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Capítulo 32

Eu me lembro do cheiro dos girassóis murchos, que a mamãe insistia em plantar no quintal. Me lembro da nossa casa amarela e da árvore grande no começo da rua. O banco de madeira velho que rangia na varanda, e que era o melhor lugar do mundo pra aproveitar o Sol morno de fim de tarde, mastigando um pedaço macio do bolo de laranja que só minha mãe sabia fazer. O sabor daquele bolo.

Me lembro de Medina, em Ohio, a cidade onde eu nasci e cresci até a chegada do apocalipse. Os recreios na escola, onde eu sempre conseguia uma desculpa pra fugir das minhas amigas e ficar admirando uma garota loira, duas séries acima da minha, com a qual eu sonhava em me casar no futuro. Mesmo que nunca sequer tenha descoberto o nome dela. As noites de filmes com as minhas amigas, e o cheiro do esmalte azul ciano que eu sempre usava. O deslumbre de ler Harry Potter pela primeira vez.

A longa viagem que fazíamos todos os verões até Bay Village, no Condado de Cuyahoga, para passar as férias na fazenda do vovô. Me lembro do cheiro da terra lamacenta na beira do Lago Erie, onde passávamos as tardes pescando, para no final do dia jantar o peixe frito que a vovó reclamava pra fazer porque não gostava do cheiro. As histórias que a vovó contava de sua juventude no Brasil, sua terra natal, e do sonho que eu tinha de visitar o país.

Me lembro dos natais em família. Da sensação de vitória quase absoluta, que era colocar a estrela coberta de glitter no topo da árvore da natal, após passar horas pendurando enfeites nos ramos com Kalel e Paul. Tantos cheiros, sabores, sentimentos. Sensações. Essas coisas que pertencem unicamente a mim, porque apenas eu as vi daquele modo, naquele momento. As pequenas memórias que fazem de mim alguém.

Eu nunca dei o valor real que essas sensações mereciam até que elas se tornassem apenas lembranças. A vida é um ciclo, foi o que me disseram. Você nasce, cresce e morre, e eu acreditei por muito tempo que a vida era inteiramente baseada nesse conceito tão simples e limitado. Porém, essa foi a maior lorota que alguém já me contou.

Existem tantos mistérios entre o "nascer" e o "morrer." Crescer é difícil, doloroso e esquisito. Mudanças nunca me assustaram, pelo menos até que eu fosse capaz de nota-las, e então eu me via aterrorizada com o poder do tempo sobre nós. A sensação de notar que eu estava mais alta que a pia do banheiro, a qual eu lutava pra alcançar apenas alguns anos antes. A dor de não ter mais a mamãe reclamando da bagunça no meu quarto.

Eu não tinha medo de morrer quando criança, porque não tinha notado realmente a existência da morte. Mesmo depois de tantos anos matando e quase morrendo todos os dias, acho que nunca tinha notado de verdade a morte até pensar que tinha perdido Carl, naquele parque de diversões cheio de zumbis. Eu não vi a mamãe morrer, porque fechei os olhos quando papai a matou. Também não o vi morrer, estava mais uma vez com os olhos fechados quando Negan destruiu seu crânio até não restar quase nada.

Com Kalel eu sequer estava lá, mas eu não fui capaz de fechar meus olhos quando os zumbis se amontoaram sobre Carl no parque, e mesmo que não tenha sido realmente ele... Eu nunca esqueceria a sensação de não ter onde me esconder, nem sequer em mim mesma, que aquela visão cravou a ferro em minha alma.

A morte é crua, não tem um gosto ou cheiro, e só parece de fato real quando alguém importante pra você morre na sua frente. Puxar o gatilho e tirar um inimigo do caminho é fácil, somos egoístas por natureza.

Porém, eu com certeza não estava pronta para experimentar aquela sensação com um dos meus amigos quando desci daquele caminhão, em meio à escuridão daquela noite tempestuosa, e o vento gelado engoliu meu corpo. Não estava pronta para perder para todo o sempre quem eu fui, sou e serei, e com certeza não estava pronta para aquela guerra, mesmo depois dos longos dois dias e meio dentro da cabine daquele caminhão.

-Clarisse! Por que paramos?! - ouvi Cyndie gritar, sua voz sendo quase sufocada pelo vento forte daquele início de nevasca.

-Chegou a hora! Se preparem para executar o "Plano de Ação 2"! - gritei de volta, mais pessoas desciam cautelosas dos caminhões.

Antes de viajar, consideramos três hipóteses diferentes e sendo assim, formas de proceder em cada uma. A primeira e mais simples, a qual torcíamos para acontecer, era que os Salvadores não tivessem chegado até Alexandria. Sendo assim, iríamos reagrupar e começar a procurar pelo esconderijo dos desgraçados depois de descansar da viagem.

A segunda, e nossa provável atual situação, era que os Salvadores tivessem tomado Alexandria, mas não tivessem destruído o local. Sendo assim, a infiltração silenciosa seria nossa forma de enfrentar o problema. Já a terceira opção, a qual eu desesperadamente queria que não tivesse acontecido, seria encontrar Alexandria destruída. A forma de proceder seria procurar sobreviventes na destruição, se possível.

Os olhos da morena se fixaram na estrada atrás de mim, onde um grupo de zumbis acorrentados e quase totalmente congelados bloqueava o caminho, era a marca registrada dos Salvadores. Um aviso de que Alexandria agora era deles, e que qualquer um com o minimo de vontade de viver, deveria manter distância de sua nova propriedade. Um aviso... Que seria totalmente ignorado por nós.

-Chegou a hora! O momento pelo qual nos preparamos! - gritei sobre o vento e a neve, tirando meu facão do cinto e segurando o cabo com força - Foi um prazer conhecer cada um de vocês, e espero continuar tendo esse prazer quando alcançarmos a liberdade! Senhoras, e Carl... - o único homem no grupo sorriu quando citei seu nome - A missão Sete Vidas, está em curso! Pelotão A, comigo! - finalizei, enchendo o peito ao citar o nome de nossa missão, um símbolo de que Negan não foi capaz de nos matar antes, e também não seria agora.

-POR UM FUTURO!!! - todo o grupo gritou em conjunto, erguendo os facões e os corações ardentes em esperança ao céu noturno perdido entre as nuvens.

Findado o momento motivacional, o grande grande grupo se dividiu em três "pelotões" de nove integrantes, enquanto as duas mulheres restantes de vinte e nove voltaram aos caminhões, para escondê-los e aguardar alertas por uma possível retirada do grupo principal.

Como líderes do pelotão A, Carl e eu guiamos as outras sete mulheres pelo lado direito da estrada até adentrar a floresta escura. Cyndie e Rachel guiaram o pelotão B pelo lado esquerdo, enquanto Kathy e Beatrice as seguiam a certa distância com o pelotão C, pois seu rumo eram os fundos da comunidade.

Nosso objetivo era nos infiltrar secretamente em Alexandria, incapacitar o máximo de Salvadores possível sem alertar o inimigo e armar a os moradores para ter números suficientes para uma rebelião. Todos conhecíamos o modo de ataque do Negan para dominar comunidades: amedrontar, desarmar e então manter sob cativeiro para conseguir arrancar o máximo que puder dessas pessoas.

A ideia de entrar na comunidade sem sermos notados parecia algo inalcançável no início do planejamento, mas no final de tudo, a peça chave para que tudo fosse possível foi mais uma das típicas discussões entre Carl e Rick. Essa específica sobre a entrada de Siddiq em Alexandria.

Os dois encontraram o homem em uma busca por suprimentos, uma das primeiras em que Carl saiu depois que perdeu o olho. Rick imediatamente afugentou o homem, alegando que confiar em desconhecidos era o princípio de todo e qualquer problema. Porém, o garoto nunca foi exatamente o ser humano mais obediente do planeta, e foi sua teimosia em ajudar Siddiq que o levou a explorar uma parte interessante de Alexandria... Os esgotos.

- Lembrem-se da regra, só iniciem um tiroteio em caso de vida ou morte! Fiquem atentos! - gritei, à frente do pelotão, e então ajeitei a balaclava sobre o rosto para iniciar o percurso.

Esperei alguns instantes até todos estarem prontos e logo comecei a me mover o mais rápido que podia por entre as árvores e a neve, sempre por volta de dez metros a frente do grupo como uma batedora. Minha função era abrir caminho para o resto e avisar se algo saísse dos eixos. Sempre na beirada do penhasco, sentindo o fedor de merda da morte.

O primeiro zumbi entrou em meu campo limitado de visão, mas fui rápida em eliminar a ameaça com o facão, pelos movimentos ainda mais lentos do monstro semi congelado. Mais dois errantes lentos cruzaram meu caminho até que eu alcançasse os altos muros da comunidade, aguardando pelos outros com o coração acelerado como o de um maldito demônio no peito.

O resto do pelotão me alcançou alguns instantes depois, todos intactos, mas nossa missão suicida estava só começando. Mesmo que o plano estivesse correndo bem, o nervosismo e a adrenalina faziam meus sentidos ficarem cada vez sensíveis, me assustando com cada pequeno barulho perdido no vento inquieto. A lembrança constante de que logo teria de encarar Negan novamente era como um gás tóxico, me deixando cada vez mais desesperada.

A nevasca era uma faca de dois gumes, estava agindo como um adicional para encobrir nossa presença, diminuindo o número de Salvadores que deveriam estar do lado de fora. Porém, nossas roupas mesmo feitas de tecidos grossos aliados a várias outras camadas de roupas abaixo nos deixavam menos ágeis, e não eram completamente eficazes contra um frio tão intenso.

Carl passou por mim como um raio e no instante seguinte estava de joelhos a alguns metros de mim, cavucando entre as folhas mortas e a neve diligentemente até encontrar a tampa metálica suja de um bueiro. Uma das mulheres o ajudou a abrir nossa entrada o mais silenciosa possível, enquanto eu verificava o perímetro para que eles pudessem entrar.

O garoto Grimes acionou a lanterna presa com fita adesiva ao traje e desceu primeiro pela escada enferrujada, rumo ao escuro perigoso do nosso único ingresso de entrada até nossas casas e famílias. Mesmo com a balaclava eu era capaz de sentir o cheiro pungente do esgoto, provavelmente seria ainda pior do lado de dentro, mas eu já tinha passado por coisa pior.

Enquanto as mulheres atrás dele entravam uma a uma, senti os pêlos da minha nuca se arrepiarem ao ouvir o som fraco de vozes perdidas no vento se aproximando, acompanhadas de passos pesados sobre as folhas e gravetos. O vislumbre de luzes entre as árvores me fez perder o ar.

Meu coração acelerou mais do que eu pensei ser possível, ainda faltavam quatro pessoas para entrar no maldito bueiro estreito antes de mim, e eu soube que não seria capaz de os alcançar se apenas esperasse minha vez. Sentindo a determinação me engolir como uma larga onda de eletricidade, eu me esgueirei em direção às vozes, ignorando a expressão assustada da mulher ao meu lado. Se tivesse de me sacrificar para manter a integridade do grupo, eu o faria sem sequer pestanejar.

Os homens do lado de fora geralmente eram os malditos que andavam com os rádios, prontos a alertar Negan de qualquer pequeno problema, então eu teria de ter o dobro de cuidado se quisesse manter a missão funcionando. Após me mover alguns metros, pude avistar um trio de Salvadores fortemente armados conversando distraidamente. Sequer imaginavam que poucos metros a frente a comunidade estava sendo invadida. Eu tinha que parar sua caminhada.

Com dedos cautelosos, eu procurei no chão uma pedra de tamanho médio e a agarrei com força. Um erro poderia significar instantaneamente a morte de todos. Meus olhos se fixaram na posição dos homens, e eu implorei a qualquer divindade existente por apenas um pouco de sorte.

No momento em que eles se viraram para caminhar na direção do muro, eu projetei o corpo para fora do esconderijo e arremessei com força a pedra na direção oposta. Cerrei os dentes por alguns segundos tensos, e então uma dose minúscula de alívio se instalou em minha alma com a fala de um dos homens.

-Ouviu isso?! - um dos infelizes perguntou, se virando de supetão no momento exato em que eu me escondi novamente.

-Vamos verificar! Fique aqui, você! - o segundo do trio falou, acompanhando o primeiro na direção do barulho.

O homem restante era um brutamontes, parecia ter o dobro da minha altura e com certeza o triplo da minha força. Tinha um rifle grande em mãos, mas aparentemente nenhum rádio. Seria quase impossível vencer alguém assim no corpo a corpo.

Eu estava prestes a tentar provocar uma segunda distração para afastar esse infeliz também, mas o barulho de algo pesado caindo na água exatamente na direção do bueiro mudou meus planos.

No momento em que o homem me deu as costas, já caminhando na direção do meu pelotão, eu saltei de trás da árvore com a ferocidade de um leopardo e tomei impulso correndo até o homem para me lançar contra suas costas. Me agarrei ao mesmo por trás, ficando pendurada em seu pescoço e sequer sentindo meus pés tocarem o chão.

O desgraçado tomou ar para gritar, mas eu tampei sua boca cravando com brutalidade os dedos em sua face. Ele mordeu minha mão imediatamente, mas eu não recuei um centímetro. Ignorando a dor completamente, eu firmei as pernas em seu corpo e cortei profundamente seu pescoço com o facão.

O sangue do infeliz jorrou do local do corte, mas eu não parei até que a lâmina afiada cortasse sua cabeça fora. O corpo decapitado pesou para trás, e eu tive que firmar com força os pés no chão para não ser esmagada por seu peso ou mesmo fazer barulho. Prendi a respiração para não soltar qualquer som com o esforço absurdo e deitei o cadáver no chão silenciosamente. A luz da lanterna inimiga se aproximou novamente, o tempo escasso só me permitiu saltar para outra árvore e manter a respiração presa.

-Malditos zumbis, nos fazendo de idiotas e... Merda! - o segundo homem voltou reclamando, mas deu um salto no lugar quando encontrou o cadáver do companheiro de patrulha, se virando imediatamente para correr na direção do terceiro homem que deveria ser o portador do rádio.

Um, dois, três passos. Foi tudo o que o infeliz conseguiu correr, antes que eu me jogasse brutalmente contra seu corpo colocando todo o peso no ombro e derrubando nós dois no chão no processo. O infeliz arregalou os olhos e abriu a boca para gritar, mas não teve tempo de emitir qualquer som. Segurei o facão com as duas mãos e cravei a lâmina com força em seu pescoço, ignorando o jorro de sangue vindo do corte na direção do meu rosto e repetindo o golpe até cortar sua cabeça fora.

Quando olhei para cima, sem fôlego e enjoada, não tive tempo sequer de pensar. O terceiro homem me encarava com tanto terror que só pareceu acordar de seu torpor quando eu arranquei o facão do segundo cadáver. Ele tentou imediatamente alcançar o rádio preso ao cinto, mas sua mão apenas permaneceu sobre o objeto, enquanto ele caia devagar sobre os próprios joelhos.

A lâmina do facão cravada profundamente na região de seu globo ocular esquerdo, entrou ainda mais em sua face quando ele caiu para a frente, ficando empalado no facão a alguns centímetros do chão, enquanto o sangue banhava a arma. Me levantei com o braço dolorido após ter usado tanta força para arremessar o facão e chutei o homem para o lado, pisando em sua face para recuperar a lâmina com um puxão.

Me desequilibrei um pouco ao puxar a lâmina e quase fui ao chão, as consequências das minhas ações bruscas me alcançaram com força. Além do ombro dolorido pela força com que atirei o facão, tinha batido a cabeça com força numa árvore ao me esconder após matar o primeiro homem, e a cereja do bolo veio com a pontada excruciante de dor que percorreu minha mão sob a luva.

Guardei o facão no cinto e arranquei a luva com os dentes, enquanto recolhia os dois rifles e a lanterna que os mortos traziam com a outra mão de forma desajeitada. Uma grande quantidade de sangue cobria minha mão ferida, mas o que me fez quase gritar de pavor foi a visão de todo o meu dedo mindinho pendurado na lateral da minha mão, preso ao membro apenas por um fino pedaço de pele. Merda, o desgraçado conseguiu me arrancar um maldito dedo na mordida!

O som de grunhidos próximos me obrigou a tomar uma decisão, e me esforçando para não pensar, eu descobri minha boca da balaclava e alcancei o ferimento com os dentes, arrancando meu dedo fora de vez e guardando o pedaço decepado no bolso da calça. Meu estômago embrulhou de tanta dor quando enfiei desajeitada a luva de volta na mão, mas eu segui meu caminho, ouvindo apenas a movimentação do zumbi que se aproximou e começou a se alimentar de um dos cadáveres no chão.

Chegando ao bueiro novamente, desci a escada quase caindo em cada degrau, mas fui capaz de fechar novamente a tampa antes de pousar desajeitada no esgoto. Os outros me encararam com rostos assustados enquanto eu simplesmente me levantava e ajeitava a balaclava no rosto coberto de sangue.

-O que foi? Sigam em frente! Estamos atrasados. - ordenei firme, e as outras obedeceram imediatamente.

Carl me encarou por alguns segundos, mas eu assenti para ele com a cabeça, confirmando que estava bem. Ele assentiu de volta e continuou seu caminho, as roupas cobertas de lama na parte da frente, notei cinco zumbis aparentemente recém mortos no chão e apenas assim entendi o barulho vindo do bueiro momentos antes.

Eles devem ter avançado de uma vez no garoto quando entrou primeiro no bueiro, mas considerando a direção em que estavam caídos, me impressionei ao compreender que ele os empurrou para trás e impediu que chegassem às outras.

XXX

Seres humanos são imprevisíveis, e talvez por isso tenham sobrevivido tanto tempo em um planeta hostil sem as presas mortais de uma serpente ou a couraça intransponível de um crocodilo. Um vírus mortal engoliu muito mais que a metade de nós e da civilização que tanto lutamos para construir, mas ainda assim, foi incapaz de nos remover por completo da existência.

Quando a tampa metálica do bueiro se abriu novamente a minha frente e Carl saiu pela abertura estreita com a cautela de um felino, um silêncio pesado nos envolveu por longos segundos. Meu coração martelava as costelas com tanta força que temi que pudesse quebrar os ossos, mas quando um assovio baixo alcançou meus ouvidos, eu me permiti mergulhar de cabeça na imprevisibilidade que nossa raça amaldiçoada sempre carregou e saí do bueiro também.

Me abaixei com cautela ao lado do garoto e logo começamos a nos esgueirar pela brechas escuras de Alexandria, com o resto do grupo de OceanSide se espalhando como uma peste silenciosa pelo local.

Incapacitamos o máximo de Salvadores que pudemos pelo caminho sem chamar a atenção, seja desarmando e prendendo os infelizes, ou matando os que insistiam em negar a rendição. Poderiam ter se passado alguns minutos ou horas, a crescente pressão não me permitia compreender o espaço a minha volta com total clareza.

Antes que pudesse me dar conta do quão cansada já estava, a fachada traseira da casa dos Grimes se apresentou como um grande soco no estômago a nossa frente. Carl e eu nos entreolhamos, a inquietação visível em sua intensa íris azul, parecia tanto desesperado para entrar de uma vez quanto aterrorizado com o que poderia encontrar lá dentro. Porém, após alguns fúlgidos segundos de uma hesitação lancinante, Carl assentiu corajosamente e nos aproximamos da janela.

Entramos sorrateiramente, um depois do outro. Pé diante de pé, leves como pena, o único fator que nos diferia de meros espíritos agourentos que passavam despercebidos no ambiente eram os batimentos extravagantes de nossos corações.

Nos abaixamos juntos atrás do batente da porta da sala de estar, ocultos pela escuridão tensa que recobria toda a casa. Pudemos observar duas figuras se movendo na cozinha, um homem de pé e uma garota caída no chão. A voz masculina desconhecida chegou aos meus ouvidos, e eu me atentei a cada palavra, sentindo a raiva se mesclar ao meu sangue como fogo líquido quando ouvi o que dizia.

-O que foi, vadia?! Achou que seus amiguinhos desgraçados iriam se safar depois de tentar fugir de novo?! Esse lugar de merda é nosso agora, vocês são nossa propriedade... Vão ter que entender isso de um jeito ou de outro! - um dos Salvadores falou em seu tom nojento, levantando a garota do chão pelos cabelos com selvageria.

-Vá. Pro. Inferno! - reconheci a voz de Enid, que soou como um rugido despido de qualquer medo, o desgraçado lhe acertou um tapa forte no rosto.

-Não seja tão arredia, querida... Estragar ainda mais seu lindo rostinho seria um desperdício... - o tom repugnante do homem e o olhar sugestivo que deu a minha amiga destruiu minha capacidade de raciocinar.

-Solta ela!!! Solta agora, desgraçado!!! - berrei ao saltar de onde estava, apontando meu rifle pra cabeça do infeliz.

-Mas que... Merda!! - ele começou, assustado com minha intrusão, Enid aproveitou a deixa para lhe dar uma joelhada nos países baixos e se afastar.

-C-clarisse...? Carl...? - ouvi a garota perguntar do chão, os olhos cheios de lágrimas nos encaravam com tanta descrença, dor e confusão.

Minha distração porém, foi o que quase me levou à ruína. Antes que eu pudesse compreender toda a situação, meu corpo foi bruscamente jogado contra o piso de madeira, a parede da sala foi perfurada por uma série de tiros acima de nós. Carl, que havia me salvado mais uma vez, saiu de cima de mim e eu observei ainda atordoada quando ele devolveu os tiros e se escondeu novamente atrás da cristaleira antiga da entrada.

A porta da frente foi aberta com um estrondo e mais inimigos entraram na casa, nos obrigando a subir rápido as escadas para o primeiro andar. Empurramos juntos um móvel do topo da escada para atrasar os inimigos e nos enfiamos cada um em um cômodo.

Dentro do quarto de Rick e Michonne, só tive tempo de abrir um pouco a porta do guarda-roupa e me jogar do outro lado da cama, me escondendo no espaço entre o móvel e a parede. Passos pesados cruzaram o corredor, um dos desgraçados entrou no quarto onde eu estava.

Ele se aproximou do armário com cautela, e como eu imaginava, abriu fogo contra o móvel. Quando abriu as portas e não encontrou nada, eu saí de trás da cama e imediatamente o alvejei com uma rajada de tiros. Saí para o corredor e atirei em mais dois Salvadores, um deles devolveu os tiros de dentro do banheiro e eu tive de me abaixar.

O silêncio engoliu a casa por alguns instantes, ouvi o som de algo caindo no chão e um grito abafado, seguido de algo como golpes de faca. Meu sangue congelou nas veias com a ideia de terem encontrado Carl, e sentindo meu corpo inteiro tremer violentamente, eu me preparei para matar quem quer que estivesse vindo quando ouvi passos no corredor novamente. Porém, afastei o dedo do gatilho como se tivesse tomado um choque quando apenas um Carl coberto de sangue saiu do banheiro.

Ele devolveu a faca ensaguentada ao cinto e puxou a balaclava também suja do rosto. Todo aquele sangue, com certeza não era dele. Só precisamos de um olhar para nos entender e ele ajeitou o rifle nos braços enquanto voltava para a escada comigo.

Pulei o móvel que jogamos no caminho com o garoto Grimes em meu encalço, e protegendo a retaguarda um do outro começamos a vasculhar a casa em busca de Enid.

-Parados aí, mais um passo e eu mato essa vadia!!! - o mesmo desgraçado de antes gritou, com uma faca no pescoço de Enid, um arrepio grosseiro percorreu meu corpo - Abaixem as armas!! - gritou de novo.

Carl e eu já estávamos prestes a obedecer, quando Enid se intrometeu na discussão.

-Não percam tempo comigo!! Mais desses merdas estão vindo, atirem de uma vez!! - ela gritou, me fazendo arregalar os olhos, eu estava prestes a responder quando o homem apertou mais a faca no pescoço de Enid.

-Enlouqueceu, vadia?! Cale a sua maldit-AAAH!!! - o inimigo começou.

Seu olhar se tornou ainda mais odioso no rosto, mas o infeliz não teve tempo de terminar a frase quando uma figura pequena e peluda saltou por cima do sofá, com um rosnado alto e fincou os dentes na lateral do braço do infeliz. Jack!

O Salvador soltou Enid, se debatendo até arremessar Jack no canto da sala com força, arrancando um choramingo do meu cão. O homem tentou puxar a pistola do coldre pronto a atirar em Jack, recolhi meu rifle do chão para defender meu amigo, mas antes que eu ou até mesmo o homem fizéssemos qualquer coisa, um tiro cortou o ar e o homem caiu morto no chão. Um buraco de bala ornamentava o espaço entre suas sobrancelhas.

-Não bata no cachorro, seu merda!! - me surpreendi quando a voz de Mia preencheu o cômodo do topo da escada, a pistola ainda apontada para o local onde o inimigo estava um segundo antes, a postura corporal que eu mesma havia ensinado a ela algumas semanas antes.

Atrás dela, o garotinho loiro com o tipo de "armadura" usada no Reino, que eu vi abraçado a Benjamin no dia do ataque a sua comunidade observava toda a cena assustado, segurando Judith firmemente nos braços como se sua vida dependesse disso. Eles estavam todos vivos!

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