Capítulo III
Anabete e Diana passavam horas no jardim, principalmente pelo fato de conseguirem enxergar perfeitamente a janela do escritório do Sr. Hamilton. De vez em quando, ele andava pela sala e Diana fazia questão de acenar sempre que podia, porém não era comum que Robert retribuísse tanta atenção.
- Ele não vai acenar de volta, Srta. Montez. - Anabete tirou os olhos de um livro que pegara na biblioteca da casa.
- Argh! - reclamou Diana, baixando a mão e andando de um lado para o outro. - Qual o problema dele? Não percebe quando uma moça está desejando sua presença?
- Ele é... difícil.
- Difícil? - a fitou. - O termo certo seria totalmente arrogante!
Anabete riu, fechando o livro e olhando para a janela. Robert voltou a aparecer e encarou as moças por alguns segundos, mas Diana não percebeu, continuou falando sobre inúmeros assuntos de uma só vez e perdeu o milagre do dia; o Sr. Hamilton levantou a mão em um breve aceno e sumiu de vista.
~•~
Logo cedo, em uma manhã ensolarada, Diana pulou sobre a cama de Anabete, a despertando do sono com um susto e dizendo:
- Levante! Levante! - ela balançou o ombro da jovem ainda sonolenta. - Temos que decidir o que vestir!
- Por quê? - Anabete sentou sobre o colchão, enquanto coçava um dos olhos com a mão. - Para onde vamos?
- Para nenhum lugar! - respondeu, descendo da cama e procurando vestidos em um baú de madeira. - Porém, o Sr. Hamilton dará um baile amanhã à noite! Ah, imagine quantos homens importantes estarão aqui!
- Srta. Montez - Anabete voltou a deitar-se. - , será mesmo que só pensa em arranjar marido?
- Por Deus, Anabete! - pegou um vestido azul e o colocou contra o corpo, indo em direção ao espelho. - No que mais eu deveria pensar?
- Em livros, em fazer algo importante... como pintar um quadro ou criar uma sinfonia...
Diana olhou para sua dama de companhia como se ela fosse louca e ignorou suas ideias.
- Bom, querida, se continuar pensando assim nunca casará!
- Mesmo que eu pensasse como a senhorita, ainda continuaria sem marido. - Anabete rebateu.
- Por que acha isso?
- Olhe para mim, sou uma simples empregada. Só estou nesta casa para trabalhar. Por isso digo; mesmo que só pensasse em conseguir um pretendente ainda assim não o teria.
- Está enganada! - Diana ergueu o indicador. - Minha última dama de companhia me deixou para ir morar na casa do marido. - ela desabou em uma cadeira, ainda segurando o vestido. - Ela casou-se antes de mim, Anabete! E com um bom partido! Acredito que você também conseguirá! - ficou de pé rapidamente. - Sabe, este vestido não combina comigo, mas tenho certeza que ficará perfeito em você!
- Srta. Montez, não posso aceitar um de seus vestidos. - Anabete negou com a cabeça.
- Claro que pode. Tenho mais cinco desses em casa. - disse, monótona. - Agora, venha aqui.
Anabete ficou de pé e caminhou até Diana, que a colocou de frente para o espelho e em seguida lhe entregou o vestido nas mãos. O tecido nem se comparava aos das roupas que sempre usara, os detalhes do decote, as mangas, tudo era tão elegante que ela não resistiu e se imaginou o usando no baile.
- Veja que maravilha! - Diana a olhou nos olhos pelo reflexo do espelho. - Tenho a sensação de que vai acabar casando antes de mim.
- Suas sensações devem estar enganadas. - Anabete riu.
- Eu nunca me engano, querida. Isso eu garanto.
~•~
À tarde, Anabete conseguiu escapar de Diana e refugiou-se na biblioteca do Sr. Hamilton. Ela pôs o livro que pegara emprestado sem a consciência do dono de volta na estante e quando estava escolhendo outro, a entrada repentina de seu pai a assustou.
- Papai! - sua mão estava sobre o coração. - Achei que fosse...
- O Sr. Hamilton? - ele fechou a porta e se aproximou.
- Sim. Achei que fosse ele.
- Anabete, está aqui sem a permissão dele, não é?
- Sim, papai. - admitiu, baixando a cabeça. - Pensei que não fosse um problema.
- Bom... não é, mas ele é o dono da casa, deve saber o que os empregados andam fazendo.
- O senhor tem razão. Falarei com ele. Prometo.
- Ótimo. - ele deu um beijo na bochecha da filha. - Sei que deve estar querendo ficar sozinha. A Srta. Montez não tem pena dos ouvidos de ninguém!
- Não mesmo!
- Vejo-a no jantar. - sorriu e finalmente a deixou com o silêncio.
Ela então tentou voltar a procurar um novo livro para ler, mas o fato de ter que enfim pedir a permissão do Sr. Hamilton para entrar e sair da biblioteca quando quisesse a incomodava. Talvez fosse o jeito com que ele a olhava, como se fosse superior, ou talvez tivesse a ver com a voz sempre inexpressiva. Talvez tudo naquele homem a incomodasse.
Anabete continuou pensando no que fazer e finalmente avistou uma mesa perto de uma grande janela. Sobre a mesa estavam papel e tinta, e ela sorriu ao ter uma ideia; primeiro, Anabete escreveria uma carta para o Sr. Hamilton com tudo que desejara lhe dizer, depois a leria e quando estivesse segura de suas palavras falaria com ele. A carta seria como um treinamento. E ela começaria naquele momento, por isso sentou-se à mesa, pegou a pena branca e a molhou na tinta preta para pousá-la sobre um dos papéis em branco.
Caro Sr. Hamilton,
Começou formalmente e deu continuidade, esperando que aquela carta jamais caísse em mãos erradas.
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