Capítulo 35
"E então, a princesa estendeu a mão para que o cavaleiro também montasse seu cavalo, e os dois fugiram juntos para a liberdade."
Finalizei minha curta história inventada, com a frase mais clichê que poderia, observando Judith já adormecida a minha frente, com Jack aninhado na beirada de sua cama também dormindo, como uma grande bola de pelos dourada. Ela insistiu até que eu o deixasse dormir junto dela, e eu não pude dizer não à fofura dos dois.
Arrumei com cuidado os cobertores no corpo da garotinha e me virei para Carl, que surpreendentemente também havia adormecido durante a história. As mechas lisas de seus cabelos castanhos se espalhavam pelo tecido escuro do meu casaco, sua cabeça repousava pacificamente em meu ombro, a respiração constante indicando seu sono tranquilo.
Me senti um pouco mal por ter de acordá-lo, mas me apeguei ao fato de que ele descansaria melhor em sua cama. Acariciei o rosto tranquilo do meu namorado por alguns segundos, e então o chacoalhei de leve para que acordasse. Ele franziu o cenho e resmungou algo incompreensível, antes de erguer a cabeça do meu ombro e coçar de leve o olho, fixando sua atenção em mim um pouco depois.
-O que aconteceu...? Está tudo bem...? - ele perguntou sonolento, mas pareceu subitamente acordado quando deixei um rápido selinho em seus lábios para que fizesse silêncio, suas bochechas assumiram um tom sutil de rosa.
-Quieto... Deixe Judy descansar. - sussurrei, me levantando do puff em que estava sentada e caminhando até a porta do quarto.
Ele me seguiu a passos preguiçosos, me esperando do lado de fora enquanto eu conferia se a janela estava fechada e a babá eletrônica ligada. Confirmei por fim se a faca que eu mantinha escondida no quarto da garota, longe de seu alcance, mas acessível pra mim, estava no mesmo lugar.
Era um segredo estranho que eu não revelei a ninguém da casa, mas haviam armas escondidas por todos os cômodos, uma precaução extra em caso de ataque que meu pai me ensinou a fazer desde que essa bagunça começou. Eu mantinha aquela tradição em todo lugar que me estabelecia, e esse pequeno hábito já salvou minha vida mais vezes do que eu posso contar.
Por fim, apaguei a luz do quarto e fechei a porta com cuidado. Um dos irmãos Grimes já foi, faltando apenas mais um. Carl estava encostado na parede, com o olho fechado e os braços cruzados. Pensei que estivesse praticamente dormindo em pé, mas me assustei quando o garoto me agarrou pelo pulso esquerdo e me puxou contra seu corpo.
-Não deveria baixar a guarda, confiando apenas no que pode ver... - ele murmurou com um sorrisinho, se divertindo com meu pequeno susto, lhe dei um soco fraco no braço.
-E você, não deveria confiar tanto... Que não vou te dar uma joelhada no saco se me assustar de novo. - sussurrei, separando vagarosamente as pernas do mais alto com um dos meus joelhos.
Ele me olhou assustado e consideravelmente vermelho, acabando por até mesmo esquecer de me segurar contra seu corpo, lhe dei um sorrisinho sacana e me afastei.
-Vá dormir! - ordenei por fim, dando as costas ao garoto para caminhar em direção ao meu quarto, mas não consegui dar sequer quarto passos.
Antes que eu pudesse compreender o que se passava, senti apenas quando meus pés deslizaram em um giro sobre o piso de madeira, e então minhas costas estavam coladas à parede fria. Carl estava a minha frente, as duas mãos firmes em minha cintura e o rosto a meio palmo de distância do meu.
- Não me trate como uma criança... - ele falou, o tom subitamente rouco em sua voz fez os pelos da minha nuca se arrepiarem, sua respiração quente acariciando minha face a cada palavra me deixou quase tonta.
Maldito garoto que consegue causar tanto efeito em mim, sem nem mesmo se esforçar...
-Carl... Estamos no meio do corredor... - avisei, tentando sem muita vontade me soltar do garoto, a essa altura meu coração já batia com a velocidade de um carro de corrida no peito, martelando minhas costelas o suficiente para quase as quebrar.
Eu sabia que deveria mandar que ele fosse dormir urgentemente, Rick poderia chegar a qualquer momento e eu tinha que me resolver com o homem, de preferência sem a intromissão de Carl na conversa. Porém, havia mais dificuldade envolvida no simples ato de afastar o garoto do que eu poderia imaginar.
-Vamos... Se realmente quer que eu me afaste, é só dizer... Sabe que eu nunca te forçaria a nada. - ele sussurou, seu olhar fixo nos meus olhos enquanto ele fazia um carinho suave em minha barriga por cima da roupa com os polegares.
-N-não é isso... - resmunguei subitamente muito envergonhada, me amaldiçoando internamente pela instabilidade em minha voz. Eu não podia continuar com aquilo, mas queria profundamente prosseguir.
-Do que está com tanto medo...? - uma das mãos do garoto subiu vagarosamente pela lateral do meu corpo, me arrancando um longo arrepio durante seu percurso e então alcançando minha bochecha afetuosamente.
-Não sei... - menti.
Eu sabia muito bem, sabia que não queria realmente ir embora de Alexandria, sabia profundamente o quanto queria passar ao lado daquele garoto o resto de nossas vidas curtas, e eu lutaria para ficar ao seu lado em qualquer outra ocasião.
Mas, dessa vez, eu tinha cometido um erro grande demais. Havia colocado Carl e os outros em perigo com uma ideia tão arriscada quanto forjar nossas mortes, e mesmo que tentasse me justificar com o maldito pensamento de "bem maior", isso não tornava qualquer coisa menos grave. Rick teria sido morto por Negan naquela noite, achando que seu filho havia sido morto da pior forma possível, e eu teria causado isso.
-Lisse... O que foi...? Você está estranh-! - ele começou, mas não deixei que completasse a frase e o puxei para mim pela nuca, não seria capaz de continuar mentindo pra ele.
Carl pareceu surpreso quando juntei nossos lábios de forma tão repentina, mas superou o susto apenas um segundo depois, entrelaçando seus dedos no meu cabelo e fechando o olho ao movimentar deliciosamente seus lábios sobre os meus. Segui seus movimentos e o puxei para mais perto, passando o braço esquerdo por seu pescoço e aumentando aos poucos a intensidade do beijo.
Me perdi nas sensações e no calor gentil do corpo dele, estremecendo e mordendo seu lábio inferior de leve quando a mão em minha cintura vagarosamente se infiltrou abaixo das minhas roupas, e apertou com a força certa a pele sensível do local. Meu corpo estava esquentando desesperadamente rápido, mesmo que a neve cobrisse as casas e estradas do lado de fora, e por qualquer divindade ainda viva nesse mundo perdido... Aquela sensação era insana de tão loucamente boa.
Subi inconscientemente a mão pela nuca do meu garoto e puxei seu cabelo com um pouco menos de delicadeza do que nessa manhã. Ele grunhiu baixo em meus lábios e me colou ainda mais ao seu corpo, descendo uma das mãos pelo meu quadril e levantando minha perna até que a mesma estivesse entralaçada em seus quadris.
Estava prestes a arrastar o garoto até o meu quarto, algo em minha mente dizendo que continuar alí era uma péssima ideia, mas infelizmente não fui rápida o suficiente.
-Carl?! - uma voz masculina soou incrédula no corredor, senti minha alma quase escapar do corpo.
Por total impulso, empurrei Carl para trás de uma vez, fazendo com que o mais alto batesse as costas na parede oposta com força suficiente para fazer um barulho alto. Ainda sem pensar no que fazia, ergui as mãos em rendição como se tivesse sido apanhada pela polícia assaltando um banco, com as roupas desalinhadas, o rosto vermelho como um pimentão e completamente sem fôlego. Bom, de fato havia um policial me encarando alí.
Rick estava parado no do topo da escada, nos encarando com uma expressão que eu não conseguia decifrar. Me amaldiçoei internamente por estar tão entretida agarrando seu filho no maldito corredor, que não fui capaz de o ouvir chegando. Se fosse um inimigo, provavelmente estaríamos mortos agora e Judy estaria a mercê da própria sorte.
A culpa me engoliu como uma onda, e sem ter como fugir daquela situação, abaixei as mãos e a cabeça, me sentindo minúscula e imbecil demais dentro das minhas próprias roupas. Alguns segundos de um silêncio constrangedor se arrastaram, e eu não fui capaz de mover um músculo, até que a voz de Carl alcançou meus ouvidos.
-Me desculpa, pai. Acabamos perdendo a noção de onde estávamos. Não vai se repetir. - o garoto se pronunciou, com muito mais coragem do que eu sonharia ter um dia. É fácil demais apertar o gatilho e acabar com um dos mortos, mas as pessoas ainda eram complicadas demais para mim.
-Clarisse... Pode me acompanhar por um instante? - Rick perguntou simplesmente, seus olhos sempre analíticos me deixavam tensa, mas concordei com a cabeça.
-Espera, pai. Só a Lisse? Sei que fizemos muita merda nos últimos tempos, eu não me esqueci disso... Mas se tiver de fazer qualquer coisa, eu vou arcar com as consequências. Deixe ela fora disso. - Carl se colocou a minha frente, como se quisesse me proteger do olhar do pai. Tentei agarrar seu braço e fazer com que parasse, mas ele se manteve firme no lugar.
-Por Deus, Carl. - Rick suspirou, parecia cansado e estava coberto de terra e sangue podre depois de um dia inteiro fora dos muros - Eu não vou matar sua amiga e enterrar no quintal, só quero conversar! - o ex-policial finalizou exasperado.
-Ela não é minha amiga, pai. É minha namorada, então não vou aceitar que ninguém reclame com ela sobre aquela mentira. Se quiser me bater, faça... Eu sei que mereço isso e muito mais, mas não brigue com ela. - Carl repetiu, ainda teimando em me proteger, Rick pareceu surpreso com sua declaração, mas eu intervim antes que ele respondesse o filho.
-Carl! Por favor, é só uma conversa, eu sei me cuidar e seu pai não é nenhum animal! - reclamei, tentando tirar o garoto do caminho.
Carl lentamente deixou que eu o tirasse da frente, olhando preocupado entre mim e o pai. Coloquei a mão em seu ombro e indiquei que o garoto voltasse ao quarto com um aceno de cabeça, ele bufou irritadiço, mas acabou obedecendo.
-Falo com você mais tarde. - murmurei rapidamente a Carl quando Rick nos deu as costas e começou a descer as escadas.
-Vou esperar por você. - ele me deu um discreto selinho, e tomou o rumo oposto no corredor.
Sem muitas opções, e ainda sentindo minhas mãos tremerem de nervosismo, segui Rick escada abaixo. O homem saiu pela porta da frente e a deixou aberta para que eu o alcançasse. Pensei que ele me levaria para longe da casa ou algo do tipo, apenas para dizer que eu deveria pegar minhas coisas e dar o fora de sua comunidade, mas ele simplesmente se sentou no degrau da varanda.
Me aproximei do Grimes mais velho com cautela, parando em pé e esperando que dissesse algo, mas ele simplesmente gesticulou para que eu me sentasse também. Obedeci mesmo nervosa, e fiquei paralisada no lugar até que ele quebrou o silêncio.
-Estava falando a verdade quando disse a ele que não te enterraria no quintal. Não precisa me olhar desse jeito. - Rick resmungou, encarando o céu e tirando os fios ondulados do rosto.
-Desculpe... E-eu realmente sinto muito... - falei baixinho, e ele entendeu que não era sobre estar o encarando, mas sim por tudo que eu o fiz passar, porque sabia qual a sensação de perder um familiar daquela forma. A sensação de desistir de viver... Porque sem uma família, o que mais te resta em um mundo como esse?
-Eu sei... Posso ver que sim. - Rick respondeu, sem qualquer julgamento ou sarcasmo na voz, parecia apenas perdido nos próprios pensamentos.
Mais alguns segundos de um silêncio sepulcral se passaram, eu não tinha ideia do que dizer. Novamente, foi Rick que retomou a conversa.
-Quando eu tinha pouco mais que a idade de vocês... Me lembro que uma vez meu pai me disse que a vida só pode ser realmente vivida com sacrifícios. Na época eu não dei muita atenção, era jovem e achava que era dono do mundo... Acho que só entendi o que ele quis dizer quando o apocalipse chegou, e eu tive de matar meu melhor amigo para proteger o resto do grupo. - Rick falava devagar, ainda encarando o céu nublado, o vento gelado me fazia tremer sutilmente mas eu não estava preocupada.
-Esse mundo não foi fácil pra ninguém... Sinto muito por tudo que teve de passar até aqui, todos vocês... E mais ainda por ter mentido e colocado Carl e mais tanta gente em risco. Vou entender se me quiser longe de Alexandria. - falei, com toda a coragem restante em mim, Rick fixou seus olhos azuis no meu rosto pela primeira vez desde que chegamos alí.
-Eu gostaria de jogar a culpa de tudo o que aconteceu em você, queria poder apagar tudo o que aconteceu aqui somente expulsando você desse lugar, mas só porque esse é o caminho mais fácil a seguir. Julgar alguém por uma decisão é sempre mais simples do que se colocar a frente e resolver o problema, tenho experimentado isso na pele por muito tempo. Eu não pretendo escolher o caminho fácil. - prestei atenção em cada palavra de Rick, tentando entender onde ele queria chegar.
Surpresa com sua última frase, senti um pouco de esperança de poder ficar preencher meu coração.
-A verdade é que eu não tenho o direito de te expulsar dessa comunidade. Não depois de tudo que fez por nós... Depois de ter salvado meu filho mais de uma vez, e a mim naquela noite. Eu vi o que você fez em cima daquele carro, teria se sacrificado por minha causa. - Rick continuou, senti minha respiração travar na garganta, mas mesmo assim o interrompi.
-Eu não salvei ninguém! - alterei a voz e me levantei sem pensar, meus olhos arderam e antes que eu pudesse me controlar estava a beira das lágrimas - Eu não salvei Carl, nem você e nem ninguém... Ninguém. Tudo o que eu tenho feito é tentar o tempo inteiro cobrir da forma mais porca possível, uma série de erros que eu nunca consigo deixar de cometer por fraqueza! As pessoas têm me agradecido quando me encontram nas ruas, dizendo que sou uma heroína ou alguma merda do tipo, mas eu deixei tanta gente morrer... Eu matei tanta gente, Rick... E nada do que eu fizer nessa vida vai mudar isso. - finalizei, lutando com todas as minhas forças para não chorar.
Rick negou vagarosamente com a cabeça, seus olhos agora carregados de uma compaixão que eu não me sentia minimamente merecedora.
-Se continuar pensando dessa forma, vai acabar enlouquecendo e se perdendo... Acredite em mim, sei do que estou falando. - ele falou com seriedade, se levantando também.
Sequei o rosto rapidamente quando uma lágrima teimosa escapou, tentando fazer o mesmo com as outras, mas em vão. Chorar na frente dos outros me irritava profundamente, eu nunca gostei de me sentir uma criança, e depois que o mundo caiu tinha apenas terror de parecer infantil.
-É sempre mais fácil enxergar os erros, sejam os nossos ou os dos outros, ainda mais no mundo de hoje... Onde cada pequeno erro pode custar uma vida. Você, meu filho e tantos outros adolescentes ainda vivos eram só crianças quando tudo desabou, tiveram que virar adultos cedo demais e isso não é saudável. São apenas crianças vestidas com ternos e sendo obrigadas a terem mais responsabilidade que os adultos idiotas do mundo velho... E eu não tenho direito de julgar alguém assim, vocês dois mentiram porque foi necessário, e mesmo que eu ainda precise de um tempo para esquecer o que vi e senti lá... Eu entendo isso e não culpo você, então não se torture mais, criança. - ele suspirou, colocando a mão no meu ombro em sinal de apoio - Eu tentei proteger Carl o quanto pude desse mundo, mas não fui capaz mesmo com a ajuda de Michonne e dos outros... É bom ver que meu filho tem mais alguém por ele. - foi o que Rick disse, antes de afastar e caminhar na direção da porta de entrada.
-Rick...! - chamei, quando o homem estava a apenas um passo de entrar em casa - O que... O que aconteceu c-com... Com Negan...? - me obriguei a perguntar, sentindo um tremor desconfortável engolir meu corpo apenas com a menção daquele homem.
-Está morto e enterrado... Não há mais porquê ter medo. - ele respondeu simples, atravessando a porta em seguida.
Observei atônita enquanto Rick entrou na casa e desapareceu do meu campo de visão. O vento gelado me fazia tremer, quase tanto quanto os soluços que vieram antes que eu pudesse controlar. Perdi a força nos joelhos e caí na neve sem qualquer apoio, enterrei os dedos descobertos na terra gelada e apertei com força. Seria muito mais fácil lidar com aquela sensação se Rick tivesse gritado comigo, me batido até eu perder a consciência pelo que fiz com ele, mas o homem simplesmente me consolou. O quão desesperadamente cruel eu era?
A dor da queimadura de gelo cobriu minha pele, e eu estremeci de forma brusca quando o local onde costumava estar o mindinho da mão direita raspou a terra por sobre o curativo. Porém, eu não consegui parar, soquei o chão com toda a força que podia uma, duas, seis vezes, até que eu conseguisse refrear toda a raiva contida em mim e me restasse apenas o vazio.
Eu estava tão desesperadamente exausta de nunca conseguir seguir em frente. Rick me perdoou ou quase isso, mas eu não era capaz de fazer o mesmo por mim, não importava o quanto eu continuasse me esforçando até o limite. Eu estava cansada demais de odiar o mundo e a mim mesma... Mas, mesmo que minhas forças estivessem lentamente se esgotando, eu não podia me salvar sozinha.
Me sentindo vazia e impotente, levantei do chão e cambaleei até o interior da casa. Fechei a porta e me arrastei pelas escadas, rumo ao único humano nesse mundo capaz de me trazer um pouco de paz, a única pessoa capaz de me salvar da tempestade em minha mente.
Atravessei o corredor me apoiando na parede, só notando naquele momento que meu ombro havia voltado a doer com minha "brincadeira" de socar o chão. Enid provavelmente me daria um soco na boca se descobrisse, mas eu não estava muito preocupada agora. Precisei bater na porta do quarto de Carl apenas duas vezes, antes que ele a abrisse afoito.
-Você demorou! Eu pensei que tivesse acontecido... Lisse?! - o garoto disparou a falar, mas se assustou ao notar meu estado.
Se calando imediatamente, Carl me levou cuidadosamente até sua cama e fechou a porta. Puxou seu cobertor do canto do colchão e envolveu meus ombros com ele, caminhando até a cômoda em seguida e puxando da gaveta alguns materiais de curativo.
Não reclamei ou sequer agradeci enquanto ele removia o antigo curativo sujo da minha mão, e limpava os ferimentos com toda a cautela do mundo agachado a minha frente. Por fim, ele descartou as ataduras usadas em um cesto no canto do quarto e guardou novamente os materiais.
-Você está gelada... Quer me contar o que aconteceu? - ele perguntou baixo, se sentando ao meu lado na cama e arrumando melhor a coberta sobre mim, neguei vagarosamente com a cabeça.
-Não quero lembrar de nada agora... - meu olhar lentamente se voltou ao seu rosto - Pode me fazer esquecer tudo...? Só por hoje...? - perguntei, vagarosamente me aproximando do garoto, que ficou imediatamente vermelho.
-Tem certeza disso...? Você não parece bem... Não pretendo me aproveitar da sua fragilidade... - ele perguntou inseguro, mas não impediu que eu me aproximasse.
-Não quero isso só porque estou quebrada, Carl... - sussurrei, um sorriso cansado lentamente preencheu meu rosto molhado pelas lágrimas - Quero isso porque eu amo você... Porque te amo com cada célula no meu corpo... Porque você é a única coisa no mundo que me faz sentir como algo mais que um amontoado torpe de cacos e traumas... - fui completamente sincera em cada palavra, levando minha mão fria ao rosto do garoto - Só preciso saber se você também quer isso... Não vou ficar chateada se não quiser... Mas vai ter que me suportar na sua cama de um jeito ou de outro, mesmo que seja só para dormir. - soltei uma risadinha com a última frase, mesmo se ele não estivesse pronto, ter sua companhia já me bastava.
Eu não era virgem, não tinha a mesma pureza que o garoto. Sinceramente, nem mesmo me lembrava com muitos detalhes da minha primeira vez, estava bêbada demais para guardar aquele momento "mágico" na minha cabeça. Foi depois que saí de OceanSide, com um cara que não cheguei nem mesmo a decorar o nome, e que tentou me matar e roubar minhas coisas na manhã seguinte.
Porém, mesmo que eu não tivesse boas lembranças disso, sabia que com Carl seria diferente e eu queria isso. Queria me unir a ele da forma mais íntima possível, queria ter uma vida de verdade ao lado dele em Alexandria, envelhecer ao seu lado... Seguir verdadeiramente em frente.
-Eu quero... Quero ser seu de todas as formas possíveis e com cada parte de mim... É o que eu mais quero nessa vida. Eu amo você, Lisse... Faça chuva ou Sol e mesmo que o mundo exploda. - ele respondeu firme e com tanta certeza em seu olhar que me fez derreter, e assim, ele me beijou.
Me perdi em toda a paixão daquele beijo, seus lábios macios sobre os meus eram como magia, as mãos perdidas abaixo das minhas roupas me faziam sentir tão única e desejada. Ele me levou vagarosamente até seu colo, e eu me aninhei em seu corpo. O calor de seu abraço aos poucos substituiu o frio que recobria minha pele, e logo eu já podia sentir meu corpo arder por ele.
As mãos grandes do meu namorado se perderam abaixo das minhas roupas, acariciando minha cintura e subindo timidamente até a barra do meu sutiã. Mordi seu lábio inferior de leve e me inclinei para seu toque, permitindo que alcançasse o que queria. O garoto acariciou e apertou meus seios por cima do sutiã, me arrancando suspiros altos com cada pequeno movimento de seus dedos.
Ajudei ele a se livrar de meu casaco e blusa, restando apenas o sutiã amarelo desbotado que cobria meus seios pequenos. Ele levou as mãos até minha costas e precisou de algumas tentativas para desfazer o fecho, mas assim que a peça deslizou por meus ombros, revelando meu tronco completamente exposto, sua expressão se tornou muito mais tímida e repleta de admiração.
-Você é tão linda... É exatamente o que eu pensei da primeira vez que te vi... Você parece um anjo... - Carl sussurrou, seu olhar carregado de tanta adoração que era simplesmente impossível que eu tivesse qualquer insegurança com o meu corpo.
-Você é tão exagerado... - murmurei envergonhada, mas não consegui esconder meu sorriso.
-E você não tem ideia de quão perfeita é... - ele me beijou novamente, suas mãos se prenderam aos meus seios agora sem qualquer tecido entre nós, e eu não pude me impedir de emitir um som baixo de satisfação em seus lábios.
Aprofundei o beijo devagar, ensinando ao garoto o que fazer e mais uma vez ele se mostrou um aprendiz rápido. Me permiti viajar por cada canto de sua boca, inconscientemente movendo o quadril para frente e para trás em seu colo, e ele grunhiu rouco em minha boca, levando ambas as mãos a minha bunda e a apertando com força.
Sem deixar de rebolar da forma mais provocante possível em seu colo, desci meus beijos para a pele alva de seu pescoço, que era sempre estranhamente perfumada mesmo em um apocalipse, e me dediquei a marcar o garoto com uma série de chupões. Ele me puxou ainda contra seu corpo, jogando a cabeça para trás e ofegando alto quando mordi a junção entre seu ombro e pescoço, pude sentir o volume crescente em sua calça com isso e foi minha vez de ofegar alto.
Me livrei do casaco e camiseta do garoto e tomei longos segundos para admirar seu corpo perfeito. Meus lábios se perderam novamente em seu pescoço, e enquanto eu deslizava vagarosamente minhas unhas em seu abdômen, repeti diversas vezes ao pé de seu ouvido o quanto o achava devastadoramente lindo, como uma divindade da Grécia Antiga.
Em dado momento, o garoto inverteu nossas posições, e foi sua vez de distribuir uma série de beijos e mordidas suaves pela minha pele. Estremeci mordendo com força os lábios quando sua língua quente fez todo o caminho do meu pescoço até o seio esquerdo, e ele o beijou sutilmente antes de envolver o bico em seus lábios e sugar com vontade. Envolvi minhas pernas em seus quadris e joguei a cabeça para trás, quase enlouquecendo quando ele deu atenção também ao meu outro seio.
- Baby... Eu não aguento mais... - implorei, já sentindo minha calcinha colada de forma desconfortável na pele encharcada.
-Você sabe que eu... Nunca fiz isso... Então se fizer algo errado, pode me dizer e eu paro, tudo bem? - ele murmurou, subitamente muito vermelho, desviando timidamente o olhar do meu.
-Não se preocupe tanto... Você está indo surpreendentemente muito bem até agora... Onde aprendeu tudo isso? - perguntei com um sorriso terno, acariciando o rosto bonito do meu garoto e fazendo com que me olhasse nos olhos novamente.
-Eu não leio só quadrinhos, Lisse... - resmungou envergonhado, como se fosse óbvio, e eu não consegui segurar a risada, pensando que deveriam haver mais livros naquela estante do que ele deixava a mostra.
O garoto esticou a mão até cômoda, procurando entre as tralhas de sua gaveta até encontrar um pacote prateado lá dentro. Arqueei uma sobrancelha ao garoto com um sorrisinho sacana nos lábios, ele revirou o olho com um sorrisinho constrangido, mas eu não ousei perguntar mais nada, porque sequer havia me lembrado da camisinha.
Nos livramos do resto das nossas roupas e sob o cobertor, o garoto ajeitou a proteção em si e com um último consentimento meu, se afundou lentamente em mim até nos tornar um só. O mais perto que a física permitia, nos movendo juntos a cada investida de seus quadris, eu podia sentir até mesmo o ritmo frenético de seu coração contra as costelas, tão acelerado quanto o meu.
Ele levou alguns segundos para encontrar o ritmo certo, e então, antes que eu pudesse perceber já estava revirando os olhos e tombando a cabeça para trás com seus movimentos cada vez mais firmes. Entrelacei meus dedos em seus cabelos e o puxei para mim em um movimento fluído, juntando nossos lábios em beijo intenso e selvagem para nos manter o mais silenciosos possível naquela situação.
- Lisse...! Eu não vou durar muito... Me ensina a te fazer chegar lá...! - ele praticamente rosnou as palavras.
Suas investidas se tornaram mais fortes e sutilmente erráticas com a proximidade de seu orgasmo, enquanto ele me encarava repleto de um desejo ardente, os lábios avermelhados entreabertos em suspiros e grunhidos baixos e o preto de sua pupila dilatada quase cobrindo completamente o oceano de sua íris. Era a imagem mais sexy que eu já tive a honra de presenciar, em toda a minha curta e falida existência.
Um pouco zonza, guiei a mão do garoto até a junção entre nossos corpos, lhe mostrando o que fazer por apenas alguns instantes antes que ele tomasse a tarefa completamente para si. O prazer me engoliu como uma onda de euforia e eletricidade, bastaram alguns segundos de estímulo para que eu agarrasse os lençóis com força, arqueando as costas e tombando a cabeça pra trás em um gemido mudo.
Minha carne encharcada pulsou envolta dele e a sensação o arrastou junto a mim para um vislumbre do paraíso. Carl tremeu sobre mim, fechando o olho e cerrando os dentes com força, um baixo xingamento escapou de seus lábios e ele diminuiu a velocidade de suas investidas até parar de vez.
Completamente ofegante, ele usou o pouco que lhe restava de força e descartou o preservativo na lixeira no canto do quarto, em seguida me puxando para si e me aninhando sobre seu peito. Tateei o colchão com as pontas dos dedos até encontrar os cobertores e os puxei sobre nós, completamente extasiada.
-E então... O que achou da sua primeira vez...? - murmurei com a voz rouca, deixando escapar um longo bocejo.
-Bom... Acho que vamos ter que repetir mais vezes... Pra ter uma opinião formada, sabe...? - brincou, também parecendo exausto, um sorriso frouxo adornava seu rosto perfeito.
-Não discordo da ideia... - retruquei com a mesma malícia cansada, rimos juntos dos comentários idiotas.
Quando perguntei a minha mãe quando criança o que era "transar", ela disse que era o que duas pessoas faziam quando se amavam mais do que as palavras podiam demonstrar. Meu irmão riu daquela explicação, e disse que uma foda era simplesmente uma foda. Acho que hoje, eu entendia o que ambos queriam dizer.
Sexo é apenas sexo no final de tudo, mas quando tudo o que te resta no mundo é o amor, as palavras não são o suficiente para demonstrar o que só a forma como Carl me olhou essa noite me fez sentir. Nossa união nunca foi meramente física, o garoto me disse mais de uma vez que até mesmo sua alma pertencia a mim, e eu só capaz de entender o quanto eu também pertenço a ele quando nos tornamos um só esta noite.
Mais uma vez, eu mudei sem nem mesmo perceber, transpassei a barreira da criança que fugia constantemente de qualquer afeto para uma mulher sinceramente apaixonada, seja por Carl Grimes ou pela vida. O medo ainda está aqui, o medo excruciante da perda, do passado, de mim mesma... Porém, dessa vez eu tenho um motivo para encontrar a coragem de seguir em frente, tenho novamente uma família pela qual lutar.
No fim, esse amor putrefato e mantido apenas pela linha frágil das nossas vidas, era tudo o que me restava... E, mesmo assim, era tudo o que eu precisava.
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