Quão decepcionante pode ser para uma família tipicamente brasileira ter uma filha chamada Annie? Não havia boas lembranças já que a todo momento ela tinha que corrigir a pronúncia, por anos odiou seu nome, mas hoje na era global parecia bonito.

O motivo por trás do nome de Annie era as crises de enjoo que sua mãe teve durante a gravidez, como estava perdendo peso ficava muito tempo hospitalizada e passou muito tempo ouvindo a fita cassete de Eurythmics, de onde veio o nome de Annie a cantora ruiva com voz maravilhosa.

As maiores lembranças que Annie tinha quando ficava doente era de sua mãe cantando "Sweet Dreams" a música que pode ser considerada inapropriada para crianças, mas na época ela não sabia o significado daquelas palavras.

Sweet Annie, era assim que sua mãe a chamava, ela era uma menina doce e bondosa, vivendo em um lar "estável" onde o que importava era sua carreira e seu futuro. Essa era a Sweet Annie, até hoje se tratava de uma mulher doce para aqueles que a rodeavam,  mas tinha se tornado um pouco implacável na carreira. 

Estacionou seu carro na vaga que tinha seu nome, enquanto pegou o elevador e cantarolava Sweet Dreams, era sua música favorita, ao chegar a recepção estava cheia, era um inferno não ter sido promovida ao andar de cima, enquanto seu salto estalava contra o piso de madeira ela pensava onde estaria Marco, ele deveria a esperar na porta como diariamente.

Um rapaz de camisa rosa veio saltitando e quase esbarrou em Annie, ele era um desajeitado, mas era um belo loiro quando não estava a seu serviço flertava com os estagiários, ele era bom no que fazia e isso era o que importava.

— Bom dia, doutora. Você está linda e com uma pele radiante hoje — Ele disse bajuladoramente, Annie sabia que havia um problema já que o rapaz não tinha essa característica.

— Pare de tentar adoçar a pílula, para que precisam de mim hoje?

— Aquele caso se tornou um caso extremamente especial... — A voz de Marcos era suave — Eles precisam de você e da sua equipe. A situação deles é bastante complicada.

Um sorriso brotou no rosto de Annie ao ouvir aquelas palavras, o que fez se lembrar da música "alguns deles querem te usar e alguns deles querem ser usados por você."

— Tenho algumas exigências bastante consideráveis. — Ela entrou pela porta com um sorriso — Eles estão dispostos a pagar meu preço?

— Sim, é por isso que você foi indicada pela chefia.

— Reúna a equipe, separe todas as más notícias e vamos lidar com isso. Preciso avaliar essa situação de perto e o mais rápido possível.

Marcos saiu apressadamente para cumprir as ordens que havia recebido. Por algum motivo Annie sentiu vontade de ouvir "Sweet Dreams". Enquanto a música tocava suavemente em seu notebook, ela redigiu um e-mail para seu chefe informando que assumiria o caso se ele desse para ela a sala do canto. Recebeu uma resposta positiva rapidamente, e a indicação de qual empresa ia trabalhar.

As primeiras notícias sobre o Grupo Lacerda eram normais para uma empresa jovem e familiar, mas eles eram simplórios ainda. Os filhos estavam começando a lidar com as consequências dos atos questionáveis do pai que aparentemente pensava que a lei não chegaria dele. Além disso, um dos herdeiros do filho mais velho estava em contato com um partido político para lançar sua candidatura.

Inicialmente, Annie não achou que seria tão difícil lidar com a situação, ela odiava se envolver com política. No entanto, assim que recebeu as caixas com os processos que precisavam analisar, sua perspectiva mudou completamente. Foram centenas de processos como fraude, crime contra honra, atentado ao pudor e outras questões civis, penais e trabalhistas.

Quando a equipe estava sentada em volta da mesa analisando pequenas notas, foram horas e o jantar deveria ser pedido para que todos seguisse trabalhando.

Passava das 20h e Annie recebeu uma ligação surpreendente do assistente do CEO informando que um espaço havia sido liberado para ela e sua equipe. Annie, é claro, tinha sua lista de exigências: remuneração diária pelo tempo que estariam lá, acesso irrestrito a todos os setores da empresa, além das refeições. Ela recebeu um aval do secretário do CEO, ou seja, ela havia conseguido carta-branca para tudo.

Já passava das 21h45, quando todos foram para casa, eles iriam se encontrar em frente ao grupo Lacerda às 9h da manhã.

Annie dirigiu em alta velocidade até sua casa, tirou seus sapatos de salto e sentou no sofá da sala, algo lhe dizia que alguma coisa peculiar poderia acontecer, talvez fosse seu sexto sentido apurado.

Enquanto degustava uma taça de vinho, o celular tocou em cima do balcão, não era seu celular comum e sim um pequeno telefone de flip que ela e dom costumavam trocar mensagens para marcar encontros. Era estranho receber mensagens depois das 21h, mas Dom às vezes conseguia ser imprevisível, quando ela abriu a caixa de mensagem tinha um texto "Afrodite, espero te ver amanhã, mas não sei se terei tempo, porém fique à minha disposição."

Era estranho, ela nunca marcava um compromisso para os dias do Dom, mas ele também não sabia. Não era a primeira vez que ele mandava esse tipo de mensagem, apenas a confirmação viria amanhã e Annie esperava que ela não estivesse atolada no trabalho o livro.