CAPÍTULO 3 - Conselheira
(sem revisão)
O doutor Dorian pareceu ser um incrível veterinário e passou todas as informações dos procedimentos que aconteceriam com o "Gato". Ela agradeceu por toda sua atenção e pagou por tudo antes de assinar os contratos que precisava assinar e enfim ir para casa.
Elas não moravam muito longe dali, na verdade. Demorou pouco mais de dez minutos para que chegassem no prédio residencial que Zaya compartilhava com David e que ficou com ela após a separação. Ele era grande o suficiente para o batalhão de crianças que David queria que ela parisse, então foi fácil adaptar uns dos quartos para Willow, ainda que naquele dia a criança fosse dormir com ela em seu próprio quarto.
Zaya tomou banho com a menina dormindo ainda no bebê conforto, antes de tirar ela dali de dentro e a acordar com mais delicadeza possível para poder dar banho na criança que viveu um dia de escritório de forma tão intensa que deveria estar cansada também.
Willow estava sonolenta enquanto a tia lhe limpava e depois de outra mamadeira caprichada, dormiu ao lado da tia até a manhã seguinte. Margot não voltaria até segunda-feira, o que significava que Zaya cuidaria dela o final de semana inteiro. Depois de quase três dias sem dormir programando feito louca, esse não era o final de semana que havia planejado, mas pelo menos a sobrinha dormia bastante se o silêncio reinasse.
Infelizmente, não foi o que aconteceu.
O barulho ensurdecedor parecia sair diretamente do quarto de Zaya e era uma sinfonia de bateção insuportável. Ela já havia ouvido falar sobre aquilo, mas considerando que praticamente trocava o dia pela noite, os ensaios da banda do apartamento do andar de baixo eram ouvidos somente pelos mais caseiros dos residentes.
Ela se sentou na cama, mal-humorada e respirou fundo. Willow se remexeu, tão irritada quanto a tia e ela olhou o relógio, vendo que não era mais do que 8:30 da manhã. Até onde sabia, era proibido fazer barulho antes das 10h naquele prédio e não seria hoje, depois de três fucking dias sem dormir que iria acordar tão cedo.
Zaya arrumou o roupão em volta do corpo e pegou Willow no colo antes de sair batendo pé pelo corredor, até descer as escadas até o andar debaixo. Era o apartamento bem abaixo do seu que fazia tanto barulho e quando mais chegava perto, pior ficava.
Alguém havia colocado uma bateria dentro da maquina de lavar, não tinha outra explicação. Willow resmungou, mal-humorada e a tia bateu com força na porta do apartamento com cara de poucos amigos.
Obviamente que com aquela barulheira ninguém lhe ouviria. Ela respirou fundo, batendo com mais força e apertou a campainha de forma incessante até o barulho parar e ela esmurrar a porta mais uma vez.
— Que merda é essa?! – gritou assim que viu que a porta estava sendo aberta.
— O que você está fazendo aqui? – Bellamy, a recepcionista da clinica veterinária, atendeu. Ela aparentemente havia conseguido usar a maquina de tosa, lá que boa parte do lado direito do seu cabelo estava menor e a entrada estava raspada.
— Você sabe que horas são? Tem um bebê no andar de cima que precisa dormir e você está com esse barulho infernal que não deixa que ninguém nesse infernal prédio durma! – gritou e Bellamy cruzou os braços.
— Então você também mora aqui. – Afirmou, apoiando-se no batente da porta.
— Sim, eu moro!
— Bell, o que você está fazendo? – Zaya se virou para ver que o doutor Dorian se aproximava com uma sacola de papel nos braços. — O que você está fazendo aqui?
— Eu moro aqui! – Zaya afirmou e Bellamy estalou a língua.
— A assassina de gatinhos estava reclamando do som alto. – Dorian a olhou de rabo de olho. — Eu preciso praticar!
— Você precisa dormir, você tem aula na segunda e sua mãe vai me matar se você faltar de novo! – Afirmou, batendo o pé e Bellamy fez careta, nem um pouco interessada. — Você usou a maquina de tosa no cabelo? – Perguntou um instante depois. — Sua mãe vai me matar, Bellamy!
— Consequências. – Respondeu lhe dando as costas e observou as unhas. Dorian bufou, voltando-se para Zaya.
— Desculpe, eu já pedi para que ela parasse com isso, mas eu não fico o tempo todo no apartamento. – Ele indicou as sacolas na mão e Zaya franziu o cenho.
— Então dê um jeito para que ela pare com isso, eu tenho um bebê no apartamento de cima e ela precisa dormir! – Bellamy riu.
— Você é a mulher do apartamento de cima? – Questionou – Você não pode reclamar do barulho quando essa menina chora o dia inteiro.
— Eu posso e estou! Se isso continuar, eu farei uma denúncia ao sindico, entendeu?
— Desculpe... – Ele começou pedindo para que ela pronunciasse o próprio nome.
— Zaya – informou.
— Só falta mais quatro e podemos remarcar o come back do One Direction. – Bellamy pontuou e Zaya preferiu ignorar.
— Desculpe, Zaya, eu vou tentar manter Bellamy quieta. Eu não sabia que existia um bebê no andar de cima, eu achava que David ainda morava lá e não sabia que ela havia ficado grávida.
— Eu sou a esposa de David e não, eu não estou grávida. Essa menina é a minha sobrinha e eu tenho a guarda dela desde o mês retrasado. E não, o David também não mora mais lá, nós nos divorciamos e ele foi atrás de outra pessoa!
— Está explicado o motivo pelo qual ele foi embora. – Bellamy comentou e Dorian lhe empurrou para dentro junto com as sacolas, fechando a porta do apartamento. Zaya contou até dez.
— Novamente, desculpe. – Dorian recomeçou, abrindo um sorriso de dentes perfeitos. – Manterei Bellamy em silêncio.
Zaya rosnou antes de se afastar, dando as costas para ele e subindo as escadas. Willow choramingou e elas entraram no apartamento. Seus últimos dias estavam sendo caóticos e tudo parecia ir por água abaixo.
Ela alimentou, trocou e limpou a sobrinha antes de deixar que ela dormisse o restante da manhã. Por mais que tentasse cochilar, Willow se remexia toda hora e fazia com que ela acordasse assustada e preocupada com a menina, então, decidiu permanecer em pé o restante do dia.
Zaya estava sentada no sofá de casa, zapeando pelos canais da TV após fazer Willow almoçar a papinha que Margot havia deixado feita para ela. O computador ao seu lado estava fazendo os testes do novo software que havia vendido para sistema interno de um hospital não tão longe dali, procurando falhas em qualquer código que tivesse deixado passar. A sobrinha balançou um brinquedo de pelúcia em frente aos olhos antes de enfiá-lo na boca, como fazia com quase tudo.
Zaya se questionou se isso era seguro ou mão e arrancou a pelúcia de seus dedinhos e lhe entregou um brinquedo de borracha. Ela nem reclamou com a troca, já entretida com o novo brinquedo.
A mulher encarou o bebê por um instante, observando seus traços delicados e os olhos brilhantes. Ela era tão bonitinha que era incrível observá-la. Não havia o que reclamar sobre Willow, ela era boazinha demais e só chorava quando havia algo de errado, o que era sempre, porque como era de se notar, Zaya não era a pessoa mais adequada para cuidar de um bebê e tinha o total de 0 experiência com isso.
A campainha a sua porta tocou e ela ficou em pé, indo atender. Georgia, sua melhor amiga, entrou sem pedir licença e se jogou numa poltrona em frente Willow com pesar. Georgia era alta, muito, muito alta. Sua carreira de modelo havia sido substituída pela mirabolante ideia de investir em empresa de eletrodomésticos no Japão e hoje vivia tão bem sem precisar fazer nada, o que era o que ela mais queria, no final das contas.
Ela tinha os cabelos castanhos enormes, que paravam abaixo dos seus seios, a pele de pêssego era morena e os grande olhos eram muito escuros. Ela subiu uma das sobrancelhas para Gabrielle, que era o total oposto (baixinha, branquela, olhos claros e loura) e suspirou enquanto a segunda amiga se jogava no lugar que antes ela estava sentada.
— Pois não? – A anfitriã questionou, antes de se aproximar de Willow que tentava alcançar o controle e enfiar na boca, tirando qualquer coisa que não fosse seus mordedores de perto de si.
— Georgia terminou com a Alexia e, de repente, isso é culpa minha. – Gabrielle respondeu, piscando os olhos para a amiga ex-modelo.
— Não disse que é culpa sua, estou dizendo que a psicóloga que você me indicou... – Gabrielle ergueu o dedo, negando, fazendo com que ela parasse de falar.
— Não! Nem vem com essa! A garota é louca, você sempre soube disso, você fez terapia, começou a surgir efeito e a ogiva de Chernobyl da Alexia começou a entender que a toxidade dela não estava mais sendo o suficiente para te manter na coleirinha. Agradeça que o Césio-137 foi intoxicar outra pessoa e não você, já que daqui a pouco estaria lhe crescendo um terceiro braço!
Alexia era a namorada louca e tóxica de Georgia e nem Gabrielle, nem Zaya, concordavam com aquele relacionamento. Na verdade, nem Goergia concordava com aquele relacionamento, ela simplesmente era incapaz de permanecer sozinha e longe de um relacionamento.
— Georgia, você não deveria estar feliz com isso? – Zaya perguntou, erguendo uma das sobrancelhas para a amiga. Georgia deu os ombros.
— Eu sinto falta dela.
— Vocês terminaram tem duas horas! Como você pode sentir falta de alguém que, literalmente, arremessou um copo em cima de você quando foi ela quem terminou? – Gabrielle esbravejou, batendo com força no sofá. Willow se assustou e começou a chorar.
— Ela tinha os motivos, eu não era a melhor namorada do mundo...
— Ah! Cala essa boca! – Zaya interrompeu – Você sabia muito bem que você só faltava lamber o chão praquela garota passar, ela te traiu mais vezes do que eu consigo contar, abusou de você mentalmente, fisicamente e financeiramente! Você quer isso pra sua vida? Aquela coisa?
Georgia ergueu os olhos escuros para a amiga e abaixou a cabeça, começando a chorar. Zaya revirou os olhos, irritada e Gabrielle suspirou, se aproximando da amiga e a puxando para um abraço enquanto Zaya pegava a sobrinha no colo.
— Eu sei! – Georgia gritou em meio as lágrimas – Eu sei... Mas, eu... Mas eu gosto dela!
— Então comece a gostar mais de você. Eu consegui sair de um relacionamento de sete anos. Eu fiquei três anos e meio casada, ouça bem, casada com David e simplesmente deixei que ele fosse embora porque me amo mais. Não importa quem entre no meu caminho, eu sempre me amarei mais.
— Adiantou alguma coisa? Agora você tem a Willow e...
— A Willow não é minha filha.
— É como se fosse.
— Mas não é, Georgia – afirmou –, não é e nunca vai ser. Ela é minha sobrinha, fruto da insensatez da minha irmã e a culpa de boa parte da minha falta de sono. Isso que ela é, não minha filha.
— Você fala dessa forma e parece que você nem gosta dela. – Georgia pontuou com a voz embargada.
— Você, assim como todo mundo, espera que eu crie um sentimento maternal por Willow ou por qualquer outra criança e esquecem que isso não existe em mim. Eu amo a Will, eu daria minha vida por ela se fosse necessário, lutaria por essa menina com todas as minhas forças, mas ela não é a minha filha. Eu não a gerei, não a pari e, infelizmente, estou a criando. Eu não tive escolha, ela foi literalmente largada na porta da minha casa e eu não iria a colocar para adoção. Eu não quero e nunca quis um filho.
Gabrielle tentou mudar de assunto para evitar que as duas brigassem. Zaya Rojas era assim, dura feito pedra e tinha uma ideia de amor próprio que parecia cruel para quem disse de fora, mas ela amava Willow, todo mundo sabia disso, mas como havia dito, ela não queria um filho e não teria um. Ainda que no final, sua relação com Willow, fosse basicamente a mesma coisa.
Elas resolveram almoçar ali mesmo, tentando evitar que comentários ácidos de todas as partes. Willow parecia animada perto de suas amigas e as duas gostavam de paparicar a menina e lhe ajudavam a cuidar dela de forma que Will não morresse de fome e nem ficasse suja, além de fazerem ela gargalhar como ninguém.
— A comida chegou – Georgia disse observando o celular enquanto triturava batatas para Willow. Gabrielle dentro do banheiro, dando banho na bebê, gritou a senha do cartão e Zaya desceu para buscar.
Assim que o elevador se abriu no térreo, ela correu até o motoboy que entregava a comida e enquanto voltava, reconheceu Bellamy correndo contra sua direção de forma emburrada e passou por ela apressada, a maquiagem escura nos olhos parecia borrada e o cabelo era um desastre ambulante.
Ela apertou apressada os botões do elevador a sua frente e sumiu tão rapidamente quanto apareceu. Dorian estava pouco a frente, uma das mãos na cintura e a outra sobre o rosto, parecendo preocupado. Hatake, o beagle, estava parado a seus pés, sentado de forma confortável.
Zaya se aproximou, a fim de passar despercebida, mas o ouvir suspirando e não conseguiu evitar olhá-lo. Dorian parecia abatido.
— Problemas no paraíso? – questionou apontando para onde a menina havia corrido.
— Você deve saber como sobrinhos são difíceis. – Zaya concordou com um aceno — Meu Deus, quando minha irmã a ver vai me matar! – Ele apertou o ossinho do nariz, desenganado.
— Quantos anos ela tem?
— Treze – deu os ombros. – Eu lembro que Ashley era exatamente assim quando criança, mas não pensava que era tão difícil cuidar de alguém assim.
— Se ela era exatamente com a mãe, porque ela iria querer te matar se a filha é seu reflexo? — Dorian riu, dando os ombros.
— Ashley não aceita muito bem as "artes" que Bell faz. Ela está morando comigo tem alguns meses porque os pais dela são da marinha e estão num navio por algum motivo que eu não quero saber. Ela ficava com a minha mãe, mas... Como dá pra notar, ela é uma garota difícil.
Zaya encarou o elevador fechado, como se pudesse ver Bellamy ali ainda.
— Eu acho que um bom corte de cabelo resolveria metade dos problemas dela. E também não trabalhar a noite, isso seria bem interessante se você não quiser que alguém te denuncie para o conselho tutelar. – O veterinário riu.
— Como você, minha vizinha assassina de gatinhos, que pelo o que Bell me contou, não sabe cuidar de um bebê, pode dar bons conselhos? – Os olhos verdes de Dorian pareciam mais brilhantes. Zaya deu os ombros.
— O problema dos outros é sempre mais fácil de resolver do que os nossos próprios. Além do mais, eu já fui a Bellamy. Obviamente eu tinha um cabelo mais bonito, mas a essência era a mesma. – O encarou por um segundo – Ela quer ter liberdade.
— E como eu faço isso? Ela raspou metade da cabeça com a maquininha de tosa!
Zaya suspirou, observando a comida em seus braços.
— Eu tenho um grupo de pessoas que podem te ajudar com isso. Está com fome?
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