Capítulo 108: POV Arya Noleira
Eu mudava a televisão de canal pela milionésima vez sem parar. Eu estava completamente entediada, mas não tinha mais nada para eu fazer. Estava considerando sair para dar uma passeada pelo andar do hospital, mas a última vez que eu tinha feito aquilo, eu tinha visto muitas coisas que eu preferia nunca nem saber como eram.
Eu odiava hospitais, essa era a verdade. Mesmo aquele, particular e caro - bastante caro - ainda tinha aquela atmosfera de caos, de tragédia. Era só pisar lá dentro que eu já sentia como se tudo fosse dar errado.
Claro que ficar ali nem foi tão ruim assim. Pelo contrário, depois de acompanhar pelo canal de notícias o que estava acontecendo no castelo, eu fiquei feliz de poder estar ali, quase um mundo de distância. Todos os problemas do hospital pareciam tão normais perto de um sequestro. E a cama desconfortável me passava bastante segurança.
Mas agora já tudo já tinha se acalmado. Gabrielle - ainda bem! - já estava a salvo e no castelo. Tudo tinha dado certo, os sequestradores foram pegos, iam ser sentenciados. Eu só não conseguia entender porque eu tinha que ficar ali.
Eu estava fazendo do hospital um hotel. Eu não tinha tubos ligados a mim, nenhuma enfermeira vinha me dar medicação de hora em hora. Eu estava bem. Eu só tinha batido a cabeça, nada de mais grave tinha acontecido. E a única razão para eu estar ali já tinha acabado.
Só que eu não sabia como ir embora. Toda vez que eu saía do meu quarto e perguntava para alguém, eles me diziam que tinham que esperar a ordem do rei. Só que ninguém me ajudava a falar com o rei. Nem os guardas que estavam sempre na minha porta pareciam saber alguma coisa. Eles estavam tão presos àquela distância de tudo que estava acontecendo no castelo, quanto eu.
Eu já tinha quase aceito meu destino. Eu ficaria ali, fazendo o que tivesse para fazer, até que alguém viesse me salvar. Eu já tinha comprado cinco livros na loja de presentes, já tinha escrito várias músicas e cartas para a Lua. Eu já tinha até escrito uma para cada selecionada, só para explicar para cada uma como eu tinha gostado de conhecê-las.
E eu também já tinha me conformado que a Seleção não era para mim. Eu não tinha ouvido grandes detalhes, mas o que o príncipe tinha feito pela Gabrielle, ele nunca faria por mim. Eu duvidava muito que haveria algum espaço para mim em seu coração. E a verdade era que eu nem queria que houvesse.
Todo aquele silêncio e aquela solidão pareciam tão inofensivos, mas eles estavam me mudando a cada segundo. Era incrível como nada acontecer podia fazer tanta coisa mudar. Eu estava presa aos meus próprios pensamentos que aconteciam na mesma velocidade que eu falava. E eu tive que começar com a dúvida do que poderia ter acontecido com Jack. Nenhum guarda sabia me responder. E não aparecia nada na televisão. Com tudo que estava acontecendo no castelo, eu imaginaria que ele já tivesse ido embora. E de novo, lá estava eu, me perguntando se eu nunca mais o veria de novo.
O que era errado. Era bem errado. Porque ele não era nada para mim, a não ser alguém que parecia sempre me ver. E esse mínimo detalhe me fazia me sentir tão especial, que eu não queria nem pensar em nunca mais poder me sentir assim. Era como uma certeza dentro de mim que ele só conseguiria olhar para mim, mesmo que eu estivesse no meio de uma multidão. Eu falava para mim mesma que eu era idiota de acreditar nisso, mas eu sorria só de pensar. Ele realmente me fazia sentir como a pessoa mais importante no mundo.
E eu não queria que ele fosse embora. Eu mal sabia sobre ele, mas eu sabia que eu queria aquela sensação comigo. E ninguém nunca tinha me feito sentir assim, como se eu não só fosse boa o suficiente sendo eu mesma, mas como se eu fosse realmente especial por isso. Eu sempre me fui a esquisita, que falava demais, que brincava demais. Esse meu jeito nunca me deixou faltar amigos, mas a maioria dos caras se afastavam. Eles gostavam, achavam engraçadinho e tudo, mas nunca se apaixonavam por mim. Mas Jack parecia encantado, ele sempre tinha um brilho nos olhos quando me ouvia falar sem parar. E quanto mais eu me fazia de idiota na frente dele, mais ele sorria.
Lá, naquele quarto que nem parecia ser de um hospital, sozinha e no silêncio, eu me perguntei se algum dia outro cara fosse me ver assim. Ou se eu tinha muito bem ajudado a espantar o único que me suportaria.
Para tentar descobrir se ele tinha voltado para a Irlanda, eu procurei sobre ele na internet. Eu achei várias coisas, na verdade. Várias que eu preferia nunca ter achado. Como suas ex-namoradas, todas altas e maravilhosas. Todas magras, bem magras, com o corpo perfeito. Eu não estava acima do peso, nem conseguiria com a quantidade de comida que a minha família conseguia. Mas eu tinha corpo de menina, e ele só namorava mulheres.
Elas não eram só lindas, elas eram perfeitas. Estudantes de direito, de medicina, com uma noção de moda que eu nunca teria. E dinheiro. E status. Enquanto eu era uma Cinco de um país a um oceano dele, com um sotaque tosco que nem se comparava com o delas. Eu me senti pequena, lendo cada matéria sobre ele, toda aquela certeza de que ele gostava de mim morrendo por dentro. Como ele poderia gostar de mim depois de namorar com elas? Eu era idiota, a criança que estava querendo acreditar em um conto de fadas que não existia. Ele só poderia rir dos meus sentimentos se eu algum dia os confessasse. Porque eles eram idiotas. Muito idiotas. Quem era eu para achar que eu merecia olhar para ele? Ainda mais quando eu tinha assinado um contrato onde eu prometia meu coração a outro?
E então, sem que muita coisa acontecesse fora da minha cabeça, eu fui de me perguntar como ele estava, para decidir que eu o queria, até chegar a decidir que não existia porque eu pensar nisso. Que eu tinha que matar aquela esperança que crescia dentro de mim.
O problema era que eu tinha ficado sozinha tempo demais. E logo eu fui deixando a esperança tomar conta de mim. Eu comecei a me convencer das minhas qualidades. Quando isso não funcionou, eu resolvi focar nos defeitos das exs dele. Como, por exemplo, elas deviam ser bastante fúteis. Claro, se a mulher era linda e inteligente, eu precisava me convencer de que era fútil. E também falsa, arrogante. Quem sabe elas fossem até meio sem graça, sem senso de humor. Talvez fosse isso que ele quisesse, alguém para rir com ele.
Eu escrevi mil músicas. Algumas falando de uma menina vivendo a minha vida, já imaginando ler nos jornais sobre ele casado com outra. Outra música falando sobre como era melhor assim, ele levando a vida dele e eu a minha. Outras pedindo para ele me escolher.
Era engraçado, mas todo esse meu drama foi bem explicado em cada música. Todos os meus altos e baixos. E ali, sozinha naquele quarto, no silêncio que só era quebrado pelo violão que eu tinha emprestado da sala das crianças (sério, a enfermeira já tinha me pedido pelo amor de deus para dividir, mas eu consegui negociar com ela um acordo - eu tocaria para as crianças e ficaria com o violão o resto do tempo), eu senti mais do que eu já tinha sentido em toda a minha vida. Era medo, esperança, adoração, gratidão, desespero, tristeza simples e clara, crua. E então um pouco mais de esperança, um pouco de sonho, seguido da realidade da minha própria solidão. Ele já devia estar em Dublin, até Charles parecia ter se esquecido de mim.
Eu cheguei a pensar em ir embora do hospital. Eu me perguntei se alguém perceberia se eu simplesmente saísse pela porta do hospital e fosse embora para casa. Não que eu tivesse dinheiro para isso, ou meios. Mas eu realmente queria saber se alguém sentiria a minha falta.
Eu estava lá, passando os canais, sem parar para ver os programas, só pelo tédio de ficar apertando o mesmo botão, quando alguém bateu na porta. Eu desliguei a televisão na hora e me levantar até estar sentada na cama.
"Entra," eu falei, já toda animada, pensando que poderia ser alguém do castelo, vindo me falar que eu finalmente poderia voltar.
Mas não era. E meu coração parou de bater por um segundo quando os olhos de Jack encontraram os meus. E, é, pela primeira vez, eu não sabia o que dizer. Eu até abri a boca para falar, mas não saiu nada. Eu não estava conseguindo formar frases na minha cabeça, eu só não conseguia acreditar que ele estava ali! Ele era a última pessoa que eu pensei que pudesse vir me ver.
E então meu coração se lembrou daquela esperança idiota de que ele sempre me veria, mesmo no meio de uma multidão. Eu fiquei bastante agradecida que ninguém ali no hospital estava marcando os batimentos do meu coração, ou eles já achariam que eu estava tendo um ataque cardíaco.
"Olá," Jack disse, fechando a porta atrás dele.
Eu nem tinha percebido como eu estava com saudades da voz dele até ele falar comigo!
"Olá," eu respondi.
Ele andou até a minha cama e se sentou na minha frente. Eu estava debatendo na minha cabeça o que eu poderia falar para ele, a qual conclusão eu tinha chegado naqueles dias. Mas quando levantei os olhos para encontrar os dele e comentar alguma coisa sobre suas ex-namoradas, ele parecia tão abatido, que eu esquecia o que ia dizer.
"Está tudo bem?" Eu perguntei, preocupada.
Ele respirou fundo, o que só me deixou ainda mais nervosa. "Eu disse que não ia embora sem me despedir de você."
Ele não precisava dizer mais nada. Eu já estava sentido todo o hospital desabando em cima de mim. Ele ia embora. Ele ia embora e eu ia ficar ali, vivendo a minha vida medíocre e idiota.
"Você..." eu comecei, mas a minha voz não queria sair.
"Sim," ele se esticou até pega na minha mão.
"Eles estão te mandando embora?" Eu perguntei, de repente lembrando que eu nem sabia o que Charles ia fazer com ele. "Eles me falaram que eu não era culpada de nada, mas que você era."
"Está tudo bem, não se preocupe," ele sorriu, para tentar me acalmar, mas não parecia muito sincero. "Mas eu tenho mesmo que ir. Já passei tempo demais longe de casa."
Tinha um nó na minha garganta, conforme eu engoli tudo que eu queria dizer, mas que sabia que nunca poderia. Tive que respirar fundo, mas acabei conseguindo voltar a olhar nos seus olhos.
"Eu adorei conhecer você," eu disse. "Não só pelo óbvio, né, que você é príncipe e parece gostar de me ouvir falar quando nem eu mesma me aguento," ele sorriu de novo, dessa vez mais natural. "Eu posso estar bem errada," eu continuei. "Mas eu vejo alguma coisa em você. E eu sei que você é diferente da maioria das pessoas. De novo, não só pela coroa. Claro que a coroa é uma coisa que te difere. Nem todo mundo por aí pode ser príncipe, né? Apesar de que eu já andei conhecendo uma boa quantidade por aí-"
"Arya?"
"Sim?"
"Você estava falando que eu sou diferente da maioria das pessoas?"
"Ah, sim," eu parei um pouco para respirar fundo de novo, tentando não perder a coragem que eu precisava juntar para falar aquilo. "Você é especial, eu posso ver em seus olhos. E eu me sinto honrada de poder ter te conhecido. E eu só queria que você soubesse que você é importante assim, que você mudou a vida de alguém, mesmo que esse alguém seja eu. Eu, sendo uma menina qualquer, que não sabe fazer nada além de tocar alguns instrumentos. Não que eu me odeie, eu não me odeio. Pelo contrário. Mas tipo, você conhece pessoas do mundo inteiro. Você pode muito bem encontrar, tipo, mil pessoas que sejam bem mais importantes do que eu. Por que você se importaria com a minha opinião-"
O ar todo parecia pesado no milésimo de segundo que ele resolveu acabar com a distância entre nós e me silenciar com um beijo, levando meu rosto até ele. E de repente, com seus lábios nos meus, eu esqueci de tudo que eu poderia ter para falar, de todas as palavras que eu conhecia. E eu senti uma energia correndo pelo meu corpo, me fazendo ficar de joelhos, só para conseguir chegar mais perto dele. E ele não parecia querer ficar muito longe de mim. Ele me abraçou, com tanta vontade que ele só me deixou ainda mais animada. Eu enrolei meus braços em seu pescoço e naquele momento eu já não tinha dúvidas nenhuma. Não existiam ex-namoradas, não existia Illéa, nem Charles, nem ninguém mais. Eu era boa o suficiente, ele me queria! E, meu deus, como eu o queria!
"Era só isso que você queria me dizer?" Ele perguntou, se afastando de leve de mim, ainda segurando meu rosto e passando seu dedo de leve na minha bochecha.
Para falar a verdade, se ele tivesse perguntado o meu nome naquela hora, eu não saberia responder. Mas ele tinha conseguido me perguntar a única coisa na qual eu conseguia pensar.
"Não," eu disse, enquanto eu aproveitava a chance que eu tinha de poder arranhar sua nuca de leve e vê-lo arrepiar só um pouquinho. Sua reação me fez sorrir, enquanto ele fechava os olhos e depois os abria de novo, para me mirar. "Eu também queria dizer que eu não quero que você vá embora. Que você deveria ficar aqui, para sempre. Nesse quarto de hotel, comigo. Que eu não quero nunca mais sentir o frio que vem quando você tirar suas mãos de mim. Que você é importante demais para ir embora. Que eu não quero nunca mais ter que aprender a viver sem te conhecer. Eu nunca conheci alguém como você e tenho bastante certeza também de que nunca irei conhecer. Não só alguém que me aguente falando-" ele me cortou só com um olhar. "Ah, eu já falei isso, não é? Mas é sério, eu não quero viver sem você. Não quero pensar em você como uma lembrança do passado. Eu quero você no meu presente, no meu futuro, enquanto ele vira presente. Eu nunca mais quero ter que olhar para outro cara, porque eu sei que eu compararia todos a você e que nenhum poderia te substituir. Então, se você me perguntar se eu tenho mais alguma coisa para te dizer, eu tenho só uma: não vá embora. Por favor, não vá embora."
Ele ficou sério, mas não se afastou de mim. Ele engoliu em seco e eu vi isso como seu jeito de ter que falar o que não queria.
"Eu tenho que ir," ele disse, puxando meu rosto para mais perto. "Eu tenho que ir. Eu não tenho escolha."
Eu fechei os olhos, tentando me concentrar mais em como o seu toque me deixava feliz, do que como as suas palavras me decepcionavam.
"Eu entendo," eu falei, apesar de realmente não entender.
"Mas você tem," ele disse.
Eu abri os olhos para mirá-lo. "Eu tenho o quê?"
"Escolha," ele disse e sorriu, de um jeito quase maléfico. "Você pode escolher fugir comigo."
Eu recuei minha cabeça um pouco, como se aquele novo ângulo fosse me ajudar a entender se ele estava brincando ou se estava falando sério.
"Como assim, fugir com você?" Eu perguntei.
"Assim," ele disse, me soltando e, no mesmo instante em que sua mão não estava mais em mim, eu já senti a falta dela. "Fugindo. Despistando esses guardas e vindo comigo."
Eu ri, apesar de meu coração já estar gritando para eu aceitar. "Você tá falando sério?"
"Estou, claro que eu estou," ele segurou meu rosto de novo, com as duas mãos, e apoiou sua testa na minha. "Eu não quero viver sem você também. Eu não quero ter que aprender a suportar a minha vida longe de você. Vem comigo!"
Eu tentei pensar em razões para eu não aceitar, mas seus olhos nos meus eram bastante persuasivos. "Mas isso não vai causar um grande incidente internacional?"
Ele deu de ombros. "Deixa causar," ele disse. "Eu só sei que eu quero você comigo. Eu não sabia se era isso que você queria e vou entender completamente se você preferir ficar-"
"Não!" Eu soltei, talvez até alto demais. "Não, não prefiro ficar. Eu só tenho medo de dar algum problema."
Ele sorriu para mim, seguro de si, e eu me peguei pensando que aquele sorriso valeria qualquer problema no mundo, não importava quão ruim.
"Se der, nós o enfrentaremos juntos," ele me disse. "Eu prometo que eu vou cuidar de você, eu prometo que eu vou fazer de tudo que estiver ao meu poder para fazer você a pessoa mais feliz do mundo! Você só precisa vir comigo!"
"Está bem," eu falei do nada.
"Está bem?"
"Sim, eu vou com você," eu disse, já não conseguindo conter a minha própria felicidade. "Eu fujo com você."
Ele, então, parecia ainda mais feliz. Ele levou meu rosto de novo até ele, me beijando com uma mistura de animação e carinho que era irresistível. Eu me sentia a mil, vivendo mil emoções ao mesmo tempo, com medo de cair, mas uma vontade ENORME de pular.
Até que ele me puxou para a porta e eu me dei conta do que estava fazendo.
"Espera," eu disse, parando e puxando-o pela mão. "E a minha irmã? E a minha família? Não, eu não posso deixá-los para trás."
Uma dúvida passou pelo rosto de Jack, mas ele logo recuperou sua expressão confiante.
"Você não precisa deixá-los para sempre," ele disse, soltando da minha mão para me segurar pelos ombros. "Eu mando vir buscá-los quantas vezes por dia você me pedir."
Eu concordei com a cabeça, apesar de que ir embora assim já me parecia um pouco ruim, pensando no que meus pais diriam. "Por que nós temos que ir agora?"
Ele suspirou. "Porque senão eu posso ser preso e julgado por traição," ele disse. "Eu tenho só mais uma hora para estar dentro do avião. Eu preciso ir embora. Eu preciso ir embora agora. E eu não quero te deixar para trás."
Ele parecia tão perdido, que eu perdi as últimas dúvidas que tinha em mim.
"Você não vai me deixar para trás," eu disse, segurando seu rosto. "Vamos?"
Ele abriu um sorriso. "Eu vou só despistar os guardas."
Ele me deu um beijo rápido, antes de sair pela porta. Eu ouvi quando eles falaram que ele precisava me levar de volta ao castelo. E então eles saíram para se assegurar de que a rua estava segura. E eu fui com Jack e os guardas em um carro para o castelo.
Mas chegando lá, assim que os guardas saíram e abriram a porta para nós, o motorista de Jack começou a dirigir de novo, deixando-os para trás. Eu me segurei lá dentro, enquanto Jack fechava as portas que tinham ficado abertas.
"Eu espero que você saiba o que está fazendo," o motorista disse, enquanto Jack e eu ríamos de desespero e euforia pelo que estávamos fazendo.
"Eu sei," ele disse, me olhando. "Eu sei exatamente o que eu estou fazendo."
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