estava à vontade com a minha presença, mas ainda sim quase não conversamos. Dormia no sofá enquanto ela ficava na minha cama, não me importava nenhum pouco com isso. Preparei todas nossas refeições e ensinei ela a usar a lava-louças, passei a sair de casa mais vezes e deixei ela mais à vontade.
Sabia que ela chorava todas as noites antes de dormir, escutava seu choro quando deitava no sofá para dormir. Porém, não sabia o que fazer para ajudá-la? Poderia ir perguntar se ela precisava de ajuda? Mas duvido que ela vai se abrir comigo, estamos a quase duas semanas juntos e ela só fala o necessário, não sei o que fazer para mudar isso. Nem a Helena teve muito progresso, a garota se fecha numa concha toda vez que ela pergunta sobre a noite que a encontrei atrás da lixeira.
Boa noite!! Estou tão empolgada com esse livro que não paro de escrever capítulos e mais capítulos, porém para revisar ainda não é no ritmo que eu queria, por isso demoro para postar os capítulos! Tenham paciência em breve vamos desenrolar essa história!!
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