Capítulo 34: POV Sebastian Regen
Nina parecia bem apreensiva em entrar comigo na festa. Não se preocupe, pensei. Eu não queria estar lá nem um pouco mais do que ela. Ofereci-lhe meu braço e olhei para a festa. Tinha decidido fingir que era só uma acompanhante, só uma menina qualquer. Não uma louca que estava prestes a dar barraco se eu falasse qualquer coisa sobre um personagem fictício de um livro escrito há quase quinhentos anos.
Pensar naquilo me fez rir para mim mesmo. Ela percebeu, se virando para me olhar, mas não falou nada. Estava quase, dava para ver, mas acabou só se virando para a frente de novo.
O caminho inteiro do castelo até a tenda era pequeno, mas dava para ver que ela estava tão feliz de estar ali quanto eu e isso deixou cada segundo desconfortável. Me concentrei nas lanternas que faziam todo aquele momento parece incrivelmente irreal. Quem sabe ela mesma que tinha pensado naquilo.
Quando entramos, todos já estavam de pé e se viraram para a gente. Levantei a mão que carregava o chicote enrolado para acenar para eles. Reconheci alguns amigos no caminho até o picadeiro, cumprimentando-os quando dava tempo. Uma vez junto aos outros, soltei-me de Nina, deixando-a para trás e indo até Gavril.
Havia câmeras em toda a festa, cada uma delas nos mirando naquele momento.
"Príncipe Sebastian," Gavril disse, "como está se sentindo?"
"Lisonjeado, Gavril," falei, levando uma mão à barriga, tentando mostrando minha humildade. "Eu nunca pensei que pudessem fazer uma festa tão bonita, de verdade. Me sinto honrado de ter conhecido essas meninas," me virei para apontar para elas e percebi que Nina mirava o chão, parecendo bem triste.
Aquela imagem me fez esquecer o que ia falar. Era como se ela estivesse em um lugar completamente diferente, onde não havia malabaristas, palhaços ou macacos puxando o cabelo das pessoas. As luzes das lanternas não eram o suficiente para animá-la, a música que tocava não parecia chegar aos seus ouvidos. Ela estava fechada no próprio mundo deprimido, sua maquiagem contrastando com seus olhos tristes.
"E você está fantasiado," Gavril disse, chamando minha atenção para ele depois do tempo que eu tinha ficado sem falar. "Domador de leão, acha que combina com a sua personalidade?"
"Perdão?" Perguntei, me voltando para ele. Eu não tinha a menor ideia do que ele tinha acabado de falar.
"Você acha que a sua fantasia combina com a sua personalidade?" Ele repetiu e eu vi o pânico passando por trás de seus olhos.
"Claro!" Exclamei, voltando à minha pose. "Claro, claro. Eu tenho que lidar com muitos leões, bom, leoas na minha vida e sei que possuo as habilidades necessárias para domá-las," pisquei para a câmera, tentando afastar aquele incômodo que continuava em mim de ter visto Nina daquele jeito.
Gavril continuou falando com as pessoas de casa e depois anunciou a festa. Não tinha ouvido direito, mas mantive meu sorriso no lugar, sem querer demonstrar nem metade do que estava pensando.
Logo fomos levados à nossa mesa e nos sentamos. A festa já havia começado há tanto tempo, nós só tínhamos chegado na hora do jantar.
Nina se sentou na minha frente, então não pude perguntar o que tinha acontecido. Ela conversou com Beatriz o tempo todo animada, mas nos poucos momentos em que elas ficaram sem se falar, pude perceber que ainda tinha alguma coisa que a incomodava. Eu ficava me perguntando o que poderia ter acontecido do momento em que entramos ali até quando eu fui responder as perguntas de Gavril para ela ter mudado tanto de humor.
A primeira coisa que pensei era que algum personagem louco devia ter morrido no livro que ela estava lendo. Mas isso não explicaria direito. Então tive que presumir que era por causa do meu irmão.
O que me deu raiva. Ele só estava fazendo o que tinha que fazer, que era dar atenção para uma selecionada. Ela não podia ficar triste por isso. Ela sabia que era assim. Não podia acreditar que eu tinha ficado com dó dela quando ela só estava com ciúmes.
Minha pena foi virando raiva e chegou em um ponto que eu resolvi que seria melhor eu sair dali antes de falar alguma coisa. Falei que ia dançar e andei até a mesa das outras selecionadas.
Ainda não tinha pensado em quem ia convidar quando cheguei lá. Meus olhos foram direto para a estabanada, mais conhecida como Jenny Siee.
"Lady Jenny," falei, indo até sua cadeira, "você me concederia o prazer dessa dança?"
Ela pareceu confusa primeiro, mas acabou se levantando. Eu a guiei até o picadeiro, onde começamos a dançar.
Esquece a Nina, eu pensei. Ela está preocupada demais com seu irmão para você ficar pensando nela. Olhei para Jenny e tentei ao máximo me concentrar nela.
Seus olhos grandes me miravam, ainda confusos. Ela bem que poderia simplesmente esquecer a surpresa de eu tê-la convidado para dançar, pensei. Aquela dança demorou horas. Pelo menos era o que parecia.
Quando finalmente acabou, fizemos uma reverência, nos agradecendo e ela voltou para a sua mesa. Eu estava voltando para a minha quando vi Charles guiando Nina até o picadeiro. Ela já parecia mais animada. Louca.
Praticamente marchei até a mesa da Rainha Daphne da França. Depois de cumprimentá-la, perguntei à Princesa Amélie se não dançaria comigo. Ela aceitou, feliz, e desfilou seu corpo esbelto na minha frente até a pista de dança.
Seus modos eram impecáveis e ela era tão boa na dança, que quase me fazia de tolo. Eu estava batalhando para guiá-la, o que era muito bom porque me distraía de pensar na Nina.
Nós girávamos como se tivéssemos praticado a vida inteira, quando eu vi com o canto dos olhos Nina rindo, jogando sua cabeça para trás e Charles a segurando bem perto dele. Sem querer, perdi um passo, fazendo Amélie pisar no meu pé e se desequilibrar. Consegui segurá-la um segundo antes de cair no chão, puxando-a para cima de novo, junto de mim. Nossos rostos estavam a pouco centímetros um do outro, nossos corpos completamente colados.
Depois de um segundo interminável, ela me soltou e deu um passo atrás.
"Me desculpe," falei, sentindo os olhos de todos da pista em nós.
"Não se preocupe," ela disse com seu sotaque ainda mais carregado do que o da criada de meu irmão.
Ah, ex-criada. Nunca criada, não sei. Aquela menina lá.
Logo Amélie voltou aos meus braços, mantendo a distância aceitável e nós voltamos a dançar como se nada tivesse acontecido.
Eu me forçava a olhar para ela e nenhum outro lugar, mas ainda assim percebi as poucas vezes em que os olhos de Nina foram de Charles para mim e de volta para ele.
Quando a dança finalmente acabou, decidi que era melhor eu sair dali, ir cumprimentar outras pessoas, simplesmente me manter longe do meu irmão e das selecionadas dele. Principalmente da que estava me deixando louco.
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