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Capítulo 33

Apenas alguns segundos depois da morte do inimigo, Enid se levantou do chão e pareceu sequer pensar antes de correr até mim e Carl, abraçando ambos fortemente com os olhos cheios de lágrimas. Retribuímos o abraço quase ao mesmo tempo e após alguns segundos ela se afastou chorando. Judith se debateu nos braços do garotinho que eu ainda não sabia o nome e assim que ele a colocou no chão, correu até nós o mais rápido que suas pernas pequenas permitiriam.

Carl caiu de joelhos no chão e abraçou a irmãzinha com força, mesmo com a pouca luz no ambiente pude ver uma lágrima fina e brilhante manchar seu rosto bonito. A criança estendeu os bracinhos pra mim uns instantes depois e eu também a abracei chorando. Judy não era minha irmã também, mas eu amava a pequena com todo o coração, e assim como era com Kalel... Daria minha vida por ela sem hesitar.

Quando a criança voltou para os braços do irmão, vi Jack se mover e choramingar no piso de madeira, corri imediatamente até meu cão apavorada com ideia de ele ter se machucado. Porém, o Golden Retriever pareceu apenas um pouco dolorido quando se levantou totalmente e se lançou contra mim, lambendo meu rosto e abanando a cauda.

-Estou aqui, garoto... Estou aqui...! Me desculpa por ter demorado... - falei entre soluços e beijinhos que deixava na cabeça do cão, Jack latiu para mim e eu o abracei afundando o rosto em sua pelagem dourada.

-C-como vocês... Eu pensei que estavam mortos, Rick disse que enterrou vocês! Eu chorei a morte dos dois! - Enid se fez ouvir quando foi capaz de diminuir o choro, suspirei me sentindo horrível pela mentira e estava prestes a explicar, quando ouvimos tiros e gritos não muito longe de nós.

-Enid, não é o momento, temos que sair daqui e rápido! - Mia se intrometeu, parecendo muito mais madura e determinada do que a garota que conheci pouco tempo atrás. Sua rápida evolução era simplesmente impressionante.

-Está bem, mas vocês vão me explicar tudo isso depois! - minha amiga bufou, chutando o cadáver do Salvador e tirando a pistola do mesmo.

-Como não encontramos vocês quando subimos? - perguntei, me dando conta de que Mia e as crianças estava no andar de cima, mas não os encontramos em nenhum cômodo.

-Tem um sótão na casa! - Carl respondeu por ela e a garota concordou com a cabeça.

-Certo, voltem pra lá e não saiam a não ser que os Salvadores encontrem vocês! Rápido! - falei rápido, notando os gritos do lado de fora cada vez mais próximos.

Carl hesitou quando Mia estendeu os braços para pegar Judith, parecia desolado com a ideia de ter que se afastar novamente da irmãzinha, mas ele suspirou e entregou a criança com cuidado à garota.

-Não se preocupe, vou proteger ela com a minha vida se preciso! Alexandria precisa de vocês! - Mia falou, com uma firmeza em sua voz e olhar que eu nunca imaginei que veria, estendendo a mão para que o irmão de Benjamin fosse até ela também.

Judith choramingou ao se afastar do irmão, mas ele a acalmou prometendo que voltaria logo, e eu fiz o mesmo com Jack, que seguiu mesmo que relutante as crianças e Mia de volta ao esconderijo após meu pedido.

-Vamos! - Enid chamou com urgência, tomando a frente do grupo até a porta dos fundos.

Assim que saímos da casa, o tiroteio recomeçou como por mágica, uma maldição pessoal do próprio capeta. Nos jogamos atrás de uma mureta quando uma rajada de tiros cortou o ar em nossa direção, aproveitando cada pequeno espaço entre os avanços inimigos para revidar. Carl foi o responsável por líquidar os dois atiradores com tiros certeiros, a raiva quase demoníaca queimando em sua íris azul me faria tremer em desespero se não estivéssemos do mesmo lado.

-Meu pai e os outros?! Onde estão?! - o garoto Grimes perguntou ofegante para Enid quando voltamos a correr, derrubando mais um Salvador com outra rajada mortal de tiros.

Ele apoiou o rifle no próprio corpo quando nos escondemos atrás de outra parede, recarregando a arma com destreza enquanto eu atirava em um grupo que se aproximava de nós. Os cadáveres dos moradores de Alexandria já se misturavam com os Salvadores baleados, a cena de pandemônio digna de um maldito filme de terror.

-Na praça principal! Rick e Daryl tentaram começar uma rebelião ontem, mataram pelo menos quatorze dos desgraçados com facas roubadas em alguns minutos, mas acabaram sendo pegos novamente. Aquele merda que chamam de Negan, disse que lhes daria um "lembrete" de quem manda aqui. - Enid explicou, se esforçando para se fazer ouvir por sobre o estampido ensurdecedor dos tiros, derrubei mais um cara durante sua explicação.

-Paul está com eles?! - perguntei sem parar de atirar até acabar com a munição do pente, Carl assumiu minha tarefa e senti meu coração afundar em angústia no peito quando a garota negou com a cabeça. Merda!

-Não, ele e Maggie nunca voltaram, e parece que do Reino só aquele menininho loiro foi encontrado...  No dia em que vocês viajaram os Salvadores atacaram Alexandria pela primeira vez, com um grupo pequeno, conseguimos dar conta. Rick e os outros voltaram cinco dias depois, dizendo que procuraram por vocês dois, Maggie, Paul e até mesmo Ezekiel e um garoto chamado Benjamin, mas tudo o que encontraram foram os cadáveres de vocês, os outros desapareceram... Os Salvadores voltaram poucas horas depois da chegada de Rick, com um grupo muito maior que o primeiro, e dessa vez não fomos capazes de vencer. - Enid explicou rapidamente, tentando manter o equilíbrio entre falar, respirar, correr e atirar. 

A angústia e o desespero nos olhos da garota ao dizer que Maggie não estava com os outros era tão nítida que senti meu coração doer pela loira, sabia que elas eram como mãe e filha. A sensação de impotência se instalou em meu estômago, corroendo aos poucos minha alma.

Era como um maldito paradoxo, sempre que eu pensava ter encontrado uma família, isso era arrancado de mim por um capricho do destino. Eu procuraria por Paul e Maggie até no inferno depois disso, mas não tive sequer tempo suficiente para pensar nisso, pois um grupo de pelo menos quinze Salvadores armados até os dentes se juntou a nossa volta. Estávamos cercados e agora sem munição!

-Coloquem as malditas armas no chão!! Agora!! - um dos caras gritou agressivamente, apontando a maldita pistola para a cabeça de Carl.

-Espera, cara... Essa não é aquela piranha da granada?! Aquela que todos estão chamando de " Demônia", ou alguma merda assim?! - outro idiota questionou, aprontando o dedo pra mim como se eu fosse uma aberração em amostra no circo. Ajeitei a postura e encarei o imbecil até que ele ficasse desconfortável e se afastasse pálido.

-Está louco, aquela vadia tá morta e enterrada, junto com aquele moleque do... Tapa-olho... - ao encarar Carl, o tom do  idiota ficou mais lento, assustado. Outros caras arregalaram os olhos, e foi esse momento de hesitação a sua ruína.

Parei de escutar a conversa quando tive a visão de várias figuras vestidas com roupas camufladas, surgindo da escuridão e correndo em nossa direção com rifles em punho. Fechando os olhos, eu me joguei para trás, puxando Carl e Enid comigo. Minha queda durou entre alguns segundos e a eternidade, o vento frio me acolheu tão lívido como se eu estivesse caindo de um penhasco.

E então, os tiros vieram... Gritos doloridos cortaram o ar junto do sangue, muito sangue.

Quando abri novamente os olhos, coberta com o sangue de todos aqueles infelizes, encontrei apenas os olhos escuros e perigosos de Cyndie. Ela me estendeu a mão e me ajudou a levantar, o vento bagunçou meu cabelo, mas eu sequer fui capaz de me importar. Vi alguns dos moradores de Alexandria em volta do pelotão, agora devidamente armados e prontos para recuperar seu lar da maneira mais difícil. Se eu havia me tornado um maldito "demônio" para os Salvadores, se ele fizeram de mim um monstro, então que a verdadeira carnificina começasse.

-POR ALEXANDRIA E PELA LIBERDADE!! AVANCEM!!! - gritei, sendo acompanhada por todos a minha volta, cada vez mais pessoas se aproximavam.

Liderando o pequeno exército, eu rumei na direção da praça principal. O som ensurdecedor dos tiros diminuía cada vez minha capacidade de audição, mas não podíamos parar agora. Correndo o mais rápido que minhas pernas permitiam, eu derrubava todo e qualquer inimigo em meu caminho. Alguns mortos já começavam a se levantar nas ruas cobertas de sangue, mas meu objetivo no momento era apenas Negan.

Os contornos das últimas casas antes da praça ficaram para trás em instantes, a praça e o lago escuro tomando meu campo de visão, apenas um segundo antes de eu ter que me esquivar de uma rajada de tiros. O confronto tomou uma proporção grande demais diante dos meus olhos em instantes, e o breve sentimento de invencibilidade que me tomara segundos antes desapareceu.

Havia uma massa de Salvadores nos aguardando na praça, muito maior do que eu poderia sequer imaginar. Nossos números caíram por terra em instantes, e então estávamos novamente em desvantagem. Assisti com terror quando um tiro acertou Cyndie em cheio no ombro, e só tive tempo de acolher o corpo da garota e usar toda a minha força para nos jogar juntas atrás de uma casa próxima. Enid me ajudou imediatamente a arrastar a garota, enquanto Carl e Rachel revidavam os tiros para nos dar cobertura.

-Cyndie!! Cyndie!! Fala comigo, por favor!! Responde, porra!!!- berrei ao ponto de sentir minha garganta arranhar, a onda de desespero me fez cair de joelhos, e quando ela não se moveu um centímetro o mundo pareceu parar a minha volta.

Merda! Merda! Merda! O que caralhos eu faço agora?!

Fora do meu controle, a imagem de Natania berrando que eu arrastaria sua neta para a morte, começou a se repetir em um turbilhão na minha mente. Pude ver, mesmo de onde estava, quando as cabeças de quatro das mulheres do meu pelotão foram completamente despedaçadas com uma rajada colossal de balas. Seus corpos caíram no chão como em câmera lenta, se misturando a tantos outros no asfalto ensanguentado. Pessoas, que tinham sonhos e vidas antes disso. Pessoas, que eu trouxe direto para a lâmina afiada da foice da Morte.

Eu estava completamente atônita, observando a cena tão idêntica e tão diferente do pesadelo que tive duas noites atrás. Mesmo que a carnificina ainda estivesse alí, isso era real. O cheiro intragável e metálico de sangue e podridão era real. A fumaça e o fogo que eu nunca sabia de onde vinham eram reais.

O sangue quente da garota encharcou minhas luvas, enquanto eu pressionava o local do tiro sem nem mesmo perceber, e só fui capaz de respirar novamente quando Enid levou a mão ao pescoço de Cyndie e assentiu rápido com a cabeça.

-Ela tá viva! Eu vou cuidar dela, não vou deixar ela morrer, então vá! Salve nossa casa!! - Enid gritou, finalmente me tirando do meu torpor e eu sequer senti meu corpo se mover.

Antes que pudesse entender o que fazia, eu já estava correndo novamente com toda a minha força tendo Rachel e Carl em meu encalço, rumo ao grande grupo de Salvadores. Em frente à casa onde deixei Enid, uma grossa porta de madeira jazia jogada no chão. Agarrei uma das laterais e levantei com um grunhido de esforço, Carl agarrou a outra extremidade e Rachel o centro.

Usando a porta como escudo improvisado, eu afundei firmemente o dedo no gatilho do rifle que segurava com uma única mão. Nada foi capaz de se manter de pé em nosso caminho, e os Salvadores e zumbis que derrubávamos eram como meras pedras a serem pisoteadas.

Ao longe, pude ter um vislumbre de Negan, o rosto vermelho de sangue e ódio. Senti meu próprio sangue congelar nas veias quando avistei Rick, abaixo de Negan com um trio de Salvadores o segurando, enquanto o líder dos desgraçados se preparava visivelmente para enterrar aquela monstruosidade de taco na cabeça do pai de Carl e Judith.

Soltei a porta antes mesmo de pensar, e destemidamente subi em um carro com um pulo. Mal parando de pé, abri fogo contra Negan com um grito de puro desespero. Não importava se chamaria atenção pra mim, não importava se eu morresse agora, eu preferia a morte do que permitir que Carl passasse pelo que eu passei.

Os tiros cortaram o ar e surpreendentemente, atingiram meu alvo com exatidão, derrubando Negan no chão e permitindo a Rick que se soltasse com o susto dos inimigos que o seguravam. O olhar do Grimes caiu sobre mim como uma pilha de escombros, uma pergunta nítida em seu olhar, e eu assenti com a cabeça confirmando que Carl estava vivo. A expressão em seu rosto mudou apenas um segundo depois, a morte em seu rosto sendo substituída imediatamente pela determinação. Sem perder mais um segundo, ele avançou nos três desgraçados que o seguravam de uma vez e com as mãos limpas, enquanto Negan havia desaparecido do meu campo de visão.

As consequências de minha ação vieram apenas um segundo depois, quando um série de tiros cortou o ar em minha direção. Cruzei os braços na frente do rosto e esperei pela morte, mas ela nunca veio. Quando abri os olhos, pensei até mesmo ter realmente morrido quando encontrei Paul a minha frente, segurando uma grossa placa de metal que acabara de salvar minha vida.

-Adivinha quem veio pra jantar? - meu primo perguntou com um sorriso de canto ao me puxar para trás do carro.

-Vou colocar água no feijão mais tarde! - respondi com lágrimas nos olhos, nos abraçamos com força por apenas alguns segundos, e então os tiros nos trouxeram de volta.

Em direção ao centro da guerrilha, onde vários Salvadores formavam uma espécie de parede para proteger Negan, pude ver vários dos moradores de Hilltop avançando corajosamente com placas de metal como escudo, sob o comando firme de Maggie, que parecia uma poderosa leoa a frente de todos. Até mesmo Ezekiel, Jerry e Benjamin seguiam lutando furiosamente junto do exército de Hilltop, a tigresa Shiva destroçava majestosamente os inimigos em seu encalço. Atirei da janela do carro e derrubei dois dos infelizes, não muito longe de mim pude ver Carol quebrando o pescoço de um deles entre as pernas enquanto Daryl e Glenn derrubavam mais quatro, mesmo com as mãos amarradas atrás das costas.

Os Salvadores recuaram consideravelmente com a chegada de Hilltop, e eu usei esse tempo para sair do esconderijo e correr até os três. Tirei a faca da bota ao mesmo tempo que saltava a frente de um carro, Daryl virou as costas para mim, puxando um rifle próximo com o pé para si enquanto eu soltava suas mãos. Assim que se soltou, ele puxou o rifle e começou a revidar os inimigos que acertavam o carro a nossa frente.

-Não sei como caralhos está viva, garota... Mas é bom que esteja de volta! - foi tudo o que o arqueiro disse, com a insinuação de um sorriso nos lábios tão inchados e machucados quanto o resto de seu rosto, antes pular a frente do carro e voltar à guerra.

-Obrigado por me salvar duas vezes, garota! Mas agora vou dar uma ajudinha pra minha esposa! - Glenn falou, assim que o soltei, o grande ferimento que o taco de Negan fez na lateral de seu rosto era insignificante perante a coragem ardente em seus olhos escuros.

Me aproximei de Carol em seguida, soltando a mulher também, ela me encarou por alguns longos segundos com os olhos cheios de lágrimas e acariciou meu rosto como se eu fosse uma miragem. Porém, os tiros interromperam nosso breve momento emotivo. Me estiquei para tentar alcançar a pistola de um cadáver próximo, mas a mão cuidadosa da mulher me manteve no lugar.

-Use esse. E não morra de novo! - ela tirou de dentro das roupas um objeto enrolado em um trapo sujo de sangue.

Levei alguns segundos para entender o que ela queria, até que o pano foi removido e eu me deparei com a empunhadura de madeira arranhada tão conhecida por mim. Era o meu revólver, o 38 Taurus antigo que meu pai havia me dado.

-Obrigada! - agradeci emotiva, girando o tambor e encontrando apenas quatro balas. Bom, teria de ser o suficiente.

Não tinha ideia de como ela tinha achado isso e menos ainda escondido por tanto tempo, mas não perdi muito tempo pensando. Lancei um último olhar significativo à Carol e saltei a frente do carro assim como Daryl, me jogando novamente no conforto.

Pude notar de canto de olho Carl e Rick também entrarem no confronto, derrubando ainda mais dos inimigos com uma chuva mortal de tiros. Michonne estava ao lado dos dois, destroçando tudo que se movia em seus caminhos com os cortes limpos e graciosos de sua katana. Ao longe e no centro de toda aquela carnificina, uma jaqueta preta prendeu meu olhar e um arrepio percorreu meu corpo violentamente, me dando a certeza de que era ele.

Reiniciei minha corrida, mas antes que pudesse atirar no primeiro inimigo em meu caminho, o Salvador desconhecido caiu morto no chão. Olhei para trás apenas por um segundo, e pude notar todo o grupo por quem passei a pouco me dando cobertura. Carol, Daryl, Maggie, Glenn, Ezekiel, Benjamin, Jerry, Michonne, Rick, Paul e Carl. Eu tinha o dever de honrar sua ajuda agora!

Ignorando a queimação absurda em meus pulmões e pernas e todo o cansaço aterrador acumulado, mesmo que eu pudesse quase sentir meus músculos derretendo abaixo da pele e aumentei ainda mais minha velocidade. O ódio jorrou de mim como um vulcão em erupção quando vi a figura do homem que tirou meu pai e irmão de mim, matar com o taco um dos soldados de Hilltop.

Com a pistola em riste, mesmo que cada grama do meu corpo berrasse de dor e eu estivesse tão exausta que poderia desmaiar a qualquer momento, disparei contra Negan novamente sem parar de correr. As gotas de sangue cortando o ar me deram a certeza insana e regozijante de que eu tinha acertado um tiro em seu ombro.

Negan saltou desajeitado para longe da minha linha de tiro e se escondeu entre os carros. Sem opção, fui atrás dele, tentando me manter alerta enquanto me tornava cada vez mais auto-consciente das dores excruciantes em meu corpo. Estava sutilmente abaixada procurando pelo desgraçado, quando subitamente notei uma movimentação rápida ao meu lado. Não fui capaz de me esquivar a tempo por estar tão cansada, e caí com força no chão enquanto uma dor absurda se instalava na lateral de meu rosto com um soco forte de Negan. Havia perdido meu revólver de novo durante a queda. Merda!

- Eu não sei... Não sei mesmo como você faz essa merda de literalmente voltar dos mortos, mas dessa vez... Você só volta como um maldito zumbi, vadia! - Negan gritou, levantando o taco com um único braço e se preparando para me acertar de novo enquanto pisava fortemente meu braço direito para me manter no lugar.

Mesmo sabendo que acabaria no mínimo deslocando feio o ombro com aquilo, rolei no chão com toda a força, evitando que ele acertasse meu rosto novamente apenas por alguns milímetros. A dor excruciante que engoliu meu braço inteiro, e até mesmo o ângulo nitidamente incorreto em que meu ombro terminou foi incapaz de me parar.

Me aproveitando de nossa proximidade, usei toda a força que podia para chutar um de seus joelhos com um rugido de esforço. Negan gritou de dor e acabou soltando o taco, se afastando com as mãos no joelho agora distorcido em um ângulo estranho abaixo da calça preta.

Negan se apoiou em um carro para se manter de pé, buscando na cintura a pistola, um meio de finalmente tirar minha vida. Mas ele nunca a encontrou. Com o braço esquerdo, eu usei toda a força que sequer sabia ainda ter para me levantar e atacar novamente.

-Se for assim... Teremos o mesmo destino!!!- respondi sua provocação anterior, minha voz rouca de dor e cansaço saiu como um rosnado quando puxei da jaqueta militar uma última faca escondida em minhas roupas, e avancei em Negan com voracidade.

Soltando um urro quase inumano, eu corri na direção do desgraçado e girei o corpo com um movimento fluido e firme, desferindo um corte com a faca seguido de um chute giratório. Negan desviou da faca, mas não do chute, que o fez perder um pouco do equilíbrio, acabando por receber um largo corte no abdômen de meu terceiro golpe seguido.

Após o golpe bem sucedido, acabei abrindo um pouco a guarda, e foi esse instante que ele usou para me retribuir com um segundo soco no rosto. Ele não esperava porém, que eu não fosse me afastar com o golpe. Mesmo sentindo a dor descomunal de ter perdido um dente com a força exagerada do brutamontes, eu me utilizei de nossa proximidade para me agarrar ao pescoço de Negan e cravei profundamente minha faca em suas costas, rasgando a carne ao puxar a lâmina pra cima com força.

Ele urrou de dor e me agarrou pelo pescoço, apertando minha garganta e usando do peso de seu corpo para investir para a frente e bater minha cabeça e costas no chão com uma brutalidade absurda. Uma, duas, três malditas vezes. Senti nitidamente algo trincar dentro de mim com o impacto, a dor que tomou minha cabeça era simplesmente insuportável, fazendo com que minha visão se desfocasse completamente por dois malditos segundos. O homem se abaixou e iniciou uma sequência brutal de socos contra a minha face precariamente defendida pelo braço esquerdo.

Quase me entreguei, chegando à fineza de uma folha de papel de amolecer nas mãos do meu agressor e me entregar à morte. Porém, um simples flash, um turbilhão de lembranças fúlgidas de tudo o que esse mesmo desgraçado fez começou a girar com a velocidade de um tornado em minha mente, e aquilo foi o suficiente para me arrancar do torpor. Minha família, todos os homens de OceanSide, tudo o que eu passei naquela base de satélite infernal, Abraham, Tara, Sasha e tantos outros que se foram essa noite. Eu não podia deixar que ele fugisse!

No momento em que Negan me ergueu do chão pelo pescoço, pronto a bater minha cabeça uma última vez no asfalto frio e finalizar a luta, eu levantei o braço bom em um movimento quase involuntário e agarrei com toda a minha força a ferida que deixei em suas costas poucos segundos antes. Meus dedos adentraram o largo corte sem qualquer delicadeza, e quando puxei boa parte da carne aumentando ainda mais o rasgo e encharcando minha mão com seu sangue, Negan soltou um grito falho de dor e me largou, caindo pra trás sem qualquer força nas pernas.

Rastejei como podia até onde havia perdido meu revólver e o peguei do chão, me apoiando na lataria gelada de um carro para ficar de pé desajeitada. Voltei até Negan cambaleando, estava quase desmaiando e minha visão se tornava cada vez mais turva, mas tinha algo a terminar antes. Nem que fosse a última coisa que eu fizesse.

-E então... Como é...? - perguntei baixo, até mesmo falar estava sendo um esforço maldito, a cada palavra que eu pronunciava mais sangue escapava da minha boca e escorria pelo meu queixo.

-O que...? - ele grunhiu fraco, com uma expressão de dor no rosto, enquanto o sangue continuava a jorrar incessantemente do corte gigante que deixei em suas costas.

-Ser o... Perdedor... Como é...? - algo entre um sorriso e uma careta de dor preencheu meu rosto, enquanto eu tentava sem muito sucesso me manter de pé com o apoio de um carro próximo.

-Você não coragem pra isso, garota... Não vai puxar esse gatilho... P-porque é fraca... E assim que eu me levantar daqui... Vou matar cada filho da puta nesse lugar! - ele tentou gritar, mais sangue jorrou do corte e ele amoleceu no chão, também parecia perto de desmaiar, considerando os dois tiros que acertei no homem anteriormente.

-Você está certo... - falei totalmente inexpressiva.

Ele me encarou confuso por um segundo, mas quando apontei a arma para sua cabeça e deixei meu dedo sobre o gatilho, a confusão imediatamente deu lugar ao seu pavor e o meu deleite.

-Eu não sou corajosa... Mas essa merda nunca foi sobre coragem... Eu vou matar você porque eu posso, assim como você tirou minha família de mim só porque podia tirar... Te encontro no verdadeiro inferno, seu merda!!! - o homem ergueu a mão e tentou agarrar minha perna, mas já era tarde demais, puxei o gatilho e enterrei minha última bala na lateral da cabeça do desgraçado, mal sentindo quando as gotículas do seu sangue que respingaram em meu rosto.

Declarei assim a vitória, com o revólver que um dia fora do homem que Negan assassinou, do pai que ele nunca deveria ter tirado de mim. A expressão de pavor do líder dos Salvadores agora eternizada em seu rosto coberto de sangue e sem vida, provavelmente atormentaria meus pesadelos de agora em diante, mas não havia arrependimento em mim. Eu tinha o direito de escolha, poderia ter seguido outro caminho... Mas a minha ira prevalece sobre a minha misericórdia, e talvez eu seja um monstro por isso.

Sem mais qualquer força restante em mim, eu soltei o revólver involuntariamente e sequer ouvi o som do metal frio batendo no chão. Meu corpo foi o próximo a despencar, completamente anestesiado. A imagem do nublado céu noturno se distorceu e os sons se tornaram cada vez mais baixos até desaparecerem por completo. Acho que me lembro de um vislumbre do rosto de Carl, pairando desesperado sobre mim e implorando para que eu não morresse, mas a escuridão me engoliu por completo antes que eu pudesse dizer algo.

Em meu estado semi adormecido, eu podia ouvir apenas de longe alguém gritando meu nome, mas não era capaz de me importar. Estava me sentindo leve, leve o suficiente para estar completamente vazia. Livre, mesmo que a liberdade não significasse mais que o sonho distante de se preencher o vazio da própria alma.

Não tinha ideia do que aconteceria agora, e também não queria descobrir no momento. Pela curta eternidade que a escuridão pesando em meus olhos me proporcionou, eu me permiti pela primeira vez em muito tempo a doce inexistência, como um prêmio pela vingança alcançada.

Havia acabado, Negan estava morto e Alexandria era novamente, nossa.

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