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Capítulo 8

Quando saímos da cozinha, encontramos Carol na sala brincando com Judith. A mulher se ofereceu para ficar com a garotinha o resto da tarde e sugeriu que o Grimes mais novo me levasse para dar uma volta pela comunidade, para que eu conhecesse melhor o lugar e pudesse andar por aí sem me perder.

Carl acabou aceitando a ideia e o acompanhei até o lado de fora da casa, o Sol brilhava no céu azulado, nos agraciando com um dia ensolarado de calmaria.

Alexandria era ainda maior do que eu pensava, havia um lago no centro do lugar onde crianças brincavam em volta, as risadas e vozes em conversas corriqueiras me traziam uma sensação inexplicável de paz. Carl caminhava ao meu lado tranquilo, parecia estar subitamente de bom humor e eu confesso que ele tinha um sorriso lindo.

-E aí, o que está achando daqui? - ele perguntou com um sorriso calmo, se sentando na grama e me estendendo a mão para que eu fizesse o mesmo.

-É bonito... Vivo, na verdade... E isso é bom demais. - respondi com um sorriso sincero, aceitando sua mão e me sentando a seu lado, me sentia a vontade com o garoto.

-Fico feliz que esteja gostando. - murmurou tranquilo, se espalhando na grama e fechando os olhos para aproveitar o Sol, suas bochechas estavam sutilmente avermelhadas por causa do calor e eu não pude me impedir de pensar no quanto Carl era bonito.

-Fazia tempo que eu não tinha um dia assim... - sussurrei em algum momento, imitando sua ação e fechando os olhos enquanto me espalhava na grama macia pra aproveitar o Sol.

-Um dia, "assim"? - o mais alto questionou, seu tom era relaxado e um pouco preguiçoso. Pacífico.

-Sim, um dia que vale a pena ser vivido... - respondi sorrindo, sim, em dia como esses eu ainda queria viver, não apenas sobreviver.

XXX

O resto do dia passou voando, Carl me apresentou a boa parte das pessoas na comunidade e boa parte deles me tratou muito bem, mas ainda haviam uns ou outros que faziam questão de demonstrar sua desconfiança em mim. No momento, eu estava falando exatamente com uma dessas pessoas.

-Já disse cinco vezes que não tenho grupo nenhum! Quantas vezes vai me fazer repetir essa merda?! - reclamei já perdendo a paciência.

A mulher de cabelos escuros e ar arrogante a minha frente continuava me lançando aquele maldito olhar desconfiado, seu nome era Rosita.

-Pode repetir quantas vezes quiser, garota. Confiança é algo que se conquista. - ela retrucou de braços cruzados, me olhando de cima como se eu fosse uma barata, eu odiava aquilo.

-Rosita, chega! - Carl se intrometeu, a encarando seriamente, a mulher bufou e se virou para ir embora.

-As pessoas mentem, Carl. Só espero que você não descubra do pior jeito com essa daí. - a mulher falou e saiu andando, senti meu sangue ferver e comecei a andar na direção oposta.

-Clarisse, espere! - o garoto me chamou, mas eu apenas apressei o passo.

Eu normalmente não ficaria tão afetada com uma simples discussão, mas a verdade é que eu mesma não me achava digna de confiança. Pessoas morreram por minha causa, mais de uma vez, e eu apenas continuei em frente porque sobreviver era mais importante.

Minha família se foi e eu só podia contar comigo mesma, fiz coisas de que não me orgulho, roubo, enganação, assassinato. Estava mostrando a Carl apenas uma máscara desde que o conheci, me forçando a acreditar que poderia apenas ignorar o passado e fingir ser uma boa pessoa até me tornar uma, mas no fundo eu sabia que isso não daria certo. É só questão de tempo até tudo desmoronar.

-Clarisse! - o garoto me segurou pelo pulso, impedindo que eu continuasse me afastando.

-O que você quer, Grimes?! O que caralhos você quer de mim?! - gritei parando de andar, tentando a todo custo me impedir de chorar.

-Olha... A Rosita é um pouco fechada no começo, mas ela não quis... - Carl começou cauteloso, mas eu o interrompi.

-Não faça isso... - praticamente implorei, tentando me soltar sem muito sucesso.

-O que...? - ele perguntou confuso.

-Não confie tão facilmente em ninguém... Não confie em mim... Eu não sou o que você pensa... Vou trazer apenas desgraça e confusão até vocês... - respondi baixo e me soltei, os fios rebeldes de meu cabelo ocultavam minha face enquanto as lágrimas fugiam teimosamente de meus olhos - Agradeço por tudo que fez por mim, mas ficamos melhor afastados. - informei por fim e voltei a andar, ignorando os chamados do garoto até que ele desistisse.

XXX

A noite caiu, envolvendo o mundo com escuridão e medo, se arrastando como uma serpente pela madrugada fria. Já era tarde quando finalmente desisti de tentar dormir, sono algum me alcançava e os pensamentos acelerados em minha mente estavam me enlouquecendo.

Me sentei na cama irritada e baguncei meus cabelos para descontar a frustração, deixando os fios ainda mais rebeldes e arrepiados que o normal. Havia se passado uma semana e meia desde minha briga com Rosita e consequentemente meu afastamento de Carl. Eu andava pela casa sempre evitando o garoto e fingindo não notar os olhares chateados que ele lançava em minha direção, sempre que eu saia correndo quando ele tentava se aproximar.

A verdade é que eu estava subindo pelas paredes com essa situação também, sentia uma falta imensa da companhia do garoto mesmo que tivéssemos convivido por pouco tempo e aquilo era preocupante.

Vesti novamente minha blusa e calcei os sapatos, desejando ter um cigarro ou pelo menos uma dose de whisky no momento, mas não havia nada nessa droga de casa de família. Descendo rapidamente as escadas eu tentava evitar os pensamentos a qualquer custo, lembranças torturantes e inoportunas das vidas que já tirei.

Caminhei até a cozinha e passei a vasculhar as gavetas, buscando qualquer coisa que servisse de arma, resmungando xingamentos quando tudo que encontrei foi uma simples faca de cortar pão.

Abri a porta da frente devagar, escondendo a faca ridícula entre as minhas roupas e observando a rua deserta. Nada de anormal. Fechei a porta e saí de casa, as mãos enfiadas nos bolsos enquanto a brisa fria da noite arrepiava os pêlos de meus braços. Precisava caminhar um pouco para colocar a cabeça no lugar, talvez pedir para substituir alguém na torre de vigia.

Estava com a cabeça quente quando disse a Carl que iria ficar longe. No calor do momento eu só senti que era uma ameaça pra ele, mas nem preciso dizer que foi uma idiotice tomar uma decisão assim, sem pensar nas consequências.

Eu sabia que cedo ou tarde eles descobriam que eu já matei muito mais que apenas "algumas" pessoas, já eram muito mais de cinquenta na minha lista. Porém, o eu poderia fazer?! Deveria ter morrido no lugar deles...?

Estava completamente imersa em meus pensamentos obscuros quando uma mão agarrou meu ombro de supetão. Sem sequer pensar, agarrei o braço de quem quer fosse e joguei o desconhecido no chão, ficando sobre o corpo do mesmo e colando imediatamente a lâmina de minha faca em seu pescoço.

-Isso é uma... Faca de cortar pão? - Carl perguntou meio sem ar abaixo de mim pelo tombo, arregalei os olhos e afastei a faca de seu pescoço.

-Você quase me matou de susto, idiota! Já é a segunda vez que você faz isso! - reclamei o olhando feio, Carl imediatamente começou a rir.

-Te garanto que você me assustou muito mais, quem diria que alguém poderia parecer tão ameaçadora com uma faca de pão... Ah, verdade... Você é a mesma louca que ameaçou um grupo de pessoas armadas, com um revólver sem munição pra me defender! - ele brincou ainda rindo.

Seu chapéu de xerife estava caído no asfalto ao lado de sua cabeça, quis matar o idiota que contou a ele sobre minha discussão com o grupo de Rick no dia em que os conheci. Entretanto, no momento qualquer raiva em mim estava adormecida, era sempre assim quando Carl sorria pra, simplesmente me esquecia de odiar o mundo. Eu havia sentido falta daquele sorriso...

-Engraçadinho, você... - resmunguei, finalmente notando a posição constrangedora em que estávamos.

O garoto estava deitado no chão e eu sentada exatamente sobre seus quadris, com uma perna de cada lado de seu corpo. A visão de Carl abaixo de mim, com aquele sorriso lindo no rosto e me observando com seu olhar brilhante, fez minhas bochechas esquentarem como o inferno. Completamente envergonhada, me levantei como se tivesse tomado um choque, estendendo a mão para Carl e o ajudando a se pôr de pé também.

-Desculpe pelo susto, eu só não queria que você saísse correndo de novo... - ele respondeu ajeitando o chapéu novamente em sua cabeça, também parecendo envergonhado. Suspirei cansada, ele não deveria estar aqui.

-O que quer comigo, Grimes? - perguntei cruzando os braços, tentando manter alguma barreira entre mim e o garoto, mesmo que ele quebrasse meus muros um a um sem qualquer esforço.

-Chocolate. - respondeu simples.

-Chocolate? Como assim? - perguntei confusa e ele enfiou a mão no bolso da camisa de flanela xadrez que vestia, tirando dois pacotes de chocolate de lá.

-Você não apareceu no jantar, pensei que estaria com fome. - estendeu os pacotes para mim, que aceitei surpresa.

-Obrigada... - resmunguei um pouco envergonhada com sua gentileza, mas logo algo me fez arquear uma sobrancelha - Como sabia que eu estava aqui? - perguntei confusa, o garoto desviou o olhar, subitamente envergonhado.

-Te ouvi mexendo nas gavetas e resolvi te seguir... - confessou dando de ombros, parecendo tentar disfarçar a vergonha.

-Por quê...? - questionei levando a mão ao queixo do garoto, fazendo com que olhasse para mim.

-Pensei que estava indo embora... - sussurrou, seu único olho novamente brilhando com aquela profunda confusão de sentimentos que só o garoto possuía.

-Talvez eu fosse... - sussurrei de volta, seu olhar ficou ainda mais intenso e eu estremeci quando sua mão quente repousou sobre a minha fria em seu rosto.

-Sei que mentiu pra mim... Quando perguntei quantas pessoas você já matou... - falou, seu polegar desenhava pequenos círculos nas costas de minha mão trêmula.

-Se sabe disso... Por que me deixou ficar...? Eu não sou uma boa pessoa, Carl... - senti vontade de chorar mais uma vez, mas me controlei, sempre guardando meus sentimentos para mim.

-Porque eu vejo a mesma podridão e arrependimento no seu olhar... Que me consomem por dentro a muito tempo... Eu te trouxe até aqui porque eu também não sou bom... Mas sei que assim como eu, você se esforça pra melhorar... - explicou devagar, parecendo subitamente emotivo com a confissão.

-Eu matei gente demais, Carl... Alguns inocentes e outros nem tanto... Acha mesmo que deve confiar em alguém assim...? Em uma assassina...? - respondi, querendo sinceramente ouvir sua resposta.

-Você se arrepende...? - restrucou com outra pergunta.

-E-eu... - gaguejei e parei de falar, respirando profundamente e levando meus olhos até o rosto do garoto - O suficiente pra quase enfiar uma bala na minha cabeça todo dia antes de dormir... - falei com mais sinceridade do que tive com qualquer um em minha vida, mostrando a minha alma quebrada e vulnerável ao garoto.

-Então sim, eu acho que devo confiar em você... - sussurou de volta, parecendo entender perfeitamente o que eu sentia.

Ficamos nos encarando por alguns instantes, paralisados naquela posição, desci meus olhos pelo rosto do garoto e não pude me impedir de parar em sua boca.

Senti uma vontade estranha de me aproximar quase me dominar e ele lentamente chegava mais perto também. Nossos rostos estavam a milímetros de distância e eu senti meu coração acelerar como um veículo de Fórmula 1. Minhas pernas estavam virando gelatina, e então ele simplesmente me abraçou e escondeu o rosto na curva do meu pescoço. Confusa, retribuí o abraço por alguns instantes, até que ele se afastasse como se nada tivesse acontecido.

-Vem comigo, quero te entregar uma coisa. - falou de repente, envolvendo meu pulso com seus dedos longos e me puxando com ele.

-Não acha que deveria me dizer o que é essa "coisa" antes? - resmunguei sem muita opção além de o acompanhar.

-Não, estragaria a surpresa. - ele sorriu de canto e não disse mais nada, me levando até sua casa em silêncio.

Grimes abriu a porta da frente com cuidado, colocando um dedo em frente aos lábios rosados para indicar que eu fizesse silêncio. Após trancar a porta, ele indicou com a cabeça que eu o seguisse escada acima, andamos com cuidado e eu até mesmo prendi a respiração quando passamos em frente ao quarto de Rick e Michonne. Não gostaria de ter que explicar o que fazia andando sorrateiramente por sua casa no meio da noite.

Entramos no quarto de Carl e o garoto fechou a porta, me senti um pouco desconfortável quando ele fez menção de trancar a mesma, mas me surpreendi quando ele simplesmente retirou a chave da fechadura e se virou para mim. O garoto puxou minha mão para si com delicadeza e colocou a chave sobre minha palma, fechando minha mão em seguida e me soltando.

-Melhor assim? - perguntou, com um sorriso leve, assenti mais calma.

-Sim... Obrigada... - murmurei apenas guardando a chave no bolso da calça, não importava o quanto eu simpatizasse com Carl, a ideia de estar trancada em um quarto com um cara ainda me trazia calafrios.

-Então... O que fez durante essa semana além de fugir de mim? Te vi conversando com Daryl e Michonne. - ele perguntou se sentando em sua cama, parecendo tentar puxar assunto para amenizar o clima desconfortável.

-Eles são legais. Michonne é forte, mas é um doce de pessoa... E Daryl se faz de durão, mas no fundo é um cara gentil. Ele até tentou me ensinar a usar a Crossbow, mas não funcionou muito, sou melhor no combate corpo a corpo ou usando armas de fogo... Também conversei bastante com Maggie, ela e Glenn são um máximo. - falei com um sorriso calmo, estava me apegando a todos alí mais rápido do que gostaria.

-Meu pai disse que você atira muito bem, disse que você acertou um caminhante a quase vinte metros de distância com uma pistola quando estava na vigia... Só não sabia que você era boa em combate corpo a corpo. - respondeu curioso, enquanto observava eu me sentar a seu lado.

Arqueei uma sobrancelha ao imaginar o Grimes mais velho elogiando minha pontaria para Carl. Era uma sensação estranha pensar que eu era tópico de conversa entre os dois, mas decidi não questionar sobre isso.

-Eu treino Muay Thai desde os cinco anos... - me levantei observando as dimensões do quarto, era espaçoso o suficiente - Minha mãe era lutadora, ensinava artes marciais em uma academia, ela ensinou a mim e ao meu primo. Meu pai me ensinou a atirar, ele era do exército. - falei enquanto me posicionava no centro do quarto, Carl me olhou surpreso.

Respirei fundo, o garoto prestava atenção em cada movimento meu, parecia não ter tido muito contato com artes marciais na vida. Fechando os olhos por um instante, os abri novamente iniciando uma sequência de golpes no ar, imaginando um oponente a minha frente. Socando com firmeza meu oponente imaginário executei um jab, dois direitos, um gancho e dois cruzados, finalizando a sequência com uma cotovelada e um upper.

Em seguida fui para uma demonstração com os chutes, começando com um pontapé de redemoinho traseiro que acertaria o calcanhar do oponente imaginário, dois chutes frontais e finalizando com um chute circular alto, voltando ao chão e à posição inicial em seguida.

Carl batia palmas e me elogiava em tom moderado para não acordar ninguém, mas era claro que estava impressionado com aquilo.

-Você está em forma, isso foi incrível! Não parou de treinar quando a infecção começou? - perguntou sorridente quando me deitei a seu lado na cama.

-Na verdade eu intensifiquei os treinos, era a melhor forma de manter a mente ocupada e passar um tempo com a minha mãe e o meu primo, sempre que tínhamos tempo ela nos treinava pesado para que pudéssemos nos defender lá fora... - expliquei nostálgica, me lembrando de como minha mãe era uma professora rígida, mas que sempre sorria e me abraçava no final dos treinos.

-O que aconteceu com ela...? - Carl perguntou cauteloso, parecia ter medo de me espantar de novo e me senti mal por isso.

-Caminhantes... Foi pouco mais de um ano depois que isso tudo começou... - suspirei, tentando não demonstrar o desconforto com a lembrança daquela noite - Meu pai, irmão e primo tinham saído pra buscar mantimentos, eu estava doente, acho que algo que comi estava envenenado e minha mãe ficou cuidando de mim... As munições estavam no fim e no pior momento possível uma horda grande descobriu a casa abandonada em que estávamos... - fiz uma pausa, engolindo em seco e sentindo raiva de mim mesma por não ter sido capaz de ajudar.

-Ei, não precisa falar se isso te fizer mal... - Carl me trouxe cuidadosamente para mais perto e me envolveu com seus braços protetores.

-Tá tudo bem, acho que guardei tudo pra mim mesma por tempo demais... - falei baixo, seu abraço me trazia uma sensação reconfortante de segurança.

-Então pode contar tudo o que quiser, não vou te julgar por nada... - murmurou brincando com os fios escuros e selvagens de meus cabelos.

-Certo... Simplificando, as balas já tinham acabado e nem metade da horda tinha sido abatida... Nunca admirei tanto minha mãe quanto naquele dia, ela me colocou atrás de si, pegou um facão do chão e avançou em mais de vinte zumbis sozinha pra me defender... Mesmo quando aquelas coisas mordiam as pernas e os braços dela, minha mãe continou até derrubar o último deles... Quando meu pai chegou, só teve tempo de dizer um último "eu te amo" antes de matar a própria esposa... Nunca vou esquecer de como o olhar dele também pareceu morto depois disso... - continuei, mordendo os lábios e controlando as lágrimas.

O garoto gentilmente sussurrou que eu não precisava segurar o choro, por mais que seu único olho a mostra claramente demonstrasse que ele sentia toda a minha tristeza, Carl permaneceu me dando apoio.

- Ele também morreu, dois anos atrás ... Um grupo de humanos nos encontrou... Eles nos capturaram... Um desgraçado matou meu pai na minha frente, arrebentou a cabeça dele com um taco de beisebol coberto de arame farpado, e me separou do meu irmão e do meu primo... Não me levaram junto com eles, eu nunca mais vi os dois depois disso, devem estar mortos também... - parei de falar de novo, sem ar, apertando as roupas do garoto com força entre os meus dedos trêmulos.

Carl não disse nada, sabia que nada do que dissesse iria aliviar meu sofrimento naquele momento, então ele apenas me abraçou e acariciou minhas costas e cabelos com cuidado enquanto eu soluçava baixo contra seu ombro.

-E-eles me arrastaram pro inferno deles... Aquele l-lugar... Pessoas eram mortas o tempo inteiro, mulheres, idosos e até crianças eram tratados como escravos... E quem não obedecesse as ordens morria ou era espancado até quase isso... Eu tentava seguir as regras, não chamar atenção, mas um dia eu quebrei uns pratos sem querer e foi minha vez de ser punida... Um daqueles desgraçados nojentos ia me estuprar... - tremi ao pronunciar a palavra.

Carl me olhou assustado, o ódio preencheu seu olho azul mesclado a uma emoção parecida com rancor, mas eu não percebi no momento que ele entendia aquela sensação muito bem.

- A minha sorte é que ele foi idiota o suficiente pra deixar uma faca ao meu alcance... Eu cortei a garganta dele e peguei a arma daquele bosta. Saí matando tudo que encontrava pelo caminho, tomei dois tiros no processo mas explodi um caminhão de gasolina antes de sair de lá... Sei que devo ter matado inocentes também com a explosão, e eu me odeio por isso, mas eu precisava fazer aquilo... - finalizei, parando de chorar, meu olhar se tornou perdido e uma sensação de vazio me preencheu. As cicatrizes dos tiros em meu ombro e cintura pareceram arder com a mera lembrança daquela noite.

-Você não tem que se odiar por isso... - ele ergueu meu rosto com cuidado e secou minhas lágrimas com as pontas dos dedos - Aquelas pessoas morreriam de um jeito ou de outro... Você apenas fez o que tinha que fazer... É assim que esse mundo funciona... Não se culpe por ser uma sobrevivente. - ele falou baixinho, mas com tanta firmeza que tudo o que me restou foi concordar com a cabeça.

"Sobrevivente", apenas quem já foi chamado assim sabe o peso dessa palavra.

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