²|Minha etrena condenação
A maciez sedosa dos seus lábios é algo que certamente nunca esquecerei enquanto eu viver. Assim como a forma como seu corpo respondeu ao meu. Nem meus sonhos – e houve muitos – foram tão reais ou perfeitos quando o então momento em que beijei Lorelei Keen.
Três semanas depois
Sabia que abrir o próprio negócio poderia ser difícil, só não achei que seria tão exaustivo. Principalmente porque o negócio já estava tecnicamente aberto.
Um dos motivos para eu ter comprado esse lugar, para início de conversa, era que eu não precisaria começar do zero, apenas fazer algumas mudanças e reformas. Acontece que por “algumas”, na verdade, eram muitas, começando pelo sistema de encanamento e de som. Aparentemente meu amigo esqueceu de me informar esses detalhes quando negociamos a venda da boate.
Dá para acreditar? Anthony Blackburn, o cara que estudou jornalismo e comunicação, agora é dono de uma boate. Nem nos meus sonhos mais loucos quando criança, eu teria imaginado isso. Mas quando Rory Marlon, um ex-colega da faculdade e o antigo dono da Black Drink, mencionou que estava querendo começar de novo em outro lugar e passar adiante a boate, eu vi como uma oportunidade que não poderia ser perdida.
Meus irmãos e eu frequentamos a Black Drink por muitos anos. Ela é bem localizada, no centro de River North, e muito bem frequentada também. Eu não teria que conquistar uma clientela, o que é uma das coisas mais difíceis quando se abre um novo negócio. Foi como se uma oportunidade única tivesse sido jogada no meu colo, e eu a agarrei antes que escapulisse. Mesmo com alguns problemas de manutenção que tive, eu não me arrependo de ter investido pesado para conseguir.
Semana passada finalmente reabrimos, mas com mudanças. Uma delas é a mudança no layout da boate. Melhorias, digamos. E isso levou algum tempo. A maior mudança, talvez, tenha sido o nome. Black Drink, como era conhecida, agora se chama Eclipse Club.
As coisas estão indo bem, a casa está lotada e eu sei que Larrys, o meu gerente e um dos vinte funcionários que estou mantendo por enquanto, pode lidar com o lugar sem mim. Mas eu me obrigo a ficar para mostrar meu comprometimento. Por isso só vou embora perto das 02h.
— Pode me ligar se precisar de alguma coisa, Larrys — digo ao gerente enquanto caminhamos pelos corredores internos. Rory me deu um relatório dos funcionários e até agora estou me baseando nisso e no que venho observando, para ver se pretendo mantê-los. Larrys – um homem alto de 45 anos e de sorriso gentil – tem mostrado por que foi atribuído a gerente com apenas oito meses após ser contratado. Ele tem me ajudado bastante e tenho esperanças de mantê-lo.
— Não se preocupe, Sr Blackburn. Nós nos viramos aqui. — Ele não precisa dizer “como sempre fizemos” pois fica implícito, já que Rory não era um dos melhores administradores.
— Sei que meu antecessor deixou vocês na mão com frequência, mas o que eu disse à equipe no meu primeiro dia foi verdade: quero participar de tudo e não pretendo deixar vocês na mão. — Reforço o que eu já tinha deixado claro a eles na reunião que tivemos após eu comprar o lugar. Aprendi muito vendo meu pai liderar, e mesmo que haja um abismo de diferença entre o Eclipse Club e a Blackburn Empire, eu sei que para um bom negócio funcionar, a gestão tem que estar de acordo com seus funcionários, até porque são eles que fazem as coisas funcionarem.
Larrys parece refletir, assentindo com um sorriso conhecedor.
— Receio que será difícil ganhar a confiança dos outros tão rápido, mas falarei com eles, senhor. Não se preocupe.
— Obrigado, Larrys. — Aperto seu ombro. — E pode me chamar de Anthony.
— Tudo bem. Boa noite, se… Anthony.
— Boa noite, Larrys. Até amanhã.
Larrys faz uma saudação e é a última vez que o vejo antes de entrar na bolha de euforia e música que é o Eclipse Club. A casa está cheia. Acredito que se continuarmos assim, até o final do ano vou poder quitar o empréstimo que fiz ao banco. Teria sido mais fácil pedir a ajuda dos meus pais ou dos meus irmãos, mas as coisas são diferentes agora e eu preciso lidar com as minhas coisas eu mesmo.
Do lado de fora, cumprimento Omar, um dos seguranças e agradeço por ter trazido meu carro, com certeza tendo sido avisado por Larrys pelo ponto de comunicação deles.
— Boa noite, Sr Blackburn! — Omar acena, sorrindo. Apesar de todo mundo achar que ele é um cara frio e sem coração por conta dos seus 1,90 de comprimento e todos os músculos impossíveis de esconder debaixo do terno elegante, Omar é uma das pessoas mais gentis que eu já conheci e eu só o começo há uma semana.
— Boa noite, Omar.
Respiro aliviado ao entrar no meu Tesla. Passei a noite toda desejando um banho e uma boa comida. A última vai ser difícil de conseguir desde que me mudei a pouco e ainda não tive tempo de passar no supermercado, então terei que me contentar com as sobras do delivery de ontem. Podia passar em algum lugar para comprar alguma coisa, mas preciso mais da tranquilidade do meu apartamento do que de comida fresca. As sobras terão que bastar.
Como é noite – madrugada, na verdade – o trajeto até o meu apartamento dura rápidos dez minutos, que eu mal vejo passar.
Depois de estacionar meu carro na minha nova vaga, me apresso ao ver as portas do elevador ainda abertas. Odeio esperar elevadores.
Dito isso, eu consigo entrar antes que as portas se fechem, murmurando um “boa noite” para o outro ocupante, mas sem realmente ver com quem estou falando. Apesar que isso não mudaria em nada, pois ainda não estou familiarizado com os meus vizinhos desde que me mudei há alguns dias e a única pessoa com quem conversei foi o síndico.
Mas ao fazer menção de apertar o botão para o oitavo andar, é que percebo que alguém já fez isso. Só então ergo o rosto, curioso para conhecer meu primeiro vizinho.
E fico totalmente paralizado.
Encarando-me através do espelho, está a mulher que eu tenho tentado com muito afinco não pensar.
Lorelei e eu ficamos nos encarando, estáticos. Por um momento eu esqueço que estamos em um elevador e minha mente é levada de volta para aquele corredor, há tantos quilômetros de distância, onde eu condenei eternamente minha memória ao criar uma lembrança que jamais esquecerei: seus gemidos enquanto sua boca correspondia avidamente ao beijo que roubei. Essa, com certeza, sempre será minha eterna condenação.
Piscando e sendo trazido de volta ao presente, pigarreio, lembrando dos bons modos que minha mãe me ensinou.
— Boa noite — digo, em vez de: “por que você não abriu a porta quando eu chamei?” “por que me deixou saber pela minha cunhada que você havia voltado para Chicago?”
No entanto, essas perguntas são bem fáceis de responder. Obviamente você não vai se importar com um cara que acabou de beijar se em seguida você recebe a notícia que seu ex-marido sofreu um acidente e morreu na mesma hora.
— Oi — é o murmúrio de Lorelei. Ela parece tão confusa quanto eu. O que está fazendo aqui? Ela conhece alguém que mora aqui?
Mas essas não são as perguntas mais importantes. O que realmente quero saber, mas que jamais irei perguntar, é se está bem. Tudo o que sei desde aquele dia, é o que Kate me contou – sem que eu perguntasse. Mas segundo minha amiga, Lorelei estaria lidando bem com tudo – ou melhor que uma pessoa possa lidar após perder alguém importante – mas conheço Lorelei. Nunca falamos sobre seu ex-marido no tempo em que trabalhamos juntos, mas conheço seu jeito de lidar com as coisas. Com certeza ela está deixando as pessoas verem o que elas querem ver: que ela está bem e vai superar. Quando na verdade, por dentro, ela não está tão tranquila assim.
Mas como eu disse, não lhe faço esses questionamentos. Não apenas porque eu a conheço o suficiente para saber que ela jamais responderia– no máximo me daria uma resposta afiada –, mas também porque chegamos ao oitavo andar.
Apenas quando nós dois saímos do elevador, é que volta a me ocorrer que ainda não sei por que ela está aqui. Obviamente não é para me fazer uma visita. Então começo a me questionar se ela está visitando algum conhecido.
— O que você…
— … está fazendo aqui…
Nós paramos, percebendo que íamos nos fazer a mesma pergunta.
Há dois apartamentos no início deste corredor, um de frente para o outro, e paramos cada um na frente de uma porta.
Lorelei aponta para a porta atrás de si.
— Eu moro aqui. E você?
É como se o destino estivesse entediado e precisando de entretenimento, porque só assim a mulher que eu menos precisava ver diariamente… se tornaria minha vizinha.
💚
Oi, morês !!! O que acharam desse capítulo????
Na sinopse eu dei o spoiler que teria o trope de vizinhos. Me digam que eu não sou a única que gosta ksksksksks🤭🤭
Só digo uma coisa: esses dois ainda vão aprontar muitooo👀
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2bjs, morês 😘💚✨️
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