QUERO VOLTAR PRA CASA
PANDORA
Abri meus olhos devagar com medo do que encontraria ou onde estaria? Jamais pensei que sentiria saudades de casa, nunca fui feliz lá, mas é o único lugar que conheço. Não parece que estou de volta ao quarto em que fui trancada, olhei na janela a minha frente e só vejo prédios lá fora. Sentei na cama usando somente uma camiseta que não é minha, tudo doí, cada músculo do meu corpo protesta enquanto escorrego por uma cama grande e macia. Não consigo ficar de pé e para não cair sento na beirada da cama.
— Você acordou? — perguntou uma mulher morena bonita ajoelhada na minha frente.
— Quero ir pra casa — pedi voltando a chorar, por causa da dor, do que passei até agora e por que não aguento mais ficar sozinha.
— Vamos te levar pra casa, assim que descobrir o que aconteceu com você — falou colocando as mãos nas minhas costas para me acalmar mais não adiantou nada, eu não conseguia parar de chorar.
— Eu entendo que você está abalada, mas precisamos saber como te ajudar. Não se preocupe, ninguém aqui vai te fazer mal, meu nome é Helena, eu sou médica e amiga do Bob.
— Quero voltar pra casa — repeti a única coisa que conseguia pensar.
— Sei disso, mas você está muito machucada, precisamos cuidar de você primeiro, antes de levar você pra casa.
— Está doendo muito — disse cruzando os braços em volta do meu corpo.
— Onde?
— Tudo — respondi olhando nos seus olhos pela primeira vez e fiquei mais segura ao perceber que os olhos que me olhavam de volta tinham compaixão e não o desprezo que eu costumava ver nas pessoas ao meu redor.
— Sei que é difícil pra você me contar isso, mas preciso saber se foi agredida sexualmente? Não precisa me contar agora, só balance a cabeça que eu já vou entender.
Como eu queria mexer minha cabeça para os lados e indicar que não, mas não podia fazer isso, sabia que precisava contar a alguém. Por isso fechei meus olhos com força e abaixei a cabeça duas vezes pra cima e pra baixo. Não olhei para ver a expressão no seu rosto, quando abri os olhos ela já tinha saído.
Fiquei ali parada sem saber o que fazer, nem para onde ir. Até que ela apareceu novamente.
— Eu preciso sair para comprar alguns remédios para você, mas volto logo. Enquanto isso se quiser tomar banho, o banheiro logo atrás de você— disse apontando para uma porta grande de madeira.
— Não quero ficar sozinha — pedi segurando o seu braço, antes que ela se afastasse.
— Sei disso e não vou te deixar sozinha, meu amigo Bob está aqui. Ele está preparando o seu café da manhã na cozinha.
Apenas balancei a cabeça assentindo e larguei seu braço, não podia contar que não queria ficar sozinha com nenhum homem no momento. No entanto ela estava me ajudando, falava português e poderia me levar de volta pra casa. Vi quando conversou com alguém e depois saiu do apartamento, ouvi um barulho no fundo e passos se aproximando, meu coração parecia que iria saltar do meu peito de tanto medo que tive. Olhei para a porta do banheiro e corri até lá, meio sem jeito porque tudo ainda doía, mas consegui trancar a porta atrás de mim. Agora só vou sair daqui quando a médica voltar, pensei encostada na porta.
Fiquei olhando para a porta com medo de ser aberta de repente, mas nada disso aconteceu por isso eu virei para observar pela primeira vez. No entanto aquilo não era um banheiro comum, parecia mais um apartamento inteiro, tinha até uma piscina, bancos de madeira e muitos chuveiros ao fundo, devia ser um banheiro compartilhado, pensei aflita com medo de ser surpreendida mais uma vez por alguém invadindo o lugar e me obrigar a fazer o que eu não quero.
Olhei no espelho e fiquei surpresa ao me ver refletida nele, meu cabelo estava uma bagunça, meu olho direito tinha um hematoma horrível e ainda estava bem inchado, meus lábios estavam cortados e tinha sangue seco no canto da minha boca. Tirei a camiseta e fiquei chocada com o que vi, meu corpo tinha marcas em todo lugar, nada ficou sem os dedos asquerosos daquele monstro. Fiquei desesperada para tirar aquelas marcas do meu corpo, fui caminhando devagar até o chuveiro e abri até o final.
Imediatamente uma água quentinha caiu sobre o meu corpo, fechei meus olhos de dor e chorei, era impossível não lembrar da merda que passei. Peguei o sabonete e uma esponja macia e esfreguei com força cada lugar que seus dedos passaram, eu precisava tirar tudo, mas era difícil e não saia por mais força que eu colocasse. As lágrimas se misturam com a água e desabei no chão sem coragem para continuar, voltar para casa pra quê? Eu devia ter deixado eles acabarem comigo, talvez não sentisse tanta dor como sinto agora. Sentir nada é melhor que essa cratera que se abriu no meu coração. Fiquei ali sentada pensando numa maneira de acabar com a minha dor, mas nada parecia funcionar, teria continuado ali pra sempre se não ouvisse a Helena bater na porta desesperada.
— Por favor, abra a porta, por favor podemos te ajudar.
Ninguém pode me ajudar, nada vai consertar a inocência que perdi, nada vai trazer de volta os sonhos que eu tinha antes de tudo isso acontecer. Mas eu me esforcei a sair dali, desliguei o chuveiro, peguei uma toalha e sequei meu cabelo o máximo que consegui. Depois coloquei um roupão branco e macio que tinha um cheiro gostoso e abri a porta.
A Helena estava me esperando com uma sacola nas mãos sentada na cama.
— Desculpe bater na porta daquele jeito é que estava preocupada com você — explicou sem graça.
— Tudo bem — falei devagar dando de ombros.
— Eu vou trazer algumas roupas pra você mais tarde, por enquanto acho que pode usar algumas roupas do Bob — comentou se levantando para pegar uma camiseta no grande varal de roupas penduras ao lado dela. Ela jogou a roupa pra mim e depois continuou procurando até encontrar uma calça de moletom e uma cueca boxer.
— Não acho que vai servir — murmurei olhando o tamanho das roupas.
— Sei que não, mas é melhor do que ficar nua ou de toalha.
— Entendi — respondi segurando as roupas nas mãos e voltando para o banheiro para vesti-las. Fui mais rápida que podia, com o corpo todo dolorido. Quando voltei ela estava segurando um copo de água e um remédio.
— Essa é a pílula do dia seguinte, você precisa tomar para evitar uma gravidez indesejada.
Não respondi nada, só peguei o remédio e engoli sem beber água.
— Preciso aplicar uma injeção de antibióticos para evitar as doenças sexualmente transmissíveis. Além disso, precisa tomar esses comprimidos após o café e depois do jantar durante 28 dias, eles são para evitar o HIV.
Assenti mais uma vez, eu entendia o que ela estava falando, mas era difícil pensar em tudo isso. Por isso não pensei, coloquei minha mente num lugar seguro e fiquei lá, enquanto ela aplicava a injeção no meu braço e depois me ajudou a pentear meus cabelos embaraçados, encontramos buracos na minha cabeça, de todos os puxões que levei. Minha cabeça ainda doía muito, mas eu não podia ficar sem pentear os cabelos.
— Obrigada — agradeci assim que ela terminou de pentear.
— De nada, eu queria ter feito mais por você — disse me observando atentamente.
— Já fez o bastante — falei a verdade.
— Tudo bem, agora vamos comer que estou morrendo de fome — pediu segurando minha mão e me arrastando com ela até o cheiro gostoso que vinha da cozinha.
Fui atrás dela todo o tempo e só percebi quem preparava nosso café da manhã quando sentamos no banco em frente um balcão e ele apareceu na minha frente. Alto, forte, usando uma barba ruiva, os cabelos pareciam ser da mesma cor. Porém, seus braços fortes estavam cobertos de tatuagem e isso me assustou pra caramba. Comecei a tremer e não consegui ficar sentada no banco tão perto dele.
— Você não precisa ter medo, foi o Bob quem te encontrou e me chamou para ajudar — falou Helena para me tranquilizar.
— Esse é o Bob, meu amigo e essa é, espere aí, eu ainda não sei o seu nome? — questionou a Helena confusa.
— Pandora — respondeu o Bob estendendo a mão para me cumprimentar.
— Como você sabe? — questionou a Helena curiosa.
— Ela me disse quando a encontrei atrás daquele lixo — respondeu colocando os pratos com panquecas, ovos mexidos e bacon na nossa frente.
— Quer dizer que seu nome é Pandora, eu gostei — comentou a Helena, pegando o garfo para experimentar a comida.
Decidi ignorar seu comentário sobre o meu nome, eu não gostava nenhum pouco dele. Além disso, não sabia o quanto estava com fome, até ficar de frente para esse prato de comida. Olhei para o Bob de costas pra mim e depois para a Helena que gemia satisfeita ao comer as suas panquecas. Peguei o garfo e comecei a comer, estava uma delicia nunca comi nada assim antes. Continuei de cabeça baixa, comendo um pedaço de cada vez até que fiquei desanimada quando finalmente acabou.
— Aceita mais um pouco, Helena — perguntou o Bob.
— Não, já comi demais por hoje — respondeu levantando do banco.
— Você vai embora? — questionei preocupada.
— Sim eu preciso voltar para a minha casa, tenho dois filhos pequenos e não posso deixa-los sozinhos por tanto tempo.
— Posso ir com você? — pedi aflita.
— Acho que não — respondeu olhando para o Bob. Eu sabia que tinha alguma coisa errada, ninguém seria tão bom pra mim. Por isso voltei a chorar preocupada com o que aconteceria comigo, quando ela me deixasse sozinha com esse cara, forte, cheio de tatuagens, o seu corpo todo gritava perigo e eu ficaria sozinha com ele.
— Por favor me escute, não vou levar você comigo, porque não posso. Minha casa não é o lugar para você descansar, por enquanto você precisa ficar aqui com o Bob e venho ver você todos os dias, eu prometo. Você não precisa ter medo dele, o Bob é o homem mais gentil que conheço além do Jonas, vai ficar segura com ele.
— Tem certeza? — questionei limpando minhas lágrimas.
— Absoluta, não deixaria você aqui se não acreditasse nisso — respondeu sem vacilar um segundo e isso me trouxe um pouquinho de segurança quando ela saiu por aquela porta e fiquei sozinha com esse cara ameaçador.
Estou muito empolgada com essa história, acho que temos um bom livro a caminho e principalmente estou ansiosa para saber o que vocês irão achar? Beijos e bom sábado pra vocês.
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