XXII - Pandora Duncan
Pandora Duncan
— Eu estou falando sério — eu murmurei ainda trêmula do sonho que tive.
Lúcifer não entendia o que estava acontecendo comigo, pois eu não consegui explicar, apenas acordei aos prantos, berrando que não conseguia tirar o sangue de mim. Que eu ficaria eternamente suja. Que o gosto dele nunca me deixaria.
— Eu só não entendo o que você está falando — ele comentou com calma, sobrevoando minha cabeça enquanto apreciava o nascer do sol pelas copas das árvores.
Eu meneei minha cabeça com a bússola em mãos. Por algum motivo, algo me dizia que se eu a tivesse junto comigo, tudo poderia ficar bem no final.
Pressionei com delicadeza os botões laterais de minha relíquia e ela se abriu para mim.
Era circular — como o esperado — com quatro ponteiros dourados de tamanhos diferentes que se moviam de maneiras completamente distintas. Havia, então, quatro planos de fundo que se misturavam dependendo de como a luz incidia em seu vidro.
Um deles parecia um campo, outro pareciam nuvens, outro era como uma fogueira, e o último parecia um temporal de março.
— Lúcifer, eu vi o nome do Fred — murmurei não confiando em minha voz.
Apoiei meus braços em meus joelhos e fechei meus olhos inspirando profundamente.
Eu não estava pronta para lidar com uma morte.
Não estava e não estaria.
— Quem? — o bruxo macabro me perguntou quase como se perguntasse o que eu havia pedido para o jantar. Aquilo me enfurecia em seu ser.
— Frederico Bertolini, o garoto cujas memórias você adulterou... e depois me diz que manipular o tempo para trazer minha avó de volta é um crime — eu cuspi as palavras, sentindo ódio dele.
— Eu apaguei um breve momento da mente dele, sim, porém o que você pode fazer é extremamente mais perigoso.
— O que é?
— Você pode manipular o querer de uma pessoa. Você pode fazê-la se convencer de que a sua verdade é o que ela pensa. Você pode torná-la uma escrava de sua vontade...
Ele parou de falar e eu fiquei pasma.
Eu não era isso o que ele estava dizendo! Eu não seria isso jamais! E era por esse motivo que eu tinha que encontrar Frederico e impedi-lo se morrer.
Eu me levantei as pressas e olhei para o céu. Era dia. Não tão perigoso andar de dia.
— Para onde está indo?
— Encontrar Fred.
— Por quê?
— Ele não pode morrer — eu constatei aquilo enquanto me aventurava pelo bosque.
— E o que vai fazer se um Guardião a encontrar?
— Eles não vão me encontrar, eu estou usando meu anel.
— E você acha que eles não sabem como você se parece? Por favor, Pandora, eles já devem ter todas as suas informações gravadas em seus ossos! E não é como se você fosse uma pessoa extremamente discreta.
— Então o que eu faço?
— Vá procurar Emanuelle!
— E deixar que Frederico morra? Não!
— Já pensou que talvez, apenas talvez, o motivo para ele morrer seja você?
Eu parei com essa frase.
Não. Eu não havia pensado nisso.
— E se ele morrer mesmo assim? E se ele morrer porque eu não estou com ele? — eu retruquei.
Lúcifer ficou sem reação. Aquela era a primeira fez que sua boca felina não tinha como revidar uma provocação minha.
O que ele sabia que eu não tinha ideia?
— Não sei — ele admitiu.
— Sabe sim, mentiroso!
— Não é bem assim... sobre a sua maldição, pouco eu sei.
— Frederico é minha maldição?
— Não... a morte dele é.
— Por quê?
— Isso eu não posso dizer.
Frederico Bertolini morto? Essa não era uma ideia facilmente assimilável, pois parecia que ele era a prova do perigo. Era como se ele estivesse andando a margem entre a vida e a morte, porém todos sabiam que ele jamais cairia no lado dos mortos. Não era como se ele tivesse sobrevivido ao impensado, assim como Elisabeth Marshall, porém era pelo jeito que ele seguia com a sua vida.
Ele era aquele tipo de pessoa que sempre procurava te olhar com um sorriso, mesmo que fosse sarcástico, mesmo que fosse brincalhão, mesmo que fosse preocupado. Ele gostava de fazer piadas em todas as situações, mesmo que você estivesse chorando, mesmo que estivesse morrendo, mesmo que estivesse partindo. Ele conversava comigo como um amigo, mesmo ele não gostando de Daniel, mesmo eu sendo uma bruxa, mesmo que eu tivesse batido a porta de minha casa na cara dele.
Fred era um cafajeste, com toda certeza, mas ele tinha um bom coração no final, pois me salvou dos amigos de Daniel e me levou para casa quando não tinha motivos para tê-lo feito. E ele ainda conseguiu me acordar do meu “sono”, de acordo com Lúcifer, então suponho que não seja um acidente eu ter lido seu nome em meu sonho.
Só gostaria que ele não morresse, pois ele não merecia esse destino.
— Eu preciso salvá-lo — murmurei, sentindo algumas lágrimas escorrendo de meus olhos.
— Eu sei que precisa, por isso eu a alerto que deve escolher com calma e frieza.
Como escolher com calma e frieza quando uma pessoa pode morrer? Como eu posso ser indiferente quando uma pessoa como Fred pode morrer?
Ele é um cafajeste assumido! Eu sei! Mas ele não é uma má pessoa!
— Eu sei, mas... — é mais forte do que eu.
E eu vou salvá-lo.
A/N:
Vai PAAAAAAAAAAAN <3
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