XX - Pandora Duncan
Pandora Duncan
— Você tem que estar mentindo! — eu berrei quando me levantei e puxei meus cabelos para o lado, mesmo sabendo que minhas mãos ainda estavam sujas de sangue.
— Não, não estou, sinto lhe desapontar, mas veja pelo lado positivo, você tem algo que todos invejam, mas ninguém gostaria de ter para si. Você tem um destino muito mais turbulento do que os ventos desta caverna estão lhe mostrando.
Eu me encolhi, abraçando minhas pernas com minhas mãos enquanto respirava sem realmente querer respirar.
— Você vê o futuro o tempo todo? — indaguei incerta.
— Essa é a minha maldição por ter matado aquele bruxo.
O que eu estou fazendo aqui?, sim, eu gostaria de saber a resposta dessa pergunta de uma forma mais metafórica, contudo eu tinha certeza que não havia pensado aquilo.
Coloquei minhas mãos contra meus ouvidos e murmurei uma melodia que eu não fazia ideia de onde havia ouvido.
Parei.
Não, não era uma melodia o que eu cantarolava, era algo que me relembrava os sons de uma cascata de lava caindo em um mar rochoso. Era a sinfonia de almas penando no Inferno.
— O que é esta voz dentro da minha cabeça? — eu perguntei na esperança que Lúcifer ouvisse meus questionamentos e fosse simpático o suficiente para compartilhar as respostas comigo.
— Isso é algo totalmente diferente — ele comentou — essa é a sua maldição.
— De acordo com você, minha magia já é uma maldição. E, lembrando fatos anteriores, eu não matei ninguém.
— A natureza também gosta de fazer combos.
— Por quê?
— Porque assim decretaram — ele deu de ombros e olhou para o lado — quando anoitecer, sairemos daqui a procura de um lugar mais seguro.
Eu assenti mesmo que não concordasse. Eu ainda tinha tantas perguntas...
Enfiei minhas mãos dentro do casaco de Frederico sentindo algo retangular e gelado contra a minha pele.
Era o gravador.
Eu o retirei e fiquei encarando aquilo. Minha mãe o havia entregado a minha pessoa. Ela achava que as respostas estavam ali. Ela achava que eu precisaria ouvi-lo.
Apertei o play.
Barulho de disco quebrado. Barulho de cadeiras se movendo. Um grito. Um sussurro. Uma risada. Um tiro.
Será que eu estava mesmo na...?
— Oi, eu sei que você não me conhece, nem eu devo conhecer você, mas temos muito em comum, acredite — a voz era feminina, jovem, amigável... e desconhecida.
Por um momento esperei ouvir a voz de minha avó, ou de minha mãe, alguma voz conhecida, porém, ao mesmo tempo, senti certo alívio por saber que as minhas respostas não estavam com elas no final das contas.
— Você, assim como eu, deve ser uma Viajante, e é nosso dever como Viajantes assegurar que o equilíbrio seja mantido. O tempo não pode ser alterado, o espaço não pode ser rompido, um momento não pode ser retomado, uma pessoa não deve ser manipulada. Eu sei, eu sei, eu também não entendia muito bem qual era o meu dever até ser colocada a prova, mas é assim que tem que ser. Alguém tem que se assegurar que ninguém está brincando com o presente, alterando algo a seu favor — ela suspirou e eu também.
Então era isso o que estava acontecendo? Eu simplesmente seria uma nômade? Uma itinerante? Uma sem teto?
Coloquei o gravador para ficar mais próximo de meu ouvido, na esperança que a voz dela ficasse mais e mais próxima, tentando me transmitir segurança.
— Nós temos uma ferramenta, mas tome cuidado para não usá-la levianamente, muito já o tentaram e pagaram o seu preço... — percebi um sotaque em sua voz, um leve e quase imperceptível sotaque — é uma bússola com um relógio de bolso embutido. Realmente, é uma das peças mais belas que eu já vi em toda a minha vida.
Engoli a seco imaginando quais eram as consequências de quebrar uma dessas regras... o que aconteceria se eu voltasse no tempo apenas para despedir-me de maneira correta de minha avó... o que aconteceria se eu voltasse e terminasse com Daniel antes do que ele me fez...
— Bem, do mesmo jeito que será uma bela e divertida aventura descobrir tudo o que a vida lhe proporcionou... você também tem que saber da existência dos Guardiões do Caos — ela parou de falar, ouvi sua respiração entrecortada — eles servem apenas para atrapalhar a ordem e desequilibrar a balança natural. É seu dever como Viajante impedir que isso aconteça...
— Como? — eu perguntei, mas a fita já havia acabado.
Como assim?
Não pode!
Ela não disse metade do que eu precisava ouvir!
Eu não sei de nada.
— Quem é ela? — eu questionei frustrada.
— Outra Viajante — ele comentou com uma semi-indiferença.
— Por que ela não falou da minha maldição? — eu perguntei em um sussurro nervoso.
— Como eu vou saber? — ele deu de ombros.
— Pensei que soubesse de tudo.
— De tudo que vai acontecer. O passado pertencia a Ambrose.
Senti um aperto em meu peito.
— Não faça — ele constatou com frieza.
— O que?
— O que está pensando em fazer.
— O que estou pensando em fazer?
— Não se finja de inteligente, eu já vivi muito mais que você. Conheço esse olhar.
Eu bufei, me fingir de desentendida não adiantaria naquele momento.
— Só foi um pensamento...
— É assim que começa.
— E como termina?
— Bem — ele sorriu e eu estremeci — não vai gostar do final.
A/N:
UHUL! Coisas acontecendo! Respostas!!!!!
hehe
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro