Capítulo 15
Ao escutar os gritos vindos do quarto, Mariana e Lucero foram até lá ver o que estava acontecendo.
Encontraram Fernando suado e trêmulo, com a camiseta do pijama molhada, grudada no corpo. O peito, subia e descia rápido, como se estivesse sem fôlego.
Ele olhou ao redor, desesperado, como se buscasse algo.
— Hermano, ¿qué pasó? ¿Estás bien? / Meu irmão, o que aconteceu? Você está bem?
Mariana se aproximou com cuidado, acariciou seu rosto, tentando acalmá-lo.
— Tuve otra maldita pesadilla. Ella... / Tive outro maldito pesadelo. Ela... — Parou de falar assim que percebeu que Lucero também estava no quarto.
Mariana notou que Fernando respondeu mais calmo do que costumava fazer, quando esses sonhos ruins aconteciam.
Lucero parou ao lado dele.
— Tome um banho para relaxar Fernando, vou preparar um chá calmante para você.
Ele assentiu e Mariana o ajudou a ir para o banheiro.
Assim que o chá ficou pronto, Lucero adoçou-o com mel e levou para ele.
— Tome Fernando, isso vai ajudá-lo a dormir melhor.
Ao pegar a xícara que ela estendeu, suas mãos se tocaram levemente e uma sensação de paz e tranquilidade tomou conta de Fernando.
Ele sorriu discretamente, sentindo o líquido quente e reconfortante descer por sua garganta, aquecendo seu corpo e principalmente, seu coração.
Ao terminar, Lucero pediu que ele deitasse de bruços para massagear seu pescoço e costas.
Mariana deixou-os a sós e foi para o outro quarto, preparar-se para dormir.
Depois da massagem, Fernando virou-se na cama e por uns instantes seus olhos perderam-se nos de Lucero.
Ao cruzarem os olhares, ela percebeu que o castanho dos olhos dele assumiu um tom mais escuro e brilhante.
Quando Lucero fez menção de se retirar, Fernando segurou sua mão, pedindo.
— Fique mais um pouquinho, por favor!
Ela o encarou hesitante e ele insistiu.
— Me faça companhia, pelo menos até que eu durma. Não quero mais ser assombrado por esses sonhos ruins.
Pela primeira vez, ele falou com ela sobre os pesadelos. Não revelou muita coisa, mas, já era um começo.
Lucero sentou-se ao seu lado na cama e começou a acariciar os cabelos negros desalinhados de Fernando, enquanto ele fechava os olhos, relaxando com o toque suave de seus dedos em seu couro cabeludo.
De madrugada, Mariana acordou com sede e ao levantar-se para ir à cozinha, se deu conta de que a amiga não estava na cama.
Ao passar pelo quarto do irmão para verificar se estava tudo bem, ela deparou-se com Lucero recostada na cabeceira da cama. Fernando estava com a cabeça apoiada em seu ombro, envolvendo-a num abraço carinhoso.
Ambos dormiam tranquilamente. Mariana puxou uma coberta sobre eles e deixou o quarto sorridente.
Horas depois, alguns raios de sol entravam pela janela, fazendo Fernando despertar.
Ele bocejou, virou-se para o lado e ficou olhando Lucero dormir.
Ao acordar descansado e tranquilo, admitiu para si mesmo, que a companhia dela lhe fazia muito bem.
"Lucero, Lucero... En verdad, me importas más do que lo quiera en realidad aceptarlo". / Lucero, Lucero... Na verdade você me importa mais do que eu queira na realidade aceitar".
Um sorriso de satisfação desenhou-se em seu rosto após a noite bem dormida.
Ele esticou o braço e acariciou os cabelos dela, sentindo a maciez dos fios entre seus dedos. Repetiu o movimento algumas vezes, antes que ela começasse a despertar.
A luz a fez piscar algumas vezes, ela se espreguiçou, levantando os braços, esticando-os ao máximo.
— ¡Buenos dias Bella Durmiente! ¿Como amaneciste? / Bom dia, Bela Adormecida! Como você amanheceu?
Ela se assustou ao ouvir Fernando e sentou-se na cama de supetão. Seu corpo tensionou ao notar que não está no quarto que dividia com Mariana. A decoração mais sóbria e masculina a fez perceber que está no dele.
Ela olhou-o envergonhada, afastando-se bruscamente.
— Ai meu Deus! Eu dormi com você, quero dizer, eu dormi na sua cama. — Corou tentando levantar-se.
Ele segurou sua mão, tendo nos lábios um sorriso maroto.
— Ei, calma! Não aconteceu nada de mais, não se preocupe.
Lucero constrangida, só pensava em sair dali o mais rápido possível.
— Precisamos nos arrumar. Seus últimos exames são agora pela manhã e não podemos nos atrasar. ¡Ve a ducharte, andale! / Vá tomar um banho, anda.
Ela saiu do quarto como um raio, sem dar tempo que ele dissesse mais alguma coisa.
No chuveiro, lembrou da noite anterior com um singelo sorriso dançando no rosto.
Ao sentar-se à mesa para tomar o café da manhã, torceu para que sua amiga não tivesse percebido que tinha acontecido na noite anterior.
— Bom dia Mariana! Você dormiu bem? — Tentou agir com naturalidade.
— Bom dia Lu! Vi que você passou a noite no quarto do meu irmão.
Ela baixou os olhos, roxa de vergonha.
— Eu e o Fernando, nós... — Parou, sem saber o que dizer.
Mariana deu um sorriso malicioso.
Lucero cobre o rosto com as mãos, sentindo as bochechas quentes.
— Que vergonha! Eu acabei pegando no sono ao lado dele.
Mariana pousou sua mão sobre a dela, transmitindo-lhe confiança.
— Está tudo bem. Sei o quanto você se preocupa e cuida bem do Fernando. Isso fica entre nós. ¡Será nuestro secretito, amiga! / Será nosso segredinho, amiga! — Deu uma piscada insinuante, deixando Lucero desconcertada.
Ao escutá-lo cantarolando no chuveiro, elas estranharam aquele clima descontraído logo pela manhã.
Fernando normalmente acordava mal-humorado, ainda mais depois de um pesadelo, mas elas não reclamaram desse pequeno milagre.
Entreolharam-se e sorriram divertidas.
Na clínica, elas foram novamente recebidas pelo doutor Lugano, que explicou.
— Hoje o Fernando fará a Eletroneuromiografia e os últimos testes de força nas pernas e nos pés. Vou deixá-los com o nosso neurofisiologista, um médico altamente qualificado. Já tinha uma reunião agendada e não consegui desmarcá-la, preciso finalizar alguns detalhes da minha nova parceria e resolver aquele assunto, Lu.
Lucero e Mariana sabiam a que ele estava se referindo.
— Sem problemas Ricardo, nós confiamos nos profissionais da sua equipe, não é mesmo, Mariana?
— Claro doutor, compreendemos perfeitamente que tenha outros compromissos, além do atendimento ao meu irmão.
Fernando é cordial, embora lembrar da proposta feita pelo doutor Lugano à Lucero, o deixasse bastante desconfortável.
Angel, que acabava de chegar, aproximou-se dele com um sorriso provocante.
— Na ausência do doutor Lugano, estarei a sua inteira disposição, senhor Colunga ou posso chamá-lo apenas de Fernando?
Ao dizer isso, tentou colocar a mão em seu ombro.
Fernando empurrou rapidamente a cadeira de rodas para trás, revirando os olhos, irritado.
— Senhorita Montenegro, creio que percebeu que, desde o primeiro dia de consulta, estou acompanhado da minha irmã, que é enfermeira e da Lucero, que é uma das melhores fisioterapeutas que eu conheço e que também é reconhecida como tal, pelo doutor Lugano, aqui presente, então, por gentileza, deixe que apenas elas cuidem de mim durante os procedimentos e exames que estou realizando.
Ele se colocou entre as duas, tomando a mão de cada uma.
— Como pode ver, estou em excelentes mãos. Não preciso de mais ninguém me ajudando. — Afirmou cortante.
Tanto o doutor Lugano, quanto Mariana e Lucero se espantaram com a atitude de Fernando, que nos primeiros dias, parecia estar flertando com Angel.
Ricardo sorriu discretamente, enquanto Lucero olhou para ela, de cima para baixo, com uma expressão vitoriosa, feliz, por Fernando tê-la colocado em seu lugar finalmente.
— Aclarada essa situação, deixo-os com o doutor Acosta.
Ao despedir-se de sua assistente, advertiu sério.
— Angel, limite-se a anotar o que o doutor considerar pertinente.
Mal sabia ela que, muito em breve, deixaria a equipe do doutor Ricardo Lugano para sempre.
Ricardo estendeu a mão para Mariana e Lucero, beijando a ambas.
— Qualquer coisa que precisarem, podem me ligar. A Lu tem o meu número particular.
Uma das veias da têmpora de Fernando começou a pulsar e ele apertou os olhos e os lábios, ao escutar, a última frase dita pelo doutor Lugano, antes de retirar-se.
Ele deu um sorriso amarelo, acenou com a cabeça, tentando disfarçar a fúria que se apossou dele no momento.
"No necesito que me lo restriegues en la cara la intimidad que tienes con Lucero, doctorcito. Y se te juegas de gracioso con mi hermanita, te rompo la cara, idiota". / " Não preciso que me esfregue na cara a intimidade que você tem com a Lucero, doutorzinho. E se bancar o engraçadinho com a minha irmã, quebro sua cara, idiota".
Enquanto era preparado para o exame, o médico ia explicando como seria o procedimento.
— Esse aparelho ligado ao computador dispara pequenos estímulos elétricos. Vamos avaliar o funcionamento dos nervos, músculos e a comunicação dessas estruturas.
Nessa primeira etapa, o médico aplicou os eletrodos nas pernas de Fernando, tranquilizando-o.
— A Eletroneuromiografia não dói. O exame pode ser um pouco desconfortável, porém é suportável. Podemos começar?
Ele balançou a cabeça, afirmando que sim.
Terminada a primeira etapa, o doutor Acosta, disse o que faria em seguida.
— Agora vou inserir esse eletrodo em forma de agulha na sua pele até alcançar o músculo, para avaliar diretamente a atividade. Vou pedir que faça alguns movimentos enquanto ele detecta os sinais.
Concluído o exame, eles foram almoçar num restaurante italiano famoso na cidade, num clima de descontração total.
Fernando estava sorrindo, sem se importar que algumas pessoas olhassem para a cadeira de rodas.
Um avanço e tanto para alguém que, até pouco tempo atrás, irritava-se facilmente com tais olhares e mais ainda quando tentavam ajudá-lo, fazendo com que ele se sentisse um inválido inútil.
— Que tal pedirmos uma massa com frutos do mar e um vinho branco para acompanhar? — Sugeriu Mariana e eles concordaram.
Entre risadas, desfrutaram a refeição de maneira tranquila.
Fernando sentia-se leve e relaxado.
Lucero, com sua doçura e profissionalismo, ia, pouco a pouco, quebrando a resistência e a dureza dele.
Um muro começava a cair. Fernando seria capaz de deixar-se curar e seguir em frente?
"Mesmo no riso o coração pode sofrer, e a alegria pode terminar em tristeza". (Provérbios 14:13)
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro