03
CHLOE STENDER
Acordei um pouco confusa, não lembrava de nada que tinha acontecido e minha única certeza de olhar o teto, foi saber que não estava em casa.
Me sentei na cama, um pouco zonza e reparei em volta. O quarto era familiar, livros em quadrinhos na estante, bonequinhos colecionáveis dentro da caixa e um enorme placa no formato de um "A" em preto na parede.
Tinha um gatinho amarelo — filhote — que brincava com seu novelo de lã no tapete, ele puxava, brigava e se enrolava. Por um breve momento, me olhou quando percebeu estar sendo observado, mas logo sua atenção voltou para o novelo.
A porta do quarto se abriu, revelando Andrew Keller bem arrumado, com uma camisa social clara e um jeans escuro. Segurava em sua mão um copo de suco e assim que me viu, um sorriso apareceu em seu rosto.
— Já acordou, que bom! — ele me entregou o suco. — Acabei de fazer, espero que goste.
Keller pegou o gatinho do tapete e o levou até a porta.
— Deixei comida no seu potinho, vai lá. — beijou o filhote e o largou no corredor. — Espero que o Kit não tenha te acordado. Ele pode ser bem barulhento quando quer.
Bebi o suco, era de laranja.
Certo! O que aconteceu? Olivia me ligou, precisava de carona porque estava bêbada demais para dirigir... vim até a festa e fiquei a esperando no carro. Tentei ligar, mas ela não atendia, então entrei. Liam bebia na porta, ele pegou outro copo e me ofereceu, conversamos um pouco e pedi que chamasse Olivia para mim, ele demorou então, fui atrás.
— Você guardou meu celular? — perguntei.
— Hm, sim. Primeira gaveta. — apontou para o criado mudo, ao meu lado. — Como você está?
Dei de ombros, até então, estava bem. Algumas lembranças da festa viam como flash, minha cabeça doía um pouco para lembrar. Tentei não forçar muito, talvez aparecessem mais tarde.
— O que aconteceu ontem? — abri a gaveta para pegar meu celular. — Eu bebi? Por quê, sinceramente, eu não lembro de nada.
— Olha, você só estava apagada no sofá quando a festa acabou. — ele puxou a cadeira giratória para sentar. — Pensei que não bebesse, mas sim, pode ter sido o álcool.
— Não bebo, quer dizer, um pouco, Liam me ofereceu. — passei a mão na testa. — Ele estava lá, um pouco antes de eu apagar, ficava falando e falando. Liv não me atendia no celular... sei que reclamei, minha visão ficou turva e depois, nada.
— É, eu não posso te ajudar com isso, também não sei o que aconteceu. — pausou. — Sinto muito.
Suspirei.
— Tudo bem, obrigada de qualquer jeito. E uma última coisa, antes que eu esqueça, esse "A" na parede não era meu?
Ele riu. — Lembro muito bem de você dizendo que não usaria se não fosse rosa. E tinha que ser um C.
Eu abaixei o olhar e ri.
— Eu era uma criança exigente. — desbloqueei meu celular.
Já passavam das onze e meia, tinha quatro chamadas perdidas de minha mãe e algumas mensagens não visualizadas.
— O almoço, droga. — coloquei a mão na boca. — Eu esqueci, completamente.
Me levantei o mais rápido que pude e fui na direção do banheiro. Não daria tempo de chegar em casa, o restaurante era para o outro lado e eu com certeza, demoraria mais.
— Tudo bem aí?
— Sim, eu acho... é minha mãe. Nós marcamos um almoço e eu estou atrasada. — pensei. — Posso usar seu chuveiro?
— Sim, pode, eu achei mesmo que pediria. Deixei uma toalha limpa no banheiro e tem uma escova de dentes nova no armário. — ele caminhou até a porta. — Vou estar lá embaixo, se precisar.
•••
Minha mãe usava um vestido azul tubinho e um salto alto Scarpin, o que deixava a situação ainda mais suspeita: Ela estava arrumada demais para um encontro casual.
Quando cheguei no restaurante, fui ao encontro da mesa dos dois. Os cumprimentei e nos sentamos para conversar, descobri que Noah era capitão de polícia, três anos mais velho que minha mãe e morava no centro da cidade.
Ele era familiar, eu o conhecia de algum lugar, só não tinha certeza de onde. Com o atraso do filho, ele pediu licença e se retirou para ligar e perguntar se o abençoado estava vivo.
— Eu sei que você não passou a noite em casa, mocinha. — minha mãe se pronunciou depois que Noah saiu.
— Você estava dormindo, eu não quis acordar. — me ajeitei na cadeira. — Busquei Liv na festa, ela estava bêbada demais para dirigir.
— E ela está bem?
— Ah, com ressaca. — avaliei. — Mas sim, está bem.
— E então — ela sorriu. —, o que achou de Noah?
— Eu gostei dele. — dei de ombros. — Fico muito feliz por você, mãe.
Mesmo que não conhecesse Noah tão bem, ele não poderia ser pior que meu pai, isso era fato. Meu pai — John Stender — morreu dois dias antes de eu completar nove anos, ele nunca foi alguém que me trouxe boas lembranças, pelo contrário. Fiz terapia por três anos para superar tudo o que aconteceu.
Meu celular apitou, eu o procurei dentro da bolsa e o retirei de lá, desbloqueando-o: Andrew Keller
"Duas vezes num só dia! Não pode ser só coincidência"
"Do que você está falando?"
Rapidamente digitei e enviei. Responder Andrew, me fez lembrar da noite passada, eu não tinha ideia do que poderia ter acontecido e tinha um certo receio de procurar descobrir. Talvez Bella pudesse me ajudar, ou até mesmo Liam poderia me dizer o que aconteceu.
"Ainda não soube? Então deixa! Você logo vai descobrir."
Noah voltou para a mesa e eu preferi guardar o celular. Continuamos a conversa e minha sensação de o conhecer, só aumentava. Talvez fosse da delegacia, já que ele era policial igual meu pai.
— Drew ficou preso no trânsito, acho que daqui a pouco está aí
— Não tem problema, amor. — minha mãe respondeu.
É claro que tem. Eu não tomei café, acordei atrasada, mal tomei banho e ainda vou ter que esperar ele chegar para almoçar? Perfeito, começamos muito bem.
— Me fala de você, Chloe. Sua mãe disse que gosta de desenhar.
— Sim, um pouco... na verdade, desculpa, eu não consigo. — pausei. — De onde nos conhecemos?
Ele riu e olhou para minha mãe.
— Você me deve dez dólares. — me olhou novamente. — Sua mãe apostou comigo que você não chegaria a me reconhecer.
E eu ainda não reconheci.
— Bom dia, Capitão Keller. — um senhor passou por nossa mesa e acenou para Noah. Ele aparentava uns cinquenta anos, com seus cabelos grisalhos e uma barba bem feita. Parecia simpático. Noah apertou sua mão e respondeu um: Como vai, Dave?
Capitão Keller. Ah, não!
— Senhor K? — murmurei.
— Lembro de você me chamando assim quando queria que eu xingasse Andrew por ele estragar uma boneca sua.
Minha mãe e meu ex-vizinho! Como é que isso foi acontecer?
— Bom dia! — Uma voz, atrás de mim, exclamou fazendo meu corpo paralisar. Andrew! Foi aí que entendi sua mensagem:
Duas vezes num só dia!
Com certeza não era só coincidência.
— Drew! Oi, querido. Quanto tempo?
Minha mãe se levantou da cadeira, indo o abraçar. Q U E R I D O?
— Tudo bem, Lizzie? — ele sorriu. — Meu pai foi me falar agora pouco quem era a tal namorada misteriosa dele. Fico feliz que seja você, é uma coisa a menos para me preocupar.
Ele brincou com o pai, que também acabou rindo. Depois de cumprimentar todos, Andrew se sentou. Eu fico feliz pelo relacionamento de Noah e minha mãe, se querem namorar, à vontade, mas por favor, que não me coloquem em almoços de família semanais.
— Oi, Chloe! — ele puxou a cadeira do lado para sentar.
•••
Fomos almoçar depois de muita conversa. Eu devo ter dito umas cinco ou seis palavras, ouvia e respondia quando Noah perguntava, mesmo que na maior parte do tempo, era Andrew e minha mãe que conversavam.
Depois de terminar o almoço, pedi licença e fui até o banheiro. Precisava respirar e jogar uma água no rosto, eu não tinha problemas com os Keller's, mas não podia deixar de pensar na possibilidade de Noah e minha mãe já estarem juntos quando meu pai era vivo.
Balancei a cabeça, tentando jogar os pensamentos para longe e peguei meu celular. Tinha duas mensagens de Liam Clarke que preferi não abrir, três ligações perdidas de Liv e uma mensagem de Bella perguntando o que aconteceu.
Novamente, meu celular tocou, aparecendo outra notificação: Andrew Keller.
"Estão esperando você voltar! Querem contar alguma coisa"
Ótimo, mais novidade. Voltei para a mesa em passos lentos, enquanto isso, pensava nas possibilidades do que poderia ser, uma viagem em família? Morar juntos? Gravidez?
— Que bom que chegou, filha. — Minha mãe sorriu e correu seus olhos até Noah, que engoliu em seco e se ajeitou na cadeira. Eu me sentei.
— Então, Chloe... — O senhor Keller começou a falar, ele olhou para Andrew e novamente para mim. — Eu pedi a mão da sua mãe em casamento, gostaria de saber se... eu tenho sua benção.
Eu gelei.
A vontade de surtar e responder um "O QUE?" era muito grande.
Minha mãe estava ali, com um enorme sorriso no rosto e um brilho nos olhos que me impedia de dizer qualquer estupidez. A mulher que eu mais amava, a que eu sei que, faria tudo por mim. Eu não seria egoísta ao ponto de negar a felicidade a ela.
Suspirei.
— Sim! — eu ri. — Meu Deus, claro que tem.
XXXX
Um pouco grande esse capítulo, eu me empolguei kkk! Estou amando escrever.
O que acharam da atitude de Andrew? Esconder a verdade de Chloe não me pareceu boa ideia. Talvez ele tenha um bom motivo ou talvez passe pano pro Liam, vai saber...
Comentem e não esqueçam de deixar seu voto <3
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