10
ANDREW KELLER
Depois de segunda-feira, o resto da semana passou voando. Fiquei com uma garota no intervalo de terça e matei as aulas presenciais da quarta. A escola não era o meu forte e eu agradecia todos os feriados que tínhamos só para ficar em casa.
Por motivos de força maior — o trabalho — Lizzie e meu pai não ajudaram a descarregar o caminhão da mudança que chegou na quinta-feira e por isso Chloe e eu ficamos responsáveis por essa parte.
Acordei cedo no dia e tomei banho, vesti um jeans surrado e coloquei um moletom por cima da camiseta. Desci as escadas com Kit no colo e encontrei Marta limpando o banheiro do primeiro piso, ela disse que tinha café passado na cozinha e que Chloe já estava lá. Dei bom dia quando a vi e ela acenou de volta. Estava com uma xícara de café na mão direita e mexendo em seu celular com a outra.
Deixei Kit perto de seu potinho e ele miou. Coloquei um pouquinho de leite no recipiente e ele miou de novo. Revirei os olhos, era a ração que ele queria. Troquei os potes e ele começou a comer.
— Você é um filhote muito estranho. — Cocei sua cabecinha. — Leite faz bem para os ossos.
Ele continuou a comer. Lavei as mãos, tomei um antialérgico e peguei minha xícara do stitch no armário. Depois de servir café e colocar três ou quatro cookies no prato, me sentei na cadeira de frente para Chloe.
— Não quis conhecer a casa? — perguntei na intenção de quebrar o gelo. — Mudamos algumas coisas desde a última vez que esteve aqui.
— Talvez mais tarde. — sorriu, ainda com os olhos no celular. — O primeiro andar ainda é cozinha, sala, banheiro?
— Sim, mais um escritório e um quarto de bagunça. — Mordi um cookie. — Acho que vamos limpar esse último e montar um escritório para Lizzie, pelo menos foi minha ideia quando meu pai perguntou. Ele precisa parar de juntar lixo.
— Uau! — Respondeu e me olhou em tom brincalhão. — Você acaba de falar igual à minha mãe.
Arqueei minha sobrancelha, esperando ela continuar.
— Metade das minhas coisas foram para uma ONG, ela disse que lá seria melhor aproveitado. Parece que, segundo ela, eu sou uma acumuladora de lixos e quando eu ficar mais velha, se eu não casar, vou viver com dez gatos e uma casa completamente bagunçada.
— Ela não foi muito realista, você nem gosta de gatos.
— Ah, tudo bem, do jeito que ela falou, eu vou pensar três vezes antes de guardar qualquer coisa. — se ajeitou na cadeira. — Eu não sei se você lembra daquele colar de conchinhas que você me deu quando visitamos sua avó na praia. — assenti. — Então, ela mandou para a ONG também, fiquei um pouco decepcionada, era pequeno e não fazia diferença na bagunça.
Abaixei meu olhar, um sorriso apareceu no meu rosto. Eu não queria explicação do motivo pelo qual eu estava me sentindo daquele jeito ou do motivo pelo qual Chloe me fez eu me sentir daquele jeito.
Mas ela tinha guardado!
Não tinha nada de especial em um colar de conchinhas feito e amarrado com barbante, viajamos para a casa da minha avó e como a viagem foi longa, meu pai deixou eu levar algum amigo. Matthew não pode ir e por isso chamei Chloe, que foi forçada por insistência de Lizzie.
Ela chorou nos primeiros dois dias com saudade de casa e no terceiro, fomos à praia. Fiz um colar de conchinhas e entreguei a ela, disse que se ficasse triste, poderia olhar para as conchas e lembrar do mar. Da imensidão e que mesmo uma gota estando do outro lado do mundo ainda era o mar, não importando a distância.
— Não sabia que você tinha guardado.
— Bom, meu título de acumuladora não é em vão! — silêncio. — Enfim, mudando de assunto, Mason não comentou nada com você sobre Savanna Walsh? Ela me pediu ajuda, disse que vocês dois precisavam conversar.
Pensei.
— Ela não me mandou nenhuma mensagem.
— Acho que ela quis dizer... pessoalmente!
Eu não pensava em Savanna fazia algum tempo e Chloe tocar no nome dela, me tirou completamente de qualquer devaneio que eu poderia vir a ter na conversa.
Depois que fui rebaixado e quase expulso do time, meu pai conseguiu me fazer pensar melhor no meu futuro. Futebol americano não era o que eu queria, mas era a única matéria extra que me levaria até uma universidade e ainda tinha aquele post-it que me incentivava todos os dias antes de ir para aula, que estava colado na minha porta: "Faltam só dois semestres, filho."
Eu poderia sobreviver sem aprontar por alguns meses.
— Estava pensando, não sei, caso aceite, vocês dois poderiam se encontrar na minha casa, está à venda mas enquanto não vendemos, minha mãe ainda tem a chave.
Eu hesitei por alguns minutos. O que aconteceu com Savanna já tinha acabado, deveria ter acabado! Saímos algumas vezes, ficamos e foi isso. O treinador havia deixado bem claro a minha situação e eu não estava afim de contrariá-lo. Talvez ignorá-la assim, me tornasse um idiota completo mas comparado a todas as minhas idiotices, parecia nada.
— Por que você me ajudaria? — perguntei curioso.
— Não seria por você. As meninas da torcida me deixaram um pouco irritada com uma conversa lá e pode ser egoísmo da minha parte, só fiquei pensando em como seria interessante você e Savanna juntos. — me ajeitei. — Eu sei que é bobagem, foi só um pensamento aleatório que se passou aqui, desculpe.
— Quais meninas?
— Cheryl, Stacy e... — ela desviou o olhar. — Bella
Continuei a olhando, ela não parecia muito afim de conversar, deveria estar chateada com algo ou confusa.
— Bom, eu não sei por Bella, não conversamos muito, é só sexo e cada um para o seu lado. Cheryl e Stacy só falam bobagens, por isso aconselho a ignorar elas. São assim mesmo, é insuportável quando o treinador inventa de juntar as meninas no treino.
— Tudo bem — suspirou, desanimada. —, voltando para a Savanna, acho que ela gosta mesmo de você e se me permite, é uma ótima pesso...
— Chloe — a interrompi. —, eu não quero falar sobre ela com você, ok? Eu sei o que vai me dizer, é o que todos gostam de me dizer e não vou conversar sobre isso.— suspirei desconfortável. — Não com você.
— Desculpe, eu não sou sempre intrometida assim. — ela relaxou na cadeira. — Só preciso desfocar um pouco do que está acontecendo comigo.
— Você reclama muito por nada. — mordi meu cookie. — Sua mãe encontrou alguém que a vai fazer feliz, você tem as melhores notas da escola e deve ter umas cinco faculdades correndo atrás de você, sua vida é quase uma mentira. — completei. — Matthew vai focar na academia dos pais e vai estar aqui quando você voltar e além do mais, tem Kit que vai acordar você com uma lambidinha na bochecha como se fosse um beijinho de bom dia. Você pode não gostar de gatos, mas vai se apaixonar por ele. Então, por favor, menos.
Eu sorri e ela fechou os olhos, pressionando-os
— Quase me convenceu
As palavras de Chloe me lembrando de Savanna, me faziam lembrar também o quanto ela era apaixonada por Matthew, sinceramente, era difícil não gostar dele, ele era educado, simpático e perfeitinho, e com certeza me irritava.
Eu não tinha nada contra relacionamentos, mas adoraria que continuassem a pensar assim, nenhum sentimento tão forte me faria querer me relacionar com alguém. Não para ser deixado tão rapidamente por outro, igual minha mãe fez com meu pai.
— E o que aconteceu entre você e ele? — ela soltou.
— Quem? — Voltei minha atenção para ela.
— Matthew! O que aconteceu entre vocês dois.
— Você não sabe? — perguntei de volta. — Vocês namoraram por sei lá, uns quatro anos?
Fiquei um pouco surpreso com a pergunta de Chloe e mais ainda com a minha resposta, eu deveria saber que Matthew não tocaria no meu nome perto dela e tampouco teria motivos para fazer isso. Já tinham se passado sete anos e tudo o que aconteceu ainda estava no topo da minha lista de estupidez.
— Foram três anos e não, não falávamos sobre você. — encolheu os ombros. — Sei que eram melhores amigos, por isso estou perguntando. Matthew não tocava no seu nome e sinceramente, ninguém na escola sabe o que aconteceu. Do jeito que as coisas saem rápido por lá, é até impressionante.
— Pelo menos, Matthew e eu podemos dizer que sabemos guardar segredo.
— Ou rancor... se os boatos estiverem certos.
Franzi o cenho. Boatos!
— São pessoas criativas e descupadas. — completei. Ela cruzou os braços me encarando como se não acreditasse em uma só palavra. Eu suspirei. — É bobagem, sabe? Coisa de criança, de adolescente, enfim, nada que acrescente no nosso dia. Eu deveria ter o que? Uns onze anos, talvez.
— Sim, onze anos, quinta série. Vocês brigaram na peça de Romeu e Julieta e como ninguém sabe o que houve, suspeitam que você odeie Matthew por ele ter ficado com o papel de Romeu. Isso faz um pouco de sentido, não faz?
— E você acredita nisso? — a olhei. — Que eu brigaria com meu melhor amigo por um papel idiota em uma peça idiota.
Falei na mais possível calma que eu encontrei. Ela se ajeitou na cadeira e apoiou seus braços na mesa, seus olhos encontraram os meus por questão de segundos e ela arqueou a sobrancelha, hesitante. Continuei olhando e inconsequentemente, meus olhos correram até seus lábios. Percebendo, ela desviou o olhar e mudou sua expressão indiferente, seus braços foram baixados.
— Você queria aquele papel mais que qualquer um.
— Eu tinha meus motivos. — lembrei. — Você ficou com o papel de Julieta.
Eu queria que Chloe soubesse o que aconteceu na peça de teatro, mesmo que eu não conseguisse falar, eu queria que ela se lembrasse.
Droga.
Por que eu me deixava levar tão rápido em uma conversa?
Falar com ela trazia o meu eu de onze anos a tona, ela me lembrava de como era aquele sentimento, aqueles malditos pensamentos que eu achava já terem desaparecido, era só eu a ver que tudo voltava.
Uma faísca que estava tentando se acender e que não poderia, de jeito nenhum iria acontecer.
•••
— Vocês conseguiram organizar alguma coisa? — meu pai perguntou quando nos viu. — Tenho uma hora antes de voltar para a delegacia e posso ajudar se precisarem.
O caminhão chegou em seguida, Chloe não disse uma só palavra e com certeza, ficou pensando na conversa de mais cedo. Eu estava aflito e com medo de ter falado alguma bobagem.
Levamos as caixas para o segundo piso e separamos a parte de Lizzie para o quarto de meu pai, outras de Chloe, deixamos no corredor.
Era iria ficar no antigo quarto de Candice e depois de uma mão de tinta e alguns móveis novos, estava tudo certo. Meu pai se animou com essa parte e Martha o ajudou com algumas coisas, até mesmo a não pintar as paredes de rosa, que era o que ele pretendia.
— Estamos quase finalizando. Tudo bem, o senhor não precisa se preocupar. — Chloe respondeu. — Aliás, obrigada pelo quarto, está lindo.
— Que bom que gostou, Jade me aconselhou a pintar de rosa, mas Candice, Martha e sua mãe disseram que me bateriam se eu fizesse isso.
Eles riram.
Eu estava abrindo algumas caixas no corredor enquanto ouvia um pouco da conversa de Chloe e meu pai no quarto. Eles se davam bem, pelo menos Chloe era educada. Meu pai chegou perto do meio-dia, avisou que estava trabalhando em um caso que o levaria até mais tarde.
Abri a última caixa que estava no corredor e encontrei alguns — vários — livros dentro. Sendo de Chloe, juntei com outros objetos dela e as carreguei até seu quarto. Meu pai estava digitando alguma coisa no celular e ela, arrumando roupas no armário.
— Vocês têm alguma aula importante na segunda-feira? — ele perguntou guardou o celular no bolso do casaco. — Estava pensando em passar esse final de semana na casa de campo que temos em Bay Mills. Até amanhã a mudança já vai estar terminada e podemos tirar sábado e domingo para descansar, além de passar um tempo juntos. — ele deu de ombros. — O que acha, Chloe?
— Pai, são cinco horas de viagem. — resmunguei. — Ninguém vai descansar.
— Vai ser legal, filho, quanto tempo que não fazemos isso? E também, você ama o pessoal de lá — começou —, sei que Kira está namorando agora, mesmo assim, Chloe vai gostar, não é? — ela mexe seus lábios dizendo "boa sorte para sair dessa" — Talvez até Lizzie diminua a neura com o casamento.
Ponderei.
— Parece uma boa ideia. — Chloe cortou, sorrindo. — Zac volta para a cidade no sábado e Liv não para de falar nisso, já Bella eu nem sei o que dizer, então tudo bem. Não terei muito o que fazer nesse final de semana. Voto até em deixar meu celular em casa.
Meu pai rio.
— O sinal de telefone do condado é horrível, está com sorte. Vou ligar para Lizzie mais tarde e ver se ela concorda. Andrew ama a casa e você vai adorar. Só espero que não encontremos com a senhora Hindley, ela é um pouco... — meu pai me olhou, pensei na palavra insistente e fofoqueira, mas descreveria melhor como pegajosa e irritada. — bom, você vai ver quando chegar lá.
Os dois trocaram olhares e Chloe assentiu, um pouco confusa. Eu tinha uma nova questão, além do carro que iríamos, o frio insuportável que estaria lá e os quartos que ficaríamos.
Avisava Chloe sobre as camas, agora ou depois?
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Tururu! Oi, pessoas. Sinto muito pelo sumiço, ando sempre correndo. Esperem que gostem do capítulo e se preparem para os acontecimentos da viagem!
Beijão, não esqueça de deixar o votinho
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