Cinco
Aghata acorda cedo, faz suas necessidades e vai para a cozinha. Ela percebe que a louça do jantar está limpa, imagina que possa ter sido sua filha. Adiantada, já que a louça já está lavada, ela prepara o café da manhã e vai colocar o lixo na rua. Enquanto anda até a calçada, vê sua vizinha em prantos, e se pergunta qual o motivo. Assim que abre a lata de lixo, se depara com o gato morto. Ela leva a mão ao peito, assustada. "Mas ele era tão saudável... O que será que aconteceu?", pensa ela. E fecha a lata no mesmo instante.
Aghata vai de encontro à sua vizinha e lhe abraça logo depois que ela lhe explica o motivo de tanta tristeza. Ela perdera sua única companhia. Aghata, sentida pela dor da mulher, a leva para dentro para lhe dar um copo d'água com açúcar. Elas se deparam com Jéssica sentada no banco.
- O que houve, dona Cátia? - pergunta Jéssica.
- Meu gato... ele morreu - diz a mulher, com pesar. Jéssica se levanta e abraça a velha vizinha.
- Alguém o matou! Só pode ser! - grita a vizinha entre soluços de choro.
Aghata se assusta, pois havia pensado que o gato havia morrido naturalmente.
- Mas quem faria isso, se os vizinhos todos gostavam do Pintado? - diz Aghata. Enquanto Jéssica pensa na possibilidade de ter sido Oscar. "Será?"
Aghata entrega o copo com água para sua vizinha e resolve tocar no assunto sobre August.
- Filha, você lembra do amigo que te falei? Ele queria ter vindo ontem, mas não deu. Ele gostaria de saber se pode te conhecer. E eu queria te pedir outra coisa... - Aghata pondera por um instante, mas continua. - Será que não tem como Oscar dormir em outro lugar?
- Mãe, por que a senhora não gosta dele? - diz Jéssica, irritada.
- Eu gostei dele! - diz Cátia, a vizinha. - Ele é gentil.
Aghata fica ressentida com a atitude da filha e pensa em uma desculpa.
- Filha, não é que eu não goste... Já estão falando mal de você. Você sabe como é uma cidade pequena...
- Mãe, esse assunto não é para falar na frente das pessoas! Desculpe, Cátia.
- JESSICA! - repreende Aghata.
- Acho melhor eu ir embora. Obrigada pelo carinho, as duas. - Cátia segue em direção à porta.
- Desculpe, Cátia, é melhor mesmo, falamos outra hora. Tchau. E qualquer coisa pode me pedir. - diz Aghata a abraçando.
- O que importa o que os outros pensam? - Jéssica se volta para sua mãe, agora, somente as duas. - A senhora nunca se importou. Não me interessa conhecer seu amigo, e faça um bom proveito! Assim, quem sabe a senhora desencalha e deixa eu e Oscar em paz!
- Filha... você nunca foi assim. O que aconteceu?
- O que aconteceu, mãe?! É a sua inveja! Porque eu posso ser feliz, e a senhora nunca foi. A SENHORA É MAL AMADA! - esbraveja Jéssica, e Aghata nem viu a hora que meteu a mão na cara da filha, que agora mantém as mãos no rosto, indignada com a atitude da mãe.
- A senhora nunca me bateu! - diz, consternada.
- E você nunca me respondeu com essa petulância! Esse seu namorado te mudou, e não foi para melhor!
Oscar aparece na cozinha e encara com raiva as duas mulheres à sua frente. Não gosta de brigas, o faz recordar coisas ruins.
- Peça desculpa à sua mãe! - Ele se direciona à Jessica, que se vira para ele.
- Você só pode estar brincando! - grita ela. Oscar segura seu braço e sacode..
- Não, eu não estou brincando! Você não sabe o que eu daria para ter uma mãe assim.
- Solta minha filha! Nós nos exaltamos. Agora está tudo bem, né Jessica? - Ouvindo Aghata, ele solta o braço de Jéssica.
- Pode ficar tranquila, hoje arrumo um lugar para dormir e sair daqui! - diz Oscar. E Jéssica, que ia se retirando, volta quando o ouve.
- MÃE! Se ele for embora eu vou atrás dele! Já estou avisando!.
- Não, você não vai! Vai ficar aqui com sua mãe. Eu preciso de espaço. - Ele se retira.
Oscar
Me levanto da cama, escuto vozes na cozinha. Saio do quarto e fico atrás do armário, escutando a conversa. Então o gato era da vizinha simpática... Como ia saber!? E ela... ela quer apresentar o tal August à Jéssica. Não! Não acredito que ela quer me tirar daqui, não quer que eu fique! Fecho minhas mãos em punho... A raiva me toma. Como ela ousa?! Não... mas deve ser o melhor a fazer. Jéssica levanta a voz contra a mãe, não admito isso. Me aproximo e vejo Aghata dar um tapa na filha. Ahh... bem feito! Onde já se viu, chamar a mãe de mal amada?! Entro na cozinha e exijo que Jéssica se desculpe com a mãe. Aghata, como inteligente que é, reverte a situação. Discuto com Jéssica e deixo claro que quero um tempo. Na verdade, queria mesmo é terminar com ela.
Saio da cozinha e sigo para fora. Preciso descobrir sobre esse August, saber o que faz, seus passos, seus podres... Preciso mostrar para Aghata que eu a amo. Preciso lhe proteger.
- Oscar! - Escuto a voz de Jéssica gritando meu nome. Não acredito que ela veio atrás de mim, essa garota tá me cansando! Como não enxerguei antes que ela é um pé no saco?
- Oi! - digo, enfurecido.
- Você não quis dizer aquilo, né? Que realmente quer um tempo...
- Olha, Jéssica... Foi muito legal. - Me viro de frente para ela, que se aproxima de mim. Me afasto. - Sua mãe tem razão, eu não sou para você... Você merece coisa melhor, gata. O que você quer eu não posso te dar. Você pensa em casamento, e em momento algum te dei a entender que eu queria. Eu não te amo.
- Não! É mentira! Você só está dizendo isso porque ela deve ter te falado alguma coisa. - Ela chora e tenta me abraçar. Desvio, com os braços cruzados.
- Olha, pensa o que quiser, vou embora. E você vai ficar aqui. Se eu souber que você saiu daqui para ir atrás de mim, não vai ser bom pra você, gatinha... - Descruzo os braços e seguro em seu queixo.
- Eu te odeio! - grita ela, em prantos, ao sair andando. Parece que sua mãe vai atrás, porque escuto outro grito dela com Aghata.
- Te odeio mãe! - Escuto a porta bater. "Bobinha."
Vou até a cozinha e vejo Aghata chorando. Isso é de partir qualquer coração, mas é para o nosso bem.
- Ela vai sofrer um pouco, mas é o melhor agora, podemos ficar juntos. - Me aproximo dela e tento abraçá-la, mas ela se desvencilha.
- O que você fez com minha filha?! Você é LOUCO!
- É! LOUCO! - grito, e na hora me lembro de Jéssica, não quero que ela escute. Abaixo o tom de voz. - Por você! Por você... louco por você! - Ela balança a cabeça, negando, e vai para o corredor, encostando na porta do quarto da filha. Se despede e diz que estar indo trabalhar.
Ela retorna e pega sua bolsa.
- Espero que quando eu chegar, você já não esteja aqui! - E sai, sem nem olhar para minha cara.
Agora sim, vou sair e descobrir sobre esse tal August.
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