Capítulo 113: POV Charles Regen
Eu não sabia que Nina estava tão mal. Quer dizer, eu podia imaginar. Mas vê-la daquele jeito, tão desesperada e desiludida na frente era diferente. Foi difícil para mim. Eu não sabia o que falar, não sabia o que a ajudaria. Ela era tão delicada, era terrível vê-la tão destruída.
Quando eu saí do seu quarto, ela me disse que ir tomar banho. A primeira coisa que pensei era que eu não queria deixá-la se afogando na banheira. Eu tinha pedido para que ela ficasse com Gabrielle, mas talvez fosse a hora de pedir para que Gabrielle cuidasse dela. Eu só tinha algumas outras coisas para fazer.
Como de costume, eu precisava dar algum presente para cada uma das meninas da Elite. Eu tinha enviado uma mensagem para Arya na Irlanda dizendo que meu presente para ela era o fato de que eu não iria usar aquilo contra ela. Pelo contrário, cheguei a contar para um dos jornais de circulação nacional que eu apoiava aquele namoro ou sei lá o quê dos dois. Eu mesmo tinha deixado que eles fossem embora. E ela tinha que ficar grata por aquilo.
Meu pai tinha pensado em me ajudar a escolher uma joia para cada uma. Mas eu sabia que precisava fazer mais. Eu me sentia culpado de tê-las trazido todas para cá e lhes dado esperança quando meu coração tinha escolhido antes mesmo que eu pudesse as conhecer. Uma joia não seria o suficiente para elas. Eu precisava me redimir por ter atrasado a vida delas de certo modo. Eu precisava de alguma coisa que não as deixassem pensar que era isso mesmo que eu tinha feito. Não queria que me odiassem. Queria que entendessem.
Então eu bati na porta de Enny, logo depois de deixar Nina. Não demorou até uma das suas criadas abrir e me deixar entrar. Ela sorriu para mim, animada, e eu me senti ainda mais culpado por não estar ali para cortejar sua selecionada.
"Enny," eu comecei, uma vez que suas criadas nos tinham deixado sozinhos. Ela estava sentada na minha frente e eu busquei suas mãos. "Eu gostaria de te agradecer por ter entrado na Seleção," eu disse, e ela franziu as sobrancelhas. "Eu gostei muito de conhecê-la e eu espero que você saiba disso."
"Okay," ela falou, não parecendo muito convencida.
Eu respirei fundo uma vez antes de continuar. "Depois de tudo que aconteceu," eu continuei, mas ela me cortou.
"Você está me eliminando!" Ela disse, levando uma mão à boca.
"Não!" Eu falei correndo. "Não exatamente. Deixe-me explicar."
"Não precisa, Charles," ela disse, voltando a segurar minhas mãos. "Eu entendo. Depois de tudo que aconteceu com Gabrielle, seria besteira minha fingir que ainda existe uma competição. Eu entendo que você já a escolheu."
Eu engoli em seco. Ela realmente parecia entender, mas eu ainda me sentia muito culpado por tê-la feito passar por tudo aquilo. Ainda mais agora, que ela estava me perdoando sem que eu merecesse.
"Mas mais que isso," eu falei. "Eu queria mesmo te agradecer por tudo. E para isso, eu pensei em te dar um presente."
Seus olhos arregalaram de leve com a surpresa, e eu fiquei satisfeito com a sua reação.
"Um presente?" Ela perguntou.
"Sim," eu disse. "Eu pensei bastante no que poderia te dar, no que você gostaria. Foi quando eu lembrei do dia em que você me contou de seu pai. E eu me lembrei que você me contou que a única razão para você ter desistido do sonho de pilotar um avião era por causa dele..."
"Charles, não," ela balançava a cabeça, mas eu já esperava certa resistência.
"Eu nunca perdi meu pai," eu continuei, sem me abalar. "Eu tinha tive que lidar com alguma coisa assim, ainda mais como é para você. Eu nunca tive essa incerteza, nunca tive que viver com essa dúvida. Mas eu imagino que isso nunca passe. Perder um pai é algo que te marca para sempre. Você nunca vai se sentir melhor, nunca vai ficar imune a isso. E se eu pudesse, era isso que eu gostaria de te presentear. Mas eu não posso. Eu só posso fazer com que você não desista do seu sonho. Não precisa negar seu passado, mas precisa seguir o seu futuro." Eu coloquei uma mão no bolso de dentro do meu paletó, sentindo o tecido raspar nos nós dos meus dedos e me doer. Mas eu ignorei a dor e tirei de lá alguns papéis dobrados. "Aqui está sua inscrição para a aeronáutica-"
"Charles, eu não posso-"
"Você começa amanhã, quarta-feira," eu continuei. "Igor Loric irá te acompanhar. Ele é um dos guardas aqui. Ele me prometeu que fará de tudo para que você se adapte sem problemas."
Enny olhou de mim para os papéis, depois de volta para mim. Eu podia ver a dúvida em seu rosto, mas tinha mais ali. Tinha um pouco de esperança também. E era nessa esperança que eu tinha que insistir.
"Eu não sei," ela disse, balançando a cabeça.
"Isso não é uma sentença, Enny," eu disse, voltando a segurar sua mão. "É uma oportunidade. Você pode ir, tentar e depois desistir. Você não precisa se prender a isso. Não é algo que você tem que fazer por mim. É algo que você tem que fazer por si mesma. Você merece essa chance de descobrir se é isso mesmo que você quer. Você merece uma oportunidade de sonhar e ver seu sonho se tornar responsabilidade. Você só precisa tentar."
A esperança começou a tomar conta da sua expressão e ela pegou os papéis de mim.
"Mas e a minha casta?" Ela perguntou, e eu pude ouvir na sua voz que ela já estava praticamente convencida.
"Bem-vinda à casta Dois," eu disse. "Você oficialmente faz parte da aeronáutica de Illéa e eu devo dizer," levei uma mão ao peito, "é um prazer ter alguém como você conosco."
"Conosco?" Ela perguntou, confusa e divertida.
"Está bem, faz tempo que eu não tenho que fingir que faço as mesmas coisas que os outros soldados, mas você me entende."
Ela riu, seus olhos indo de mim para os papéis. Ela parecia tão hipnotizada, que eu achei melhor deixá-la. Então me levantei, a beijei na testa e pedi que fosse falar comigo caso tivesse mais algum problema.
E então eu me direcionei para a próxima porta aonde eu deveria ir. Assim que bati, Sophie a abriu com tudo.
"Alteza!" Ela disse, surpresa.
"Charles," a corrigi. "Você está sozinha?" Ela concordou com a cabeça, ainda sem entender bem o que estava acontecendo. "Eu precisava falar com a senhorita, tem algum problema?"
"Não, entra," ela disse, dando espaço para eu passar pela porta. Ela a fechou logo depois e eu já tinha me sentado na cama. "Está tudo bem?" Perguntou, um pouco nervosa.
Ela se sentou longe o suficiente de mim para eu ficar já um pouco mais incomodado com o que eu tinha que pedir para ela. Mas tanto pelo nervosismo dela, quanto pelo meu, eu decidi ser o mais honesto possível.
"Eu queria te pedir um favor," eu falei de uma vez.
"Claro," ela respondeu, sem saber o que eu queria.
"Não é uma coisa normal, pelo contrário," eu disse. "Nem é justo que eu te peça isso."
"Você está me assustando!"
Era bem essa a minha intenção mesmo. Quem sabe se eu a assustasse bastante, quando eu pedisse o tal favor, ela não me odiaria tanto.
"Me perdoe," eu disse. "Mas eu preciso te pedir para ficar mais um tempo no castelo." Ela franziu as sobrancelhas, como eu esperava. Até abriu a boca para falar alguma coisa, mas eu fui mais rápido. "Lady Arya está na Irlanda," eu disse.
"Ouvi dizer."
"E Lady Enny sairá amanhã para se alistar na aeronáutica," continuei.
"AERONÁUTICA?" Ela perguntou, tão incrédula, que me fez rir.
Mas aí eu lembrei do meu pedido e deixei meu riso morrer.
"Sim," falei. "Era o sonho dela e eu achei que nada seria mais justo do que ajudá-la a conquistá-lo," Sophie sorriu, quase como se sentisse orgulho de mim. Pronto, pensei. Um pouco mais de culpa sobre meus ombros. "Eu gostaria muito de te dizer que você é livre para sair do castelo," continuei. "A verdade é que tudo que aconteceu me fez perceber que eu já não precisava tomar uma decisão. Meu coração já tinha escolhido por mim," eu falei, e ela só concordou de leve com a cabeça. "E eu gostaria muito de poder te agradecer por tudo e te deixar livre para seguir sua vida, para encontrar outra pessoa. Mas eu preciso de você no castelo."
"Como assim?" Ela perguntou e eu percebi que finalmente precisaria explicar tudo, ser o mais honesto possível.
"Sem a Arya e a Enny aqui," eu continuei, "só tem mais quatro de vocês. Você, a Beatriz, Nina e Gabrielle. E Gabrielle ainda não está completamente bem, ela ainda está abalada pelo que aconteceu. E eu gostaria de poder dar-lhe tempo para se recuperar antes que eu pudesse pedi-la..." me pareceu bastante cruel terminar aquela frase.
"Em casamento?" Sophie completou para mim e eu concordei com a cabeça. "Mas o que eu sair tem a ver?"
"Se chegar a três meninas, eu tenho que escolher até o final da semana," eu expliquei. "Eu preciso que você fique, para dar o tempo necessário para Gabrielle se recuperar."
"Entendi," ela falou, um pouco desanimada, pensando consigo mesma.
"Mas tem outra razão," eu continuei. "Sebastian me pediu um tempo para que ele procure algum jeito de fazer Nina perdoá-lo."
Ela pareceu um pouco surpresa. "Como ele pretende fazer isso?"
Eu dei de ombros. "Não tenho a menor ideia," disse. "Mas ele ainda tem alguma esperança de que a princesa da França o esteja enganando. Eu sei que a escolha é mim, se você fica ou não, mas eu não queria que você me odiasse por isso."
"Eu não te odeio," ela falou logo depois, para a minha surpresa. "Eu fico mais alguns dias. Não posso reclamar de passar mais alguns dias em uma cama como essa, comendo bem como só aqui!"
Eu sorri, um pouco triste ainda com toda a situação.
"Tem mais uma coisa," eu falei. "Eu gostaria de fazer uma doação para a escola de música onde você dá aula. Uma doação que ajudasse a reformá-la. Não só de dinheiro, mas de instrumentos. E a minha mãe me disse que adoraria fazer uma apresentação, talvez até alguma palestra."
"Isso seria incrível!" Ela ficou toda animada e eu me senti um pouco pior de a estar prendendo ali.
"É o mínimo que eu posso te oferecer," falei, depois me lembrei de outra coisa. "Você não é livre para ir embora, Sophie. Mas você é livre aqui dentro. Eu te dispenso de qualquer obrigação que você tenha comigo, mesmo que emocional. Você é livre para ficar com quem preferir."
"Por que você acha que eu iria querer estar com alguém?" Ela perguntou, suas bochechas ficando bastante vermelhas.
Eu a olhei de lado, um pouco confuso e ela só se levantou, fugindo do meu olhar.
"Não acho," falei. "Só estou dizendo que, por mais que eu precise que você fique no castelo, não vou prender também seu coração. Não quando eu já lhe disse que o meu pertence a outra pessoa."
"Não se preocupe," ela disse, se virando para mim. "Obrigada por me deixar livre, e pode deixar, eu fico. Eu fico o tempo que precisar."
Eu sorri de novo para ela e me levantei. Quando estava passando pela porta, ela me chamou.
"Aliás," ela disse. "Fala para o Sebastian, que se ele precisar de alguma ajuda para conseguir derrubar a francesinha e ficar com a Nina, eu estou aqui. É só pedir."
Eu concordei com a cabeça, até animado com aquilo. Era legal pensar que a Nina tinha tanta gente atrás dela. Eu só me perguntava se era por causa dela ou por causa de Amélie.
Assim que ouvi a porta de Sophie fechando atrás de mim, eu comecei a andar em direção ao último quarto. Aquele seria o mais difícil. Impossível até. Só de imaginar que eu teria que fazer com ela aquilo que eu tanto odiava, eu já ficava enjoado.
Era tudo que eu queria evitar que acontecesse com ela. Eu queria poupá-la, eu queria muito só mostrar para ela que tinha alguém no mundo que a trataria bem. Que ela não precisava acreditar que merecia o que o seu ex-noivo tinha feito. Que ela merecia alguém que a amasse, alguém que entendesse a sorte que tinha de tê-la do seu lado.
Mas lá estava eu, prestes a bater na porta de Beatriz para tentar explicar porque eu não poderia ser esse cara para ela.
S�t�m{
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