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Capítulo 24

Fogo.

Tudo o que havia a minha volta era engolido numa velocidade assustadora pelas chamas.

Pessoas, zumbis, casas e plantações, tudo se transformava em cinzas diante dos meus olhos.

E eu corria, e corria, e corria, de um lado pro outro, sem nunca chegar a tempo de salvar ninguém. As chamas nunca chegavam a mim, mas tudo o que eu queria era queimar também.

No meio de toda a confusão, eu ouvi vozes conhecidas gritando por mim. Virei o rosto devagar, com tanto medo do que veria que mal conseguia me mover, mas a cena era ainda pior do que qualquer coisa que eu fosse capaz de imaginar.

-Clarisse! Por favor, nos ajude! Por favor! - Carl, Paul, meus pais e Kalel suplicaram em coro, de joelhos em frente a um grande monstro feito de fumaça.

Eu fiz tudo o que podia para chegar até eles, chorando e implorando aos berros para que eles fossem poupados, para que eu fosse destroçada em seus lugares, mas minhas preces nunca foram atendidas. O monstro de fumaça gargalhou, debochando do meu desespero, e então os engoliu um a um. Até que não me restasse mais nada...

Em dado momento, sem mais forças, eu tropecei em algo no caminho. Meu corpo desamparado foi ao chão com força, meus olhos se fechando inconscientemente com o impacto.

Quando abri novamente os olhos, o cenário havia mudado bruscamente. Só restava a fumaça e uma fina areia escura que cobria o chão, o horizonte vazio parecia irreal.

Um tremor violento, porém, fez meus ossos doerem com a realização de que a areia fina no chão não era apenas areia. Cinzas. Eram as cinzas de cada pessoa que havia morrido naquela noite, na noite em que os Salvadores atacaram o Reino. As cinzas de cada pessoa que eu conduzi pessoalmente à morte.

Um grito estrangulado saiu sem aviso dos meus lábios, ecoando pelo silêncio mórbido daquele lugar. Eu tentei levantar, mas minhas pernas afundaram no chão arenoso. Sem escapatória, eu fui engolida até que não pudesse mais respirar ou me mover. Engolida pela minha própria culpa...

XXX

Meus olhos se abriram de repente no momento em que a areia finalmente me sufocou, e por reflexo eu saltei para o lado como se tivesse recebido uma descarga elétrica. Tonta e com a visão embaçada, puxei o ar com força algumas vezes, como se meus pulmões não estivessem funcionando como deveriam. Com a escuridão no comodo, eu sequer sabia onde estava, meu corpo inteiro doía e tremia como se eu tivesse sido espancada por horas e uma sensação horrível de enjôo se apoderou de mim ao sentir um cheiro podre invadir minhas narinas.

Com a pouca força que me restava, tateei o cós da calça em busca de meu revólver, mas não encontrei o revólver e nem mesmo minha calça no lugar correto. Meus dedos subiram um pouco e estranhei ao encontrar um tecido estranho amarrado em volta de meu abdômen, mas compreendi sua existência quando ao tentar me mover, uma pontada excruciante de dor tomou conta de uma região específica em minha barriga.

Não pude conter um grunhido de dor com a sensação e amoleci no chão novamente, estremecendo quando uma rajada cortante de frio entrou por uma fresta entre o cobertor e a minha pele. Longos minutos se passaram até que eu fosse capaz de assimilar toda a situação, todo o dia anterior era um mero borrão em minha mente, apenas cenas esparsas restaram em minhas lembranças.

Eu não tinha ideia de como tínhamos sobrevivido aos ferimentos e o frio, mas me lembrava vagamente de Carl me desejando feliz aniversário, pouco antes de desmaiar. Quando pude entender o que estava acontecendo, imediatamente entrei em pânico com o estado de Carl na noite anterior. Levei alguns segundos procurando a lanterna pelo chão empoeirado com a angústia espremendo meus pulmões, e então finalmente pude ver o rosto do garoto, que além de estar ainda mais pálido que o normal, estava imóvel.

Com o coração batendo assustado no peito, prendi a respiração e levei minha mão até seu pescoço, procurando desesperadamente por seu pulso. Uma onda de alívio, porém, me fez relaxar quando ele se moveu sutilmente e resmungou uma reclamação que eu não cheguei a compreender. O mais alto ergueu lentamente a mão e segurou meu pulso fracamente, abaixando minha mão e tateando até desligar a lanterna que me fez derrubar.

-Pensei... Que você tinha morrido... - murmurei rouca, me ajeitando devagar no cobertor, uma tosse irritante fez o corte em minha barriga latejar.

-É... Eu também... - sua voz fraca soou baixa enquanto um de seus braços trêmulos me envolvia desajeitado.

Algum tempo se passou enquanto permanecemos em nosso estado semi adormecido, não saberia informar se foram minutos ou horas. As lembranças do ataque ao Reino voltaram sem permissão a minha mente, se misturando com as imagens perturbadoras do pesadelo recente.

As mortes de Abraham, Sasha e Tara provavelmente ficariam marcadas para sempre na minha mente, um lembrete cruel de que eu nunca deveria ter brincado de ser adulta. Com meus recém feitos 18 anos, eu me sentia como a mais assustada das crianças.

Como se fosse mais uma vez apenas " Claire", a Clarie de onze anos que chorou por três horas seguidas por não ter conseguido salvar sua coleção de bonecas, quando seus pais a tiraram de casa às pressas porque o vizinho estava arrancando com os dentes as vísceras do carteiro na calçada. A garotinha que implorava ao irmão para que ele esfriasse sua sopa, que nunca achou que viveria sem ele um dia. Merda, eu estava tão fodidamente assustada...!

Eu tentei, tantas vezes, mas sempre acabava na mesma situação, sempre vendo pessoas que mereciam viver perderem esse direito da forma mais cruel. A ideia de desistir de tudo passou pela minha mente. Seria tão mais simples se eu pudesse apenas fazer um corte em minha garganta e então esperar até que a morte viesse. Tão simples e...

Que merda eu estava pensando?!

Me concentrei no calor fraco do corpo de Carl ao meu lado, me sentindo subitamente péssima por ter sequer pensado em deixá-lo sozinho. O garoto estava ferido, provavelmente quebrou uma costela e andou quilômetros com dor no meio da neve unicamente para me apoiar. Ele acreditou em mim quando ninguém mais acreditaria, sem nem mesmo questionar. Eu não tinha o direito de abandoná-lo agora.

Com esse pensamento em mente, prendi a respiração e me virei de bruços no chão, forçando meus braços fracos e cobertos de hematomas a erguerem meu tronco. Apenas o simples ato de me sentar no chão me deixou exausta, mas eu não podia continuar parada, esperando pela morte.

-O que está fazendo...? - escutei o garoto perguntar baixinho, parecia tão cansado quanto eu.

-Temos que seguir viagem. Continuar aqui será perigoso quando a horda que invadiu o Reino se dispersar. - murmurei enquanto pegava a lanterna e me levantava com dificuldade.

Após ajeitar de qualquer forma a calça no quadril e vestir minha blusa, caminhei até uma prateleira no canto da loja e observei a poeira intacta no chão. Um sorriso de canto se mostrou em meus lábios ressecados, e eu deixei a lanterna sobre o balcão para iluminar o caminho enquanto eu trabalhava. Estava com frio por estar vestida apenas com uma blusa fina e a calça, mas não conseguia me preocupar como deveria.

Reunindo forças, agarrei parte da estrutura metálica da prateleira e fiz força para arrastar, o corte em minha barriga protestou, mas não foi capaz de me impedir. A mesma, porém, não se mexeu mais que alguns poucos centímetros. Frustrada, segurei a haste metálica com mais força e me preparei para arrastar novamente, mas me assustei e parei a ação na metade quando duas mãos seguraram meus braços com cautela.

-Vai piorar seu ferimento... Eu faço isso... - Carl murmurou atrás de mim, tentando me afastar da prateleira, mas eu permaneci no mesmo lugar.

-Você provavelmente quebrou uma costela, talvez mais de uma, não deveria nem ter se levantado. Volte a dormir, eu cuido de tudo e te chamo quando formos...! - comecei, tentando me soltar do garoto, mas me interrompi quando ele apenas me abraçou por trás e apoiou a testa em meu ombro descoberto.

-Por que sempre faz isso...? - ele perguntou, seu tom triste me deixou confusa.

-O que...? - sussurrei sem entender.

-Sempre afasta os outros e se força a fazer tudo sozinha, mesmo que isso custe a sua vida... Eu realmente não consigo entender... - explicou me abraçando mais forte, perdi o ar com sua resposta.

A realidade é que eu não tinha uma resposta para aquilo, eu apenas sentia constantemente que deveria ter feito mais por quem eu amava, que a minha incapacidade de ser forte os havia tirado de mim. No fundo, eu só estava terrivelmente exausta de todas aquelas perdas.

-Acordei no meio da noite com você gritando... Implorando para quem quer fosse não matasse sua família... Não foi a primeira vez... - ele continuou, quando percebeu que eu não iria responder - Eu só quero cuidar de você, Lisse... Tanta gente já morreu... E a sua morte não vai consertar nada. Não posso te perder também... - Carl finalizou, mas sua fala não foi capaz de me fazer soltar a prateleira.

-Então vamos fazer isso juntos... Porque eu amo você, Carl, realmente amo... Mas eu nunca vou me esconder atrás de alguém novamente, nunca mais vou aceitar que outras pessoas lutem as minhas batalhas. - lentamente, me afastei do garoto e parei ao seu lado, segurando em outra parte da prateleira para que pudéssemos arrastá-la juntos.

Carl tirou os cabelos do rosto e bufou inconformado, mas imitou meu gesto, agarrando parte da prateleira também. Contei até três e fizemos força ao mesmo tempo, ambos com expressões doloridas no rosto, mas fomos capazes de mover a prateleira o suficiente para expor o piso abaixo dela e assustar um trio de ratos escondidos atrás da estrutura.

-Certo... Por que... Arrastamos isso...? - o mais alto perguntou sem ar, encostado na parede com a mão sobre o local de sua provável fratura.

Não perdi tempo respondendo, apenas me coloquei de joelhos e peguei a faca jogada ao meu lado, tentando me lembrar quais das taboas do piso estavam soltas. Encaixando a ponta da faca nas frestas entre as madeiras do chão, consegui arrancar três delas do lugar após várias tentativas frustadas e alguns cortes pequenos nas mãos e unhas quebradas.

Abaixo do piso oco, havia uma mochila velha e suja, algumas baratas passaram correndo por mim e outras se lançaram em minha direção quando peguei a mochila, mas eu já tinha visto coisas piores na vida. O cheiro forte de mofo vindo da mochila também não foi capaz de me assustar, eu provavelmente estava cheirando pior.

Arrebentei o zíper enferrujado sem muita cerimônia e espalhei o conteúdo da mochila no chão. Três garrafas de água pequenas lacradas com fita adesiva, três ou quatro pacotes de bolachas vencidas, uma caixa de balas para espingarda pela metade, além de uma garrafa de álcool pequena e menos ataduras limpas do que eu gostaria. Voltei ao buraco no chão engatinhando e puxei de lá um objeto longo, embrulhado com várias camadas de sacos plásticos e fita adesiva. Carl me encarava boquiaberto.

-Como...? - ele murmurou surpreso, lhe dei um sorrisinho sacana.

-Eu sou uma vadia extremamente paranóica. - expliquei simples, ele balançou a cabeça rindo.

-Quando encontrou esse lugar? - perguntou, escorregando na parede até se sentar perto de mim.

-Pouco mais de três semanas depois de ter explodido a base de satélite dos Salvadores. Passei essas três semanas perdida entre bosques cheios de zumbis, estradas sujas e raros sobreviventes solitários pirados. Esse lugar salvou minha vida da última vez, e fez o mesmo por nós ontem. - falei enquanto organizava o que tinha retirado da mochila, usando a faca para cortar o embrulho da velha espingarda que retirei do buraco.

-Por que decidiu deixar tudo isso aqui? Poderia ter precisado quando foi embora. - ele perguntou, tentando ler o que estava escrito no pacote de bolachas com a luz fraca da lanterna.

-Bom, estamos precisando mais agora. Mais vale um pássaro na mão do que dois voando. - um sorriso nostálgico preencheu meu rosto com a menção do antigo ditado brasileiro.

-É, pensando assim faz sentido. Onde aprendeu essa frase? Nunca ouvi isso antes, mas parece algo que minha mãe diria. - Carl perguntou curioso, abrindo o pacote de bolachas e me entregando uma enquanto enfiava outra na boca.

-É um ditado antigo do Brasil, minha avó era brasileira, como já te contei antes. Ela sempre dizia isso. - comi a bolacha em instantes, estendendo a mão para pegar outra.

-Uma das minhas colegas de sala era brasileira também, ficou conhecida na escola inteira por ter feito um valentão chorar. Eu ia me declarar pra ela no intervalo, mas minha mãe foi me buscar mais cedo naquele dia, meu pai tinha tomado um tiro no trabalho. - o garoto falou, pensativo.

-O tiro que deixou ele em coma, pouco antes do início do apocalipse? - perguntei baixo, Carl assentiu de leve ainda parecendo longe dali.

-Acha que ele vai nos perdoar... Pela mentira...? - sua voz foi apenas um sussuro, senti a massa da bolacha descer quase cortante por minha garganta.

Eu sabia da história, Carl havia me contado como chorou escondido de sua mãe todas as noites na ausência de Rick, achando que seu pai estava morto. A história de como Rick acordou de um coma um mês depois que o apocalipse começou, sozinho em um hospital e fez tudo o que pode até que voltasse para sua família. Era esse homem que eu havia enganado e sendo assim, tinha a obrigação de fazer todo o possível e até impossível para devolver seu filho vivo.

-Bom... A única coisa que eu acho é que você tem um gosto estranho para garotas. - mudei de assunto, deixando o clima pesado de lado enquanto lhe entregava uma garrafa d'água.

-Talvez eu seja um pouco masoquista. - ele brincou, e o sorriso em seus lábios foi a certeza final de que eu iria até o fim para proteger tanto o garoto quanto minha nova família.

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