08
ANDREW KELLER
Chloe me chamar para comer algo foi uma surpresa, mesmo assim não recusei. Minha ideia era de que: ou ela estava de bom humor ou estava me mostrando um lado que eu realmente não lembrava que existia. Acabamos voltando para a praça de alimentação e entramos na fila do Subway para dois sanduíches.
Ela demorou um pouco até se soltar, mas acabou se entregando à conversa. Falei sobre minha vida, perguntei algumas coisas sobre a dela e entramos no assunto do casamento de nossos pais, que por acaso, era desconfortável para nós dois.
Saindo do assunto, ela me perguntou sobre Candice, minha irmã, nosso lanche ficou pronto e procuramos uma mesa para nos sentar. Ver Chloe ali tão perto, me lembrou dos motivos pelos quais eu decidi não contar a ela sobre Liam.
Já tinha passado por tantas coisas, não precisava passar por mais uma, é claro, eu não passo o pano na minha atitude, foi errado mentir, porém, infelizmente me conhecendo, eu faria de novo.
— Tudo bem, uma pergunta aleatória, voltando ao assunto dos nossos pais. — ela começou. — Você não suspeita da possibilidade deles estarem juntos na época que éramos vizinhos?
— Você quer dizer, na época em que seu pai era vivo?
Ela assentiu e eu recuei.
— Quer mesmo falar disso?
— Sim... talvez, não! Espera, você sabe de alguma coisa? — arqueou a sobrancelha.
— Não — desviei o olhar. —, quer dizer, eles só nunca perderam o contato, sabe? Depois que meu pai e eu nos mudamos, Lizzie muitas vezes, foi nos visitar. A maioria delas era para saber como eu estava, ela não confiava muito nos cuidados do meu pai. E sinceramente, John sempre foi um cretino com você e sua mãe, se Lizzie tivesse o traído, você a culparia por isso?
Foi a vez dela hesitar.
Chloe e eu, embora vivêssemos brigando, eu passava boa parte do tempo em sua casa. Lizzie fazia pipoca e escolhia um filme para assistirmos, meu pai às vezes aparecia, assistia com a gente e outras vezes, eles iam conversar na cozinha.
John trabalhava até tarde na polícia e quando saía, sua primeira opção era beber em um bar. Nos finais de semana também, era quase impossível o ver sem nenhuma garrafa de cerveja em mãos. Voltava depois das quatro da madrugada do bar, Chloe e eu deveríamos estar dormindo, mas com os barulhos de móveis sendo quebrados, eu acordava.
Lizzie saia machucada toda a vez, não só apanhava como também sofria uma violência psicológica extrema em cima de si. John tinha ciúmes de meu pai e mesmo que eles fossem amigos, vivia dizendo que ela se mostrava demais com aquelas roupas e que deveria se vestir como uma dona de casa, ao invés de uma vadia.
Dizia que lugar de mulher era na cozinha e satisfazendo os desejos do marido, nada mais! Quando eu contei ao meu pai sobre o que acontecia, ele não pensou muito nas consequências ao confrontar John Stender, que na época era seu superior, dentro da polícia.
Foi fácil para John conseguir a transferência de meu pai. Ele tentou outro estado, mas precisaria de mais documentos e levaria tempo, por fim, conseguiu o distrito mais longe do bairro em que morávamos. Nos mudamos na semana seguinte.
— Você tem razão. — ela deixou escapar. — John Stender está morto, podemos deixá-lo enterrado.
— Obrigado! — Exclamei aliviado.
— As coisas vão mudar, não vão?
— Nem toda mudança é ruim, Chloe. — tentei confortá-la. — Você se lembra da minha avó? A chata. Ela sempre dizia: Se até as estações mudam, qual a razão de permanecermos iguais? — falei, imitando sua voz. — Parece ridículo, mas faz sentido.
Chloe riu. Ela tinha um sorriso lindo!
— Senti falta das citações da sua avó, já estava quase me esquecendo delas.
— E eu senti falta de conversar com você — suspirei. —, já estava me esquecendo de como era bom.
Suas bochechas ficaram vermelhas, ela bebeu um pouco de suco e desviou o olhar, como sempre fazia. Não estava com vergonha e sim, desconfortável. Eu me dei conta do que falei só depois das palavras terem saído, que tom bobo foi esse? Segunda vez na semana, Andrew! Se controla.
Eu no lugar dele, não me perdoaria se tivesse perdido você.
Como eu pude ter dito aquilo?
— Enfim. — ajeitei a postura. — Como você está? Bella disse que acompanharia você, esses dias, em uma consulta.
— Ah, sim, era só a psicóloga querendo fazer um check up. Volto lá todo o ano, às vezes ela pede que eu leve alguém, diz que precisa saber como estou de outra perspectiva. — revirou os olhos. — Superei muitas coisas durante esses anos, Matthew e as meninas me ajudaram demais. Eles nunca vão ter ideia do quão importante foram.
E a nostalgia acabou voltando! Eu queria ter feito parte da vida de Chloe, muito mais do que fiz. Nós nunca deveríamos ter nos afastado, eu a culpava um pouco por isso, mas não tanto, quanto eu me culpava. Hoje, nosso relacionamento seria bem diferente.
— Fiz uma tatuagem, aliás! — ela mencionou, me deixando surpreso. Chloe tinha um medo horrível de agulhas. — Eu sei o que está pensando e não, eu não superei esse medo. Consegui uma anestesia com a amiga da minha mãe e dormi o processo todo da tatuagem. — acabei rindo. — Eu só queria fazer uma coisa significativa, depois de tudo o que aconteceu comigo.
Ela afastou sua blusa, mostrando uma parte de seu ombro esquerdo, descoberto. Tinha o desenho de pequenas flores que seguiam o trajeto até suas costas, ela se virou um pouco e pude ver a continuação das flores e uma linda borboleta azul de asas abertas.
— O que ela significa?
— Hm, uma infinidade de coisas — ajeitou a blusa. —, mas podemos falar disso outra hora. Me diz sobre você, alguma coisa que ainda não sei?
Eu mordi o lábio inferior, pensando.
Você não tem ideia.
Meu celular vibrou no bolso e rapidamente eu o tirei de lá para ver do que se tratava. Era uma vídeo-chamada de Jade, minha sobrinha que normalmente ligava para me contar uma novidade ou para treinar o seu inglês.
Depois que Candice se casou, Fred e ela se mudaram para a Espanha e quando Jade nasceu, teve pouco contato com nosso idioma, por isso se acostumou no espanhol, agora com oito anos, resolveu que iria aprender inglês para poder se comunicar com o abuelo.
Virei o celular para Chloe, mostrando a ligação e abri o vídeo-chamada, me deparando com Jade de pijama na cama. O fuso-horário com Madrid tinha diferença de sete horas e por lá, deveria ser quase duas da madrugada.
— Oi, tio. — ela acenou sorrindo, estava sem os dois dentinhos da frente. — Meus dentes caíram, você viu? A mami disse que, hm... Mamáá, ¿cómo se habla el hada de los dientes en inglés?¹ — gritou a última parte.
— Fada do dente. — Chloe completou, puxando uma cadeira e sentando ao meu lado para aparecer na vídeo-chamada. — Oi. — acenou.
Jade sorriu mostrando ainda mais a falta de seus dentinhos.
— Meu Deus, como você é linda, você namora meu titio? — ela se ajeitou na cama. — Mamiii, el tío Drew está saliendo. Ella parece una muñeca, ven aquí mami, ven a ver!²— gritou. — Moça, qual seu nome?
Eu coloquei a mão no rosto, envergonhado. Chloe começou a rir.
— No no. Solo somos amigos³, você se chama Jade? — Disse Chloe por fim, acalmando a alegria da loirinha no outro lado da linha. Eu a olhei, ela falava espanhol?
— Isso, Jade Daiana Novais Keller-Herrera. — respondeu orgulhosa. — Você me conhece?
— Seu tio falou de você! Quantos anos tem?
— Oito! — disse mostrando os dedinhos. — Você gosta do meu titio? Mamá disse que ele beija todas as amigas dele... na boca. — ela cochichou a última parte como se fosse um segredo e começou a rir, juntamente com Chloe que caiu na gargalhada.
Eu revirei os olhos.
— Nunca beijei, mas quando éramos crianças, uma vez eu bati nele.
— Por Dios⁴, titio. — Jade me olhou, rindo ainda mais alto. — Você apanhou de uma menina.
— O que? Ah, qual é, você mesmo me disse esses dias que bateu em um coleguinha seu, lá. — me defendi e olhei para Chloe. — Não acredito que você lembra disso.
Ela riu e antes que pudesse responder, Jade a cortou, dizendo: — Mas eu bati nele porque ele é lento e tem um parafuso solto, bati para ver se o parafuso voltava para o lugar, papá disse que se o menino não gostar de mim, o parafuso dele está no lugar errado. — me mostrou a língua.
Meu Deus.
— Você também gostava do meu titio quando bateu nele? — Ela focou em Chloe com seus olhinhos brilhando.
— Não. — Chloe respondeu à vontade, como se nada que Jade falasse a deixasse constrangida. — Eu gostava da boneca que ele estragou, por isso bati nele.
XXXX
Para quem não conseguiu entender minha descrição da tatuagem, ela segue abaixo como eu imagino hahah. Não esqueçam do voto!
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¹- Mamãe, como se diz fada do dente em inglês?
²- Mamãe, tio Drew está namorando, ela parece uma boneca, vem aqui, mãe, vem ver.
³- Não, não. Somos só amigos.
⁴- Por Deus.
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