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Prólogo

Dezessete anos antes
(2008)

Querido… Não. Isso é coisa de garota.

Vou te chamar só de diário, por enquanto, tá bom? Depois eu penso em um nome mais maneiro. Enfim, eu não sei exatamente porque tô escrevendo isso. Ok… Talvez eu saiba, sim. Eu meio que… briguei na escola e meus pais (minha mãe e meu padrasto) me proibiram de assistir TV e sair com meus amigos, então não me restou muitas opções de coisas pra fazer. Ok, isso também é mentira. Tenho algumas matérias acumuladas, mas hello?! É sábado à noite! Ninguém faz tarefas aos sábados. Pelo menos foi o que meu irmão Eros disse semana passada quando nosso pai mandou ele estudar. E ele é mais velho e sabe mais das coisas, então acredito que esteja certo. (Eu tenho 12 anos, e ele, 17. Também tenho outro irmão, o Khalil, mas ele tem 22 anos e tá na faculdade). Sei que você não perguntou, até porque você é um caderno velho que eu achei no meu quarto, e não uma pessoa, mas vou te contar a minha história. pelo menos um resumo (aliás, aprendi essa palavra hoje na escola, segundo minha professora, significa “simplificar algo grande, tornando-o menor”). Como eu estava dizendo, tenho dois irmãos, mas eles não são meus irmãos de sangue. Minha mãe, a Carlota, casou com o pai deles, o Enrico, então a gente se tornou uma família. Eu tinha 6 anos quando isso aconteceu. Não lembro de muita coisa, sabe, mas lembro que fiquei feliz ao ver minha mãe sorrir, e isso me fez gostar do Enrico porque ele que estava fazendo ela sorrir daquele jeito. Meu progenitor (comecei a chamar o meu pai biológico assim depois que ouvi o termo na aula de ciências) nunca fez minha mãe sorrir. Ele a fazia chorar escondido. Ela achava que eu não estava ouvindo, mas eu estava e odiava aquilo… Não gosto de falar dele, então vou pular essa parte, ok?
Quando viemos morar com o Enrico e os filhos dele, eu fiquei com medo… Ele já tinha dois filhos e eu pensei… Bem, por que ele iria querer mais um? Passei várias semanas apenas esperando que ele me colocasse na adoção. Achava que, se ele conseguia fazer a mamãe sorrir, conseguiria também convencê-la a me mandar embora. Mas esse medo passou e eu passei a gostar mais do Enrico e até a chamá-lo de pai. Faz muito sentido chamar ele assim, em vez do meu progenitor. Gosto dos meus irmãos, apesar de brigarmos com frequência. Não falo muito com Khalil agora que ele está na faculdade, mas Eros e eu ainda moramos na mesma casa e estudamos na mesma escola. Ele já me defendeu de alguns garotos idiotas algumas vezes e quando não está no telefone com alguma namorada nova, me ajuda com as tarefas quando nossos pais não podem. Gosto da minha família.

Espero que tenha gostado do meu resumo. Minhas mãos já estão doendo de tanto escrever, então vou dormir (gostaria de jogar videogame, mas você já deve imaginar que meu castigo não permite isso).

Tchau, diário. Duvido que volte a escrever aqui, mas até que foi bom.

Ass… — Tony

Nove anos depois
(2017)

    Sempre achei incrível a capacidade do nosso cérebro de simplesmente despertar sem algo necessariamente nos acordando. Quando acordo na manhã de… Porra, que dia é hoje mesmo?

     Gemendo ao sentir a dor de cabeça latejante que se apodera do meu cérebro, rolo no colchão até estar de frente para o despertador na mesa de cabeceira. Pisco algumas vezes para minha visão entrar em foco e quando enfim enxergo os números vermelhos na pequena tela, dou um pulo para fora da cama.

     08h45.

    Porra. Eu deveria estar na Blackburn Empire quarenta e cinco minutos atrás.

    Parabéns, Anthony, você vai se atrasar no seu primeiro dia de trabalho.

     Merda, merda, merda.

     Começo a ir até o meu closet, mas paro, cheirando a mim mesmo.

     Tem certeza que quer ir cheirando a sexo no seu primeiro dia?

    — Inferno! — praguejo baixinho. Mas antes que eu comece minha corrida contra o tempo indo para o banheiro, ouço uma voz:

    — Mmmhum?

     Viro-me em direção ao som, que veio da cama. Não havia notado que não estava sozinho. No entanto, ali está, uma mulher que eu diria que nunca vi na vida, mas ela está nua na minha cama. Obviamente nos conhecemos.

     Agora o cheiro de sexo faz sentido.

    — Bom dia — digo. Apesar de não lembrar do nome dela ou quais posições nós praticamos na noite passada, ainda posso ser educado.

     Não que isso importe muito, pois a mulher apenas rola na cama, voltando a dormir.

     Ela tem coisas mais importantes para fazer, assim como eu.

     Então corro para o chuveiro e tenho o banho mais rápido da história dos banhos rápidos.

    Trinta minutos depois, eu estou passando meu crachá pela segurança. Com passos apressados, corro para o elevador. Enquanto aperto repetidamente o botão, a ideia de subir pelas escadas passa pela minha mente, mas já vou chegar atrasado, não há porque chegar suado e fedendo a suor também.

    Felizmente, o elevador chega poucos segundos depois e eu pulo para dentro, apertando o botão do vigésimo primeiro andar.

    — Espere! — Ouço um grito feminino. Eu não sou um babaca. Se você colocar meus irmãos e eu juntos, isso fica ainda mais claro.
   
    Então, mesmo estando atrasado pra caralho, eu ponho a mão na porta de metal, impedindo que se feche.

     E quando a mulher mais linda que eu já vi na minha vida passa por mim, eu sei que foi a escolha certa a se fazer.

     Vislumbro primeiro seus cachos castanhos escuros que balançam conforme ela se move. A cor deles me lembra café fresco. Seu perfume me atinge em seguida, é suave, o que por algum motivo me surpreende.

    — Obrigada — ela diz, sua respiração um pouco ofegante, como se tivesse corrido até o elevador. A intrigante mulher vira o rosto na minha direção e sinto como se tivesse levado um soco.

     Seus olhos são lindos. Parecem castanhos claro num primeiro momento, mas se você encarar por tempo demais, percebe a cor verde pigmentando algumas partes das suas íris. Eu deveria dizer alguma coisa, ou simplesmente parar de olhá-la tão descaradamente, mas estou preso na sua beleza. Sua pele negra parece estar limpa de maquiagem, mas a impressão que tenho é que ela foi pintada por algum artista. Não. Esculpida. Ela certamente foi esculpida por algum deus antigo. Apenas isso pode explicar a beleza dela.

     Devo estar babando, porque a estranha vira o rosto para a frente, franzindo levemente as sobrancelhas escuras. Ela acha que sou um esquisito. Apostaria o meu apartamento nisso, mas antes que eu possa pedir desculpas pela minha falta de educação, o elevador para abruptamente.

     Nós tropeçamos para trás, mas minhas costas batem primeiro na parede e em um movimento automático, seguro a estranha, impedindo que tenha o mesmo destino.

    Tudo aconteceu em três segundos. E quando o quarto chega, nós estamos congelados, acalmando nossos corações do susto.

    Engulo em seco, percebendo que a mulher ainda está em meus braços. Havia reparado que ela é alta, mas apenas agora que estamos bem próximos posso chutar sua altura. Diria que está entre 1,75cm e 1,77cm.

    — Você está bem? — pergunto, lhe dando um leve aperto para ter certeza que ela não entrou em choque.

    Ela pigarreia e se afasta com rapidez, indo ficar na outra ponta do elevador.

   — Sim, obrigada — murmura, se recusando a me olhar nos olhos. Então ela olha em volta, como se tivesse lembrado da nossa situação. — O que você acha que aconteceu? Faltou luz ou algo assim?

    — Não faço ideia — respondo, me sentindo estranhamente impotente por não ter uma solução ou uma resposta decente para ela.

     Observo-a pegar seu celular na bolsa e me dou conta que deveria estar fazendo o mesmo ou pelo menos tendo um pouco de preocupação com o fato de estarmos presos em um elevador, mas permaneço prestando atenção nela. De onde ela é? Trabalha aqui? Este prédio é comercial, o que significa que não é apenas a Blackburn Empire que o ocupa (usamos apenas dois andares), então isso explicaria o fato de eu nunca tê-la visto antes. Eu com certeza me lembraria caso tivesse.

    — Que clichê — a estranha murmura, levantando o celular. — Está sem sinal.

    — Eu imaginei — comento. É a coisa errada a dizer porque seus olhos disparam para os meus e ela ergue a sobrancelha.

    — Você vai fazer alguma coisa além de ficar aí me olhando?

    Sinto um sorriso se formar em meu rosto.

    — Peço desculpas. Estava apenas admirando algo que gostei.

    Ela revira seus olhos, nada impressionada. Admito que foi uma cantada barata, mas ela nem mesmo se mostrou tímida ou intimidada. Bom. Gosto de mulheres difíceis.

    — Você poderia escalar essa parede e ainda assim não conseguiria sinal — aviso, cruzando meus braços enquanto observo-a ficar na ponta dos pés. Não que ela precise, já está usando saltos enormes.

    — O quê? — Vira para mim, olhando-me como se eu fosse louco.

    — É como se o elevador fosse um bunker moderno. — Aponto ao nosso redor. — As paredes metálicas e a estrutura resistente são como um escudo contra o mundo lá fora, inclusive contra o sinal do celular. Então, quando você está no elevador, é como se estivesse em uma bolha de metal que meio que bloqueia o sinal do seu celular. É como tentar fazer uma ligação do meio de uma fortaleza.

    A linda estranha pisca algumas vezes.

    — Hã… Certo. — Então vira o rosto de volta para o celular e murmura baixinho: — Se eu quisesse uma explicação sobre a estrutura dos elevadores, eu teria pesquisado no Google.

    — Na verdade, isso também não seria possível. Não pega internet aqui também.

     Um olhar irritado é atirado na minha direção.

    — Você se acha muito inteligente, né?

     Dou de ombros, sabendo que provavelmente estou sorrindo de novo.

    — Você que está dizendo, querida.

     Outro revirar de olhos e ela finalmente desiste de tentar conseguir sinal no celular.

    — Não me chame assim.

    — E como eu deveria chamar? — Tento não demonstrar ansiedade para enfim saber seu nome.

    Mas ela não responde. Em vez disso, deixa sua bolsa cair no chão e põe as mãos na cintura, olhando diretamente para a câmera do elevador.

    — Você acha que está funcionando? — pergunta então.

    — É difícil dizer. Se houve uma queda de energia, é provável que não. Mas se é algum erro especificamente com o elevador, acredito que sim.

   — É tão difícil dizer apenas “eu não sei”? — murmura para si mesma e dessa vez eu finjo que não ouvi. E não porque não tenho uma resposta na ponta da língua, acredite, eu tenho e essa é a cruz que tenho que carregar já que a maioria das brigas que me envolvi ou os castigos que fiquei se deve ao fato de eu não conseguir ficar de boca fechada.

      O que me cala, no entanto, é a própria estranha. Ou melhor, suas roupas. Eu não tinha parado para observar direito como seu corpo esbelto se encaixa perfeitamente no macacão verde que ela está usando e como a cor realça aqueles pontos verdes em seus olhos. Não entendo muito de moda, mas a desconhecida com certeza se importa com a sua aparência. Novamente me pergunto como nunca a vi aqui. É verdade que antes de ser empregado pelo meu pai como estagiário, eu não vinha na Blackburn Empire com frequência, mas como eu disse anteriormente, com certeza me lembraria dessa mulher se tivesse esbarrado com ela pelo menos uma vez.

    — É muito comovente ver o seu esforço para tentar nos tirar daqui — sua voz interrompe meus pensamentos, fazendo-me piscar algumas vezes e perceber que ela está olhando diretamente para mim.

   — Você deve estar me confundindo com o Clark Kent.

    — Eu sei que isso está ficando repetitivo, mas o quê?

    Contenho uma risada e ergo as sobrancelhas.

    — Querida, estamos presos aqui. Teremos que esperar pela segurança ou que o Superman saia dos quadrinhos e venha nos resgatar.

     Tenho certeza que ela quer revirar os olhos, mas se contém e apenas me dá as costas, indo ficar do outro lado do elevador. Essa caixa de metal que estamos presos não é muito grande, mas ela consegue fazer como se estivéssemos a cem km um do outro.

    — É claro que de todas as pessoas do planeta, eu ficaria presa com um engraçadinho metido a inteligente — resmunga, mais para si mesma do que para mim. Depois, ergue o rosto para me encarar. Não parece muito feliz. — E meu nome é Lorelei.

    — Lorelei — digo, testando seu nome em meus lábios. — Lorelei — repito, ganhando um olhar semicerrado. Penso em repetir pela terceira vez, mas eu estaria apenas sendo um idiota. E eu não posso ser um idiota se pretendo sair daqui com seu número. — É um nome bonito. Combina com você.

   — Já ouvi isso antes — atira de volta.

    — Eu não duvidaria. — Me desencosto da parede e diminuo a distância que ela pôs entre nós, estendendo a mão no pequeno espaço de dois passos que ainda resta. — É um prazer, Lorelei. Sou o Anthony.

    Lorelei não pega minha mão imediatamente, olhando como se estivesse pensando se vale a pena aceitar esse simples gesto.

    Quando ela faz sinal de se mover, então, ouvimos um estrondo e começamos a despencar outra vez.




      Quando paramos de cair, tudo está escuro e apenas o som das nossas respirações é ouvido. Fico preocupado no primeiro momento, me perguntando se Lorelei bateu com a cabeça e desmaiou ou algo do tipo, mas antes que eu chame pelo seu nome, uma luz surge.

    Meu olhos imediatamente procuram por ela e a encontram já olhando para mim, enquanto segura seu celular, a fonte da luz.

    — Que. Caralho — digo então. Não acho elegante xingar na frente das mulheres, mas a situação não me deixa ser um completo cavalheiro.

     Algo estranho e surpreendente acontece: Lorelei ri. Eu sei, ao ouvir o som doce e suave sair dos seus lábios, que é a coisa mais linda que eu já ouvi. Até me distraio da minha frustração, percebendo que estou sorrindo também. Não porque vejo alguma graça na nossa atual situação, mas porque é impossível não sorrir quando os olhos dela ficam menores quando ela ri, tão adorável que chega a doer. Eu sei que já disse isso, mas… Porra, ela é linda pra caralho.

    — Posso saber qual é a graça? — pergunto suavemente, nem um pouco preocupado em esconder o meu sorriso.

    — Ah, por onde devo começar? — Lorelei suspira, sua risada cessando aos poucos quando ela senta no chão do elevador. — Meu carro quebrou e eu tive que vir de metrô. Uma senhora derrubou café na minha bolsa. Ou seja, eu já estava atrasada, mas o universo achou que não seria o suficiente… E agora isso. Sei lá, parece que tô no episódio de uma sitcom. Se isso for verdade, vou ficar muito puta se alguém estiver se divertindo às minhas custas. — Ela para para respirar. — E ainda tem… — Mas como se não importasse, Lorelei balança a cabeça, deixando a frase inacabada.

    — Sinto muito que o seu dia esteja sendo uma merda. — Sento ao seu lado no chão, mantendo uma distância respeitável entre nós.

    Lorelei dá de ombros. Parece cansada.

    — Talvez eu possa fazer alguma coisa para ajudar…? — ofereço.

    Ela vira seu rosto para mim, me dando mais uma vez a oportunidade de admirá-la.

    — Você nem me conhece — diz.

    — Podemos nos conhecer agora. — Estendo minha mão outra vez. — Prazer, Anthony.

     Lorelei inclina a cabeça, semicerrando seus olhos.

    — Você já disse o seu nome. — Quando permaneço calado, ela suspira, estendendo a mão para apertar a minha. — Prazer, Anthony. Sou a Lorelei.

     Sua mão é sedosa e delicada em comparação a minha, mas seu aperto é firme. Pergunto-me, um segundo depois de nossas mãos se tocarem, se é a sua força que causa o choque de eletricidade que sinto percorrer meu corpo. Eu procuro por algo em seu olhar que indique que ela também sentiu, mas ou foi alucinação minha, ou Lorelei é muito boa em esconder suas emoções.

    Ela é a primeira a quebrar o contato, virando rapidamente o rosto para frente.

    Não falamos nada por um momento, apenas ouvindo o silêncio. Fecho minhas mãos em punhos e depois vou abrindo calmante, um dedo de cada vez. Faço isso uma dúzia de vezes antes de ouvir Lorelei pigarrear novamente.

    — Acha que ficaremos presos aqui por muito mais tempo? — questiona, olhando-me de soslaio.

    — Isso depende do que nos levou a ficar presos, para início de conversa. Mas acredito que não. Este é um prédio empresarial, muitas pessoas seriam afetadas se o problema se estender por mais tempo que o necessário. — Graças a luz da lanterna do seu celular, sou capaz de verificar as horas no relógio em meu pulso. 10h43. — Provavelmente sairemos daqui até o meio dia.

    Ao erguer o rosto, encontro Lorelei me observando. Seu olhar tem um misto de curiosidade e diversão. Engraçado, estou igualmente intrigado por essa mulher, apesar de ter certeza que não é pelos mesmos motivos que a faz se sentir assim por mim.

   — Por que você usa tantas palavras? — pergunta, então. — Tipo, tudo o que você disse, poderia ter sido resumido com uma única e pequena frase.

    Encolho os ombros.

    — Talvez eu goste de falar, sabe. Ouvir o som da minha própria voz e tal. — É uma mentira, mas é engraçado a forma como ela franze as sobrancelhas.

    — Isso seria esquisito. No mínimo.

    — Você não gosta de homens inteligentes — ergo um dedo. — Não gosta de homens engraçados, nem falantes e muito menos esquisitos. — Tenho quatro dedos erguidos agora. — E considerando que sou todas essas coisas, menos esquisito – sem ofensas aos caras esquisitos, no entanto –, quais as minhas chances de conseguir seu número após aparentemente ser o exemplo de homem que você não gosta?

     Vejo os cantos da sua boca se erguerem, mas Lorelei se controla, permanecendo quase séria, se não fosse pelo brilho divertido em seus olhos.

    — Primeiro, essa definitivamente foi uma fala longa. Segundo, eu gosto, sim, de homens inteligentes. E terceiro… — Faz uma pausa, semicerrando os olhos outra vez. — O que te faz pensar que poderia conseguir meu número?

     Inclino minha cabeça para o lado, dando um pequeno sorriso.

    — Sempre me saio bem em conseguir o que eu quero.

    Novamente, eu vejo sua luta para não ceder ao sorriso que quase se forma em seu rosto, mas Lorelei se sai bem mais uma vez, balançando a cabeça e revirando os olhos.

    — Você é muito convencido, sabe.

    — Deixa eu adivinhar… Você detesta isso também?

    Pela sua cara, a resposta é sim, mas não a verbaliza. Em vez disso, ergue o queixo, me olhando com superioridade. Arrisco a dizer que esse é um olhar bastante familiar para ela.

    — Acha que me conhece só porque passou cerca de vinte minutos comigo?

    — Não. Na verdade, há muito de você que ainda quero conhecer. — Viro-me totalmente para ela, apoiando meu braço em meu joelho. — Mas o pouco que eu descobri de você já é o suficiente para me encantar. Sério, eu me sinto como um marinheiro encantado por uma sereia que o levará para as profundezas do oceano.

     Acho que a peguei de surpresa, porque Lorelei passa alguns segundos apenas me encarando e piscando os olhos, antes de pigarrear.

    — Também lê muita fantasia, pelo visto — murmura. Já eu, acabo sorrindo.

    — Apenas mais uma coisa que você não gosta, presumo. Mas tudo bem. Mesmo correndo o risco de ter o mesmo fim trágico de um marinheiro que é atraído por uma sereia, eu ainda tenho esperanças de pelo menos conseguir convidá-la para um café, no final.

    — Isso não vai acontecer — Lorelei é rápida em assegurar.

     — Não gosta de café? Eu deveria ter imaginado. Não é um problema, podemos tomar outra coisa. Gosta de chocolate quente? Eu faço o melhor. Literalmente. Qualquer um que tenha tomado por aí não se compara ao meu, eu prometo. Você vai adorar. Posso levá-la ao meu apartamento e então tomamos o melhor chocolate quente do planeta. E não se preocupe, eu não sou um psicopata que está tentando te atrair até o meu casulo. Você pode esperar na portaria, se quiser. A portaria do meu prédio é bonita. Pode ficar lá enquanto faço o chocolate quente, se isso fizer você se sentir mais segura…

     Minhas palavras são interrompidas. Literalmente, sua mão está contra a minha boca, impedindo que qualquer outra palavra saia. Eu deveria me sentir ofendido, mas tudo o que consigo fazer é respirar e sentir o cheiro de lavanda e camomila que sua pele emana. É algum creme? Não importa, se tornou um dos meus cheiros preferidos.

    — Eu gosto de café — Lorelei diz simplesmente. Parece sem fôlego, sendo que fui eu que estava falando sem parar.

     Com cuidado, tiro sua mão da minha boca. Imediatamente, ela tenta se afastar, mas mantenho meu aperto. Ela ainda pode puxar a mão se quiser, mas a leve pressão que estou fazendo é o suficiente para ela entender que eu não quero isso.

    O pequeno broto de esperança começa a florescer dentro de mim quando ela me deixa segurar sua mão por mais um momento.

    — Isso significa…? — pergunto, meu tom baixo enquanto faço círculos imaginários na palma da sua mão. Lorelei respira fundo, encarando o lugar onde a estou tocando.

    — Parece bom — responde em voz baixa. Ou ela estaria… sussurrando?

    — “Parece bom”? — repito, imitando-a quando impeço um sorriso de se formar em meu rosto. Seria muito presunçoso da minha parte, e eu já entendi que com Lorelei as coisas só funcionam se ela achar que está no controle. E talvez… Talvez ela esteja, sim, já que meu coração bate descontrolado enquanto espero ansiosamente pela sua resposta. Por favor, aceite tomar um café comigo. Por favor.

    Quando ergue os olhos, o que quer que ela veja em meu olhar, faz com que feche sua mão, trancafiando meus dedos na sua palma. Mais uma vez, ela tenta se afastar e eu seguro seu pulso com a minha outra mão. E mais uma vez, Lorelei cede, deixando aquele broto de esperança se transformar em uma flor.

     De uma forma inexplicável, sinto mais do que vejo a luta interna que ela está tendo consigo mesma. Quero apressá-la, perguntar novamente, implorar… Mas não faço nada disso. Algo me diz que Lorelei não concorda com nada quando está sob pressão, e eu jamais aceitaria seu “sim” dessa forma.

     Então, espero. Cuidadosamente, abro sua mão novamente, virando sua palma para cima. Mantenho uma mão em seu pulso, segurando, mas não prendendo. Com meus dedos livres, começo a traçar linhas imaginárias em sua mão, às vezes imaginando que estou desenhando alguma coisa. A todo momento, Lorelei não diz uma única palavra, apesar de não tirar os olhos do que estou fazendo. Eu, no entanto, olho para ela ocasionalmente, observo suas reações, os leves estremecimentos que ela tenta esconder.

      Em um desses momentos, nossos olhares se cruzam. Eu não consigo identificar o que se passa em seu rosto e seus olhos, que parecem mais lúcidos do que antes, não me revelam nada também. Tenho tantas perguntas. Mas também tenho medo de acabar com esse momento. É um medo bobo, porque de fato, acabará, então não faz sentido adiar o inevitável.

     Isso se concretiza quando seus lábios, que por algum motivo parecem ter gosto de melancia, se movem e sua voz preenche não apenas o silêncio, mas meu coração.

    — O café… Eu quis dizer que sair para tomar café, parece algo bom — conclui então, não fazendo ideia da euforia que acontece dentro do meu peito.

    Sorrio para ela enquanto tento encontrar minha voz.

    — Definitivamente, parece algo bom — murmuro, controlando minhas palavras para que eu não pareça feliz demais e a assuste.

     Finjo não ver o sorriso que ela tenta disfarçar ao virar o rosto, mas sei que vou repetir esses dois segundos por um bom tempo em meu cérebro.

     Consequentemente, Lorelei enfim puxa sua mão para si e eu não a impeço dessa vez. Não apenas porque não quero abusar da sorte, mas porque o elevador volta a funcionar nesse exato momento. Pelo menos eu acho que é isso que acontece, porque as luzes se acendem e ele começa a subir.

    — Ah, graças a Deus! — Lorelei exclama, ficando de pé com rapidez. Eu associo sua felicidade ao fato de que não morreremos aqui e não que a minha presença a estava entediando.

     No entanto, apesar de ter o nosso momento interrompido, eu sorrio um pouco para a forma como ela tira um tempo no espelho para arrumar suas roupas e seu cabelo. Para mim, ela estava perfeita do jeito que estava, mas conheço as mulheres e sua vaidade. Principalmente porque, nós homens, não ficamos muito atrás.

     Apenas quando ouvimos o apito do elevador é que me dou conta que apesar de saber seu nome e que usa um hidratante de lavanda e camomila, não sei o mais importante: seu número de telefone. Será quase impossível contatá-la sem isso.

     Assim que saímos do elevador, eu pego seu pulso. Odeio parecer desesperado ou um esquisito que a está perseguindo, então a solto assim que tenho sua atenção, guardando minhas mãos nos bolsos da minha calça.

    — Você ainda não me deu seu número — lembro-lhe.

    — Não, não dei.

    Quando apenas nos encaramos, deixo escapar uma risada de nervoso.

    — Linda, você quer que eu implore? — Arqueio a sobrancelha. Eu faria isso sem problemas.

    — Já disse que meu nome é Lorelei — lembra prontamente, apesar de um tom mais escuro de marrom atingir suas bochechas.

    — Mas você não deixa de ser linda, não é?

    — Tsc — Ela emite um som, parecendo em dúvida entre revirar os olhos ou sorrir. No fim, ela opta por procurar algo na sua bolsa. — Essa cantada funciona com todas?

     Quando ela me entrega um cartão com seu nome e número de telefone, eu finalmente dou o sorriso que já me rendeu alguns apelidos. “Cafajeste” e “Canalha” são alguns deles.

    — Funcionou com você, não é?

     Lorelei solta uma risada.

    — Você é muito audacioso…

    — Anthony? Lorelei? Vejo que já se conheceram.

    Nós dois olhamos para o homem caminhando até nós. Eu o conheço há cerca de dezessete anos, quando casou com minha mãe e me adotou. Graças a ele, carrego o sobrenome Blackburn comigo. E apesar de não parecer fisicamente com ele, Enrico Blackburn me ensinou muitas coisas e foi – ainda é e sempre será – um exemplo de pai que muitos – incluindo o meu progenitor – jamais conseguiram ser.

    — Sr Blackburn, é um prazer revê-lo — Lorelei diz com um sorriso ao cumprimentar meu pai, deixando-me curioso e um pouco confuso. — Peço desculpas pelo atraso, o elevador…

    — Não se preocupe, Sra Willians. Na verdade, sou eu que tenho que pedir desculpas pelo ocorrido desagradável. Não era assim que eu esperava que seu primeiro dia conosco começasse.

    — Está tudo bem agora. — O sorriso de Lorelei fica mais estranho do que a situação que nos encontramos. — Na verdade, antes de começarmos, gostaria de discutir sobre o contrato.

    Meu pai franze as sobrancelhas. Sinto-me como uma mosca, apenas observando a cena se desenrolar na minha frente, me deixando com uma sensação ruim na boca.

    — Há algum problema? — Papai pergunta. Não sei se ele percebe quando Lorelei olha de relance para mim, como se não estivesse confortável em discutir esse assunto na minha presença. Mas ela não tem muito o que fazer, porque meu pai não se oferece para conversar sobre isso em seu escritório.

    — Mudei meu sobrenome recentemente. Voltei a usar meu nome de solteira. É Keen, à propósito. Mas os documentos chegaram apenas ontem, como o senhor sabe, muitos dias depois de termos assinado a minha contratação.

    — Ah, claro. Isso com certeza será fácil de resolver. — Enquanto meu pai oferece um sorriso tranquilizador a Lorelei e de fato parece aliviado por não ser outra coisa, estou quase explodindo com o esforço que estou fazendo para manter minhas perguntas para mim.

     Sobrenome de solteira? Ela era casada? Ela não disse exatamente que se divorciou, então ela é casada? E de que porra de contrato eles estão falando? Ela vai trabalhar aqui, na Blackburn Empire?

    — É ótimo que vocês já se conheceram, já que vão trabalhar juntos — meu pai continua falando.

     Nós dois olhamos para ele, mas é apenas a minha voz que eu ouço um segundo depois.

    — O quê?

    — Lorelei é a nossa nova Relações Públicas — Enrico informa para mim. Para Lorelei, ele diz o que eu temia: — Meu filho Anthony será seu assistente.

     Claro que eu sabia que trabalharia com a pessoa que assumisse o cargo de Relações Públicas. Me formei em Comunicação, então o mais lógico seria trabalhar com algo relacionado a isso. Logo, assumir um cargo – mesmo que pequeno – na Blackburn Empire já estava nos meus planos há muito tempo. Eu deveria tentar um trabalho em outro lugar, talvez um jornal, mas a empresa da minha família pareceu mais seguro para um recém saído da faculdade que não sabe muito bem que carreira seguir. Então, o cargo de assistente seria um bom começo.

    Na verdade, mesmo depois dessa revelação do meu pai, não vejo nenhum problema de imediato. Minha atração por Lorelei e o que acontecer após o nosso café, não precisa interferir no nosso trabalho. Talvez até o torne mais dinâmico. Não vou me precipitar sobre o fato do seu divórcio. Porque com certeza houve um, não é? Ela não mudaria seu sobrenome se não tivesse tido.

    Mas parece que apenas eu estou vendo o lado positivo disso. Quando meu pai continua falando, encontro o olhar de Lorelei, para tentar decifrar o que ela está achando de toda essa situação, mas o que encontro faz meu estômago embrulhar. Não há mais divertimento ou intriga. Não há brilho em seu olhar também. É como se eu estivesse olhando para outra pessoa. Como se aquele momento, aquela conexão que tivemos, nunca tenha existido.

     E com o passar dos dias, dos meses e dos anos… Eu me pergunto se realmente existiu. Pior, pergunto-me com certa frequência, se um dia vou encontrar de novo aquela mulher por quem eu me apaixonei no elevador… Ou se um dia deixarei de amá-la. O que mais temo é que a resposta para a primeira pergunta seja “não”, pois será igual a resposta da segunda.

     Nunca achei que doeria tanto amar o que não é meu, mas ainda tenho esperanças de fazê-la minha. Para sempre.


💚

Oi, morêsss, finalmente tô de volta!
Primeiramente, obrigada por todas as mensagens e por não terem desistido de mim! Foi muito importante saber que vcs estavam ansiosas pelo meu retorno!

Segundo, preciso da ajuda de vcs mais do nunca agora: comentem, recomendem o livro (e os outros), me sigam nas redes sociais!!! Uma das minhas metas esse ano é conquistar mais leitores e a ajuda de vocês é muito importante! Desde já, agradeço MUITO! Amo vocês. Obrigada 💚✨

Agora me contem: o que acharam desse prólogo?? Imaginavam que eles tinham se conhecido assim??

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2bjs, morês 💚✨

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