Capítulo 72: POV Nina Marshall
Eu não sabia o que estava pensando quando pedi para Sebastian vir comigo para Kent. Mas depois de uma tarde com ele, eu percebi que tinha sido a coisa certa. Eu não esperava que ele fosse se sentir tão confortável com meu pai. Eles tinham passado horas conversando sobre esportes e livros, eu fiquei realmente surpresa de vê-los tão próximos. Ele até concordou com o meu pai quando ele disse que eu leio livros tontos demais, que preciso dar um salto e começar a ler coisas mais sérias, mais interessantes. Não deixei barato, joguei uma almofada do outro cômodo na cabeça do meu pai, o que só fez Sebastian rir mais.
E não era só com ele, na verdade. Meus irmãos se apaixonaram por ele. Ficaram pedindo para ele ensiná-los a lutarem, já que Sebastian tinha ido para o exército. Na época, tinha deixado a impressão de que era só para melhor a imagem dele, mas ele parecia realmente gostar daquilo quando explicava para meus irmãos sobre o tipo de treinamento que eles tinham.
Ele tirou sua gravata e seu blazer logo no começo da festa. Não estava muito quente, mas meus Hubert e Hamish tiveram a brilhante ideia de brincar de guerrinha com pistolas de água. Eu juro que achei que Sebastian fosse recusar, dar alguma desculpa ou até mesmo achar a ideia ridícula. Mas ele amou. Era o mais animado. E ficou correndo pelo jardim com meus irmãos e seus amiguinhos, fazendo o maior drama toda vez que era atingido por um jato de água.
Teve uma vez que ele estava perto da piscina e levou um tiro d'água de Hubert. Enquanto ele estava fazendo toda a cena, Hamish aproveitou para empurrá-lo na piscina. Eu entrei em pânico! Não conseguia acreditar que o meu irmão tinha esquecido que ele não era uma pessoa normal. Ele era da realeza. E provavelmente nunca tinha sido tratado tão mal daquele jeito.
Mas quando Sebastian levantou a cabeça da água, ele estava rindo tanto, estava quase eufórico. Era como se aquilo fosse a coisa mais engraçada que ele já tivesse ouvido na vida inteira. E meus irmãos adoraram aquilo, pulando atrás dele, animando ainda mais os seus amigos. Logo tudo virou uma festa de piscina e eles estavam brincando de jogar água um no outro. Era como se Sebastian fosse um menininho mesmo. Ele nem olhava direito para mim, estava entretido demais com a brincadeira.
Mas quando ele me olhava, ele parava o que estava fazendo. Era como se o resto se dissolvesse em volta dele e só tivesse eu e ele ali. Mas logo algum menino o puxava pelo braço, roubando sua atenção.
E eu ficava ali, tendo que interagir com as mães dos amigos dos meus irmãos, enquanto elas falavam sobre o preço das coisas no supermercado, sobre a escola dos meninos e me perguntavam como era no castelo. Mas elas não queriam saber de verdade, pois eu não podia falar duas palavras que uma já me interrompia, dando a opinião dela, puxando a conversa para o seu lado. Eu nunca tinha gostado muito de ter que conversar com elas, parecia sempre que estava em uma batalha, onde cada uma tentava trazer a atenção para a sua vida, procurando loucamente uma aprovação. E eu não tinha paciência para aquilo. Eu não me importava se elas queriam se sentir importantes. Eu não precisava daquela validação.
E era legal poder me desligar do murmúrio fútil delas e focar em Sebastian jogando seu cabelo molhado para trás, enquanto tentava desviar da pontaria certeira de Hubert.
Quando anoiteceu e o número de convidados diminuiu bem até chegar nos únicos dois que iriam dormir ali, nós deixamos os quatro com a mãe dos amigos dos meus irmãos e Sebastian, eu e o meu pai fomos visitar a minha mãe. Ele não precisava ir, mas insistiu. Já os meus irmãos nunca iam no aniversário deles. Meu pai fazia questão de tentar separar essa memória deles, não queria deixá-los sempre com o peso da culpa do que aconteceu.
O caminho até o cemitério foi quieto. Cada um olhava para fora da sua janela, preso nos seus próprios pensamentos. Era como se toda aquela tarde tivesse acontecido anos atrás e nada dela tivesse restado. Sebastian já estava seco de novo, banho tomado e terno novo em seus ombros. Eu usava o vestido bege que minha mãe tinha me dado quando eu tinha cinco anos. Não me servia naquela época, pelo contrário. Ela tinha me dito que era o vestido que ela usou no primeiro baile em que foi com o meu pai. Foi o primeiro encontro dos dois. A renda antiga pesava em meus ombros, me dando um pouco de conforto para o que eu estava prestes a fazer.
Depois que entramos no cemitério, estávamos sozinhos. Nenhum fotógrafo, nenhum câmera poderia chegar até ali. Meu pai parou o carro e eu avistei da janela a lápide dela. Eu fiquei olhando para lá, enquanto os dois saíam do carro. Até que Sebastian foi até a minha porta e a abriu para mim. Ele me ofereceu a mão dele, como se fosse difícil para eu conseguir sair com carro sozinha. Mas eu a peguei, agradecida pelo seu toque.
Ele tinha um olhar muito diferente em seus olhos. Algo que eu nunca tinha visto antes. Não tentou me falar nada, nem sorrir para mim. Era como se ele estivesse mal pelo que eu sentia, mas ao mesmo tempo ele nem tentava me animar. Ele me entendia e confortava só com seu olhar.
Meu pai foi até nós, me abraçando e me fazendo soltar de Sebastian. Nós dois andamos até a lápide da minha mãe devagar, eu sentindo meus pés afundaram na grama.
Minha mãe era o que você podia chamar de espírito livre. Ela gostava de coisas naturais e tudo para ela era uma festa. Ela sentia tudo, queria tudo, amava tudo. Ela era feliz com as coisas mais insignificantes. Ela fazia festa para os momentos mais normais. E eu amava isso nela. Ela também tinha uma mania de andar descalça pela casa, recusando colocar sapatos para qualquer coisa que não fosse absolutamente necessário. E era por isso que meus pais e eu tirávamos os sapatos e os deixávamos no carro toda vez que íamos vê-la.
Eu achava que estaria bem, que eu poderia simplesmente ir até lá e falar com ela e que estaria bem. Mas alguma coisa naquele momento, se era o pôr-do-sol ou o vento gelado que roçava pelos meus braços, não sei. Só sei que eu senti um peso enorme no meu peito assim que avistei seu nome. Meer.
Meu pai foi forte, ficou ali, olhando para ela, completamente perdido no que estava rodando pela sua cabeça. Mas eu não consegui ser como ele. Eu me agachei assim que cheguei lá, pensando no que falaria para ela.
Eu não conseguia juntar palavras, só conseguia senti-las. Então fiquei ali, passando o dedo devagar pela sua lápide, lembrando dela, imaginando como seria se ela estivesse ali comigo e o que ela me diria de tudo o que estava acontecendo.
Meus olhos se querer olhando por cima do meu ombro, procurando por Sebastian. Ele mirava o chão, sério, com as mãos juntas à sua frente. Me peguei pensando que a minha mãe adoraria ele. Que ela achava que ele sim sabia o que estava fazendo, vivendo a sua vida sem se importar com o sangue que corria pelas suas veias. Que aquilo tudo dele não querer ser formal, que aquilo sim que era aproveitar a vida.
Estava sorrindo triste para mim mesma quando percebi que ele também estava descalço. Seus dedos brancos na grama em contraste claro com o seu terno me fizeram rir. E ao mesmo tempo lacrimejar. Ele levantou os olhos para mim quando ouviu minha risada e eu me voltei para a minha mãe. Era legal que ele nem tinha questionado tudo aquilo, só participou sem perguntar nada. Aceitou que era assim e não contestou se era uma coisa normal de se fazer ou não.
Eu mirei de volta o nome dela, que brilhava no baixo-relevo da pedra cinza. Eu devia estar entrando em pânico, pensei. Aquilo tudo era uma coisa íntima demais para eu estar deixando ele ver assim. Era um mundo meu, só meu. Da minha família, da minha essência. E era tão fácil deixar ele entrar nele, que me assustava.
O caminho para casa foi tão quieto quando a ida, mas a atmosfera já tinha melhorado. E quando chegamos lá, percebemos que os meus irmãos nem tinham se dado conta da nossa saída, o que era ótimo. Nós três passamos o resto da noite vendo filme atrás de filme, enquanto ouvíamos meus irmãos e seus amigos brincando atrás da gente. Sebastian dormiu no meio de um, se encolhendo no sofá. Era engraçado vê-lo assim, ele parecia de novo um garotinho, completamente vulnerável. E tão normal.
Ele for dormir no quarto dos meus irmãos, enquanto os quatro ficaram na sala, indo dormir antes das dez. Quando era meia noite, eu estava no meu quarto, tentando dormir. Mas fiquei pensando naquele dia e em tudo que tinha nos levado ali. Parecia que fazia anos desde que eu tinha me esbarrado nele e percebido que ele era um idiota. E depois daquilo, o aniversário dele. Eu tinha completamente bloqueado aquele dia, eu tentava esquecê-lo o máximo que podia. E naquele momento, eu não conseguia lembrar porquê.
Até que me veio de novo a memória de Valentine contando a história da Amélie e a imagem dela andando pelo castelo, praticamente dançando toda vez que passava por ele. Era por isso então que eu tinha decidido esquecer que o aniversário dele tinha acontecido.
Mas eu tinha o rejeitado. E ele era livre. E eu nem estava no castelo por ele. Para todos efeitos, eu era completamente dedicada a Charles. Eu estava lá por ele, querendo ele. Eu literalmente tinha assinado um contrato falando que eu o queria. E depois disso tudo, eu ainda tinha largado Sebastian lá com o elefante, sem me explicar. O que ele poderia fazer senão tentar ajeitar sua dignidade?
Argh, eu não queria ficar dando desculpas para ele. Eu ainda queria esquecer tudo aquilo. Não importava mesmo o que tinha acontecido. Não importava quem a gente tinha sido. Só importava quem a gente era agora. E tudo que ele fazia parecia me conquistar de pouquinho em pouquinho. Eu não estava conseguindo dormir, eu não estava conseguindo parar de pensar nele. E ele estava logo ali, uma parede depois de mim.
Eu me controlei por um bom tempo, mas a minha mente começou a fazer truques até me convencer que me levantar para pegar um copo d'água não seria um absurdo. Ela até me convenceu que se eu, sabe, sem querer passar pelo quarto dele, só para dar uma olhadinha, isso não seria um problema.
Eu andei até a cozinha nas pontas dos pés com cuidado para não fazer barulho. Coloquei um dedo de água no copo só para falar que eu tinha bebido e voltei para o corredor, dessa vez, passando pelo meu quarto até chegar na porta do dele.
Ela estava aberta e eu só tive que empurrar um pouquinho para conseguir olhar para a sua cama. Mas ela estava vazia, o que eu achei muito estranho. Então empurrei mais um pouco, fazendo-a ranger. E ele se virou para mim, sentado no pé da cama. Ele tinha estado ali, olhando para a fora da janela.
"Tá tudo bem?" Ele perguntou, preocupado, enquanto eu me sentia a menina mais idiota do mundo por ter sido pega logo pela última pessoa que eu queria que soubesse que eu estava ali, olhando para ele.
"Tá," eu disse, entrando e fechando a porta com cuidado atrás de mim.
Ele podia ser a última pessoa que eu queria que soubesse e tal, mas meu pai não estava muito longe naquela lista.
Ele me observou andar até ele e me sentar do lado dele, deixando uma distância considerável entre nós.
"Eu te acordei?" Perguntou, me fazendo olhar para ele e perceber que ele não estava completamente vestido.
"Não," balancei a cabeça, "eu não estava conseguindo dormir," admiti.
"É, nem eu," ele falou e voltou a olhar para fora da janela.
Nós ficamos em silêncio por um tempo, enquanto eu pensava em mil coisas que eu poderia dizer. Mas a grande maioria que me vinha à cabeça era completamente louca! E eu nunca falaria aquilo em mil anos. Era como se a noite tivesse me embriagado e eu estivesse à beira de falar coisas que eu nunca nem tinha me deixado pensar.
Por sorte, ele falou antes que eu pudesse ter estragado tudo.
"Eu queria te agradecer por ter me convidado para conhecer essa parte do seu mundo," ele disse, quase cochichando, seus olhos ainda lá fora.
"Foi um prazer," eu falei, mas pensei na hora que aquilo não estava à altura do que ele tinha me dito. "Eu gostei muito de você ter vindo."
Ele sorriu, pensativo. "Você é feliz?" Ele perguntou, me pegando completamente de surpresa.
Eu nunca tinha me perguntado aquilo, para ser honesta. Eu não sabia nem como ter certeza de que era feliz ou não. Não sabia que tipo de teste teria que passar para ter uma resposta concreta.
Mas as palavras saíram da minha boca sem eu conseguir pará-las.
"Sou. Eu amo minha família, eu amo meu pai e meus irmãos. Sei que não tenho muito," falei, me virando para olha à nossa volta. "Sei que não é como se eu vivesse de verdade em um castelo enorme ou até dentro do mundo dos livros que eu leio, mas para mim está bom. Eu não preciso de mais nada," meus olhos pararam de olhar para as coisas dos meus irmãos e acabaram encontrando os dele.
Tá, pensei, talvez eu precisasse de mais uma coisinha.
Ele me sorriu, contente.
"E você?" Perguntei, de repente questionando se era por ele não ser feliz que tinha me perguntado de se eu era.
"Sou," ele disse, seu sorriso crescendo. "Tem muita coisa na vida de realeza que eu dispensaria," confessou. "Mas eu consigo tirar o melhor de qualquer droga de situação."
Eu ri de leve com o jeito que ele falou e pensei na hora que era bem assim que a minha mãe era. Só bem menos agressiva.
"Você teria gostado da minha mãe," falei, olhando para as minhas mãos no meu colo.
"É?"
"É, e ela teria gostado muito de você," levantei os olhos para encontrar os dele. "Ela gostava também de tirar o melhor de qualquer situação. Tudo para ela era uma razão para celebrar."
Ele ficou sério e suas sobrancelhas franziram um pouco. Mas ele não disse mais nada, provavelmente ainda estava pensando no que seria adequado para aquele momento. A maioria das pessoas pensava que tinha que falar alguma coisa, mas eu achava aquele silêncio dele bem mais reconfortante.
Nós continuamos conversando por mais um tempo, quase sempre sobre coisas mais leves, mais simples. Ele me contou de quando ele assistiu De Volta Para o Futuro pela primeira vez, sobre como ele ficou obcecado pelo filme e como tudo que ele queria na vida era ser como Marty McFly. Disse que uma das coisas que ele mais gostava era de História e que isso sim era uma coisa boa da realeza, ter uma biblioteca que chegava a mais de 800 anos no passado com seus livros e filmes e músicas.
Depois de um tempo, nós dois nos deitamos na cama, mirando as estrelinhas que brilhavam no escuro do teto. Até pegamos os travesseiros, trazendo-os para nós, ficando mais confortáveis.
Ele dormiu fácil, virado para mim. Enquanto eu ainda pensava que poderia ficar conversando com ele por horas. Mas de repente sua respiração ficou mais estável e seu silêncio mais profundo. Me virei para olhá-lo e percebi que já estava apagado. Ele estava encolhido de novo como um garotinho, tentando se encaixar no pouco da cama em que estávamos. Eu fiquei com dó, queria puxá-lo para cima, cobri-lo. Mas só o cobri, porque não queria arriscar acordá-lo. E eu pensei em ir embora, tinha até me levantado. Mas quando olhei para ele, pensando que seria a última vez, eu não consegui ir para o meu quarto. Não naquele momento.
Então me sentei no chão do lado da cama, observando ele dormir. Ele estava agarrado no travesseiro, seu rosto quase completamente enterrado nele. Mas ele parecia estar tão satisfeito, era bonitinho de ver. E eu não perdi a noção do tempo e do normal, pois me apoiei na cama com os dois braços e deitei minha cabeça neles, meus olhos presos em Sebastian.
Quando acordei, já estava quase amanhecendo e eu estava com uma dor nas costas de matar. Mas o a luz da manhã me fez pensar mais claramente e entrar em pânico para voltar ao meu quarto antes que meu pai acordasse.
Por sorte, ainda eram seis da manhã e ninguém estava planejando levantar antes das nove. Fechei minhas cortinas como tinha feito com as de Sebastian antes de sair de lá e me afundei embaixo das minhas cobertas. Minhas pernas também doíam de terem ficado na mesma posição por tanto tempo, o que fazia toda a maciez da minha cama mais convidativa ainda. Eu adormeci pensando em como seria bom compartilhar aquele conforto com o Sebastian.
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