¹⁰|Mancha carmesim
O amor é uma ruína da qual eu infelizmente faço parte. Involuntariamente, fui arrastado para cá pelo seu olhar, seu sorriso e os raros momentos que pude presenciar sua risada – aliás, é um dos meus sons preferidos. Mas até as coisas mais lindas são destrutivas. E a prova disso é como você deixou meu coração.
Há semanas, pequenos sinais têm me atormentado – dinheiro sem registro, pessoas estranhas circulando pelos fundos da boate em horários suspeitos. A cada nova pista, minha certeza cresce: há algo muito errado. Sem saber ainda do que se trata, passei a coletar discretamente todas as provas possíveis – números que não batem, imagens de segurança revisadas à exaustão, conversas aparentemente inofensivas que, quando unidas, começam a formar um padrão.
Essa noite, estou mais uma vez em buscas de pistas, e é assim que venho parar em um corredor do andar inferior. Já estive aqui uma vez, e funciona mais como corredor desativado – inclusive não há câmeras, algo que mudarei em breve.
Estou começando a pensar se minha vinda aqui foi em vão, quando sou surpreendido por vozes abafadas vindo de uma porta que deveria sempre estar fechada.
Olhando para os lados para ter certeza que ninguém está vindo, me aproximo devagar, me encostando na parede ao lado da entrada.
— O movimento está crescendo. Precisamos de um jeito de entrar com mais fichas sem chamar atenção.
Reconheço a voz, mas não consigo situá-la de imediato…
— Relaxa, Bran.
Bran. Um dos barmans. Lembro dele porque…
Espere. Essa outra voz…
— Ninguém sabe disso aqui. Anthony nem desce para conferir o estoque de bebidas. — Larrys, o gerente noturno, completa.
— E você acha que vai ficar assim pra sempre? Se ele desconfiar, pode acabar com o esquema inteiro. E você sabe o que isso significa.
— Não vai desconfiar. Ele nem faz ideia de que tem um cassino aqui embaixo.
Sinto um embrulho no estômago. Não sei se pela descoberta da traição dos meus funcionários, ou de que há um cassino operando debaixo do meu nariz.
Não quero acreditar no que estou ouvindo, mas ao mesmo tempo tudo começa a fazer sentido: os horários, os números errados no caixa, o movimento estranho pelos fundos…
E agora, o que vai fazer? Finalmente descobriu o que havia de errado.
Engulo em seco e respiro fundo. Sim, eu descobri, mas não era o que eu estava esperando. Achei que estava acontecendo alguma venda ilegal e não um cassino ilegal.
Mas preciso pensar com calma. Quero entrar lá e gritar com os dois e quem mais estiver nessa sala, mas sei que não posso. Preciso de provas, dos nomes dos envolvidos, entender como e há quanto tempo isso funciona sem que eu soubesse… E então decidir se irei arriscar a reputação da boate entregando todos a polícia… Ou se vou resolver de um jeito mais silencioso.
🍸
Passei as últimas horas vasculhando documentos e assistindo às câmeras de segurança. Foi exaustivo e ao chegar em casa, não tenho muito mais do que tinha antes. Tenho, principalmente, muitas perguntas. Será que Rory – o ex-dono da boate – sabia disso? Ele era cúmplice? E como eu não notei isso antes?
Jogado no meu sofá, não tirei nem mesmo meus sapatos ainda. Minha cabeça não para de girar e eu estou muito agitado para dormir agora.
A porra de um cassino ilegal. E claro que esse tipo de merda só aconteceria comigo. Sinto a raiva subir pelo meu peito a cada nova lembrança que passa pela minha cabeça. Eu confiei naquelas pessoas. Havia apertado a mão deles, pago seus salários, tratado como parte da equipe. E, o tempo todo, estavam lucrando às minhas custas, usando meu espaço para um jogo sujo.
Esfrego as mãos no rosto, como se pudesse apagar a sensação de ter sido feito de idiota. Tento me lembrar se alguma vez vira algo suspeito. Um olhar trocado. Uma porta fechada rápido demais. O barulho de fichas batendo, abafado pelo som da música alta. Pequenos sinais estavam lá. Eu só nunca prestara atenção.
Quero ligar para os meus irmãos e contar da “novidade” e talvez perguntar o que eles fariam, mas descarto a ideia antes que ela se forme totalmente. Eles têm suas vidas agora e não há porque envolvê-los nisso. É minha boate, meu problema e eu vou resolver sozinho.
Ainda estou pensando no assunto – provavelmente será a única coisa que irei pensar por um tempo – quando ouço um barulho no corredor.
Eu sei, sem precisar olhar pelo olho mágico, que é Lorelei.
Não temos nos falado desde aquele dia onde eu a acusei de acabar com o próprio casamento. Todos os dias, quando saio para o trabalho ou para a academia, penso em bater na sua porta e pedir desculpas. Mas então percebo que e besteira e sigo meu caminho Ela provavelmente nem se lembra do que aconteceu de tão insignificante que eu sou para sua vida.
Ela também não significa nada para mim. Não mais. Que isso fique registrado.
No entanto, ela ainda é amiga da minha melhor amiga, e apenas porque eu sei que se Kate estivesse aqui, estaria preocupada com sua amiga chegando às 04h da manhã em casa, eu vou até o olho mágico para ver se está tudo bem.
Kate, você está me devendo uma.
Pelo pequeno buraco, eu vejo Lorelei tentar e falhar em abrir sua porta. Ela está murmurando, enquanto tenta forçar a maçaneta.
Eu deveria deixá-la resolver seu problema sozinha, mas há algo errado. E não são as vozes da minha cabeça dizendo, mas sim as suas roupas desgrenhadas e o cabelo bagunçado. Mais que isso, seus movimentos estão lentos e eu tenho a impressão de vê-la quase cair duas vezes.
Pelas suas roupas e seu estado, eu diria que ela saiu para beber e ficou com algum idiota. Com certeza a raiva que eu sinto é porque ela não parece em condições de ficar alguém, e não porque esse cenário não me agrada por um motivo completamente diferente.
Ignorando meus instintos de autopreservação, abro a porta do meu apartamento.
Ela nem mesmo olha, não sei se é porque já é costume seu me ignorar ou porque não ouviu mesmo.
— Está tudo bem aí? — pergunto, então.
Esperava hostilidade ou frieza, mas quando olha para mim, Lorelei apenas pisca. Observo suas pálpebras se moverem por cinco segundos antes de algo sair da sua boca.
— Oi.
— Oi.
Nos encaramos. Eu estava certa sobre ela ter tido uma noitada: seus olhos estão um pouco vermelhos e sem foco. Ela também fica trocando o peso de um pé para o outro, como se fosse um sacrifício se manter de pé.
Aponto para a sua porta com o queixo.
— Precisa de ajuda?
Lorelei encara a porta também, como se nunca tivesse visto antes. Jesus, acho que nunca a vi assim… Tirando aquela vez quando vocês se beijaram em um corredor parecido com esse?
Estávamos em Barcelona, definitivamente não era um corredor parecido com esse.
— Acho que trocaram a fechadura da porta enquanto eu estava fora — Lorelei murmura. O que ela diz é tão absurdo que eu finjo que não ouvi em solidariedade a sua versão sóbria.
— Posso dar uma olhada?
— C-claro.
Ela não se afasta quando eu me aproximo e o cheiro da bebida fica mais forte. Não é como em Barcelona. Lorelei poderia estar um pouco alcoolizada naquele dia, mas agora é como se ela tivesse se afogado em um barril de cerveja. Convivi com dois alcoólatras para saber a diferença.
Sei porque ela não está conseguindo abrir a porta: estava usando a chave do seu carro para isso. Se forçasse mais um pouquinho, ela ficaria na rua.
Depois que abro a porta, me afasto, deixando que entre. Lorelei murmura algo inaudível ao passar por mim aos tropeços, deixando sua bolsa e seus saltos jogados no chão.
Encaro sua bolsa e seus saltos. Lorelei sempre foi organizada e metódica. Sua versão sóbria jamais jogaria suas coisas no chão desse jeito ou deixaria a porta do seu apartamento aberta.
Só vou checar se ela está bem, então vou embora.
Fecho a porta ao entrar para o caso de algum curioso está passando. Depois, pego sua bolsa e ajeito seus saltos num canto, para que ela não tropece depois.
— Lola? — chamo baixinho, olhando ao redor quando não encontro a vista.
Lembro que não fiquei muito surpreso com a sua decoração quando vim aqui alguns dias, no dia do quase incêndio. É bem minimalista e cru, com tons de cinza dominando o ambiente. Há ainda algumas caixas da mudança, como se ela estivesse com preguiça de abrir.
Ou talvez ali contenha coisas do seu ex falecido.
Não me deixo pensar muito nisso. Não apenas porque não é da minha conta, mas porque Lorelei aparece na sala. Com uma taça de vinho.
Que merda ela pensa que está fazendo?
— Tem mais na cozinha, se quiser — diz, suas palavras embaralhadas.
— Estou bem… — Me movo em meus calcanhares, ponderando. Sei que não é da minha conta, mas… — Não acha que já bebeu demais?
Lorelei dá de ombros, caminhando para o sofá. Mas, como eu disse, ela tem uma quantidade considerável de álcool no organismo, então não me surpreende quando ela tropeça e acaba caindo.
Corro para ajudá-la, meu coração disparando.
— Você está bem? Machucou? — pergunto, afastando seu cabelo do seu rosto ao ajudá-la a sentar.
Lorelei balança a cabeça, negando, seus olhos no tapete e na mancha carmesim que começa a cobrir o tecido. Seus olhos se enchem de lágrimas.
— Ei — sacudo levemente seu rosto, e quando ela não olha, outra coisa me chama atenção. Há uma mancha em sua mão também. Mas não é vinho, e sim sangue. A taça se partiu e um caco de vidro entrou na sua mão. — Merda. Vamos ter que limpar isso. Você tem kit de primeiros socorros?
Novamente, sem respostas. Sua total falta de reação me assusta. Nem Lorelei, que é tão controlada e fria, pode ser capaz de manter essa calma acompanhada de um silêncio assustador.
No entanto, sua mão está sangrando, e eu preciso agir.
— Já volto.
Fico de pé e vou até o seu banheiro. Como imaginei, encontro o kit de primeiros socorros embaixo da pia. Também pego uma toalha, umedecendo-a com água antes de voltar para a sala. Lorelei está no mesmo lugar que a deixei, exatamente na mesma posição.
— Talvez doa um pouco — explico, antes de começar a limpar.
O corte não foi grande e é rápido de tirar o caco de vidro, assim como limpar e enfaixar sua mão com gaze. Toda a ação não leva nem cinco minutos, nos quais Lorelei mal pisca.
Então, sem aviso, ela treme. Primeiro um arrepio sutil, depois um tremor incontrolável. Quando ergo o olhar, vejo lágrimas silenciosas escorrendo pelo seu rosto – um rosto sempre tão inabalável.
— Eu falhei. Eu falhei — sussurra, seu choro ficando mais intenso.
— Linda… — Sou pego de surpresa pela sua reação, nunca a vi chorar. No entanto, não tenho outra reação a não ser puxá-la para os meus braços.
Se eu não soubesse que a situação é séria – ela está chorando na minha frente então isso não é sobre o vinho ou seu tapete manchado –, ficaria claro agora, quando ela me deixa abraçá-la.
— Eu nunca vou conseguir… Nunca…
Não sei do que ela está falando, o que é uma tortura porque se eu pelo menos tivesse uma ideia, podeira consolá-la apropriadamente. Mas em vez disso, acaricio seu cabelo e suas costas, esperando que seja o suficiente, enquanto meu coração se aperta de dor ao vê-la desse jeito.
— Shh. Vai ficar tudo bem — sussurro, esperando que eu esteja certo, mesmo que eu não saiba no que ela acha que falhou.
💚
Foi aqui que pediram depressão?????
Brincadeira, eu também odeio ver a Lola assim. Minha pitica não merecia esse sofrimeto todo😭😭😭
Já desconfiavam que era isso que tava rolando na boate do Anthony???? Estão preparadas para a confusão que isso vai dar?????👀👀👀
Não sei se vou postar capítulo na terça (pretendo ir pro carnaval), mas qualquer coisa eu aviso lá no insta e aqui no mural. Então se ainda não me seguem, vão lá seguir!
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É isso, 2bjs, môres✨️
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