Capítulo 7: POV Enny Knout
Eu saí do carro do meu irmão tremendo por dentro, mas calma por fora. Estava com meu melhor vestido azul marinho até o joelho, bem ajustado, frente única. Minha mãe teve que ficar no hotel, mas me emprestou seus sapatos de salto alto pretos que agora me faziam quase cambalear até a praça.
"Nervosa?" Duck me perguntou andando até mim. Ele me ofereceu o braço e eu coloquei o meu em volta do seu.
"Nem um pouco," disse, arrumando a flor no meu cabelo. "Eu nasci para isso."
"Nunca pensei que salsichas poderiam se tornar princesas," Eliot disse do meu lado esquerdo.
Salsicha. Ia sentir saudades dele me chamando assim só por ser irmã do meio.
"Não ganhei ainda, El," eu falei, lhe dando um sorrisinho.
"Enny," ele puxou minha mão e eu parei de andar para encará-lo. "Você tem mesmo que ir?"
"El," me agachei na sua frente, fazendo-o ficar mais alto que eu. "Você não quer que eu vá?"
"Só se você puder me levar!"
"Eu não posso," eu disse. "Eu te levaria na minha mala, se eu pudesse, juro," coloquei uma mecha de cabelo atrás de sua orelha, mas ela não parou e caiu nos seus olhos logo depois. "Mas eu prometo te escrever todo dia para contar de tudo que estiver acontecendo!"
"Mas quem vai brincar comigo?" Ele perguntou, fazendo um beiço.
"Duck vai."
"Oi?" Duck perguntou, olhando pra gente.
"Você vai brincar com Eliot enquanto eu estiver fora.
"Vou, é?"
"Vai," me virei para Eliot. "Ele vai, ele promete."
"Enny, você tem que ir," Duck me puxou pelo braço e eu me levantei.
Andei até a praça, onde câmeras me esperavam.
Um homem de terno cinza claro se aproximou de mim antes mesmo que conseguisse chegar ao meio da praça. Subir os poucos degraus que tinha lá me deixou ver a imensidão de pessoas que tinham ido me ver. Toda a província de Sumner estava ali, eu poderia apostar. Pelo lado da rua que eu cheguei, tinha percebido algumas pessoas, mas agora na praça percebi o quanto aquilo importava para todo mundo ali.
Eu os estava representando. Eles estavam torcendo por mim. Eles iam me assistir na televisão e torcer para que o príncipe se apaixonasse por mim! Eu não estava sozinha nessa. Eu não tinha só meus irmãos e minha mãe do meu lado. Eu tinha MUITA gente. E muita gente queria meu autógrafo, muita gente queria minha foto.
Sorri para algumas câmeras de pessoas normais que estavam mais perto de mim, fiz algumas poses básicas que nem sabia se iam sair bem nas fotos. Mas meu sorriso era completamente verdadeiro. Não conseguia parar, toda vez que eu via alguém me olhando com brilho nos olhos, me dava mais vontade ainda de sorrir!
"Enny Knout, alguma ligação com o Hotel Knout?" O homem de terno me perguntou, apontando o microfone para mim.
"Sim, ligação direta," disse, sem nem pensar no que estava falando. "Meu avô que abriu o hotel."
"E qual a sua casta?" Ele perguntou, provavelmente nem ouvindo o que eu tinha falado.
"Quatro. Mas meu pai era piloto do exército-"
"Que bom!" Ele me cortou, tirando o microfone de mim. "E você está animada para a seleção?"
Respirei fundo para não me irritar com ele. Ele só estava fazendo seu trabalho, deixando a entrevista curta. Não se estresse, Enny.
"Estou muito animada," respondi com meu sorriso no rosto. "É a minha nova aventura!"
"E você é uma menina que gosta de aventuras?"
"Muito," disse, pronta para explicar de novo minha relação com o meu pai.
Mas achei melhor não. Ele não queria me ouvir, ele só queria fazer o trabalho dele.
Tive que posar para várias outras fotos, responder perguntas sobre o que achava do príncipe e depois me despedir dos meus irmãos.
Agarrei Duck com todas as minhas forças, espremendo-o.
"Cuida do Eliot e da mamãe por mim, Duck," falei, sentindo pela primeira vez a dor de abandoná-los.
"Pode deixar. Se cuida você, Enny," ele se afastou de mim e me segurou pelos ombros. "Tenta não deixar todas as coisas ruins que já aconteceram com a gente, com VOCÊ, te impedirem de aproveitar uma oportunidade como essa! Você merece ser feliz, Enny. Mais do que todo mundo no mundo! Siga seus sonhos sem medo de cair, okay?" Assenti com a cabeça, sentindo as lágrimas nos cantos dos meus olhos. "Promete?"
"Prometo!" Disse e ele me abraçou de novo.
Quando chegou a vez de me despedir de Eliot, quase não consegui largá-lo. Ele não me falou nada, só chorou no meu ombro, seus braços em volta do meu pescoço. Eu lhe prometi de novo que eu ia escrever para ele todos os dias, sem falta. Ele só concordou com a cabeça, suas bochechas molhadas e coradas.
"Eu amo vocês," eu disse, já longe deles, andando em direção ao carro do governo. "Vou sentir saudades!"
Quando a porta do carro se fechou depois de mim, o silêncio reinou. Era estranho, porque eu ainda podia ver as pessoas do lado de fora, falando comigo, algumas segurando cartazes e Eliot chorando. Mas eu não podia ouvi-los. Nem eles podiam me ouvir. Quando o carro arrancou, senti um pânico de saudades, que me deu vontade de mandar o motorista parar e me levar de volta. Eu mal tinha saído e já queria voltar. O que seria de mim sem meus irmãos?
Fiquei bem distraída - e feliz assim - quando cheguei ao aeroporto.
"Ei, você é uma das selecionadas?" Perguntei para uma menina loira de cabelos cacheados que estava perto de onde era para eu encontrar a mulher que ia me levar até Angeles.
"Sim, meu nome é Sky, e o seu?" Ela disse com um sorriso tímido.
"Enny Knout," disse e lhe devolvi o sorri. "Eu sinto que eu te conheço de algum lugar, você é de Sumner?"
"Não, sou de Sota," ela falou, olhando para seu vestido florido. "É que eu sou modelo."
"É CLARO!" Soltei sem pensar. "Como não percebi antes?" Enfiei minha mão dentro da minha bolsa e tirei a Cosmo do último mês. "É você!" Disse, apontando para a capa.
"É, sou eu," ela disse, um pouco envergonhada.
"Desculpa," falei. "Não quero te envergonhar, mas é tão legal conhecer alguém que está em uma revista."
"Ah, isso não é nada perto do que está prestes a acontecer!"
"O que está prestes a acontecer?" Me inclinei mais perto dela, como se ela estivesse para me contar um segredo.
"A seleção, oras!" Ela riu, tampando a boca com a mão.
"Ah! Claro, desculpa!" Ri junto.
Quando entrei no avião, me acalmei completamente. Estava tão interessada em sentir o motor ligando, a gente tomando velocidade e se distanciando do chão que nem pensava na seleção. Mas quando já estávamos no ar, não pude deixar de observar Sky. Ela era tão bonita, alta e magra, seus cabelos eram perfeitamente cacheados em um tom puro de loiro. Seus traços delicados deixavam ela com cara de menina, mas seus olhos expressivos a mostravam como mulher. Ela era tão adorável, seria muito difícil competir com ela.
Contemplava as nuvens do lado de fora da janela pensando nisso. Ela era uma só. Imagina outras trinta e três meninas, todas lindas e impecáveis, lutando contra mim pelo coração de um homem só.
Essa aventura parecia tão incrível no começo, se eu não pensasse muito. Mas olhando de perto, agora, voando até Angeles, fazia a seleção parecer tão enorme e complexa. Eu teria que me esforçar mais do que tinha imaginado. E teria que me apoiar em mais do que só a minha beleza, se é que eu tinha alguma.
Duck estava certo. Não dava para ser só mais uma. Eu precisaria me abrir e me deixar levar. Mas só de pensar nisso, já sentia as paredes que tinha construído se levantando em volta de mim. Essa aventura seria mais complicada do que eu tinha imaginado.
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