Capítulo 62: POV Melody Hope
Amanhã nós teríamos outro Jornal Oficial e eu estava muito ansiosa. Era a segunda vez em que tínhamos que ficar na frente das câmeras e eu tinha certeza que não tinha nascido para aquilo. Era uma coisa que eu precisava aprender a controlar, mas ainda não tinha nem começado. E o único jeito que eu sabia como relaxar era pintando.
Eu tinha algumas poucas tintas no meu quarto, mas não tinha nenhuma tela. As únicas que estavam encostadas na parede em cima da mesa eram as que Charles e eu tínhamos usado no nosso encontro. Mas elas estavam inacabadas, então era a perfeita solução. Eu já não tinha a paisagem na minha frente, ela estava tomada pela escuridão da noite. Mas eu conseguia imaginá-la e iria dar o meu melhor para fazer lhe justiça.
Tinha começado pelo céu, então não tive que retocar quase nada, ele estava praticamente pronto. Fui fazendo as folhagens das árvores, o jeito que a minha mão tremia ajudando a passar o meu nervosismo. Depois passei para a grama, continuando com o verde. Tinha decidido mexer com o menor número de cores possível.
Mas logo eu tinha terminado tudo que dava para pintar com aquela tinta. Okay, não tinha sido logo. Já era quase cinco da manhã quando eu decidi me empenhar em pássaros vermelhos pousados em um galho. Eles não estavam na foto que Charles tinha tirado para nós pintarmos. Mas a foto tão pouco estava comigo, então eu me senti na liberdade de inventar.
Só que a tinta vermelha não estava do meu lado, pois assim que fui buscar um pouco mais para depois voltar à tela, caiu um pouco em minha camisola. Sem pensar, eu passei a mão por cima e estraguei ainda mais o tecido.
Bufei alto, irritada. Eu queria continuar ali, precisava continuar pintando. Mas também não queria estragar uma camisola que tinha ganhado para ficar no castelo. Por que eu tinha que ser tão desastrada? Agora eu tinha que parar de pintar e tentar tirar a mancha antes que ela secasse e tudo piorasse. E por ser tinta óleo, eu não podia simplesmente molhar o tecido.
Me troquei o mais rápido que pude, no vestido curto mais simples que tinha no meu armário. Era o que eu usava quando não queria pensar no que estava vestindo. Depois peguei a camisola e o pote de água rás que eu tinha e saí de lá. Se estivesse em casa, eu já teria tirado aquela mancha e voltado ao trabalho. Mas eu não tinha ideia se aquele tecido era alguma coisa diferente e não queria acabar estragando tudo ao invés de consertar.
Tive que andar nas pontas dos pés para não fazer nenhum barulho, mas as minhas mesas ajudaram. As luzes dos corredores de noite eram muito escuras, mal iluminavam o chão. Mas eu consegui chegar à cozinha sem muitos problemas.
Eu só não sabia o que eu estava pensando em fazer. Quando cheguei lá, estava vazia o suficiente para o barulho das portas parecer a coisa mais alta que já aconteceu na face da terra. E ele ecoou pela cozinha, me fazendo encolher, como se aquilo fosse ajudar as pessoas a não acordarem. Depois de alguns segundos imóveis, durante os quais eu constatei que ninguém tinha se incomodado com o ranger das portas, eu continuei andando. Passei pela sala comum e pelos vestiários, chegando ao corredor onde ficavam os quartos dos criados. Eu não tinha ideia do que fazer depois daquilo.
A única coisa que sabia era que eu precisava da ajuda de alguém. E a primeira pessoa que passou pela minha cabeça foi Marlee. Eu tinha criadas, claro, mas eu não queria incomodá-las. E eu achava que Marlee e eu já tínhamos intimidade o suficiente para ela não se incomodar tanto quando eu batesse à sua porta no meio da madrugada.
O maior dos meus problemas era que eu não tinha ideia de qual porta pertencia a ela.
Andei de uma à outra, voltando para a primeira, indo ficar de frente para a segunda. Eles deveriam colocar um nome, qualquer coisa. Uma letra, não sei. Mas eles precisavam inventar alguma coisa que ajudasse a identificar quem dormia onde.
Eu já estava com vontade de chorar. Estava em pânico por dentro, tentando ao máximo não fazer barulho, ao mesmo tempo que eu estava morrendo de frio na barriga de estar ali naquela hora. Estava quase desistindo, batendo os pés silenciosamente, quando ouvi uma porta abrindo atrás de mim, me fazendo dar o grito mais abafado que consegui. Mas era só Thomas Woodwork.
"Meu deus, você me assustou," falei, colocando a mão no peito e apoiando a outra na parede.
Meus olhos levantaram do chão e voltaram para ele. E foi quando eu percebi que na verdade ele só estava com uma toalha amarrada na cintura, o vapor do banheiro ainda escorrendo devagar pelo seu abdômen. Ainda bem que eu já estava apoiada na parede, senão eu tinha certeza que teria caído dura no chão.
"O que você está fazendo aqui?" Ele perguntou, cochichando.
Boa ideia, pensei. Não seria legal alguém encontrar a gente naquela situação naquela hora. Ainda mais que o jeito como ele esfregava uma segunda toalha no cabelo estava me fazendo esquecer meu nome.
"Eu precisava falar com a sua mãe," disse, praticamente balançando a cabeça para conseguir pensar direito.
Ele deve ter percebido o que causava em mim, pois riu, orgulhoso de si mesmo.
"Como você chama mesmo?" Perguntou.
Ah, verdade, pensei. Eu sabia seu nome, eu sabia muita coisa sobre ele. Mas na verdade eu nunca tinha falado com ele e ele nem sabia quem eu era.
"Melody," disse, sorrindo. "Melody Hope."
"Você não é uma das selecionadas?" Perguntou, dando os últimos passos que tinha entre nós.
O cheiro de banho tomado dele estava me fazendo querer rir tanto, eu não estava conseguindo me controlar! E eu precisava fazer silêncio, mais ainda do que precisava parar de ser tão tonta perto dele.
"Sou," eu respondi, tentando olhar para outro lado, tentando não pensar no cheiro maravilhoso que vinha da sua pele. "Eu só precisava falar com a sua mãe," falei de novo.
"É, eu entendi," ele disse. "Tem alguma coisa que eu posso fazer? Só para não ter que acordá-la cedo demais," ele explicou. "Ela não estava muito bem ontem."
"Oh," soltei e meus olhos me traíram, voltando a mirá-lo. "O que ela tinha?"
"Enxaqueca," ele disse, franzindo a sobrancelha. Depois seu olhar caiu nas minhas mãos e eu lembrei do que tinha ido fazer ali.
Mas os meus olhos tiveram que parar um pouco na barriga dele, antes de eu conseguir me explicar.
"Eu derrubei tinta na minha camisola, eu só precisava saber como tirar a mancha," eu disse. "Você por algum acaso entende alguma coisa disso?"
"Não," ele admitiu, rindo. "Por que você estava mexendo com tinta à essa hora da noite?"
Olhei para o chão, encabulada com o jeito que ele me focava. Respira, Melody, pensei. Ele é só mais um cara, só um guarda. Você teve um encontro com o príncipe e não ficou tão nervosa.
Ah, claro. O príncipe tinha usado roupas o tempo todo. Pensando nisso, meus olhos acabaram mirando sua toalha e eu me peguei me perguntando quão fácil seria simplesmente desfazer o nó que a mantinha no lugar.
"Hein?" Ele perguntou, me fazendo olhar de volta em seus olhos.
Eles não precisavam ser tão azuis, eu pensei. Não estavam ajudando.
"Desculpa, o que você tinha perguntado?"
"Por que você estava mexendo com tinta à essa hora," ele repetiu.
"Ah," falei, "mania. Estava nervosa com o dia de amanhã e era o único jeito que eu conseguia me acalmar."
"O que vai acontecer amanhã?" Ele franziu a testa e eu me perguntei se tinha alguma expressão que não o deixasse bonito.
Sorri com meu próprio pensando, deixando-o ainda mais confuso.
"Nada," falei, tentando em focar na conversa. "Quer dizer, o Jornal Oficial. Não sou muito boa em falar em público," expliquei.
"Você não é muito boa em falar em particular também," ele disse, rindo de leve.
Eu soltei uma gargalhada, rindo nervosa daquilo. Ele tinha acabado de falar que eu não conseguia falar direito com ele, se ele ao menos soubesse de tudo que se passava na minha cabeça.
"Shh," ele fez, colocando seu dedo indicador na frente dos lábios e eu fiquei séria rápido. "Vamos tentar não acordar todos os criados?"
"Vamos," falei, pensando em como seus lábios pareciam macios de longe.
Só precisava saber como eles seriam de perto.
"Pode me dar sua camisola que eu falo para a minha mãe que você veio aqui," ele disse, quebrando meus pensamentos como vidro. "Eu explico tudo para ela."
Ele tirou a peça de roupa dos meus braços antes que eu pudesse protestar e prolongar aquela interação. Ainda tinha muitas coisas que eu queria fazer, muitas expectativas que tinham sido criadas em um segundo dentro de mim. Eu já nem me importava com a camisola, já a teria jogado fora se tivesse uma lixeira ali perto. Eu só não queria sair dali. Minhas pernas não queriam se mexer.
Mas ele ficou me olhando com uma expressão que só podia significar, "O que você está esperando?". Eu ri, quando percebi que estava enrolando ali e ele sorriu, me achando louca. Depois fui andando até a porta, lutando contra mim mesma, até que voltei para o corredor dos vestiários.
Pronto, pensei. Agora que eu já estava ali, eu podia muito bem voltar para o meu quarto e tentar dormir.
Mas eu estava ainda mais nervosa e não existiam tubos de tinta o suficiente no mundo para me acalmar.
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