XXIX - Pandora Duncan
Pandora Duncan
Eu estava sendo agarrada por todos os lados.
Por mãos desconhecidas. Por ventos sobrenaturais. Por vozes de minha memória. Por miragens surreais.
Eu estava queimando sobre a lava recém expelida do vulcão ao meu lado. Ela queimava meus braços como uma antiga queimadura que estivesse cicatrizando. Ela ardia como um corte de papel. Ela tentava fazer meu interior incandescer tanto quanto eu já sentia que brilhava por causa da luz.
E eu enxergava em vívidas cores o nome de Frederico escorrer na parede a minha frente como se tivesse sido escrito com sangue.
Talvez a ideia não fosse tão absurda assim, visto que meus dedos sangravam como se eu os tivesse arranhado na parede mil e uma vezes na tentativa de escrever aquele nome.
Nome maldito.
Não. Frederico não merecia este adjetivo.
Bendito também não o descrevia.
Era apenas um nome.
Não.
Não apenas um nome.
Por que eu me importava tanto com ele?
Eu não sei, apenas sei que imaginar uma vida em que Frederico Bertolini não existisse não me parecia uma vida que merecia ser vida no final das contas.
Senti a lava embaixo de mim ceder. Eu estava afundando em um banho de eterna dor e agonia, sabendo que eu jamais morreria, afinal eu já estava no inferno.
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!
Virei minha cabeça com violência para o lado e senti que colidi com algo tão duro quanto ela, porém não tão gelada quanto uma parede. Parecia, na verdade, outra cabeça.
Meus olhos se abriram em desespero ao pensar em todas as possibilidades e oportunidades que alguém poderia ter enquanto eu estivesse tão indisposta.
No entanto apenas relaxei quando avistei os cabelos de Frederico jogados no travesseiro ao lado do meu, dormindo como uma criança.
Não pensei duas vezes — não pensei nenhuma vez para ser bem sincera —, apenas o abracei e mergulhei meu rosto em seu peito, sentindo seu coração pulsando sobre meu ouvido.
Aquela era uma melodia que eu jamais me cansaria de ouvir.
— O que é isso? — sua voz rouca perguntou quando ele tentou mover seus braços que estavam presos sob os meus.
— Não morra — eu pedi, sentindo lágrimas em meus olhos.
Ficamos em silêncio. Acho que ele nunca foi acordado por uma garota que estava em prantos, pedindo para que ele não morresse. Sinto que a situação era bem oposta a nossa cena.
— Não morra também — ele gracejou, tentando fazer o clima ficar menos tenso, todavia eu ainda não havia falado aquilo que martelou em minha mente pelas últimas horas de sonhos proféticos que eu tive.
Ele só precisava saber que...
— Eu não posso perdê-lo. Eu perdi minha avó, meu pai, minha irmã e minha mãe. Eu até perdi Nicole. Não para a morte, mas para a vida... — eu solucei e apertei ainda mais meu rosto contra o peito dele — não suporto a ideia de que a vida também quer te arrancar de mim.
— Por quê?
— Você me lembra de quem eu era antes desta loucura. Você me conhece antes de tudo isso. Você é a prova que quando isso acabar, eu posso voltar a ser quem eu era. Eu sinto que se eu te perder, eu também perderei a mim mesma — eu sussurrei — eu não posso me perder, Fred.
— Não vai. Eu juro.
— Como pode ter tanta certeza?
— Porque você, mesmo com toda esta loucura, trouxe um propósito a minha vida. Você impede que eu faça besteiras e se eu pudesse pedir por algo neste momento, é que você não me solte.
Eu? Eu dei um propósito a vida dele? Eu escrevi em sangue, meu sangue, o seu nome na parede da morte, ele só ainda não sabia disso.
Acho que ele jamais me perdoaria se descobrisse que é por minha causa que ele vai morrer.
Talvez Lúcifer tivesse razão e o melhor fosse ele ficar longe de mim, mas eu não suporto essa ideia. Não suportaria ficar sozinha e a única pessoa que eu tinha no momento era Frederico Bertolini, então fosse o que tivesse que ser, como tivesse que ser, quando tivesse que ser, eu seria egoísta até meu último suspiro e o manterei ao meu lado.
Eu só queria conseguir salvar a sua vida caso e quando fosse necessário.
— Por quê? — eu indaguei incerta.
— Porque eu sei que uma vez que você me soltar, eu nunca mais a terei em meus braços.
— Você está jogando charme em cima de mim?
— Está funcionando?
— Não.
— Então, para manter meu orgulho intacto, eu nego sua acusação — ele sorriu.
Nós soltamos um breve riso.
— Apenas não me solte, não agora, não por algum tempo — eu pedi.
— Quem ouve pensa que você está apaixonada por mim.
— Não se anime, não posso amar alguém que não sabe o significado de amor.
— Assim você me magoa.
— Vai negar.
— Até a morte, agora, boa noite.
— Boa noite.
~*~
— Tens razão, está mesmo acontecendo — ouvi um murmúrio nascendo ao leste junto com o sol.
Abri meus olhos com um pouco de dificuldade, e percebi a silhueta de Lúcifer e de Emanuelle ao lado de meu corpo, conversando como se estivessem assistindo um programa de televisão.
Continuei fingindo que estava dormindo para tentar ouvir mais algumas informações que eles não queriam compartilhar comigo, então senti algo quente sobre a minha mão. Algo quente e macio.
Outra mão.
Frederico.
Dormir ao lado dele foi algo mais fácil do que o esperado.
— Temia isso — a voz do meu gato preferido soou tensa, preocupada.
— Temes por quê? Isso aconteceu com tantas outras, era esperado que acontecesse com ela — a voz da bruxa idosa, que deveria ser Emanuelle, começou me irritando desde o momento que eu a ouvi.
— Sim, porém, mesmo assim, eu queria que fosse diferente.
— O que tu vês de diferente?
— Ah, há um córrego de diferenças.
— Como isso?
— Ela age diferente das outras.
— Por quê? — Emanuelle parecia interessada demais nas respostas.
— As outras não eram reais, elas mantiveram apenas a paixão, elas os conheceram e foram direto aos negócios. Já Pandora, bem... ela o conhece há meses, eles são amigos. Há esperança.
— Isso a torna uma tola.
— Obstinada.
— Teimosa.
— Focada.
— Irresponsável.
— Intuitiva.
— Sinto que preferes esta garota às outras...
— De certo que sim, ao menos ela olha em meus olhos e me desafia. Pergunta. Clama e reclama. As outras eram passivas — senti um sorriso querendo escapar de meus lábios quando o ouvi, porém eu ainda queria fingir dormir.
— Eles já se apaixonaram?
— Não, ainda não.
— Sabes que ela precisa se apaixonar primeiro... ardentemente.
— Não há dúvidas que isso acontecerá.
— Para ela realmente provar ser diferente, ela precisa fazer a escolha.
— Gostaria que ela não tivesse que escolher — ele resmungou.
— Por quê?
— Isso significa que ele morre.
— Fatos da vida, meu caro Lúcifer. Tu, melhor do que ninguém, entendes o significado de uma morte.
— Eu sei as consequências da morte.
— Por isso espera que ele viva? Para compensar algum débito que não foi ainda quitado por tua antiga lealdade?
— Não guardo dívidas, não faço favores, não devo a ninguém — ele clamou seu hino com fervor.
— Disse aquele que quase perdeu a alma para o Inferno.
— Sou melhor do que Amara Reinan, afinal ela foi a causa da morte de Joseph. Você não simplesmente deixa morrer quem ama para salvar sua vida. Vide Romeu e Julieta.
— Boatos que ela fez alguns acordos para permanecer aqui...
— Você tem que levar Pandora ao local de Convergência.
— Tu queres dizer...
— Sim, o local em que a matéria etérea é mais presente, Emanuelle.
— Charlotte morreu apenas ao colocar o pé na água.
— Ela queria usar a relíquia com má fé.
— Alessandra enlouqueceu.
— Ela teria empurrado Tyler do abismo se não o tivessem matado. Não é uma grande prova de amor esta história.
— Então, no fundo, estamos procurando aqueles que mais se parecem com um filme da Disney com um final feliz?
— Pensa que esta história terá um final feliz?
— Tudo depende dela e da escolha que ela realizará — com as palavras de Emanuelle, eu senti um calafrio.
— Eu não estou apaixonada por Frederico — eu respondi cansada de cogitações e suposições sobre os meus sentimentos pelo garoto adormecido ao meu lado.
Eles me olharam como se tivessem ouvido um fantasma.
— Há quanto tempo nos espia? — Lúcifer indagou com um sorriso brincalhão teimando em subir em seus lábios ressecados e azulados, bestiais.
— O suficiente para entender um pouco e ficar ainda mais confusa — eu comentei, esfregando meus olhos com o sono que eu estava acumulando.
Eles voltaram a se olhar e eu tentei me mover da cama sem acordar Frederico com a diferença quase inexistente de peso que a minha saída do colchão faria.
Olhei para trás e sorri. Ele ficava adorável quando dormia.
— Quer que eu diga isso da maneira fácil ou difícil? — Lúcifer me perguntou com um pouco de paciência, ou seja, a notícia me desagradaria em um nível estratosférico e ele estava amansando a fera.
— O que? — eu cruzei meus braços já de pé na frente deles.
— Você não tem escolha, vai desejá-lo. Isso faz parte de quem você é, de quem você foi e de quem você sempre será. Quando você nasceu, seu destino foi ligado ao dele, como dois imãs únicos fadados a se encontrarem — ele a olhou com um pouco de piedade — que você o desejará, nós sabemos. Que ele a desejará, nós também sabemos. Você, Pandora Duncan, pode viver por mais cem anos com sua magia, porém seu amor, Frederico Bertolini, está com os seus dias contatos. Mas o que realmente importa é: o que você está disposta a sacrificar para ele viver?
A/N:
Oláa leitoreees,
Perdão a demora, mas estou em processo de mudança, então a vida está uma bagunça e eu estou sem tempo para rever os capítulos! Mas deixo aqui um presentão: MEGA CAPÍTULO!
O que acharam? Eu sei que ele tem muitas conversas enigmáticas, porém eu juro que tudo vai ficar cada vez mais claro!! E desculpa por ser basicamente um capítulo de conversa, mas eu acho que ele é importante hehehe
E o que acharam dos sonhos se Pandora? Bizarros, não é?
Espero que gostem!
Beijinhos
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