Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

01. Vazio

ᴊá ᴛɪɴʜᴀ se passado uma semana que eu estava ali. Longe da minha antiga rotina, dos meus antigos amigos, e das memórias que eu tinha. A única coisa que me era conhecida, além do meu novo quarto, era o homem sentado do outro lado da mesa.

Ivaar tinha uma barba grisalha cobrindo seu rosto, muito bem aparada, e que ele dizia que servia para mantê-lo aquecido nas bochechas. Seu cabelo ia até a altura do queixo com o mesmo propósito, mas para as orelhas. Seus olhos eram mel puro, iguais aos meus, e reluziam com o calor do fogo.

Ele era sério até mesmo quando comia, concentrado demais no prato, mas nenhum de nós sabia como começar uma conversa, então estava valendo. Ivaar também era conhecido por ter mãos habilidosas desde que viera parar na vila, e isso o tornou o melhor carpinteiro da região.

E por último, mas não menos importante, ele era meu avô.

Eu agora morava com ele, e ambos estávamos sofrendo com isso, pois podia ser em circunstâncias mais amenas. Afinal, qualquer coisa era melhor do que a perda de um pai e um genro que era considerado um filho.  

— Kaira..

A voz de Ivaar soou rouca. Ele não falava muito, passava o dia na oficina transformando madeira inerte em esculturas vivas. Me pergunto como ele estava se sentindo agora sabendo que não estava mais completamente só naquela casa na beira da floresta, já que nem animais de estimação ele tinha.

— Terminou de ver aquela série que estava comentando?

— Ah, sim. — minha voz não soou melhor que a dele. Durante aquela semana, eu só fiz ficar no meu quarto acompanhando algumas séries de humor que me arrancavam alguns sorrisinhos.  — Terminei ontem à noite.

Ivaar assentiu. Posicionei a faca gentilmente em cima do prato já vazio. Fiquei calada, pois não queria usar a desculpa de que havia terminado o jantar para subir as escadas e me enfiar embaixo das cobertas.

Eu não queria fazer isso porque, na realidade, nunca lidei bem com coisas tristes sozinha. Mesmo que o silêncio que eu e meu avô compartilhávamos fosse embaraçoso, era melhor que o silêncio ensurdecedor da minha cabeça. Simplesmente não sabia o que pensar, então me afogava na profundidade do vazio.

O vazio era constituído dos últimos momentos que eu e meu pai tivemos juntos. No entanto, como ele disse adeus da mesma forma que as árvores dão adeus ao sol no inverno, ele não estava mais lá. E as lembranças receberam um tom cinzento.

A morte de papai colocou muitas questões em pauta dentro de mim. Eu já esperava esse final, ele estava doente demais, o câncer já havia se espalhado, sofria a cada dia, mas não significava que eu fosse lidar com a perda sorrindo.

Eu ainda torcia pelo melhor, mesmo esperando o pior.

Acontece que não havia se completado nem um mês desde o acontecido, e o único parente restante era meu avô materno. Os meus avós paternos já tinham falecido muito antes de eu nascer e minha mãe, bem... Ela estava viva e em algum lugar do mundo que eu desconhecia, e Ivaar também não fazia ideia.

Suspirei mentalmente ao me dar conta mais uma vez que, caso aquela lareira não estivesse acesa e a casa não tivesse calefação, eu poderia jurar que estava sentindo frio, mas era só meio que meu estado no momento. Claro, isso se eu não fosse lá fora.

Eu me considerava uma moradora do Polo Norte, pois o inverno daqui deve ser parecido com o de lá, só que com mais gente e um povoado a vinte minutos de caminhada. Ok, se eu morasse algumas centenas e centenas de quilômetros para cima eu poderia ser considerada vizinha do Papai Noel. Não morávamos tão perto assim.

No entanto, para alguém que saía da Ilha das Flores, que era bem mais quentinha, e vinha parar em uma das Ilhas Aurora alguns bons graus de latitude acima, o choque de realidade no inverno era grande.

— Kaira.

Meu avô me chamou de novo, agora mais firme. Fitei-o assustada, desviando o olhar do prato. Ele pareceu surpreso por eu estar tão concentrada e sua expressão séria se contorceu em algo parecido com "não levo jeito para isso, achei que seria mais fácil me comunicar, mas não é". Para não deixá-lo tão nervoso, decidi colaborar.

— Sim?

Tentei soar o mais doce possível, e espero que tenha dado certo.

— Eu... Gostaria de te mostra algo depois, se não se importar.

Não consegui conter um franzir de sobrancelhas. Se meu pai alguma vez já tivesse comentado com Ivaar, em uma de suas longas conversas pelo telefone entre "pai e filho sem laços sanguíneos" o quanto eu era curiosa, ele estava começando a usar essa tática para me conquistar.

Digo, não que eu já não estivesse conquistada, ele era meu avô e eu queria enchê-lo de perguntas sobre seu trabalho e como ele conseguia esculpir com tanta precisão.

Porém, eu não era capaz e, mesmo sabendo que um era tudo que o outro tinha, o nó constante em minha garganta não deixava eu ser tão casual.

— Está bem.

Ele assentiu novamente, mais relaxado. Serviu mais um pouco de comida e continuou sua refeição. Agora, era um daqueles momentos cada vez mais raros em que eu estava focada no presente e meu lado pintora falava mais alto.

Percebi a forma como a aliança de meu avô reluzia com o fogo dançante a alguns metros da mesa, e perguntei-me se eu seria capaz de retratar em um quadro a forma como Ivaar parecia reviver, todos os dias, a memória de sua falecida esposa Bera. Ele sempre contemplava os retratos dela espalhados pela casa, como eu fazia com as selfies minhas e do meu pai no celular.

Tínhamos mais em comum do que eu estava esperando, enquanto enrolava durante uma semana e meia minha vinda para cá, ficando na casa de uma amiga. Além das marcas profundas de noites mal dormidas ao redor dos olhos e os semblantes melancólicos, eu havia herdado de Ivaar o que minha mãe herdara dele, ou seja, tudo, até mesmo o cabelo castanho eu tinha do meu avô, enquanto ela tinha o ruivo de vovó.

E, mesmo assim, eu não sabia como me aproximar como ele estava tentando.

— Vamos? — Ivaar disse de repente, enquanto limpava a boca com o guardanapo. Balancei a cabeça meio tímida e me ergui assim que ele fez o mesmo e chegou à beira da escada. Então, o que ele queria me mostrar estava no segundo andar?

Mais curiosa, segui meu avô e só parei quando ele chegou ao meio do corredor e olhou para cima. Percebi que encarávamos uma cordinha que eu nunca havia reparado.

— Bom, é aqui.

— Aqui o quê? — franzi o cenho e o encarei em dúvida.

Ivaar sorriu de leve e indicou a cordinha com a cabeça. Hesitante, fiz o que ele parecia me dizer para fazer e a puxei. Logo uma escada surgiu do teto.

Nós tínhamos um sótão.

— Isso é o sótão?

— Sim, você não tinha notado?

Sacudi a cabeça, meio desconcertada por não ter explorado tanto assim minha nova casa.

— Não.. E geralmente minha impressão de sótãos não é tão boa, já assisti muitos filmes de terror.

Para minha surpresa, Ivaar jogou a cabeça para trás e gargalhou. Gargalhou, de um jeito bem espontâneo por sinal. Naqueles sete dias meus por ali, eu não havia conseguido arrancar dele mais do que sorrisos mínimos.

Talvez aquilo significasse progresso.

— Espero que não tenha medo desse em específico, Kai.

Agora ele estava usando meu apelido, no mesmo tom que meu pai usava. De certa forma, aquilo encheu meu coração de conforto. Sorri abertamente em resposta. Era bom ter um contato de verdade com alguém que estava passando pelo mesmo que eu.

— E por quê?

— Suba lá e veja.

Segui as instruções e subi a escada meio bamba, dobrando-me um pouco para conseguir passar pela entrada. Quando me vi em pé no meio do cômodo, pude observar melhor o que tinha lá.

A luz estava acesa, e toda a parte que antes era tapada por uma lona — visível dos fundos da casa, eu a vi no dia que chegara — revelou uma parede de vidro. No canto direito havia duas estantes de tamanho médio que pareciam conter tintas, pincéis e mais tintas. Cavaletes com telas em branco estavam posicionados do lado esquerdo, e aí eu percebi que tudo ali era novo demais.

— Foi... Você quem fez tudo isso? — virei-me para Ivaar, a boca meio aberta. Ele clareou a garganta e coçou a nuca, desviando o olhar.

— Os cavaletes e as estantes. Também acabei instalando os vidros antes de você chegar. — eu continuei encarando meu avô, e acho que ele pensou que eu queria mais explicações, pois continuou a falar — O Ruan... — ele se demorou um pouco — Digo, seu pai, sempre dizia que você amava pintar. Então projetei isso aqui para você se sentir mais em casa.

Um filme de todas as vezes em que eu ouvi meu pai conversando com Ivaar, completamente à vontade e dizendo que se sentia uma parte da família dele, me fez perceber que meu pai não havia declarado em um documento que me deixaria aos cuidados do meu avô, desde que descobriu da doença, à toa.

E não era só porque ele era meu único parente vivo mais próximo. Ia muito além.

De fato, eu estava me sentindo mais em casa. E também senti o inverno dentro de mim receber alguns raios de sol.

Em um ímpeto, abracei Ivaar apertado.

— Muito obrigada, vovô!

Por um segundo, senti que ele ficou atônito, mas depois cedeu ao abraço e o retribuiu. Foi um momento de conforto e eu pude sentir nossa empatia ganhando força.

— Não há de quê, Kai. — senti um sorriso em sua voz e logo meu avô estava se distanciando e bagunçando meu cabelo, provavelmente para que eu não visse qualquer emoção que estivesse estampada em seu rosto — Agora vou deixar você conhecer melhor o espaço.

E assim ele saiu, me deixando apenas com a luz da lâmpada e o brilho prateado do luar entrando pelas janelas. Curiosa com a vista, aproximei-me do vidro para ver uma das primeiras noites minhas ali sem neve caindo.

No entanto, eu vi muito mais que isso. Eu vi uma floresta de pinheiros sob um cobertor infindável de branco, com alguns furos que demonstravam o verde daquelas árvores, tudo isso banhado pela lua e o esplendor das estrelas.

Talvez, só talvez, se eu não estivesse nas circunstâncias em que estava, eu conseguiria me incentivar a expressar aquilo em um quadro. Mesmo não curtindo a estação, aquela ausência que a paisagem me passava era algo parecido com o que eu estava sentindo.

No entanto, eu nunca consegui pintar no inverno, e a partir de agora talvez não voltasse a tentar tão cedo.

Mas digamos que eu estava errada, e que tudo começou quando eu vi algo se mexer na escuridão lá embaixo no meio das árvores.

Olhei melhor e consegui definir um formato para o vulto. Era um animal, seria um lobo?

Meus olhos se arregalaram com a mera possibilidade de ali haver uma alcateia, porém as palavras de Ivaar vieram a mim antes de a adrenalina atingir minha corrente sanguínea: "aqui nessas redondezas o maior animal que você vai encontrar são esquilos".

Tinha alguma coisa a ver com a região ser estranha ou a natureza ali ter uma aura tão diferenciada que os animais maiores se recusavam a habitá-la. Eles falavam algo parecido da Aurora Boreal, que com os anos foi ficando cada vez mais opaca até não aparecer tanto no último ano, deixando teorias.

Ao menos pela parte da floresta, meu avô, pelo visto, estava errado.

Forcei melhor a vista e percebi do que se tratava. Não era um lobo, era uma raposa. Ela pareceu sentir meu olhar, pois se virou com tudo em minha direção e duas orbes azuis perfuraram minha alma.

Ela pareceu se assustar com o fato de que eu a admirava e correu floresta adentro. Desesperada, a única coisa que pensei em fazer foi ir atrás.

Então, eu desci as escadas em um rompante, com a floresta de pinheiros como meu destino. De fato, meu destino se encontrava ali, materializado e esculpido na forma de uma raposa negra de olhos glaciais.

E esse foi o primeiro capítulo! Finalmente apareceu a raposa!

O que acharam? Gostaram da Kai e do Ivaar? Ela estaria certa em ir até a floresta dessa forma?

Bom, obrigada por lerem, se gostaram deem um voto e comentem o que acharam, porque é muito motivador! 💕

Até sexta! O próximo capítulo tem o título de "Glacial" :3

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro