XV - Pandora Duncan
Pandora Duncan
Olhei para o anel em minha mão. Ele não era brilhante, não era caro e muito menos precioso aos olhos das pessoas, pois a magia o envelheceu, danificou e desbotou-o, porém, para mim, este anel era tudo no momento.
— Entendeu? — minha mãe perguntou mais uma vez.
Eu assenti absorta em pensamentos.
Agora era tudo diferente. Eu estava diferente.
Minha mãe me explicou aquilo algumas vezes, porém, sempre que eu tentava prestar atenção nela, algo parecia bem mais interessante e eu acabava me distraindo.
Ela estava tentando. Eu também. Eu realmente estava, porém não era suficiente.
Ela me disse que a mudança imediata da cor da pedra de meu anel foi apenas uma comprovação que eu tinha o sangue Duncan em minhas veias, uma prova concreta para eu jamais voltar a duvidar disso — de acordo com suas palavras, o quartzo branco era uma pedra que era ótima em absorção de energia mágica.
O embrulho... bem, ela apenas disse que era meu, porém não era um “meu” como posse minha, parecia mais que ele era meu, como se fosse parte do meu ser. Como se fossemos duas faces de uma mesma moeda, duas partes de um todo, duas metades de uma laranja...
Não entendi o que isso significava e tive medo de perguntar.
Respirei fundo e voltei a olhar para a seu metal oxidado, passando meu dedo indicador por cima dele. Este anel não era nada, mas ao mesmo tempo era tudo o que eu tinha.
Engoli a seco.
— Tente de novo, então — minha mãe sussurrou, sentada comigo na cozinha.
Eu respirei fundo e fechei meus olhos.
Ela queria que eu apagasse a chama da vela para testar se sua bruxaria havia mesmo funcionado em mim, e, aparentemente, havia, pois eu fazia de tudo — mexia em gavetas, acionava o triturador, ligava a torneira, acendia a luz, fazia talheres voarem... — e não apagava aquela chama.
Senti um beijo em minha testa e eu relaxei um pouco.
— Você vai ficar bem — minha mãe, exaurida de forças, tentou me acalmar enquanto se espreguiçava — agora acho...
— Por que vovó me chamou de viajante? — eu a interrompi lembrando-me de suas últimas palavras.
— O que? — ela sussurrou com um pânico profundo em seus olhos.
— Ela... ela me chamou de viajante antes que...
— Não é viajante, é Viajante, com letra maiúscula — ela explicou e eu olhei com cara de dúvida. Ela estava ficando louca? — são duas coisas bem diferentes.
— Como?
— Eu não quero falar disso Pandora, senão...
— O que?
— Tenho medo que seu destino se realize.
— E qual o problema?
— Você não vai querer essa vida para si mesma — ela começou a chorar, eu tentei alcançá-la, mas ela se afastou — ninguém quer essa vida! Sem laços! Sem casa! Sem família! Apenas a dor da perda... a dor da partida... a dor da incansável busca por aquilo que jamais encontrará...
— Mãe, isso tudo tem a ver com os sonhos estranhos que eu estou tendo? — eu comentei, esperando que isso não fosse parecer tão insano quanto parecia, porém não era tão fácil quanto esperado.
— Sonhos? — ela me olhou assustada — que tipo de sonhos?
— Sonhos de nomes em uma parede manchada de sangue em um lugar que me lembra do inferno? — eu respondi sem emoção.
E apenas isso foi necessário para ela subir correndo as escadas e pegando um gravador para me entregar. Havia muita preocupação em seu olhar, muita incerteza e muito medo.
Eu não queria que ela se sentisse assim. Eu queria ser a pessoa que ela se sentisse segura com. Eu queria que ela me olhasse e visse Ambrose Duncan quando jovem. Eu queria que ela se visse em mim, porém eu só sentia que ela me olhava como uma pessoa que ela desconhecia. Não havia erro.
Eu não conseguia mais sustentar seu olhar.
— Seus sonhos não fazem parte daquilo que eu conheço de sua história — ela disse, fechando seus olhos.
— Isso é bom? — eu indaguei com calma, escolhendo palavra por palavra.
— Mas eles podem significar algo para o seu futuro, algo que possa instigá-la a pender para algum lado da balança da razão/emoção — ela ignorou minha frase — me disseram que você vai pender, vai cair, vai sofrer, mas vai se reerguer das cinzas.
— Quem...? — tentei falar, porém parei ao ver o horror em seu rosto.
O que estava acontecendo?
— Um velho conhecido — ela sussurrou me olhando — ele sabe de tudo.
— E é só isso o que eu receberei? Respostas vagas? Um destino que mudará o mundo de uma maneira que ninguém sabe como? Eu não consigo trabalhar desse jeito, mãe. Eu preciso de respostas claras.
— E eu preciso de um tempo.
— Mas eu...
— Não posso lidar com isso agora.
— Por quê?
— Porque isso significará que eu terei que vê-la partir.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro