Capítulo XVIII
Brasil, 1837
- Alice, não corra tanto! - Anabete gritou para a menina de cabelos escuros que brincava junto de um garoto bagunceiro, mas ela nem pareceu escutar.
- Eles nunca nos dão ouvidos. - Diana abanou-se com um leque e pousou a mão sobre a barriga de sete meses. - Meu Deus, que não seja mais um menino travesso. - olhou para cima e as duas riram.
- Alice e Hugo não se desgrudam! Nossos filhos já nasceram melhores amigos. - a Sra. Hamilton tomou um gole da sua xícara de chá e relaxou à sombra da árvore que acolhia a mesa repleta de guloseimas.
- E já podemos planejar um casamento! Um Borges e uma Hamilton! Que maravilha!
- Diana, eles mal completaram 5 anos! - Anabete protestou. - É cedo demais para falar sobre casamento. E eles devem casar por amor, não porque queremos!
- Querida, como vovó sempre diz; quanto mais cedo, melhor! E eles já se amam. Agora é só deixar o tempo fazer o resto do trabalho.
A Sra. Hamilton gargalhou e comeu um pouco dos doces, porém, sentiu-se mal imediatamente e tocou as têmporas com as pontas dos dedos. Um enjoo lancinante fez o gosto da bile tocar sua língua e quando Diana percebeu a indisposição da amiga, apressou-se para despejar água de uma jarra em um copo de vidro. O entregou para Anabete e ela bebeu tudo ansiando por sua melhora. Após alguns segundos, a Sra. Hamilton se recostou contra a cadeira e usou como um leque seu chapéu que estava sobre a mesa.
- Sente-se melhor? - Diana quis saber.
- Sim, sim. Foi apenas uma tontura. - relevou, mas sua amiga apertou os olhos com desconfiança.
- Tem sentindo muitos enjoos?
- Alguns. - ela tentou não sorrir.
- Anabete, você está grávida?
- Ainda não tenho certeza, Diana. Pode ser apenas uma virose.
- Virose! - zombou. - Você e seu marido não descansam em serviço! Me admira que tenha demorado tanto para engravidar uma segunda vez.
- Diana! - a repreendeu. - Robert e eu tomamos... cuidado. E ainda não sei se estou mesmo esperando um filho.
- Pois deveria ir ver um médico. Precisa saber se terá um bebê para que possamos ir trabalhando em seu enxoval.
- Vou ver um médico. Prometo.
Diana pareceu convencida e deu o assunto por encerrado. Foi então que Alice correu até a mãe e mostrou o cotovelo ferido.
- Hugo me empurrou, mamãe. - ela choramingou e Anabete deu uma olhada no arranhão.
- Não empurrei! - o filho de Diana veio correndo para se defender. - Ela tropeçou.
- Hugo, se você a empurrou, peça desculpas. A Srta. Hamilton é uma dama e merece respeito! - Diana segurou os ombros do menino e bateu a poeira de sua camisa antes branca.
- Mas eu não...
- Hugo!
- Desculpe-me, Srta. Hamilton. Não farei novamente. - se curvou diante da menina sentada no colo de Anabete.
- E como se diz, mocinha? - a Sra. Hamilton encorajou a filha a falar.
- Está perdoado, Sr. Borges. Acredito que fora um acidente.
- Muito bem. Agora voltem a brincar! - Diana sorriu e as crianças voltaram a correr pelo jardim como se nada tivesse acontecido.
Eles nem imaginavam que daqui alguns anos, um sentimento muito maior que amizade iria surgir entre suas brincadeiras e sorrisos. E nem podiam crer que mesmo já adultos, teriam dificuldade para enfim entender do que se tratava o amor.
~•~
Na manhã após a conversa com Diana no jardim, Anabete esperou até que o marido saísse para o trabalho e pediu para que um dos criados fosse até a cidade e trouxesse o doutor Braga para examiná-la e de fato confirmar sua hipótese sobre a gravidez. O empregado saiu quase que voando com os galopes de um dos cavalos e voltou com o médico no começo da tarde. O doutor Braga era de estatura um pouco baixa, mas era muito respeitado por sua profissão, era bastante conhecido por conseguir curar os enfermos e por isso recebia o título de melhor da região.
Quando o médico chegara a propriedade dos Hamilton, desceu de seu cavalo, pegou sua maleta e o criado cuidou de prender os animais. O homem fora guiado até a sala de visitas por uma empregada que o esperava no hall de entrada, e ao vê-lo, a Sra. Hamilton se levantou e se curvou.
- Boa tarde, Sra. Hamilton. - ele cumprimentou. - No que posso lhe ser útil?
- Doutor Braga, eu preciso que me examine. Desconfio que esteja esperando um filho.
- Claro! Onde posso começar com os exames?
- Vamos subir, doutor.
Eles se dirigiram ao lance de escadas e Alice apareceu. Começou a seguir a mãe e o médico e não se conteve em perguntar:
- Mamãe, a senhora está doente?
- Não, minha filha. - Anabete andou pelo corredor. - Por que acha isso?
- Este homem é um médico. Médicos cuidam de doentes.
- Escute, Alice, o doutor Braga apenas fará alguns exames. Agora desça e vá para a biblioteca. Está na hora da sua aula de francês. Sou avô a espera para a lição de hoje.
- O vovô Moreira sempre dorme durante as lições.
Isso fez o médico rir.
- Tem uma menininha esperta, Sra. Hamilton. - ele elogiou.
- Nem me diga. - Anabete se abaixou para ficar com o rosto na altura do de Alice. - Vá para a biblioteca, meu bem. Logo vou para lá ficar com você.
- Está bem. - ela correu de volta para as escadas.
- Devagar, Alice! - o aviso foi em vão.
A menina continuou a correr.
À noite, muito tempo depois da partida do médico, Robert chegou em casa e Alice correu para os braços do pai. Ele a ergueu no ar por alguns segundos e rodopiou pela sala, fazendo com que seu vestido se agitasse.
- Papai, assim ficarei zonza! - ela riu.
- Pronto. - ele a pôs de volta no chão. - Você cresceu um pouco mais desde que saí hoje de manhã? - perguntou de forma séria, mas a menina continuou rindo.
- Não. Estou do mesmo tamanho.
- Ah, claro que está - ele a pegou pela mão e seguiram juntos para o andar de cima. - Onde está sua mãe?
- Acho que no quarto. Deve estar se arrumando para o jantar. - Alice saltitava pelos degraus. - Papai, mamãe tem estado estranha desde a visita do doutor Braga.
Robert parou bruscamente assustado com o que a filha dissera.
- Quando o doutor Braga veio aqui?
- Hoje à tarde. Mamãe disse que tinha de fazer uns exames. - explicou a garota.
- Mas por que ela precisa de tais exames?
- Não sei. - Alice encolheu os ombros e o Sr. Hamilton correu para o quarto.
Ele abriu a porta rapidamente e encontrou Anabete prendendo uma mecha de cabelo com um grampo, finalizando seu coque. Ela sorriu para o marido pelo reflexo do espelho na sua frente e se levantou para se aproximar e lhe dar um beijo nos lábios.
- Alice me contou que recebeu o doutor Braga em nossa casa esta tarde. - começou e Anabete soltou o ar pela boca.
- Me pergunto onde Alice está aprendendo a ser tão fofoqueira!
- Talvez ter a Sra. Borges como madrinha seja o motivo. - Robert a fez rir, mas logo voltou ao assunto do médico. - Mas por que o doutor veio aqui? Você está bem?
- Estou muito bem, Robert. - afirmou segurando em seus ombros. - Nós estamos bem.
- Nós? - uma ruga se formou entre suas sobrancelhas.
- Eu e o bebê. - tirou uma das mãos do ombro de Hamilton para acariciar a barriga coberta pelo vestido.
- Minha nossa! - ele sorriu e a beijou enquanto a abraçava com força. - Teremos outro filho! - segurou em seu rosto e a olhou nos olhos exibindo toda a felicidade que o consumia naquele momento.
- Vou ter mesmo um irmão? - Alice apareceu na porta.
- Sua pequena curiosa! Estava ouvindo a conversa o tempo todo? - Anabete fingiu estar com raiva, mas a menina correu para abraçar a mãe.
- Terei um irmão! - ela deu pulinhos. - Terei um irmão!
- Ou uma irmã. - Robert ergueu o indicador e a pegou no colo. - Ou quem sabe os dois!
- Quero os dois! - Alice se empolgou e o Sr. Moreira foi o próximo a aparecer na soleira da porta.
- Isto é uma reunião familiar? Posso fazer parte dela?
Anabete sorriu para o pai e estendeu uma das mãos para que ele se aproximasse e a pegasse.
- Papai, o senhor será avô mais uma vez!
- Que notícia maravilhosa, minha querida! - ele tocou a barriga da filha. - Meus parabéns, Robert!
O Sr. Hamilton sorriu para o sogro e passou o braço pela cintura da esposa. A beijou na testa, depois tocou a bochecha de Alice com os lábios e disse:
- Acho que nunca estive mais feliz do que estou agora!
Ele lançou um olhar para Anabete e continuou:
- E tenho a certeza de nunca estive mais apaixonado.
Aquela foi uma noite extremamente alegre para todos e após o jantar, Robert e Anabete colocaram Alice na cama, a cobriram com um cobertor e lhe deram beijos de boa noite. Quando a filha fechou os olhos e divagou em um sono tranquilo, o Sr. Hamilton abraçou a mulher que tanto amava e ambos ficaram olhando para o fruto de seu amor que dormia abraçada a uma boneca de pano e respirava devagar. Daqui alguns meses, outro filho chegaria e encheria ainda mais a casa de felicidade.
Esta que permaneceu na família durante séculos.
A felicidade.
~•~
Gente, ainda essa semana solto o epílogo e um bônus especial!
Espero que tenham gostado do final!
Muito obrigada por acompanharem até aqui! É muito importante para mim todos esses votos e comentários 💜
Vocês são demais!
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