Capítulo 3
Olá, #Qu4renteners!
🎼Boa leitura!🎻
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Eu estava na cama, deitado em posição fetal, revivendo mentalmente as últimas vezes que tinha saído de casa para me divertir. Queria sentir a presença de pessoas de novo, dançar, beber e ver o dia amanhecendo.
Minha vida social agora se resumia a trocar mensagens com meu chefe sobre a campanha de papel higiênico e vídeo chamada com meus pais. Meu corpo pedia por algum contato físico, que fosse um aperto de mãos, já bastaria para aliviar toda essa pressão.
Já era início de noite quando aquele som me despertou da inércia. A melodia doce entrou pela porta da sacada, me fazendo levantar em um pulo e correr para fora.
E lá estava ele novamente, o violino pousado em seu ombro esquerdo, o arco subindo e descendo com habilidade pelas cordas. Vestindo calça e blusa de moletom pretos, o rosto continuava coberto pela máscara e seus olhos pareciam focados no horizonte, como se seus pensamentos estivessem em outro lugar.
Ele tocava com paixão, eu podia vê-lo suspirar vez ou outra, fechando os olhos no ápice das frases melódicas. A música era tão linda quanto a outra que ele tocou naquele dia, mas esta, me lembrava uma canção, parecia que alguém cantava aquelas notas produzidas pelo violino.
Sentei-me no chão da pequena sacada, encostando na grade de proteção, assistindo aquela apresentação que resolvi fingir ser só para mim. Abracei minhas pernas, tombei a cabeça para trás, me dando a visão do céu que se tingia de várias cores. O laranja intenso do fim da tarde dando lugar ao azul profundo da noite, as primeiras estrelas apontando e a lua crescente que apareceu para também presenciar as doces notas que saíam daquele instrumento.
— Jimin? — Ouvi alguém me chamar.
Voltei a cabeça para frente e me levantei em um sobressalto quando o vi virado para mim, me encarando com os olhos negros e brilhantes.
— Ah, Jungkook... Oi... — Cocei a nuca. — A música me deixou tão absorto em pensamentos que não vi que você tinha terminado. Uau, foi lindo, assim como da outra vez.
— Obrigado. — Percebi que ele sorria por trás da máscara.
— Como ela se chama?
— Ah... — Ele olhou para o violino em suas mãos. — Se chama Vocalise, de um compositor russo chamado Prokofieff.
— Muito bonita!
— Sim, ela é bem especial para mim.
— É mesmo? Por que? — Eu não estava só curioso, eu queria conversar mas com ele. Precisava puxar mais assunto para que ele não fosse embora como da outra vez.
— Essa música, na verdade, foi composta para ser cantada e minha mãe era cantora. Cresci ouvindo ela cantar essa melodia enquanto fazia as tarefas de casa. Toda vez que escuto, me imagino novamente com 6 anos de idade, sentando à mesa da cozinha, tentando ajudar ela a cozinhar.
— Que cena adorável!
— Obrigado. — Ele riu timidamente.
— Você não tocou nos últimos dias... pelo menos não ouvi nada.
— Ah, sim... eu fiquei meio ocupado com o trabalho, não consegui tirar um tempo para me dedicar à música.
— Você não trabalha com música, então?
— Bem que eu queria... — Suspirou. — Mas a vida não deixou...
— Você trabalha com o que?
— Sou corretor de seguros.
— Ah... — Não soube o que dizer a princípio.
— É, eu sei... sem graça, né?
— Não, não me entenda mal... — Agitei as mãos. — É que quando eu penso em um corretor de seguros eu imagino um cara de 50 anos, barrigudo e careca. — Ele riu. — Pelo menos é a imagem que vem na minha cabeça. Nunca pensei que poderia ser alguém próximo da minha idade.
— Bom... os barrigudos de 50 anos já foram jovens corretores em algum momento, não?
Eu me senti um idiota. Estava estereotipando a profissão dele, na frente dele. Provavelmente, Jungkook me odeia agora, suspirei desapontado comigo mesmo.
— Tem muita gente careca na minha família, então as chances disso acontecer comigo também são grandes. — Ele deu de ombros. — Só espero não ficar barrigudo... — Ele passou a mão sobre o abdômem para cima e para baixo.
Os olhos dele se fecharam minimamente, mostrando que ele estava sorrindo. Aigoo, talvez ele não me odiasse tanto assim.
— Me desculpe, eu não queria...
— Relaxa, cara. Eu escuto esse tipo de comentário o tempo todo, já me acostumei. Posso dizer também que muitas clientes usam isso como uma tentativa de flerte.
— Aposto que você deve receber muitas cantadas.
— Às vezes...
— Não vi seu rosto todo ainda, mas você tem o porte atlético, tem os olhos bonitos e tem todo esse lance da música. Deve chamar a atenção de muita gente.
— Você acha que eu tenho olhos bonitos? — Ele tombou a cabeça para o lado.
— Ah... e-eu... digo, sim... — Me atrapalhei com as palavras, não esperava que ele repararia no meu comentário. — Claro... eu acho que são bonitos.
— Obrigado, Jimin. Você tem olhos bonitos também. Eles se fecham quando você sorri. — Ele complementou. — Fica adorável.
Senti minhas orelhas esquentarem e, com certeza, eu já estava mais vermelho que um pimentão. Não era sempre que conseguiam me deixar tímido, mas de alguma maneira, escutar um elogio dele era diferente.
— Obrigado. — Olhei para os meus pés.
— E você, trabalha com o que?
— Eu sou publicitário, trabalho em uma agência de propagandas.
— Puxa, que legal. Parece divertido.
— Tem menos glamour do que parece. Quando comecei a trabalhar, achei que ia fazer comerciais de carros de luxo, celulares, cartões de crédito, mas tudo que fiz até agora foram campanhas para marcas de shampoo anticaspa e pomadas para alergia. — Jungkook gargalhou. — No momento estou travando uma árdua batalha com um slogan para papel higiênico.
— Qual o nome do papel?
— Floquinho.
— Floquinho? — Ele segurou o queixo com uma das mãos, pensando. — "Quer ficar com o bumbum limpinho? Compre o papel Floquinho!"
Nos encaramos por alguns segundos antes de cairmos na risada.
— Está contratado! — Anunciei, limpando uma lágrima que havia se formado em um dos olhos.
Nós dois rimos e aquele momento deve ter sido o ápice do meu dia. Aquela conversa amena era tudo o que mais precisava para esquecer a ansiedade que me atormentava naquela quarentena. Talvez, Jungkook fosse minha válvula de escape.
— Posso fazer uma pergunta? — Consegui dizer depois da crise de riso.
— Vá em frente.
— Por que você está sempre de máscara?
— Bom... — Ele pareceu ficar um pouco tenso. — Estou usando porque estão suspeitando que eu esteja com Covid.
— É sério?
— Sim... eu fiz um daqueles testes rápidos uns dias atrás e ele deu negativo. Mas o médico quis fazer o outro exame para termos certeza, já que esses testes muitas vezes falham. O resultado deve sair em alguns dias. Não saio mais de casa nem para fazer compras, estou morrendo de medo de ser um foco transmissor. Eu nem sei como eu estou aqui parado conversando com você... eu não deveria nem sair aqui fora... — Ele abaixou a cabeça, se afastando mais de mim, encostando-se na grade oposta de sua varanda.
— Olha... — Tentei chamar a sua atenção de volta para mim. — Não se preocupe. Estamos em um lugar aberto, aqui venta muito, você está de máscara e com certeza estamos a pelo menos uns 2 metros de distância. Acho que não tem problema. — Quis tranquiliza-lo, mas eu mesmo estava meio apreensivo com aquilo.
— Eu não deveria estar aqui... Melhor ir para dentro. — Ele se moveu em direção a porta.
— Espere! Não vá... só um minuto... — Corri para dentro do apartamento e peguei uma máscara, voltando para a varanda em seguida. — Pronto! Agora estamos mais protegidos. Viu? — Apontei para o meu rosto.
— Obrigado por isso. Mas vou entrar mesmo assim... estou ficando com fome.
— Ah... sim... claro... — Acho que não consegui esconder meu desapontamento. Eu queria ficar mais ali com ele. — Bom apetite! Você vai cozinhar? — Perguntei na tentativa de estender um pouco mais aquela conversa.
— Não sei cozinhar... E como não estou indo nem no supermercado, estou vivendo a base de lámen instantâneo.
— Nossa, mas isso vai te fazer mal.
— Acho que não tenho muita escolha por agora...
— Jungkook... eu... — Olhei para dentro do apartamento. — Eu gosto muito de cozinhar e tenho feito várias coisas... tenho comida caseira pronta mais do que o suficiente para mim. Você gostaria de experimentar?
— Você está me oferecendo o jantar?
— Bom... sim... Não sei se está gostoso, mas pelo menos é mais saudável do que lámen instantâneo.
— Puxa, não quero abusar... mas eu realmente gostaria de comer algo diferente.
Meu coração acelerou e eu senti meu rosto se iluminar. Pedi que esperasse ali e corri para dentro de casa. Abri a geladeira para ver o que eu poderia oferecer para ele.
Tinha um ponte com salda pronta, separei um pedaço generoso de lasanha, e coloquei alguns kimbap em um terceiro recipiente, acho que seria o suficiente. Empilhei tudo dentro de uma sacola e antes de voltar, peguei uma vassoura que estava na cozinha.
Jungkook estava lá ainda, olhando para o céu, distraído. Os cabelos lisos e fartos se mexendo com a brisa da noite. Ele já não segurava mais o violino nas mãos, provavelmente tinha entrado para guardar.
Me aproximei sem fazer barulho e pude escutá-lo murmurando uma melodia, que reconheci como sendo a música que ele tocara mais cedo. Era tão bonito quanto escutá-lo tocando. Talvez estivesse lembrando de sua mãe novamente.
Fiquei ali, parado, com a sacola em uma mão e a vassoura na outra, aproveitando mais um pouquinho da sensibilidade que meu vizinho exalava por todos os poros.
— Jimin? — Ele havia me pegado distraído pela segunda vez naquele dia.
— Ah... — Chacoalhei a cabeça. — Aqui está. — Levantei a sacola para ele ver.
— Puxa, muito obrigado. Mas.... me diga... — Ele coçou a cabeça. — Para que a vassoura?
— Muito simples, meu caro. — Coloquei as alças da sacola no cabo da vassoura e a estendi, em direção a outra sacada, chegando bem próximo de onde Jungkook estava. — Aqui está!
— Muito inteligente! — Ele elogiou, tirando a sacola de comida da vassoura. — Obrigado mais uma vez.
— Espero que goste!
— Tenho certeza que vou. Até mais, Jimin. — Ele acenou com uma mão.
— Até mais, Jungkook.
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Olá pessoal!!
Espero que tenham gostado do cap!
Para quem tiver a curiosidade, esta é a música que Jungkook tocou:
[Deveria haver um GIF ou vídeo aqui. Atualize a aplicação agora para ver.]
Fiquem bem, lavem as mãos e usem máscaras!
Beijinhos e até o próximo!
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